Cidade amarela

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Os ipês já terminaram a sua festa anual de cores, mas eis que a cidade está novamente amarelada, formando um belo contraste com o verde das folhas viçosas, na temporada mais úmida do ano. É a floração dos cambuís, que compensa o céu pintado de chumbo.

A árvore não tem o mesmo prestígio dos ipês, plantas mais exibidas, que dispensam todas as folhas para explodir em flores e depois ficam completamente nuas, com troncos e galhos à mostra. O cambuí conserva as folhas e mostra suas flores na copa; ou seja, não se despe para mostrar a nova cor. Só fica nu durante a seca.

Em Brasília, estão espalhados por todas as regiões – são quase mil cambuís, segundo a última conta –, mas há uma bela concentraçao nos canteiros do Eixo Monumental, principalmente entre o Centro de Convenções e o Parque da Cidade.

A festa será completa a partir de março, quando a passarinhada volta a se refestelar com a frutinha, que não sei como se chama  – seria mais fácil se a árvore fosse chamada de cambuizeiro. E também nunca consegui comer uma delas, que ficam muito acima das minhas possibilidades de escalador da pior idade. Mas há quem garanta que são deliciosas.

Devem ser mesmo, afinal o cambuí é parente próximo das goiabeiras, pitangueiras e jabuticabeiras. O nome vem dos índios e pode significar, dependendo do tradutor, folha que cai ou galho fino.

Mas a madeira é dura e resistente como a da goiabeira, boa para fazer estilingue, atiradeira ou bodoque, qualquer nome vale, dependendo de onde vem o menino e desde que não seja para mirar em passarinho. Também é usada para fazer cabo de martelo.

O Cambuí vem da Mata Atlântica, mas se deu muito bem no cerrado urbano de Brasília, trazida por Ozanam Coelho, o homem que transformou a árida paisagem brasiliense num parque, mesmo desafiando as escolhas da natureza. Podia ter restringido os jardins da cidade a espécies do cerrado, mas sonhou muito mais alto.

Morto há quase dois anos, depois de plantar mais de três milhões e meio de árvores na cidade, só recebeu como homenagem até agora um luto de três dias.

Não ligaria para o esquecimento, mas reclamaria que os jardins da cidade andam meio descuidados, com mato para todo lado, sujeira e nenhuma conservação. Ainda bem que a natureza, representada pela beleza da floração dos cambuís, aparece para compensar o descaso dos homens.

Mudando de assunto…

Duas moças mandaram mensagem reclamando que sou misógino por não gostar da Anitta. Tenho que respeitar porque, entre nós três, elas são maioria. E por isso fui ver o clipe da música Vai Malandra, que todo mundo fala, visto por 120 milhões de pessoas, enuanto o clipe de Tua Cantiga, de Chico Buarque, foi visto por menos de duas mil pessoas.

Fiquei pensando: se um artista homem e heterossexual fizesse um filminho com aquele tanto de bumbum rebolando – ainda mais cheio de celulite – estava no sal. E continuei sem gostar da Anitta. Mas sem misoginia.

Paulo Pestana

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Paulo Pestana

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