Tite tinha acabado de anunciar a convocação do escrete nacional, mas o assunto não engrenava; ninguém reclamou da presença do Fagner na lista e só houve alguma estranheza quando foi falado o nome de Taison. Não houve o alvoroço que se esperava no boteco; das duas, uma: ou Tite está com crédito pelo bom retrospecto, ou o pessoal está mais interessado mesmo é no álbum de figurinha do neto.
Mas era preciso falar de futebol. Estamos às vésperas da Copa e o pessoal parece preocupado só com os tais cromos dourados que não estão em pacotinho nenhum. Na falta do que falar do time que calçará as chuteiras da pátria, o assunto derivou para antigas seleções nacionais e chegou ao capitão Carlos Alberto, do tricampeonato.
A qual time pertenceria o craque quando convocado para a linha de defesa? Santos ou Botafogo?
Assunto irrelevante dirão os que não estavam à mesa. O capitão já morreu, embora permaneça no panteão dos craques brasileiros, no time atual não tem ninguém do Santos e nem do Botafogo e não sabemos nem quem será o capitão. Mas não há irrelevâncias numa mesa de bar; ainda mais quando há pontos de vista diversos e às raias do radicalismo.
O Google é um estraga prazeres; aquela discussão tinha tudo para virar a noite, ainda mais que os palpites começavam a pulular. Os mais afoitos não se limitaram ao capitão e passaram para todo o time, de Félix a Rivelino; mas a discussão esquentou demais e um pacificador foi à wikipedia para dirimir a questão primordial: deu Santos.
E a conversa virou um borocoxô. O futebol canarinho já despertou paixões mais consistentes, verdades mais absolutas e até alguns olhos roxos.
Em outra roda, o Google foi responsável pelo final de uma conversa animada sobre quem seriam os sete sábios da Grécia. O quarteto Sólon, Bias, Tales e Pítaco – que no Brasil virou sinônimo de palpite, com ligeira mudança na pronúncia – é bem conhecido; mas para lembrar de Quílon, Cleóbulo e Anacarses foi necessária a interferência eletrônica.
O que chamou a atenção no caso foi a calibragem dos chutes. Antes da internet era fácil chutar e sair por cima, mesmo que a resposta estivesse errada; até ir procurar o volume da Mirador com o verbete, o efeito do álcool já havia passado e o assunto dificilmente voltaria á mesa do bar.
E tudo começou porque alguém disse que foi Plutarco quem disse que a maioria dos homens é perversa e seria ele um dos sábios da Grécia antiga; a afirmação ia passando batida quando outro disse que Plutarco – embora sábio e cético diante de questões morais – foi quem compilou os aforismos dos sábios e os reuniu num grupo.
A conversa ia bem, com pitacos variados, até que um terceiro se pôs a ler, do telefone, o que encontrou na rede, sem desconfiar que aquilo não era uma aula de filosofia e que era apenas um papo avulso para entremear goles. Avacalhou o encontro. Até que uma nova discussão começou.
Publicado no Correio Braziliense de 20 de maio de 2018
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