Dia das Mães: Mulheres contam os desafios de conciliar os estudos com a maternidade

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Servidoras públicas e mães relatam experiências. Confira!

Durante a dedicação entre estudo e maternidade, muitas vezes às mães concurseiras se cobram e por vezes até sentem culpa na educação dos filhos. Entretanto, a vontade de oferecer mais oportunidades a eles, encorajam essas mulheres e corrobora com a superação dos obstáculos.

Kátia Lima e suas filhas Crédito: Arquivo Pessoal

Natural de Minas Gerais, mãe de duas filhas, uma de 19 anos e outra de 7, a analista de psicologia no Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT) e Territórios, Kátia Lima, 42 anos, estudou para concursos desde o início de sua faculdade incentivada pela mãe.  Se tornou mãe aos 23 anos e desde então foi selecionada em dois certames, a primeira aprovação sua primogênita tinha apenas 2 anos. 

Enquanto estudava para o concurso do TJDFT, sua filha mais velha, que na ocasião tinha 6 anos, mandava mensagens de incentivo. “No pouco tempo que tinha para estudar eu me trancava no quarto e encontrava bilhetinhos que minha filha colocava debaixo da porta me dizendo que iria conseguir. Ela foi uma das minhas motivações”, conta. Ela também lembra vinha de dentro. “O maior julgamento era meu mesmo, era pensamentos do tipo: eu deveria estar dando mais atenção”.

 Fernanda Barboza, 39 anos, natural da Bahia, tem um relato parecido. Ela conta que retornou os estudos para concursos em 2008, depois do nascimento de sua primeira filha que atualmente tem 14 anos, no intuito de uma carga horária que proporcionasse mais tempo para se dedicar a maternidade. “Mesmo com o sentimento de culpa, consegui muitas aprovações estudando com a minha filha pequena, pois tinha um propósito de futuro melhor com minha família”, ela afirma.

Após o nascimento da segunda filha em 2012, Fernanda obteve aprovações em seleções de 3 órgãos públicos, Ministério Público, TST e CLDF. “Ficou mais difícil conciliar a vida no trabalho, com escala de plantões noturnos e aos finais de semana, com a maternidade e estudo para concursos. A dificuldade não foi suficiente para me fazer desistir. Eu estudava no tempo que sobrava e usava todas as minhas férias e folgas para o projeto”.

Em 2018, ela começou a estudar para o concurso da Câmera Legislativa, onde atualmente trabalha como consultora legislativa. Na época ela se candidatou em três cargos dos ofertados no concurso.  Durante o processo ela ressaltou que sempre recebeu o apoio da família e  que eles estavam envolvidos em todas as fases.

O orgulho em ser servidora

Ambas as mães em seus relatos, demonstram orgulho do que conquistaram e enfatizam que valeu a pena todo o esforço. Além de apoiarem a suas filhas, caso decidam seguir a mesma carreira.

“Vou sim incentivar minhas filhas a serem servidoras públicas, eu acho que ser servidor público é uma honra, é  abençoado. É um trabalho que você tem uma estabilidade, um salário compatível com o seu esforço. Mas se elas quiserem traçar outros caminhos também eu vou apoiar”, afirma Fernanda.

Fernanda Barboza e suas filhas
Crédito: Arquivo Pessoal

“Eu digo a ela que por eu ter me sacrificado hoje ela pode escolher, se é o serviço público ou se é uma carreira na empresa privada ou ser empreendedora, enfim. O que eu faço com a minha filha é sempre elogiar o serviço público. Eu sou apaixonada pelo que faço. Eu digo que o serviço público precisa de pessoas batalhadoras, inteligentes, que ele é muito bom, mas a escolha vai ser dela”, diz Kátia.

Quando essa realidade de estudos e maternidade passam com a tão esperada aprovação, as mães podem notar a influência de sua dedicação. “Minha filha que me viu estudar desde pequenininha, hoje com 14 anos de idade, é extremamente responsável e adora estudar, justamente pelo meu exemplo”, expõe Barboza.

Maternidade X concursos conciliar

A discrepância entre a participação feminina no mercado de trabalho se intensificou durante a pandemia, sobretudo em seu ápice. Segundo o levantamento do Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA), o número de mulheres inseridas no mercado de trabalho foi o menor em 30 anos. Em relação às mães, um estudo da Fundação Getúlio Vargas evidencia que quase 50% das mulheres que tiram licença-maternidade são demitidas depois de dois anos após a licença. Diante a essa realidade decidem estudar, mas como conciliar?

Para além dos julgamentos e dos sentimentos sabotadores, muitas mães concurseiras têm que administrar sua família sozinha.  O número de famílias administradas por mães solo no país, de acordo com o Censo, representa 87,4% das famílias em que as mulheres são responsáveis por elas. Por este motivo, criar uma rede de apoio torna-se imprescindível. De acordo com Lima, às mães têm que se auto permitir pedir ajuda e escolher pessoas que não as julguem.

Fernanda aconselha as que estão na mesma situação a criarem um cronograma estruturado. “Defina as horas em que você vai trabalhar, as horas que você vai estar com seu filho e as horas que você vai estudar. Isso auxilia a diminuir  o sentimento de culpa, pois você vai ter a estrutura da divisão dos seus horários.” , E, acrescenta que conversar com os filhos e cumprir com os combinados feito com eles ajuda a eles entenderem a importância de estar se ausentando.

Como facilitadores na hora dos estudos atualmente, Kátia evidencia a facilidade em que as aulas online proporcionam, além dos preços serem mais acessíveis do que em sua época.”Isso tudo ajuda porque dá pra essa mãe a flexibilidade, a acessibilidade de poder estudar quando ela realmente pode”.

Outros conselhos que elas deram: 

  • Entender que não há maternidade perfeita, ideal
  • Possuir de maneira clara o seu propósito
  • Olhar não para as dificuldades, mas sim para os benefícios que virão com a aprovação
  • Construir um planejamento flexível 
  • Procurar estar bem fisicamente e psicologicamente 
  • Priorizar momentos de estudos em que esteja mais disposta
  • Ter momentos em que possa ouvir os filhos sobre essa realidade.

 

*Estagiária sob supervisão de Mariana Fernades.

“Cheguei a escutar que jamais seria aprovada porque teria um filho”

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Promotora vence preconceitos e prova que maternidade não é impedimento, mas sim estímulo para alcançar sonhos

A maternidade pode ser uma benção para as mulheres, mas nem sempre é vista assim pela sociedade. O fato de ser mãe, ainda mais com filhos pequenos, é encarado com preconceito pelo mercado de trabalho. No serviço público não é diferente. Além de existir concursos que não aceitam mulheres ou que restringem sua participação, existem editais que não aceitam candidatos com filhos. A luta diária para se provar capaz de trabalhar e ser mãe é uma realidade de muitas. Às vésperas do Dia das Mães, o Papo de Concurseiro dá voz a uma dessas mulheres, Maria Fernanda Balsalobre, que sonhava em ser promotora, mas foi desacreditada por muitos quando engravidou do primeiro filho. O que eles não contavam é que sua determinação e força viriam de onde eles menos esperavam. Confira abaixo o depoimento dela: 

 

Decidi, logo depois de me formar no curso de direito, que seria promotora de Justiça. Sempre gostei de direito constitucional e me fascinava aquela instituição cuja atribuição era ser a grande guardiã da Constituição Federal e dos direitos e garantias fundamentais. Entendi que era exatamente aquilo que queria fazer por toda a vida. Orgulhosa do meu sonho e cheia de coragem para concretizá-lo, comecei a estudar para concursos públicos da área, e logo percebi que o caminho não seria tão fácil quanto eu pensava.

Fui uma aluna mediana na faculdade, então a ideia de ter que saber tudo de todas as matérias me assustava bastante, já que em relação a muitas matérias a minha sensação era a de que eu não sabia absolutamente nada. Sequer sabia por onde começar os estudos e o planejamento.

Entendi rapidamente que o que eu tentava fazer outras pessoas já haviam feito e de forma fantástica. Passei então a conversar com diversos primeiros colocados dos mais variados concursos, para entender como fizeram, e pedia orientações e dicas. Sabendo exatamente como eles haviam se preparado, eu pouparia muitos erros na minha preparação.

Passei pouco mais de seis meses estudando, com o apoio financeiro de minha família. Depois desse período, comecei a trabalhar em uma assessoria jurídica, e tive, pela primeira vez, que conciliar estudos, trabalho e pós graduação.

Partindo da minha própria pesquisa sobre métodos de estudo e concursos, aliada à reflexão sobre meus erros e acertos (e dos amigos próximos) e orientações de aprovados bem classificados, cheguei a um método de estudo que me permitiu ótimos resultados em pouco tempo. Após pouco tempo trabalhando na assessoria jurídica, fui aprovada, entre os 10 primeiros colocados, no concurso para analista do Ministério Público do Estado de São Paulo. Assumi o cargo e continuava trabalhando e estudando, sempre com o meu grande sonho à vista.

 

Foi então que, aos 26 anos, em meio à preparação para o concurso de ingresso ao Ministério Público, engravidei do Fefê. Para minha grande surpresa, notei que muitas pessoas passaram a me olhar com ar de pena e cheguei a escutar, inclusive de familiares, que jamais seria aprovada agora que teria um filho. Ouvi que “deveria me contentar com o cargo de analista, que já era muito bom para quem tinha um filho”. Infelizmente, acreditei que seria impossível. Parei de estudar durante a gravidez, vendo cada vez mais aquele sonho, que já estava tão perto, se distanciar.

Contudo, quando Felipe nasceu e me olhou com aqueles olhinhos tão doces, eu logo entendi que eu e minha pequena dupla poderíamos chegar exatamente aonde quiséssemos. Tinha como analista um horário de trabalho que me permitia ficar com o filhote a manhã inteira. E, à noite, quando voltava do trabalho e ele dormia, eu estudava. Foi assim por muitos meses, todos os dias. Ele dormia. Eu estudava.

Fefê nasceu em outubro de 2011. Em 2012 prestei o concurso para o ingresso no Ministério Público. Durante as diversas fases ouvi, tantas vezes, que jamais conseguiria, já que “a carreira não via com bons olhos a mulher que já tinha filhos”. Decidi que usaria todo esse desestímulo dos outros para me motivar, e assim foi. À véspera da prova oral, um professor me disse (sem que eu perguntasse) que minha aprovação seria quase impossível, pois “mulher que tem filhos não se dedica à carreira”. Mas, como a vida também é feita de boas surpresas, encontrei uma Banca Examinadora composta por profissionais da mais alta cultura, inteligência, decência e sensibilidade.

Maria Fernanda, no dia da posse no cargo de promotora, com o filho Felipe, no colo (Foto: Arquivo pessoal)
Maria Fernanda, no dia da posse no cargo de promotora, com o filho Felipe, no colo (Foto: Arquivo pessoal)

Fui aprovada em segundo lugar no concurso de ingresso ao Ministério Público. Durante a minha posse, minha pequena dupla, que havia aprendido a andar havia pouco tempo, saiu do colo do meu pai e foi até o local em que eu estava, na primeira fila do salão, e permaneceu no meu colo durante toda a cerimônia. Nada mais justo.

Posso dizer que a receita para a aprovação é só uma: estratégia, motivação e método de estudo. Além disso, é preciso aprender a se interessar pelo que está estudando. E ter calma, entendendo que é apenas um caminho, que a aprovação virá, e todo o esforço terá valido a pena.

Hoje vejo que a maternidade, ao contrário do que ouvi tantas vezes durante a minha preparação, muito me ajudou. Fez com que eu amadurecesse profundamente e me tornou mais focada, segura e confiante. Se eu consigo criar um ser humano, o que eu não consigo fazer? Também no exercício da minha profissão, sinto que a maternidade me traz uma atuação madura, responsável, sensível e humana.

Aprendi, com alegria, que as carreiras públicas hoje são absolutamente plurais, e já deixaram para trás os preconceitos em razão das condições pessoais dos concursandos. Pode ser mãe, pode ter tatuagem, pode ser surfista, pode ser sedentário, pode ser pai, pode ser solteiro, pode ser extrovertida, pode ser tímido etc.

Aprendi, também, que todos enfrentamos grandes dificuldades, mas que a coisa mais linda da vida é ter coragem de lutar por um sonho. Se há espaço para sonhar, é possível realizar.

Após a aprovação, passei a ajudar amigas e amigos na preparação para as provas, ensinando o meu método inteligente de estudo, assim como me ensinaram quando precisei. Hoje, além me dedicar muito à carreira, cuidar dos filhos, da família e fazer esporte, passei a ajudar também os amigos virtuais, dando dicas e orientações para o estudo. Espero, de coração, que todos alcancem o grande sonho. Só não vale desistir.

Maria Fernanda Balsalobre Pinto
Promotora de Justiça – MPSP