Cleuza Ferreira, fundadora da Magrella - Crédito: Bruna Nardelli/Magrella

Referência mundial no ramo da moda

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Cleuza Ferreira foi uma das responsáveis por fomentar o segmento de moda em Brasília. A empresária, que, em 1970, fundou a marca Magrella, trouxe à capital um novo conceito de consumo quando a cidade estava se desenvolvendo. Na época, com uma escassez de empreendimentos desse nicho, a loja foi um sucesso de imediato. 

O incentivo para atuar no ramo, segundo Cleuza, começou muitos anos antes, por meio dos projetos que a sua mãe desenvolvia. “A minha maior inspiração para empreender foi a minha mãe, uma mulher simples que bordava enxovais de noiva para criar os filhos. Ela tinha um bom gosto ímpar. Cresci observando-a costurar. Adorava brincar com os tecidos dela, colocando-os tom sobre tom. A minha paixão pela moda surgiu ali, logo na primeira infância”, recorda. 

A família de Cleuza, uma das pioneiras do quadradinho candango em expansão, chegou à Brasília em 1958. Anos depois, a futura fundadora da Magrella entrou na Universidade de Brasília (UnB) e, nesse mesmo ano, passou a customizar as suas próprias peças para frequentar as aulas.

Quando iniciou os seus estudos, notou a falta de roupas interessantes na região. Por essa razão, ela conta que, naquele período, conseguiu enxergar uma oportunidade de transformar o amor por roupas em um negócio. Foi nesse momento de sua vida que Cleuza passou a frequentar cidades, como o Rio de Janeiro, para comprar peças com o intuito de revendê-las. 

Pouco tempo depois, a Magrella saía do papel – e dos sonhos de, hoje, uma das empresárias mais respeitadas dentro do ramo da moda. Com mais cinquenta anos de história, a loja é reconhecida como a principal multimarca de Brasília e uma das mais importantes em todo o país, além de uma referência em âmbito mundial.  

Para Cleuza, o processo de expansão da marca se deu de forma natural. “O ápice aconteceu em 1990, quando Collor liberou a importação no Brasil. No dia seguinte, peguei um avião e fui direto para Paris; e do aeroporto, direto para o showroom da Dior. Das grandes marcas, todas passaram por aqui, exceto Channel e Hermès”, conta. 

Com o passar das décadas, a Magrella acompanhou as mudanças da capital que, aos poucos, expandia e recebia, anualmente, mais pessoas para residir na região. Nesse processo, Cleuza indica que a loja se adaptou às novidades à medida que novos espaços comerciais eram criados. “Já estivemos na Asa Sul, no Conjunto Nacional e, há 18 anos, estamos na QI 3 do Lago Sul, em uma loja com uma metragem excepcional”, conta. 

A empresária ainda indica que, nesse processo, seus filhos, Juana e Fabricio, também ajudaram na consolidação da multimarcas. “É maravilhoso trabalhar com os filhos”, destaca. Hoje em dia, Juana segue voo solo em outro ramo, mas Fabricio permanece como diretor comercial da loja. 

Na década de 1970, Cleuza iniciou as operações da Magrella com Maria Bonita, Andrea Saletto e Mr. Wonderful. Com o seu crescimento e consolidação da multimarca no mercado, atualmente, a Magrella possui um acervo com mais de 50 marcas, nacionais e internacionais, e uma linha própria. 

Segundo a especialista de moda, ao trabalhar com as marcas certas, a visibilidade da Magrella veio. “O trabalho com constância recompensa. O reconhecimento, mais cedo ou mais tarde, vem para aqueles que persistem e fazem acontecer. O meu toque, olhar e gosto certamente também contribuíram”, comenta. 

Além disso, para ela, o sucesso da marca está relacionado a todo esse diferencial da multimarcas, onde misturam-se peças completamente diferentes que ficam excepcionalmente boas juntas. “O nosso atendimento também é diferenciado. Nossas consultoras e profissionais do ateliê de costura têm anos de casa. Trabalham com excelência e muita agilidade”, complementa.

Três perguntas para Cleuza Ferreira, fundadora da Magrella:

Como você avalia, atualmente, a moda brasileira?

A moda brasileira está vivendo um grande momento. Tem consistência, qualidade e bom gosto. Com a alta do dólar e do euro, as peças nacionais ainda têm um preço acessível. Vale mencionar novos talentos como Marcos Gurgel e Luisa Werner. Jovens, eles vêm despontando na moda nacional com suas marcas fresh. 

Qual o segredo para manter um negócio de excelência há cinco décadas?

Trabalho! Muito trabalho. Respiro a moda diariamente há quase seis décadas. Quando não estou no salão de vendas da loja, assisto a filmes de moda, leio livros de grandes estilistas aos domingos, estou sempre treinando o olhar.

Na sua opinião, por que a marca se tornou a principal multimarcas de Brasília e do Brasil?

Graças à curadoria. A seleção de peças da Magrella é feita de maneira criteriosa por mim. Prezo muito pela diversidade das roupas. Sempre tive esse dom de mesclar estilistas e cores. John Galliano [designer britânico de alta-costura que revolucionou a Dior] costumava me dizer isso: “dificilmente alguém consegue fazer uma curadoria como a sua, nos tons e no estilo”. Saber combinar tantas marcas em um só ambiente, não deixando um ar de folclore, é um exercício que faço há mais de 50 anos.