Entrevista: Cássio Barros | O campeão brasileiro pelo Vasco que virou técnico de confiança da família de Richarlison no Nova Venécia, rival do Brasiliense na Série D

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Richarlison e Cássio, técnico do Nova Venécia. Fotos: Arquivo Pessoal

Fundado em 27 de abril de 2021, o Nova Venécia Futebol Clube, adversário do Brasiliense neste domingo, às 15h, no início do mata-mata da Série D do Campeonato Brasileiro, no estádio Zenor Pedrosa, tem padrinhos fortes e badalados. O presidente do clube capixaba é seu Antônio Marcos, pai de Richarlison – ele mesmo, o Pombo, atacante do Tottenham e um dos xodós de Tite na Seleção Brasileira. O técnico do time quarto colocado no Grupo 6 na fase anterior da quarta divisão também tem nome forte e histórico para a torcida do Vasco.

Aos 52 anos, o ex-lateral-esquerdo Cássio Alves de Barros, o Cássio para os cruzmaltinos, ajudou o clube carioca a conquistar o título do Campeonato Brasileiro de 1989. Naquele mesmo ano, ele foi vice-campeão do Mundial Sub-20 com a Seleção, na Arábia Saudita. Aquela geração do Brasil tinha jogadores como o goleiro Carlos Germano, o lateral-esquerdo Leonardo, o volante Moacir, os meias Bismarck e Marcelinho Carioca e os atacantes Sonny Anderson e Roberto Assis, irmão de Ronaldinho Gaúcho.

Responsável pela rápida ascensão do Nova Venécia, Cássio fala na entrevista a seguir ao Blog Drible de Corpo sobre a missão de parar o Brasiliense, dono da melhor campanha geral da Série D entre os 64 clubes. Sincerão, diz que o atual bicampeão do DF é 99% favorito no mata-mata em ida e volta pela segunda fase, mas lembra de uma eliminação marcante no Gigante da Colina diante de um pequeno para valorizar seu 1% de chance. “O CSA ganhou do Vasco por 1 x 0 na Copa do Brasil de 1992 e nós fomos eliminados dentro de São Januário”.

Milagres acontecem com um dos times caçulas do país. Estreante na Copa do Brasil deste ano, o Nova Venécia eliminou o tradicional Ferroviário-CE na primeira fase e vendeu caro a derrota na etapa seguinte diante do Atlético-GO, time da elite do Brasileirão. Cumpridor de missões, Cássio bateu meta na Série D. O objetivo era avançar ao mata-mata. Ambicioso, ele quer mais e usa a bagagem do título brasileiro de 1989 e a coleção de títulos pelo Vasco, como o tricampeonato carioca em 1992, 1993 e 1994, para convencer o elenco de que o impossível é possível.

O que é mais difícil: ser jogador ou técnico?

Técnico é muito mais difícil. O jogador depende de si. Como treinador, as decisões dentro do campo fogem do nosso controle. Um erro e o atleta é responsabilizado.

Você tem longa experiência como técnico, principalmente nas divisões de base antes de iniciar a carreira profissional. Foi a melhor escolha começar com a garotada, aprender nas categorias inferiores do Vasco para depois dar o salto para o profissional e passar por Tigres, Duque de Caxias, Madureira, Nova Iguaçu, Palmas e Nova Venécia?

Eu comecei na base, no Sub-13 do Vasco. Passei por todas as categorias. Isso me deu base para entrar na carreira profissional. Vários jogadores trabalharam comigo. Posso citar o Danilo, Fabrício, Mosquito, Douglas Luiz, que está no Aston Villa na Premier League, Evandro, Andrey, Mateus Vital.

Quem são as suas referências como treinador?

O meu primeiro técnico profissional foi o Nelsinho Rosa. Aprendi muito com ele sobre a relação atleta-treinador. Tive o prazer de trabalhar com o Vanderlei Luxemburgo no Santos, em 1997. Aprendi também com o Abel Braga, René Simões. Tem um pouco de cada um.

Você jogou no futebol candango quando o Brasiliense, adversário do Nova Venécia na segunda fase da Série D do Campeonato Brasileiro, tinha apenas dois anos. Quais são as lembranças do Candangão?

Eu joguei no Sobradinho. O Toni (ex-centroavante) havia arrendado o clube e precisa de um jogador experiente. Eu estava aposentado, parado havia sete meses. Topei o desafio para ajudar o time a não cair. Na época, a primeira fase não tinha Brasiliense e Gama, que só entraram no hexagonal final. O Sobradinho não se classificou, mas também não caiu. Cumprimos a missão. Joguei um mês no clube sem salário, só para colaborar, mesmo. Depois, o Reinaldo Gueldini me convidou para jogar a fase final pelo CFZ, que tinha o Tiano, Schwenck e outros. Eu disse que não daria conta. Estava gordo (risos).

O lateral do Vasco no título brasileiro de 1989 encerrou a carreira no Candangão de 2002 pelo Sobradinho

Não enfrentou o Brasiliense como jogador, mas duelará como treinador. Qual é a sua expectativa para esse mata-mata na quarta divisão?

O favoritismo é todo do Brasiliense. Considero 99%. A nossa chance é de 1%, mas isso significa que nós temos uma oportunidade de surpreender. A nossa intenção é de pelo menos fazer dois grandes jogos, mostrar o nosso trabalho e conquistar o nosso espaço.

O fato de o Brasiliense ter a melhor campanha geral da Série D eleva a dificuldade?

Isso aí tudo motiva a gente ainda mais. O Brasiliense é um time muito forte, tem jogadores de nome, como Hernane, Felipe Gedoz, Bernardo, mas é possível sonhar com o nosso 1% de chance. Temos que minimizar a margem de erro. Jogadores desse nível técnico dificilmente falham. Quando eu era jogador do Vasco, vivi experiências em que time pequeno venceu e prevaleceu contra o grande.

A lembrança de superação é de algum mata-mata específico?

Em 1992, o Vasco foi eliminado da Copa do Brasil pelo CSA. Perdemos por 1 x 0 dentro de São Januário. O nosso time tinha Edmundo e Roberto Dinamite (Carlos Germano; Luís Carlos Winck, Alê, Tinho e Cássio; Leandro Ávila, Luisinho, Bismarck e William (Roberto Dinamite); Edmundo e Valdir (Hernande).

Você assumiu o Nova Venécia em 2021 e tem fama de bater metas…

Todos os objetivos foram traçados e alcançados. Nós subimos da Série B para a A no Capixaba do ano passado. Conquistamos o título da Copa Espírito Santo e ganhamos vaga para a Copa do Brasil. Eliminamos o Ferroviário-CE na primeira fase, alcançamos a segunda e fomos eliminados pelo Atlético-GO. Na Série D, o objetivo era avançar para a segunda fase e estamos nela. Só não chegamos na final do Capixaba neste ano. Fomos eliminados nas semifinais (eliminados por 4 x 3 pelo Vitória no placar agregado).

O técnico do Nova Venécia é observado pelo presidente Antônio Marcos, o pai de Richarlison

O presidente do clube é o seu Antônio Marcos, pai do Richarlison, atacante do Tottenham e embaixador do Nova Venécia, a cidade em que ele nasceu. Ambos são exigentes? Como é o relacionamento com eles?

O filho é espelho do pai. São pessoas muito humildes. Dão total tranquilidade para trabalhar. Tem também o diretor de futebol Lucian Barros, que faz a engrenagem funcionar. O mais importante é que todos eles vivem o futebol.

O embaixador Richarlison dá aquela pilhada no Nova Venécia em jogos importantes?

Ele acompanha quando dá e manda mensagens ao time pelo pai.

Você é um dos poucos técnicos negros nas quatro divisões do Brasileirão. Como é o desafio de sobreviver nessa profissão jogando, também, contra o preconceito?

Graças a Deus eu nunca sofri racismo, mas isso existe. É questão de educação. Nós precisamos evoluir. Se a resposta não for pela educação, isso vai perdurar por muito tempo.

Quais foram os lances que marcaram a vida do lateral-esquerdo Cássio?

Primeiro, a minha estreia profissional pelo Bahia no Campeonato Brasileiro de 1989. Na sequência, o título no mesmo ano pelo Vasco. Eu joguei algumas partidas. Revezava com o Luiz Carlos Winck e o Mazinho na lateral direita e na esquerda. Fiz um gol inesquecível contra o Náutico (assista ao vídeo). O gol contra Mali pela Seleção no Mundial Sub-20 também é marcante (goleada por 5 x 0 na segunda rodada da fase de grupos).

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Marcos Paulo Lima

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