Opinião: Copinha e as fugas de talentos da capital

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A Copa São Paulo de futebol Júnior, popular Copinha, estampa as contradições do combalido futebol candango. A capital do país tem dois estádios caríssimos inaugurados nos últimos 14 anos — Bezerrão e Mané Garrincha —, mas faltam times locais capazes de rentabilizar os elefantes brancos. Enquanto Brasília mendiga para receber eventos de ponta e o GDF cobre os rombos de arenas ociosas, meninos da base perambulam pelo país afora em busca de vitrine. Tudo errado.

Levantei a quantidade de jogadores nascidos no Distrito Federal inscritos na Copinha. São 79. Como a lista não cabe aqui, publicarei os nomes em um post específico no blog Drible de Corpo. Menos da metade estão vinculados ao Real Brasilia e ao Taguatinga. Eliminados, os dois times representaram a capital no torneio.

Dos 79 nascidos no DF, 43 disputaram a Copinha por times de fora do quadrado. O censo aponta meninos em times de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Rio, Goiás, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Pará e Tocantins.

Temos candanguinhos no Atlético-MG, Athletico-PR, Corinthians, Fluminense, Grêmio, Palmeiras e Santos. Mas há, também, quem só conseguiu a chance da vida no Castanhal-PA, Taquarussú-TO, Mixto-MT ou no interior de São Paulo. Capivariano, Linense, Mirassol, Monte Azul, Oeste, XV Piracicaba e Itapirense são rotas alternativas da fuga de talentos. Quem não vai tão longe aventura-se nos vizinhos Goiás, Vila Nova ou Aparecidense.

A escassez de projetos minimamente sérios na base, como os do Real Brasília e do Taguatinga; a carência de oportunidade; e a falta de clubes de ponta explicam as fugas da capital. Afinal, quem quer ver o filho jogando numa cidade que, há nove anos, só amarga times na quarta divisão?!

Não tenho dúvida de que o DF tem potencial para fabricar jogadores de ponta. O último brasileiro eleito melhor do mundo é brasiliense — Kaká, em 2007. Em 2002,o meia nascido no Gama foi campeão da Copa do Mundo ao lado do conterrâneo Lúcio.

Amoroso ganhou Libertadores e Mundial pelo São Paulo. Washington é o maior artilheiro de uma edição do Brasileirão. Fez 34 gols em 2004. Dimba vem logo atrás, com 31, em 2003. Felipe Anderson foi ouro nos Jogos do Rio-2016. Reinier, criado no Guará, igualou o feito em Tóquio-2020.

A questão é outra. Políticos e cartolas da cidade bancaram que o investimento bilionário na construção do Mané Garrincha deixaria como legado o desenvolvimento do futebol candango — das divisões de base ao profissional. Os bobos da corte da época acreditaram.

Oito anos depois, a capital tem duas arenas caríssimas e deficitárias — Bezerrão e Mané Garrincha. Ao investir em elefantes brancos, o GDF minou os clubes da cidade. Os 43 meninos candangos da Copinha se mandaram do quadrado por falta de perspectiva no esporte local. A cidade tinha potencial para fazer dos cubes daqui referências na formação, mas escolheu ter estádios concretos e futebol abstrato. Sem time. Sem alma. Sem gente. Sem jeito.

Coluna publicada na edição impressa de sábado (15.1.2022) do Correio Braziliense.

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Marcos Paulo Lima

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