Como o Candangão driblou o descaso com estádios e multiplicou arenas para ter início, meio e fim

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Final de campeonato costuma ser o dia predileto dos chamados papagaios de pirata. Ainda mais em ano de eleições. Gente da política que passou quatro meses posando de Rolando Lero, prometendo colaborar com o torneio, não cumpriu, mas faz questão de marcar presença, usar o palanque e ficar bem na foto da festa de quem verdadeiramente trabalhou duro para entregar um produto minimamente decente com início, meio e fim. Não foi diferente neste sábado no último capítulo do Candangão na conquista do Brasiliense por 3 x 2 contra o Ceilândia no placar agregado.

Escrevo isso para destacar o heroísmo do departamento de competições da Federação de Futebol do Distrito Federal. O setor tirou leite de pera. Concluiu o Candangão sem contar com vários estádios da capital administrados diretamente pelo Governo do Distrito Federal (GDF). Das sete arenas utilizadas nos 59 jogos, duas são gerenciadas pela iniciativa privada (Mané Garrincha e Defelê), três pertencem a prefeituras de cidades goianas e mineiras do Entorno (Serra do Lago, Urbano Adjuto e Diogão) e o Abadião é zelado pelo Ceilândia e o Brasiliense em uma parceria com a administração regional do bairro. Se não fosse assim…

O acanhado estádio recebeu 18 das 59 partidas. Quase um terço! Houve promessa de que as chamadas praças esportivas seriam revitalizadas para o Candangão. Aconteceram vistorias, discursos bonitinhos. No fim, as arenas nem maquiadas foram. Nenhum time jogou — nem jogará tão cedo — no Bezerrão, cujo orçamento para reconstrução do gramado é de R$ 3 milhões, como revelou o blog.

Se o problema fosse somente o Bezerrão… No início do ano, havia expectativa pela utilização do Augustinho Lima, em Sobradinho. A bola não rolou lá. O Rorizão era outro destino importante para o rodízio de endereços e a conservação de gramados castigados pelo excesso de partidas. Em processo de licitação, o Cave, no Guará, é um escândalo desde que Brasília foi eleita para receber a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos do Rio-2016. Lembram? Funcionaria como Centro de Treinamento. Ponto de apoio para seleções de ponta.

Há mais uma licitação em jogo, mas outras tantas aconteceram e a obra, que se arrasta há quase uma década, não chega ao fim. Perguntar sobre o dinheiro que já foi despejado lá ofende. O complexo esportivo localizado ao lado da Feira do Guará é um dos maiores retratos do abandono. O DF tem, hoje, 13 estádios. Os que não recebem investimento privado viraram casas fantasma. Eu poderia citar os perrengues dos outros, mas esses bastam. Outro ponto positivo é a transmissão do torneio na TV Câmara Legislativa. Bela iniciativa.

Onde foram os 59 jogos

  • Abadião: 18 jogos (cuidado por Ceilândia, Brasiliense e administração de Ceilândia)
  • Serra do Lago: 12 (Prefeitura de Luziânia)
  • Juscelino Kubitschek: 10 (cuidado pelo Capital)
  • Defelê: 9 (cuidado pelo Real Brasília)
  • Urbano Adjuto: 4 (Prefeitura de Unaí)
  • Mané Garrincha: 4 (Arena BSB)
  • Diogão: 2 (Prefeitura de Formosa)

Ficaram fora da tabela

  • Adonir Guimarães: impraticável

  • Augustinho Lima: impraticável

  • Bezerrão: impraticável

  • Cave: impraticável

  • Chapadinha: impraticável

  • Metropolitana: impraticável

  • Ninho do Carcará: impraticável

  • Rorizao: impraticável

  • Serejão: em reforma bancada pelo Brasiliense

O Candangão 2022 teve início, meio e fim porque houve mais interesse da iniciativa privada do que pública. A Arena BRB Mané Garrincha é terceirizada e recebeu quatro jogos. O Capital  transformou o Estádio JK, no Paranoá, endereço de 10 partidas. Rebaixado para a segunda divisão no ano passado, o Real Brasília, que também tem dono e ressuscitou o histórico Defelê com verba do próprio bolso, foi uma mão amiga à FFDF. Deu abrigo a nove confrontos da competição. Arrendado pelo Brasiliense, o Serejão, em Taguatinga, não recebeu duelos do atual bicampeão do DF porque está em reforma para a terceira fase da Copa do Brasil, a Série D do Campeonato Brasileiro e a Copa Verde. O investimento é bancado pelo clube privado.

Reclamam da presença de times do Entorno no Candangão, como os rebaixados Luziânia e Unaí, mas, diante do descaso público com as arenas do DF, onde buscaram solução? Justamente na casa dos vizinhos goianos e mineiros! O Gama, por exemplo, teve vida cigana. Mandou partidas no Serra do Lago, em Luziânia, e no Diogão, em Formosa. Portanto, longe da torcida. Juntas, as arenas de fora da capital abrigaram 18 partidas, ou seja, a mesma quantidade do Abadião. Como seria se os “forasteiros” não disputassem o campeonato local?

Para não dizer que não falei das flores, aplausos para o investimento do Banco de Brasília no torneio. Sigo considerando o valor da compra dos naming rights, o cachê pago por partida e os prêmioso Banpará — instituição privada parceira do recém-encerrado Campeonato Paraense, aquém do que banca, por exemplo, o Banpará — instituiçãoo Banpará — instituição privada parceira do recém-encerrado Campeonato Paraense. instituição financeira estatal, como o BRB, parceira do recém-encerrado Campeonato Paraense. Mas é um bom começo para quem nada tinha. Deixo apenas uma sugestão ao BRB: não invista, em 2023, nos clubes que se recusam a publicar balanço. Lei descumprida há muito tempo por alguns clubes “vai que cola” da elite candanga.

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Marcos Paulo Lima

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