Como a pandemia afeta as firmas especializadas em gramados. Falamos com as duas maiores do setor

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Responsáveis pela manutenção dos campos de futebol dos principais estádios do país utilizados no Campeonato Brasileiro, as duas maiores empresas especializadas em gramados não estão imunes à pandemia do novo coronavírus e contabilizam prejuízos. O blog consultou as líderes no segmento Greenleaf Gramados e World Sports Soluções Esportivas sobre o impacto da paralisação do futebol. Executivos das duas firmas revelam problemas como inadimplência, renegociações de contratos em série e até mesmo dificuldades financeiras dos clientes para honrar a redução combinada nos novos acordos.

Engenheiro agrônomo da World Sports, responsável, entre outros, pelos pisos do Allianz Parque, Arena Corinthians, Vila Belmiro, Arena das Dunas e Pantanal, José Coutinho faz um retrato da crise. “As competições pararam. Os clubes fazem a roda girar, mas a manutenção dos gramados, que são seres vivos, não pode parar. Nenhum contrato foi cancelado. Renegociamos acordos, diminuições de até 15%. Diminuímos pessoal e maquinário”, conta.

O impacto econômico, ainda, atingiu contratos internacionais. “Mantemos 50% de pessoal e de maquinário na Califórnia e na Flórida, onde também houve renegociação de contrato”, explica o empresário. Apesar das renegociações, os atrasos no pagamento continuam. “A gente começou a ter esse tipo de problema. Alguns clubes estão com dificuldades, mas não é nada tão grave. É um impacto grande, mas chamaram para renegociar”, pondera.

“As competições pararam. Os clubes fazem a roda girar, mas a manutenção dos gramados, que são seres vivos, não pode parar. Nenhum contrato foi cancelado. Renegociamos acordos, diminuições de até 15%. Diminuímos pessoal e maquinário”

José Coutinho, diretor-técnico da World Sports, firma responsável pelos gramados do Allianz Parque, Arena Corinthians, Vila Belmiro, Pacaembu, Arena Pantanal, Arena das Dunas, entre outras

Coutinho diz que a World Sports e alguns parceiros estão aproveitando o intervalo forçado pela pandemia para antecipar serviços. “Estamos fazendo a preparação para o inverno. Alguns lugares estão com temperaturas que permitem esse tipo de atividade. Os projetos de construção também não estão parados”, acrescenta.

Cliente da firma, o Pacaembu é um caso à parte. O gramado do estádio está sendo ocupado por um hospital de campanha para atendimento aos infectados pela Covid-19. Segundo Coutinho, não há preocupação com a preservação do campo de jogo. Como a arena é administrada por uma concessionária, havia possibilidade de o estádio fechar no fim do ano para reforma do complexo, inclusive no gramado. Isso continua nos planos”, detalha.

Parceira da Arena BSB na manutenção do gramado do Mané Garrincha, a Greenleaf é outra gigante do setor atingida pela pandemia. “O mercado de gramados e dos clubes em geral passava por dificuldade na primeira, segunda e terceira divisões. Não nos pagavam de forma adimplente. Alguns com cinco, seis meses de atraso. A situação agravou-se demais. Dos nossos cinquenta e poucos clientes, 11 estão em dia. Clubes, mesmo, quatro. O restante é estádio, centro de treinamento, parceiros como campos de golfe, enfim, outros serviços”, contabiliza em entrevista ao blog Flávio Piquet — um dos sócios da firma com sede no Rio de Janeiro.

“O mercado de gramados e dos clubes em geral passava por dificuldades na primeira, segunda e terceira divisões. Não nos pagavam de forma adimplente. Alguns com cinco, seis meses de atraso. A situação agravou-se demais. Dos nossos cinquenta e poucos clientes, 11 estão em dia. Clubes, mesmo, quatro”

Flávio Piquet, sócio da Greenleaf Gramados, responsável pelo Mané Garrincha, Maracanã, Mineirão, Independência, Nílton Santos, Castelão, Fonte Nova, entre outros

O executivo não vê solução em curto prazo. “Está difícil, e a gente não vê muita luz no fim do túnel. Vamos pegar o caso do Mané Garrincha. Nós demos um desconto, e vale dizer que a Arena BSB está adimplente, pagando o que combinou. Diminuímos o efetivo, mas não há certeza quanto a eventos. Só depois que isso tudo passar e tivermos vacina. Quantas pessoas seriam infectadas, hoje, numa partida com 60 mil a 70 mil pessoas no Mané Garrincha gritando gol ao mesmo tempo, ou cantando num show, num concerto? Estamos falando de um mês em que as coisas estão paradas. O cenário para frente é bem sombrio”, alerta Piquet.

Gramados sintéticos, como os do Allianz Parque e da Arena da Baixada, demandam menos manutenção, mas, segundo os especialistas, isso não deve se transformar numa tendência quando a pandemia passar. “No caso do Palmeiras você faz uma manutenção bem mínima, a cada três meses. Mas a história do sintético x natural passou a falsa ideia da redução de custo. Isso é um mito. Jogador não gosta. Eu mesmo considero outro esporte. Não acho isso uma tendência. No caso do Allianz, foi praticamente devido aos shows. Valeu a pena, mas tem um custo muito caro de construção. A instalação do sintético é 5 vezes mais cara do que a natural. Um gramado top sintético custa de R$ 4 milhões a R$ 5 milhões. Natural por R$ 1 milhão”, compara José Coutinho da World Sports.

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Marcos Paulo Lima

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