A lição deixada pela PEC Emergencial no Congresso

Publicado em coluna Brasília-DF

Coluna Brasília/DF de 12 de março de 2021

Lula Marques/Fotos Públicas

Passada a votação da proposta de emenda constitucional que congelou o salário dos servidores, os parlamentares da oposição farão reiterados apelos ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para que deixe as propostas mais polêmicas para análise quando houver condições de realizar sessões presenciais. “Isso aqui sem povo não funciona. Os deputados ficam em casa, uma maioria expressiva não acompanha os debates e apenas segue a orientação para votar sim ou não”, diz o líder do PCdoB, Renildo Calheiros (PE). “Questões polêmicas e emendas constitucionais não podem ser votadas em sessões remotas”, completa.

Só tem um probleminha: é justamente esse o ambiente que o governo deseja aproveitar para passar, por exemplo, a forma administrativa, colocada como prioridade por Lira e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. O Planalto acredita que, sem povo, pressão dos servidores e confabulações de plenário, o Congresso funciona muito melhor.

 

“Meu legado”

Lira não vê a hora de colocar as reformas tributária e administrativa em pauta para mostrar que, na sua gestão, essas propostas finalmente foram aprovadas pelo Parlamento. Vale lembrar que Rodrigo Maia quis aprovar a tributária, mas o Centrão obstruiu tudo para evitar que o Democratas saísse com essa marca da Presidência da Casa.

 

Mais uma baixa

A equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, está prestes a perder mais um técnico. O secretário de Gestão e Desempenho de Pessoal, Wagner Lenhart, pretende deixar o cargo para acompanhar a mulher, que está grávida e morando em São Paulo. Em tempos de pandemia e de tragédia de mortes por covid, não dá para ficar na ponte aérea.

 

Vacina brasileira

Essa é a principal esperança do presidente Jair Bolsonaro para sair da sinuca de bico em que se meteu ao desautorizar, lá atrás, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a fechar o acordo inicial para a compra da CoronaVac. Ele pediu ao ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, que trabalhe no que for possível para isso. Se demorar muito, não vai adiantar para ajudar na reeleição.

 

Nem vem

Quanto ao distanciamento social, não adianta: o presidente continuará criticando as medidas restritivas, sem constrangimento. Ele está convencido de que os governadores tomam decisões, como o toque de recolher, apenas para prejudicá-lo.

 

Damares anula anistias

Ao revisar a concessão de anistia a 800 ex-cabos da Força Aérea Brasileira (FAB) que haviam sido aprovadas sob a alegação de perseguição política, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, capitaneado pela ministra Damares Alves, manteve apenas 43. A economia dessa revisão, feita com base em critérios definidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo ministério, é de R$ 110 milhões. Ao todo, serão revisados mais de 2.500 benefícios concedidos a cabos dispensados por conclusão do tempo de serviço, em 1964.

 

 

Curtidas

Climão I/ A convivência entre Lira e o PSol está cada vez pior. Esta semana, foi chamado de “coronel” pelo deputado Glauber Braga (PSol-RJ) porque não aceitou o pedido do partido para a nova lista de presença, quando a sessão ordinária terminou seu tempo regimental e outra foi reaberta para dar continuidade à votação da PEC Emergencial.

Climão II/ Glauber ainda comparou Lira ao ex-presidente Eduardo Cunha: “Nenhum coronel vai calar a minha voz. Eduardo Cunha teve seu destino traçado”, comentou. Eis que Érika Kokay (PT-DF) completou: “A única pessoa que se achava dona desta Casa está presa”. Lira cortou os microfones de ambos.

Celebridades & política / O reality show A Casa do Zé, comandado pelo CEO do Instituto Brasileiro de Coaching (IBC), José Roberto Marques, terá uma edição pocket para a Netflix e o Globoplay. Entre as 17 pessoas confinadas numa casa estão o ex-deputado e cantor Frank Aguiar, Adriana Bombom, Suzete Cipriano, do grupo Fat Family e a digital influencer fitness Tati Lobão, filha do ex-senador Lobão Filho e neta do ex-ministro, ex-senador e ex-governador do Maranhão Edison Lobão.

Em tempos de pandemia…/ A ideia é o inverso do BBB. Filmado em Goiânia, o reality A casa do Zé é um misto de atividades e treinamento para uma vida melhor, no qual o foco é bondade, cura e autoconhecimento.

PEC Emergencial, a batalha da semana

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Saíram os “elefantes”, mas ficaram os “jabutis”

Alguns deputados que aproveitaram o fim de semana de lockdown para estudar a PEC
Emergencial já encontraram vários pontos com dificuldades de aprovação no
plenário da Câmara. Um dos pontos é o dispositivo que congela a valores de
2019 os repasses aos fundos de desenvolvimento do Nordeste, Norte e
Centro-Oeste e o que revoga o artigo 91 das Disposições Transitórias, que
havia sido regulamentado pela Câmara recentemente. “São itens que prejudicam
os estados”, diz o deputado Hildo Rocha (MDB-MA), referindo-se ao
congelamento do repasse de “impostos sobre renda e proventos de qualquer natureza
para aplicação em programas de financiamento ao setor produtivo das regiões
Norte, nordeste e Centro Oeste”.

Quanto ao artigo 91, que também se refere à transferência obrigatória de recursos para os estados, Rocha procurou os consultores da Câmara para saber o que será feito da lei que regulamentou o artigo. Na avaliação de muitos, perderá a validade. “O Senado tirou os elefantes da PEC, como a desvinculação de recursos da educação. Mas manteve muito jabuti escondido”, conclui o deputado, referindo-se ao emaranhado de incisos constitucionais, caputs e alíneas citados no confuso texto da PEC.

Nova ação contra Bolsonaro

Procuradores da República viram nas declarações recentes do presidente Jair Bolsonaro uma
brecha para que ele seja chamado a responder na Justiça por omissão. É que,
ao mencionar que tem um plano pronto para aplicar, mas não o fez, ele pode
ser acusado de omissão.

Veja bem

O presidente disse que aplicaria o plano contra a covid se o Supremo Tribunal Federal
permitisse. Como o STF já disse que nunca o proibiu de cuidar da tragédia da
covid-19 no país, essa questão pode se agravar nos tribunais, onde aliás, já
existem processos contra o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

A pressa…

O governo vincula a PEC ao pagamento do auxílio emergencial, necessário e
urgente, justamente para que não dê tempo de uma leitura mais apurada do
texto pelos deputados. Porém, as primeiras avaliações feitas nas últimas 48
horas indicam que os R$ 44 bilhões serão insuficientes para o pagamento das
quatro parcelas previstas.

… é inimiga da perfeição

No ano passado, foram R$ 55 bilhões por mês, ou seja, gastou-se mais em uma
parcela do que o governo pretende gastar agora em quatro parcelas para um
número de brasileiros que ainda não está totalmente fechado.

Eles querem mais

Os deputados e senadores concordaram em destinar os recursos das emendas para a
compra de vacinas contra covid e insumos necessários ao programa de
imunização. Mas, tem um grupo pressionando o Planalto a separar um dinheiro
para as tais “emendas extras” que irrigam as bases dos aliados ao governo.

CURTIDAS

E a mansão, hein?/ Quem conhece bem os juros praticados no mercado imobiliário de Brasília tem se referido à taxa obtida pelo senador Flávio Bolsonaro como “taxa Minha Casa, Minha Vida”.

Baleia no comando/ Reconduzido à presidência do MDB, o deputado Baleia Rossi (SP) (foto) trabalha discretamente na formatação do partido para as eleições do ano que vem. A ideia é colocar nomes fortes na disputa para deputados federais em todos os estados. Sabe como é, sem coligação e nem federação de partidos, será cada um por si.

Por falar em 2022…/ Pesquisas internas dos partidos indicam que o governador Ibaneis Rocha (MDB) tem aparecido bem para concorrer à reeleição. Como principal adversário, o senador Reguffe (Podemos-DF).

O lockdown de Bolsonaro/ No Alvorada, não há ganchos de redes instalados para que o presidente Jair Bolsonaro possa armar a que recebeu de presente do ex-deputado Alberto Fraga e do artesão Gilton, de Sergipe. Mas, hoje, com o jogo do Palmeiras contra o Grêmio, a rede terá um lugar especial. Pelo menos, nesse horário, o presidente vai ficar em casa, quieto e longe das aglomerações.

Lira e Pacheco são aconselhados a ignorar falas contra o lockdown

Publicado em coluna Brasília-DF

Esse é o principal conselho que os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, têm recebido em reuniões informais que discutem sobre como proceder diante das falas de Jair Bolsonaro contra o lockdown determinado em vários estados para tentar conter a taxa de transmissão da covid-19 — índice que, no Distrito Federal, chega ao patamar de 1,32, conforme o governador Ibaneis Rocha anunciou, ontem (4/3), em entrevista ao CB.Poder. Lira, porém, chegou a cogitar um apoio incondicional ao presidente nesse campo, mas mudou de ideia e acabou seguindo o aviso de seus conselheiros. Afinal, foi eleito para ajudar a votar o projeto econômico do governo e não para ir contra a ciência.

Até os aliados de Bolsonaro acreditam que ele passou do tom ao criticar as medidas, ao dizer que “chega de mimimi”, e por aí vai. Mas não dá para confundir essa posição com qualquer perspectiva de afastamento do presidente. Se alguém for por esse caminho, levará todo o grupo de centro de volta ao colo presidencial. Qualquer atitude nesse sentido transformará o presidente em vítima e não resolverá o problema principal do atendimento hospitalar e da redução da taxa de transmissão, de forma a tirar a pressão sobre o sistema de saúde.

Corra, Lira, corra

A ordem na Câmara é votar os dois turnos da PEC Emergencial em, no máximo, duas semanas e aprovar na íntegra o texto que veio do Senado. Afim de evitar qualquer fatiamento, a ideia é fechar no discurso de que essa emenda constitucional, na íntegra, é crucial para aprovar o auxílio emergencial. A preços de hoje, avisam aliados do presidente, não há ambiente para fatiar a proposta.

Hora da escolha
Com o limite de R$ 44 bilhões para o pagamento de auxílio, o governo definiu a seguinte estratégia: se a oposição quiser aumentar o valor, o número de beneficiários será menor.

Menos, presidente, menos
Em discurso, ontem (4/3), Bolsonaro disse que o Brasil é o país que mais vacinou. Não é bem assim. Está em sétimo em números absolutos. E, eis que os tucanos acrescentam: se não fosse a CoronaVac, que o governador João Doria conseguiu trazer para produzir no Brasil, a situação estaria pior.

Livre para vetar
O governo foi contra a aprovação do projeto de socorro ao setor de eventos, de forma a deixar aos parlamentares o seguinte aviso: vetos virão.

Em suaves prestações
As doses da Janssen e da Pfizer não chegarão ao Brasil na velocidade que o governo deseja. A perspectiva é ter um volume alto até janeiro de 2022. Nesse sentido, tem razão o governador Ibaneis, quando diz que a doença veio para ficar e ainda levará um tempo para que o mundo tenha uma oferta abundante de imunizantes.

Lista quádrupla/ Com a abertura de uma nova vaga no Superior Tribunal de Justiça (STJ), com o anúncio da aposentadoria de Nefi Cordeiro, a escolha de dois novos ministros será feita pelo presidente da República com base em uma lista de quatro nomes. A eleição dos quatro será presencial. E ainda não tem data prevista. Diante da pandemia, vai demorar.

Liberou geral/ O DEM está com dificuldades de fechar uma posição de bancada na Câmara e no Senado. Para manter a turma unida num cenário que vai de Ciro Gomes a Jair Bolsonaro, as últimas votações foram no sentido de liberar.

Eles estão todos bem/ Frederick Wassef leva a vida numa boa. Nas vésperas do lockdown no DF, aproveitava o fim de tarde no Setor Hoteleiro, num quiosque de churrasquinho que costuma reunir apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Ele e uma morena eram os únicos sem máscara.

Por falar em Wassef…/ O senador Flávio Bolsonaro, o 01, pode até ter o apoio do pai, do advogado e lá vai. Mas, na equipe do presidente, a coisa é diferente. Flávio é visto, com todo o respeito, como o “carioca esperto”. Aliás, Bolsonaro tem dito, em relação à pandemia, que as pessoas devem encarar os problemas. O mesmo vale para compras de mansões e rachadinhas, que precisam ser esclarecidas.

Bolsonaro sentiu o tranco do recorde de mortes por covid-19

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O trágico cenário de mais de 259 mil mortes por covid-19 e o desabafo do governador de São Paulo, João Doria, tachando Jair Bolsonaro como o “mito da mentira, da incompetência”, elevou a temperatura no Palácio do Planalto e fez com que o governo corresse para divulgar a compra de 100 milhões de doses da vacina da Pfizer. A avaliação dos aliados é a de que ainda dá tempo de recuperar terreno. Porém, a irritação do presidente chegou ao ponto de ele querer fazer um pronunciamento à Nação para responder ao governador paulista e se defender dos ataques que considera receber diariamente.

O presidente também não gostou nada de Doria ter citado, ainda que en passant, a compra da mansão de quase R$ 6 milhões pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). O governador disse que não precisa das benesses do poder, de rachadinhas. Para muitos, é uma prévia do que pode vir por aí numa eleição presidencial, caso seja o candidato do PSDB.

Bolsonaro tem sido aconselhado a evitar uma posição raivosa no pronunciamento e adotar um tom positivo, falando das vacinas que o governo vai comprar e por aí vai. O genioso presidente, porém, não está conseguindo controlar a raiva. Acha que faz tudo certo e o erro está nos outros.

Dispositivo anti-oposição

A decisão do relator da PEC Emergencial, Márcio Bittar (MDB-AC), de colocar o valor de R$ 44 bilhões para o auxílio emergencial veio sob encomenda para evitar que os oposicionistas aumentem o valor inicial, de R$ 250. Agora, é aceitar o valor que o governo estipulou e ponto.

Gato escaldado
Os governistas não se esquecem de abril do ano passado, quando, inicialmente, o governo propôs R$ 200, os congressistas elevaram para R$ 500 e Bolsonaro, para não ficar no papel de “perdedor”, aumentou para R$ 600 e fez o anúncio na hora da votação. O governo sabe que, agora, não tem mais bala na agulha –– e nem tinha à época –– para repetir essa escalada.

Para o bem ou para o mal
A queda de 4,1% no PIB de 2020 e o fato de o Brasil ter caído para a 12ª posição no ranking das maiores economias do mundo pesarão nas costas do governo federal. O discurso é o de que, se o governo federal tivesse providenciado as vacinas há mais tempo, a situação não estaria tão crítica.

Vai demorar
Cumpridos os prazos para apreciação do Orçamento deste ano, a proposta só deve chegar ao plenário do Congresso no final deste mês –– e olhe lá. A avaliação geral é a de que será impossível cumprir o prazo de 15 de março, que o governo federal pediu.

DEM segura a galera/ A resultante da live de ontem (3/3) do DEM, com a presença de Luiz Henrique Mandetta e ACM Neto, foi lida no partido como um recado de que apenas Rodrigo Maia (DEM-RJ) está na porta de saída. As críticas pessoais que fez a ACM Neto dinamitaram as pontes de retorno à boa convivência.

Documento para a posteridade…/ O vídeo em que o senador Flávio Bolsonaro defende o negócio de pai para filho e o financiamento da sua mansão já está devidamente guardado por todos os opositores. Bem como as imagens do imóvel. O “01” surge como o maior ponto frágil de Bolsonaro.

… e para a eleição/ Se tem algo que a população entende é quando vem o popular “o hômi enricou”. E isso será fartamente explorado na campanha, bem como as denúncias de tentativa de interferência na Polícia Federal, feitas pelo ex-ministro Sergio Moro. Essas atitudes, associadas ao descontrole da covid no país, vão engrossar o caldo de 2022.

Acorda, Jair/ O presidente disse com todas as letras que “criaram pânico” em relação à covid-19. Não, presidente. Com aproximadamente 259 mil mortos, 1.910 nas últimas 24h, o que parece é que o senhor subestimou a gravidade da doença para milhares de brasileiros.

Governadores vivem a pandemia à sombra de Manaus

Publicado em coluna Brasília-DF

Governadores que avaliam ou concluíram pela necessidade de lockdown –– caso, por exemplo, de Ibaneis Rocha, do Distrito Federal ––, não tiram da cabeça a situação de Manaus. Lá, o governo estadual fechou tudo e, por causa da pressão de manifestantes, recuou. Depois, a situação da covid-19 se agravou, a ponto de não ter oxigênio nos hospitais para atender os pacientes. Se isso se repetir em outros estados, os governadores que cederem aos manifestantes terão problemas na Justiça.

A avaliação de muitos gestores estaduais é a de que não dá para atender alguns setores que precisaram ser fechados e colocar em risco uma população inteira, que recorre ao sistema de saúde. Ainda que muitos usem politicamente esse fechamento para conquistar os empresários que estão com seus negócios suspensos, a situação não permite agir como se estivesse tudo bem.

Acelera, Flávia!

A avaliação do pessoal que lida com orçamento no Poder Executivo é a de que o Congresso precisa apresentar a Lei Orçamentária de 2021 aprovada até o próximo dia 15. Se demorar mais, várias áreas enfrentarão problemas, inclusive o setor de saúde.

Sem escalas
Caso continue em velocidade, o texto do Orçamento será votado direto no plenário do Congresso, sem votação na Comissão Mista de Orçamento (CMO), presidida pela deputada Flávia Arruda (PL-DF). No governo, diz-se que não há mais tempo para analisar com calma os relatórios setoriais.

O troco a Bolsonaro
Irritados com o fato de o presidente Jair Bolsonaro ter listado todos os centavos repassados aos estados, sejam constitucionais ou voluntários, levará a uma cobrança geral do que o governo federal precisa fornecer e ainda não fez. A começar por seringas e agulhas do Plano Nacional de Imunização.

Agora é guerra
Mestre em sair da linha de tiro e jogar no colo alheio o que causa desgaste, Bolsonaro agora terá de arcar com tudo o que for de responsabilidade do governo federal. Até aqui, sempre que faltava algo, os governadores e prefeitos seguravam as despesas para que a população não ficasse sem atendimento. Agora, será cada um no seu quadrado, para deixar claro quem não cumpre com a obrigação.

Curtidas

Nem tão cedo/ A decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de definir presencialmente a lista tríplice para indicação do novo ministro significa que essa eleição vai demorar. Com o lockdown no DF e o número de casos de covid-19 em alta, a elaboração da relação sai só no final de março. E olhe lá.

“Vai aprovar”/ Com a saída da desvinculação de recursos da saúde e da educação, o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), está otimista com a possibilidade de aprovação da PEC Emergencial esta semana.

Veja bem/ Muitos senadores estão irritados com o fato de a PEC Emergencial acabar com as deduções de saúde e de educação no Imposto de Renda. Aberto o prazo para apresentação da declaração de ajuste anual, quando a população está atenta ao IR, muitos consideram difícil aprovar esse dispositivo. Ou seja, a retirada da desvinculação de recursos da educação e da saúde aliviou a tensão, mas não resolveu o problema.

Sessão de protesto/ A sessão solene pelos 64 anos de Furnas virou um ato político contra a privatização da Eletrobrás, com direito a exibição de um vídeo em que o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) faz críticas à proposta do governo.

Sessão de homenagem no STF/ O presidente da Associação Nacional dos Desembargadores (Andes), Marcelo Buhatem, propôs –– e foi aprovada por unanimidade dos magistrados –– a concessão da primeira medalha da Andes ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux. Buhatem esteve ontem com o ministro para lhe dar ciência da homenagem. A cerimônia será na Corte, em data a ser marcada pelo próprio Fux.

Políticos começam a mudar hábitos com relação à pandemia

Publicado em coluna Brasília-DF

Alguns políticos têm, discretamente, evitado as aglomerações provocadas pelo presidente Jair Bolsonaro. Nas internas, há quem esteja com medo de que, em caso de contaminação, parte da população termine culpando autoridades públicas por alguma situação extrema, chegando, inclusive, a buscar indenização judicial. Neste momento em que o vírus se alastra e há iminência de colapso no sistema de saúde em vários estados, quem tem muito juízo recolhe os flaps eleitorais para não ser acusado depois.

Até aqui, muitos seguem a postura de Bolsonaro, de não usar máscara e de levar a vida como se não houvesse um vírus poderoso à espreita. Mas, diante do número de mortos e de eleitores internados, alguns começam a rever esse comportamento. Dois senadores já morreram, outros perderam servidores, amigos ou familiares. Em tempo: diante da declaração do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, de que a contaminação está três vezes maior, os políticos começam a se preocupar com as reações do eleitorado. Antes tarde do que nunca.

O presidente Jair Bolsonaro não vai mudar o seu comportamento, tampouco “se render” às máscaras ou ao distanciamento. Na live desta semana, avisou que quer a volta da normalidade. Falta combinar com o vírus.

A nova preocupação dos políticos com a pandemia está diretamente relacionada a pesquisas. Descobriu-se, por exemplo, que 84% dos moradores de favela tiveram ou têm um parente ou amigo que foi infectado pelo novo coronavírus. Na população em geral, esse índice é menor: 76%. Os dados fazem parte de uma pesquisa realizada pelo Data Favela, parceria entre o Instituto Locomotiva e a Central Única das Favelas (Cufa). “Dizer que o coronavírus é democrático, porque infecta igualmente pobres e ricos, é fake news”, dispara Renato Meirelles, fundador do Data Favela e presidente do Locomotiva.

Sem notícias

A favela também sofre com a falta de informação: 92% dos seus moradores não sabem quando poderão receber a vacina contra a covid-19. Na população em geral, esse índice é um pouco menor: 86%. “A vacina é crucial em um território como a favela, onde as condições de saneamento e a possibilidade de distanciamento social são mais precárias”, argumenta Preto Zezé, presidente nacional da Cufa. A pesquisa foi realizada em fevereiro. A amostra é composta de 2.087 entrevistas on-line, com homens e mulheres a partir de 16 anos, de favelas de todas as regiões do país. A margem de erro é de 2,1 pontos percentuais.

Vai sobrar, mas…

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, é quem, na avaliação de aliados do presidente, terá de responder pela falta de vacinas, diante da situação que o país atravessa. Eles se esquecem de que, lá atrás, quando Pazuello quis comprar imunizantes do Butantan, Bolsonaro o desautorizou. Aos poucos, o presidente mudou o discurso, mas já era tarde para conseguir vacinas no curto prazo.

Siga o líder/ A filiação do deputado Daniel Silveira ao PTB, publicada aqui em 18 de fevereiro, não será solitária. Outros seguirão por esse caminho.

Assim, não vai/ O senador Esperidião Amin, do PP-SC, foi preciso ao definir o texto da PEC Emergencial em discussão no Senado: “Essa proposta é fake. É uma encenação discutir isso. Todo mundo sabe que desvinculação de recursos da saúde e da educação não passa aqui”.

Memória/ Nos bastidores, os senadores se referem a essa desvinculação e à suspensão do reajuste dos servidores, propostas na PEC Emergencial, como “a granada no bolso do inimigo” a que o ministro da Economia, Paulo Guedes, se referiu em junho do ano passado, na famosa reunião ministerial exposta como um indício de que Bolsonaro queria constranger Moro.

Corra, Lira, corra/ A pressa dos congressistas em votar a PEC da imunidade, conhecida como PEC da impunidade, ou da blindagem, é para evitar que o Congresso continue sangrando nas redes sociais e na opinião pública a cada vez que for discutir esse tema. Ainda assim, vai ser difícil estancar a hemorragia.