Bancada do Nordeste prepara rebelião contra medida provisória de Lula

Publicado em coluna Brasília-DF, GOVERNO LULA

Coluna Brasília-DF, de 7 de setembro de 2023, por Denise Rothenburg

A bancada do Nordeste tem encontro marcado, na semana que vem, para deflagrar um movimento contra a medida provisória que determinou a cobrança de Imposto de Renda àqueles que receberam incentivos na região. Empresários, executivos de banco e instituições nordestinas estarão em Brasília para pedir que a MP só seja analisada depois da reforma tributária. “Essa medida provisória é decretar o fechamento de empresas no Nordeste e gerar um milhão de desempregados numa região que precisa crescer”, avalia o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2024, deputado Danilo forte (União-CE). “Essa MP não passa”, avalia.

Em tempo: a reforma ministerial, anunciada ontem com dois ministros nordestinos, quer justamente evitar esse tipo de rebelião. Só tem um probleminha: é difícil que deputados da região votem contra os empregos em seus estados de origem. A aposta é de que no quesito medidas econômicas impopulares, a reforma ministerial terá dificuldades em garantir votos favoráveis às propostas do Planalto.

Desânimo geral

Reforma ministerial anunciada, baixou um “banzo” na turma que está desde o começo do governo Lula. É que muitos esperavam ser possível prescindir do Centrão que havia apoiado Jair Bolsonaro. Mas as urnas deram maioria a esses partidos e o jeito, agora, é conviver. Embora Lula tenha esclarecido a todos que a reforma é necessária, vem aí uma fase de “trancos e barrancos” internos.

Uma coisa…

Juristas e políticos estão preocupados com a decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, de rever os acordos de leniência da Odebrecht. Uma coisa é considerar um exagero a prisão de Lula. Aliás, houve controvérsias à época a esse respeito e o STF não reagiu. É preciso separar essas estações.

… Outra coisa

Na avaliação de muitos juristas, que preferem aguardar maiores desdobramentos para falar publicamente, não dá para apagar o processo de corrupção descoberto a partir da Lava-Jato. A operação gerou, inclusive, devolução de recursos aos cofres públicos e à Petrobras. Se a “revisão” em curso desse caso levar o governo a ter que entregar o dinheiro a quem se disse corrupto, a imagem do país perante o mundo ficará abalada. Já chega o escândalo das joias envolvendo autoridades do governo anterior.

Embaixador começa a se despedir do Brasil

Sob um céu típico de Brasília, com o sol batendo forte sobre o iluminado prédio da Embaixada da Itália concebido pelo arquiteto Pier Luigi Nervi, o artista Carlos Bracher pintou esta semana o retrato do embaixador Francesco Azzarello. Para refrescar o ambiente, o repertório de Verdi, Bach, Beethoven, Mozart e Schubert. Depois de cumprir quatro anos de sua missão no Brasil, Azzarello volta à Itália no final do mês. O novo embaixador italiano será o diplomata Alessandro Cortese, que desembarca por aqui em outubro.

#fiqueemcasa

Bolsonaro tem replicado a amigos uma mensagem de seus apoiadores pedindo que as pessoas não compareçam à festa de Sete de Setembro. Integrantes do atual governo que receberam uma mensagem desse tipo brincavam: “Quem diria que um dia o Bolsonaro iria mandar as pessoas ficarem em casa”.

Por falar em Bolsonaro…

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, fez questão de explicar, durante sua palestra na Faap, na capital paulista, que não continha crítica ao indagar: “Eu ao lado de Bolsonaro?”. A fala do prefeito foi apenas para checar se havia entendido a pergunta de uma estudante.

… Nunes não o descartará

Para reforçar que o mal-entendido foi de comunicação, e não de posicionamento político, o prefeito lembrou a auxiliares que, na mesma palestra, elogiou a importância do governo Bolsonaro nas finanças estáveis da prefeitura e que iria, sim, ter o apoio do ex-presidente.

Bom feriado a todos

Bolsonaristas avaliam mapa de votação e concluem: PT não está tão bem assim no Nordeste

Publicado em coluna Brasília-DF, ELEIÇÕES 2022

Coluna Brasília-DF, por Denise Rothenburg

Os bolsonaristas passaram o fim de semana debruçados sobre os mapas de votação no Nordeste, região em que o presidente Jair Bolsonaro tenta tirar a diferença para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao perceber que, em três estados da região, o PT fez apenas um deputado federal em cada, os aliados de Bolsonaro concluíram que, mesmo entre os nordestinos, o Partido dos Trabalhadores não está tão bem assim. A avaliação é de que, se conseguirem colar Lula ao PT, com a memória de mensalão e petrolão, Bolsonaro terá uma chance de reduzir a diferença. Essa estratégia será posta em prática nos próximos dias, pelos aliados do presidente em várias cidades da região.

Os petistas também estão cientes das dificuldades do PT. Tanto é que o ex-presidente Lula tem se colocado como uma espécie de “seguro democracia”, e tenta levar uma campanha nos moldes da antiga mobilização pelas Diretas Já. O eleitor, no dia 30, dirá qual a campanha deu mais resultado.

Campanha dois em um

A campanha para o governo de São Paulo vai “nacionalizar”. É que, em vez de tratar dos assuntos estaduais, o candidato do PT, Fernando Haddad, está sendo aconselhado a bater no presidente Jair Bolsonaro, sem dó. E, assim, tentar alavancar Lula.

Dois por dois

Os petistas acreditam que a campanha paulista já está nacionalizada e não dá para Haddad querer fazer sua caminhada neste segundo turno tratando apenas dos temas locais. E, ao bater em Bolsonaro, pode inclusive tirar votos do candidato a governador, o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Se for para escolher…

Entre o governo de São Paulo e a Presidência da República, a prioridade do PT é o Palácio do Planalto.

Pesquisas na mira

O Congresso não pretende esperar terminar este segundo turno das eleições para dar aquela chamada nos institutos de pesquisa. A impressão de muitos parlamentares é a de que, se houver um recado claro ainda esta semana, muitos podem voltar das bases nos próximos dias.

Elas por ele I

A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, a deputada Celina Leão (PP-DF), vice-governadora eleita do Distrito Federal, e a senadora eleita Damares Alves foram a Belém do Pará, num encontro de “Mulheres por Bolsonaro”.

Elas por ele II

Marqueteiros e especialistas em campanha eleitoral acreditam que a primeira-dama é quem mais ajuda o presidente na busca de votos. É carismática, simpática e consegue se comunicar com simplicidade. No discurso, Michelle reforçou a promessa de mais projetos aprovados em defesa das mulheres e convocou todas a buscarem votos por seu marido.

Férias providenciais

O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, tirou uns dias de descanso neste segundo turno. É o tempo para refletir baixar a poeira do partido, a cada dia mais dividido em São Paulo.

Futuro duvidoso

O governador apoiou Jair Bolsonaro e os cardeiais do tucanato ficaram com Lula. Agora, depois de Fernando Henrique Cardoso, foi a vez de José Aníbal se reunir com o ex-presidente, ao lado de Pimenta da Veiga, ex-presidente nacional do PSDB. Não haverá espaço, tudo indica, para que todos os segmentos permaneçam no ninho tucano depois das eleições.

Não caia nessa!

Os golpistas não se emendam. Tem um número de telefone no WhatsApp tentando se passar por mim, dizendo que o meu aparelho de telefone quebrou, molhou e lá vai. Aí, passam-se mais alguns minutos, o/a golpista manda um pedido de dinheiro para pagar uma conta. Não pedi dinheiro a ninguém e meu número de telefone não mudou. Essas redes sociais deveriam encontrar meios de proteger mais seus usuários.

É no Nordeste que Bolsonaro tentará compensar os votos perdidos

Bolsonaro
Publicado em coluna Brasília-DF
Coluna Brasília-DF

O governo corre contra o tempo para tentar fechar um arcabouço de programa social que possa substituir o auxílio emergencial, de forma a não deixar nem a população nem Jair Bolsonaro desassistidos.

Afinal, em várias cidades do interior do Nordeste, aliados do presidente já ouviram do povo que o auxílio é o “dinheiro do Bolsonaro”, que chegou como um alento neste período de pandemia.

E é nessa área social e que o presidente pretende ampliar sua popularidade na região, que não defendeu sua eleição em 2018.

Além dos programas sociais, virão as obras. Nesta sexta-feira, por exemplo, Bolsonaro inaugura o Eixo Norte da transposição do São Francisco, no Ceará.

Outras estão em curso, como as ferrovias a cargo do Ministério da Infraestrutura, estratégicas para a região. É no Nordeste que Bolsonaro tentará compensar os votos perdidos no Centro-Sul. Falta só combinar com o povo.

Tal e qual…

Aliados do presidente estão convictos de que, a preços de hoje, acontecerá com Bolsonaro o que houve com Lula em 2005: veio o mensalão que, como um vendaval, levou vários aliados, até integrantes do partido. Lula balançou, mas, em 2006, foi reeleito.

… mas diferente

No mensalão, o ex-ministro José Dirceu foi afastado e Lula seguiu em frente. O problema agora é que, em conversas para lá de reservadas, muita gente no governo diz que Bolsonaro não pode fazer o mesmo com um filho, no caso o senador Flávio (Republicanos-RJ).

Vírus da esperteza contido

Alguns senadores tentaram, no rastro da pandemia da covid-19, forçar a porta para emplacar a junção das eleições de prefeitos e vereadores com as de governadores, senadores, deputados federais, estaduais e presidente da República. Prevaleceu a ideia de que, algo assim, só mesmo numa ampla reforma política.

Improviso imperou

Ao avaliar a ajuda do governo aos estados e municípios, a Instituição Fiscal Independente (IFI), coordenada por Felipe Salto, alerta para a falta de uma análise conjunta das medidas adotadas, o que resultará em desequilíbrio, ou seja, uns receberão ajuda além das perdas, e outros aquém. “Não se levou em conta o efeito conjunto da ajuda para cada estado”, diz a análise da IFI.

Menos um/ O arquivamento da ação contra a chapa Bolsonaro-Mourão, ontem, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), já era esperado. Mas a tensão não acabou. Agora, a novela será o depoimento de Bolsonaro no inquérito sobre tentativa de interferência na PF.

Se ele pôde…/ Em 2017, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso deu o seguinte despacho para a oitiva do presidente Michel Temer, no inquérito dos portos, em que o emedebista era investigado: “Mesmo figurando o senhor presidente na condição de investigado em inquérito policial, seja-lhe facultado indicar data e local onde queira ser ouvido pela autoridade policial, bem como informar se prefere encaminhar por escrito sua manifestação, assegurado, ainda, seu direito constitucional de se manter em silêncio”. Bolsonaro quer o mesmo tratamento.

Ponta solta/ A avaliação de quem conhece a família de Bolsonaro é a de que Fabrício Queiroz jamais trairá a confiança de Flávio. A mulher dele, Márcia, que está foragida, é considerada a grande incógnita.

Sem saída/ O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, respondeu assim aos deputados e senadores sobre sua permanência no cargo até quando o presidente quiser: “Ainda estou na ativa e ordem tem que ser cumprida”.

Fakes & penas/ O senador Nelsinho Trad (PSD-MS) fez questão de ir à tribuna virtual dizer que foi vítima de fake news, a distribuição via WhatsApp de uma lista falsa de beneficiários do auxílio emergencial, na qual aparecem várias pessoas com o sobrenome Trad. Ele definiu assim as mentiras: “É como subir no último andar de um edifício, pegar um bando de penas e jogar lá de cima. Por mais que você junte, impossível pegar todas”, diz.

TCU quer saber por que o Nordeste foi deixado de lado no Bolsa Família

Nordeste Bolsa Família
Publicado em coluna Brasília-DF
Coluna Brasília-DF

O mesmo Tribunal de Contas da União (TCU) que ajudou o governo a não ampliar a despesa do Benefício de Prestação Continuada (BPC) tem tudo para dar um puxão de orelhas no Executivo em relação ao Bolsa Família. É que a maioria dos ministros, de origem nordestina, ficou muito incomodada ao saber que a região foi deixada de lado na hora de incluir novas famílias no programa. Dos nove ministros, seis são nordestinos, a contar pelo presidente, José Múcio Monteiro.

Na semana passada, quando o governador da Bahia, Rui Costa, esteve lá para pedir que o colegiado abrisse uma auditoria, José Múcio imediatamente determinou a apuração. A relatoria ficará com o ministro substituto Marcos Bemquerer Costa, que está de licença médica. Porém, a expectativa na casa é a de que, quando ele voltar, o trabalho técnico já esteja pronto. É bom o ex-ministro da Cidadania Osmar Terra e o atual, Onyx Lorenzoni, começarem a preparar as explicações.

Futuro difícil

O fato de o ministro José Múcio Monteiro deixar a Presidência do TCU este ano não facilitará a vida do governo Bolsonaro em relação à concessão de Bolsa Família. É que a próxima a comandar o TCU será a ministra Ana Arraes, pernambucana. Depois, assume o ministro Bruno Dantas, baiano, sucedido por Vital do Rego, da Paraíba.

Congresso sob tensão

O teste positivo do senador Nelsinho Trad deixou todos os parlamentares em sinal de alerta. Já está em fase de estudo, inclusive, a possibilidade de declarar recesso e, assim, prorrogar automaticamente os prazos de validade de Medidas Provisórias.

Enquanto isso, no PT…

O ex-presidente Lula dirá ao governador do Maranhão, Flávio Dino, que não há meios de os petistas não terem candidato próprio à Presidência da República em 2022. Lula e Dino conversam semana que vem.

» CURTIDAS

Comunicação por videoconferência / A equipe que trabalha com o secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, foi orientada a ficar em casa. Inclusive o número dois, Samy Libernam, que também é suspeito de ter sido infectado pelo coronavírus.

Quem acreditou em “fantasia”… / Agora está preocupado. O senador Nelsinho Trad, que está infectado e em quarentena, contou que distribuiu apertos de mão no Congresso essa semana. A aflição é geral.

Bebianno / A morte de Gustavo Bebianno, o ex-ministro de Jair Bolsonaro que virou adversário político do presidente, deixa o PSDB com a obrigação de refazer todo o seu jogo eleitoral para este ano no Rio de Janeiro. E com a diferença que não tem alguém que fosse tão íntimo da família Bolsonaro e de seus segredos de campanha.

A manifestação, hein? / Certa vez, um grupo de servidores da cúpula do Legislativo pensou em fazer carreata. O medo de que a manifestação se resumisse a um desfile de automóveis de alto padrão fez a organização mudar de ideia.

Portaria de importação de milho dos EUA ameaça cargo de embaixador de Eduardo

Eduardo Bolsonaro
Publicado em coluna Brasília-DF

Como se não bastassem as dificuldades para o governo fechar os votos de que precisa para emplacar Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) como embaixador do Brasil em Washington, a nova portaria que permitirá ao Brasil importar ainda mais etanol de milho dos Estados Unidos sem tarifa promete abalar o apoio que o deputado poderia ter no Nordeste.

É que a portaria foi publicada logo depois da visita do parlamentar ao presidente norte-americano, Donald Trump, e, em vez de 600 milhões de litros, o total sem imposto poderá ser de 750 milhões. Para não desagradar tanto os produtores nordestinos, estabeleceu-se esse total em três quotas. Porém, ainda não resolveu o problema. Hoje, tem nova reunião sobre o assunto no governo.

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No Senado, espalhou-se a versão de que Eduardo abriu as portas do Brasil aos produtores americanos de milho, prejudicando os nordestinos. Não por acaso, Bolsonaro lança na próxima quinta-feira o Agro Nordeste com direito a solenidade no Planalto. Quer sair para a cirurgia com o discurso pronto para amortecer as críticas do setor sucroalcooleiro nordestino e tirar essa insatisfação do colo do filho.

Déjà-vu I

Embalado depois de uma ode a Baco, o Deus do vinho, um deputado estadual nordestino contava para quem quisesse ouvir que havia “comprado” R$ 30 milhões de emendas extras em seu périplo pelos gabinetes dos congressistas em Brasília. Epa! Ok, talvez a expressão tenha sido exagerada. Mas quem ouviu e estava apenas rendendo homenagens a Tétis, a deusa da água, saiu do convescote certo de que, nessa batida, confusões virão.

Déjà-vu II

Se não foi apenas mais um caso de verbo mal aplicado e discurso mal-entendido, o sujeito comprou. Logo, alguém “vendeu”, e com taxa de “retorno”, um eufemismo para propina. E “venda” de emendas é algo que já deu problema nos anos 90, quando o Congresso viveu a CPI do Orçamento e vários deputados tiveram seus mandatos cassados.

Por falar em emendas…

Os deputados recém-chegados ao Congresso não estavam tão seguros em destinar 30% do valor global das emendas de bancada ao fundo eleitoral. O Partido Novo, por exemplo, é contra. Considera que recursos públicos devem ser destinados a obras em prol da população, e que eleição, especialmente municipal, deve ser feita gastando sola de sapato.

Abuso de autoridade, outro problema

Não são apenas os interesses comerciais de empresas americanas que vão pesar contra Eduardo Bolsonaro. Os vetos à Lei do Abuso de Autoridade também vão entrar nesse bolo, segundo alguns senadores. Pelo visto, o deputado terá que retomar as conversas com cada um a partir de hoje.

Eles têm medo/ A forma como a deputada Renata Abreu (Podemos-SP) vem fazendo crescer a sua legenda fez acender o pisca-alerta nos demais partidos. A ordem, agora, é assegurar que a bancada que vale para distribuição de tempo de
tevê e fundo partidário é a que saiu das urnas.

Ele anda e está organizado/ Os tucanos observam a distância os movimentos de Luciano Huck. O empresário montou grupos de discussão do país e alinhava um projeto de governo. Há quem jure que ele não está a passeio.

Enquanto isso, em São Paulo…/ O governador de São Paulo, João Dória, não pode fazer a mesma coisa. Tem que governar e mostrar, daqui a dois anos e meio, que São Paulo está bombando. Faz sentido.

A volta de Dilma/ Calma, pessoal. Ela irá ao Congresso hoje para o lançamento da Frente Parlamentar da Soberania.

Os efeitos da estratégia de Bolsonaro no Nordeste

Bolsonaro no Nordeste
Publicado em coluna Brasília-DF
Coluna Brasília-DF/ Por Leonardo Calvacanti (interino)

Por mais desastrosa que a declaração de Jair Bolsonaro sobre nordestinos possa ter sido, a ausência do governador da Bahia, Rui Costa (PT), na inauguração do aeroporto de Vitória da Conquista, levou estrategistas do Planalto a comemorarem.

A estratégia do pessoal que entrou em campo para gerenciar a crise aberta pelo próprio capitão reformado foi posta em prática na manhã de ontem e se limitava ao contraponto entre Bolsonaro e os chefes dos executivos regionais de oposição.

Como ficou ao lado de aliados e de uma claque de convidados, e sem a presença de Costa, o presidente tentou se defender. Ganhou espaço nas tevês e na internet.

Agora, é esperar as pesquisas de opinião para avaliar qual o tamanho do desgaste com a declaração de Bolsonaro.

A avaliação no núcleo do PT — incluindo aí o senador Jaques Wagner (BA) — é a de que Costa delimitou espaço e isolou o presidente.

A popularidade do petista está em alta no estado, a ponto de um vídeo postado por ele para explicar a ausência ter ganhado visibilidade nas redes.

Costa acusou o Planalto de ter selecionado os convidados, deixando a população de fora do evento. Também exaltou as administrações passadas, como a de Dilma Rousseff, responsáveis pela maior parte das obras.

Verificação I

Segundo monitoramento da Levels Inteligência em Relações Governamentais, nas redes sociais, as mensagens geradas por grupos favoráveis a Bolsonaro representaram 57% do monitoramento; em usuários únicos, esse número se manteve estável, 55%.

A narrativa de maior abrangência na rede traçou críticas genéricas aos grupos que estariam se opondo ao presidente, 35%.

Mensagens em defesa das críticas dele a governadores nordestinos ocuparam 10%, e repercutiram principalmente tuítes do próprio presidente e de sua equipe de governo, com destaque para o ministro Sérgio Moro.

Verificação II

As narrativas contrárias à declaração do presidente repercutiram em 43% da rede monitorada. Quando analisada em usuários únicos, a porcentagem desse grupo subiu para 45% da rede. A rede critica o chefe do Executivo por sua relação com o Nordeste.

Para 28%, ele apresenta um histórico de suposto descaso com a região, tendo em vista que sua primeira viagem oficial ao Nordeste ocorreu em maio, cinco meses após a posse.

As postagens enfatizaram o caráter preconceituoso das falas do capitão, 4%, e questionam se esta polêmica pode dificultar a aprovação da reforma da Previdência, que será votada em segundo turno em agosto.

Alertas

Segundo os analistas da Levels, a estratégia de comunicação do presidente é assertiva em mobilizar sua rede, mas perpetua a forte polarização que tem marcado o debate político, além de não fortalecer a narrativa de que governadores de oposição têm prejudicado o desenvolvimento do Nordeste.

“Nesse sentido, as visões regionalistas têm maior abrangência, destacando o caráter preconceituoso das falas do presidente, dificultando ainda mais a entrada de Bolsonaro na região.”

O problema… // Bolsonaro vai ter que se esforçar mais para ganhar o prestígio de lideranças do Nordeste do que os afagos dados na cerimônia de ontem, na Bahia.

A estratégia do presidente em construir apoio na região esbarra não apenas na resistência de parlamentares da oposição, mas, também, de partidos de centro.

Deputados da região dizem que o governo não vai ter suporte na base de agrados, que dirá no discurso de radicalização.

… é mais embaixo // O problema em construir apoio passa pelo Nordeste, mas vai além. Afinal, a construção da base governista no Parlamento está nos líderes.

Na Câmara, tirando a oposição, oito partidos são liderados por deputados nordestinos que, juntos, comandam 184 deputados.

São os casos do PSC, Cidadania, PP, PL, PSD, Solidariedade, DEM e PTB. E, por ora, é baixa a disposição para compor com o governo. O líder do Cidadania, Daniel Coelho (PE), por exemplo, garante que não há nenhuma pretensão do partido em “ser governo”.

Opções contra greve I //O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, tenta encontrar soluções adicionais para os problemas dos caminhoneiros.

Em contato com líderes da categoria, ele se dispôs a estudar o cumprimento da fiscalização da chamada Lei do Descanso.

Prometeu que pediria para a equipe técnica da pasta comandar estudos que apontem para a eficácia da proposta.

Opções contra a greve II // O governo atribui os problemas do baixo custo do frete à oferta muito maior de caminhões do que a demanda pelos serviços. Caminhoneiros trabalham em média 16h por dia, o dobro das 8h diárias previstas na Lei do Descanso.

Parte das lideranças da categoria sustenta que uma fiscalização dura o suficiente para punir quem descumpre a legislação pode, na ponta, equilibrar a oferta e demanda.