Escolhido o ministro, começa a disputa pelo segundo escalão

Publicado em coluna Brasília-DF

Por Denise Rothenburg — A guerra dos bastidores entre o PSB e o PT pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública vai se transferir para o segundo escalão, no qual o futuro ministro, Ricardo Lewandowski, tem liberdade de escolha, mas os nomes passarão pelo crivo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Prerrogativas, grupo de advogados de esquerda comandado por Marco Aurélio Carvalho, vai indicar a Lewandowski a advogada Sheila de Carvalho, do Comitê Nacional de Refugiados (Conare) e assessora especial do ministro Flávio Dino, para ocupar a Secretaria Nacional de Justiça. Sheila é uma das 50 mulheres negras mais influentes do Brasil no cenário internacional e tem forte atuação na área de direitos humanos. Sua nomeação para a Secretaria Nacional de Justiça reúne apoios nos mais diversos setores.

Pano de fundo

A vontade do PT em ocupar espaços no Ministério da Justiça aumentou desde que a deputada Tábata Amaral (PSB-SP) andou por lá em reuniões com integrantes da pasta e com o próprio ministro Flávio Dino. Tábata é adversária do PT em São Paulo.

Veja bem

O receio dos petistas é de que Tábata termine usando a turma do PSB no ministério para alavancar a pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo contra o PT. Os dois partidos consideram que a área de segurança será o carro-chefe da campanha paulistana.

Depois de São Paulo…

O PT vai se dedicar a escolher os candidatos a vice de Eduardo Paes, no Rio de Janeiro, e de João Campos, em Recife. Anielle Franco, se deixar o Ministério da Igualdade Racial, abre uma vaga para acomodar o PSB.

…só tem um probleminha

O PSB reivindicará uma pasta tão vistosa quanto o Ministério da Justiça, algo que não está disponível no momento.

Os bastidores fervem I/ Os petistas e o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, não se bicam há tempos — e agora ficou pior. Nos grupos de WhatsApp dos partidários de Lula, circulou por esses dias um artigo de novembro de 2018, em que Cappelli elogia o então comandante do Exército, general Villas Bôas (foto). E chama de “radicalóides irresponsáveis” quem criticou a entrevista do general à Folha de S.Paulo.

Os bastidores fervem II/ No texto, o secretário-executivo do MJ diz que Villas Bôas agiu sempre para segurar a ala radical no limite da Constituição. Cita, ainda, “uma turma da esquerda bravateira, que sonha com a volta da ditadura para poder posar de herói da resistência. Fazem coro com a ala radical dos militares apostando na desestabilização do país”.

Ele não/ A entrevista é justamente aquela em que Villas Bôas dá a entender que pensou em intervir, caso o STF desse um habeas corpus a Lula, em abril de 2018, quando o petista foi preso. Foi criticada por todo o PT. Os petistas querem Cappelli fora do governo.

 

Saída de Ribeiro do cargo foi desenhada em festa de 15 anos

Publicado em Crise na Educação

A história da distribuição de Bíblias com a foto do ministro foi a pá de cal que faltava para selar a saída de Milton Ribeiro do cargo de ministro da Educação. A notícia publicada no Estadão tirou o pouco de apoio que Ribeiro ainda tinha no meio politico. Nem mesmo a bancada evangélica suportou o que classificou de mistura do “sagrado com o profano”. Na Bíblia, a foto deve ser de Jesus Cristo, conforme repetiram muitos deputados evangélicos hoje pela manhã, engrossando o coro pelo afastamento do ministro.

A saída de Milton Ribeiro começou a ser desenhada de fato pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, ainda no fim de semana, durante festa de aniversário de 15 anos da filha do ex-deputado Alexandre Baldy (PP-GO), candidato a senador por Goiás. Ali, o comando do PP avaliou que o desgaste só cresceu na última semana e que eles deveriam trabalhar para convencer o presidente Jair Bolsonaro a afastar o ministro dia 31, quando os ministros candidatos às eleições deste ano deixam seus cargos. Aliás, como leitor da coluna Brasília-DF já sabe, era isso que estava previsto desde o início da semana passada: Se Ribeiro conseguisse se explicar e estancar a crise na semana passada, ele não precisaria sair. Caso contrário, sairia em 31 de março, junto com os outros, o que diluiria a repercussão. A notícia da distribuição de Bíblias com a foto do ministro em evento do governo, entretanto, antecipou a “operação”.

Os governistas avaliam que está num ponto em que não dá mais nem para esperar a fala do ministro no Senado, onde Ribeiro deve comparecer esta semana para explicar as denúncias de favorecimento às indicações de pastores para liberação de recursos. E, agora, terá ainda que explicar a questão da distribuição de Bíblias com a sua foto. Essa mistura de sagrado e profano foi criticada até mesmo pela bancada evangélica. Ribeiro perdeu agora todas as condições de permanecer. Ainda que seja uma licença, não estará mais no governo, sangrando a popularidade da administração federal. Falta Bolsonaro pegar a sua Bic e assinar a demissão e/ou afastamento. Os dois textos já estão prontos.

PSL quer o cargo de Gustavo Bebianno

Bebianno
Publicado em Política

Entre “empoderar” o filho vereador Carlos Bolsonaro, demitindo o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, ontem mesmo, e dar todo o respaldo ao ministro, deixando Carlos constrangido, o presidente Jair Bolsonaro tentou, inicialmente, optar pela equidistância da crise. Mas os laços familiares e os discursos de Bebianno nas últimas 48 horas falaram mais alto. Assim, a ideia de deixar o ministro no cargo, defendida por militares e parlamentares, ruiu. A conversa ontem entre o presidente e Bebianno terminou com o ministro demissionário e enfraquecido, com o desfecho oficial marcado para as próximas horas. Com a instantaneidade das redes sociais, está prestes a sair oficialmente do Planalto o único do ministro do PSL. O ministro da Secretaria de Governo, Santos Cruz, não é filiado. E Onyx, da Casa Civil, é deputado federal pelo DEM, partido aliado, porém, mais independente de Bolsonaro. Diante dessa realidade, o PSL se prepara desde já para reivindicar o cargo.

Quanto ao filho, levando-se em conta os novos tuítes, parece que entendeu a mensagem do pai e dos militares. Não xinga ninguém, faz propaganda das boas ações do governo e menciona as ações no Rio de Janeiro. Melhor assim, comentam os políticos. A saída de Bebianno, porém, o fortalece. Nesse sentido, resta saber se Carlos permanecerá na linha, exercendo o mandato de vereador, deixando que o pai exerça o papel de presidente da República, ou vai insistir em ter protagonismo no governo, para irritação de muitos dentro do próprio Planalto.

Respingou geral

A crise envolvendo o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, provocou uma corrida de diplomatas estrangeiros atrás de informações sobre o que estava acontecendo. Alguns mandaram o seguinte recado ao governo: quem quer investimentos não pode ficar fazendo marola.

Onde pegou

O que levou o presidente Jair Bolsonaro a querer demitir o ministro foi o fato de Bebianno dizer em alto e bom som que não sairia. Afinal, diziam ontem alguns aliados de Bolsonaro, se o vereador Carlos não pode se intrometer em assuntos de governo, ministros também não podem dizer que não saem e ponto. O correto é: “O cargo pertence ao presidente da República”. #ficaadica.

Advogados versus Justiça

A quebra de sigilo do escritório do advogado Antônio Cláudio Mariz, que atende o ex-presidente Michel Temer, abriu guerra entre os advogados e a Justiça. Vem aí um pedido de habeas corpus assinado por vários profissionais para que o sigilo do escritório seja preservado.

Briga antiga

Não é a primeira vez que a Justiça quebra sigilo de um advogado. Mas foi a primeira vez que essa quebra atingiu um dos grandes escritórios do país. A sensação entre os advogados é de que há uma tentativa de silenciá-los.

Ensaio & erro/ Quem acompanha o dia a dia do Planalto considera que esse governo inovou até nisso: nunca antes na história do país os filhos do presidente da República quiseram ter tanto protagonismo no Poder Executivo, ao ponto de disputar espaço com o próprio pai.

Melhor de três/ Diante das confusões criadas por Carlos, há quem diga que Eduardo Bolsonaro, que era o mais polêmico, virou “Eduardinho paz e amor”. Flávio, considerado o mais calmo e cordato, também está mais discreto no Senado.

Kicis e Toffoli/ A mesa destinada à deputada Bia Kicis (PSL-DF, foto) e ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, continua rendendo. Ela conta que o comentário não foi “Se ele sentar aqui, vai ter briga” e, sim, uma pergunta: “Ele está com medo de briga, por isso não vai se sentar aqui?”. Dito e feito, Toffoli não se sentou.

É só o aquecimento/ O governo com ministros enfraquecidos, sem que as reformas ou o PT tenham entrado na arena da política. Nos bastidores, há quem diga que, em vez de brigarem entre si, o governo — e, de quebra, os filhos do presidente — deveriam se concentrar nas reformas e guardar energia para o confronto com a oposição.