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Blog da Denise, publicado em 10 de julho de 2024 por Denise Rothenburg
As provas de que o ex-presidente Jair Bolsonaro não só mandou vender os presentes de luxo que recebeu de autoridades estrangeiras — como também pode ter recebido repasses em dinheiro sobre essas vendas — deixou seus aliados cabisbaixos nas principais capitais do país. Mais: acreditam que essa história está só começando.
Se ficar comprovado o recebimento de dinheiro, ainda mais em espécie, sem declaração no imposto de renda, será muito pior. Nesse sentido, resta aos pré-candidatos mais afinados ao bolsonarismo jogar tudo no tema da segurança pública, onde consideram que é possível nadar de braçada.
Em conversas reservadas, muitos bolsonaristas avaliam que a tentativa de venda de relógios e peças ornamentais tirou desse segmento o discurso de combate à corrupção em plena campanha eleitoral. O receio agora é ouvir algo como um “tudo joia?” por onde passarem.
Até aqui, uma turma batia no peito para dizer que Bolsonaro podia ser grosseiro em algumas situações, mas jamais tentaria ganhar dinheiro além do seu salário de presidente. Esse mesmo grupo emendava com a história do triplex do Guarujá e do sítio em Atibaia, atribuídos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esse discurso perdeu força e, enquanto não for refeito sobre outras bases, o maior apelo será mesmo a segurança pública.
Paz a fórceps
O escândalo da venda de presentes de luxo envolvendo Bolsonaro acirra o clima na Câmara dos Deputados justamente num momento em que o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), buscava um ambiente menos conturbado para votar a reforma tributária. Justamente para evitar problemas, ele cancelou as comissões técnicas. Esses colegiados viraram ringues entre petistas e bolsonaristas.
Não vai demorar
Os processos relacionados ao caso das joias já chegaram à Procuradoria-Geral da República (PGR). A decisão sairá em pleno recesso parlamentar. Assim, a repercussão entre os políticos será menor. Quando o Congresso voltar, a decisão já terá sido assimilada pelos políticos.
O jogo da tributária
Tem muito lobista criando dificuldade para ver se consegue baixar sua alíquota do imposto. A reforma está na fase do “quem não chora, não mama”, e tem um problema: se baixar demais de um setor, outro terá de pagar a conta.
Dúvida atroz/ Bombou nas redes sociais do PSD, e na festa de ontem, o vídeo em que Bolsonaro entrega ao líder Antonio Brito (BA) a medalha dos três Is (“imorrível” e por aí vai). Resta saber se o ex-presidente levará o PL a votar no líder pedessista para
presidir a Câmara.
Duhalde e Lula/ Presidente da Argentina de janeiro de 2002 a maio de 2003, Eduardo Duhalde fez questão de comparecer à cúpula do Mercosul, em Assunção, para conversar com Lula. O simbolismo serviu para mostrar que, na Argentina, tem gente que respeita e gosta do presidente brasileiro.
Por falar em Lula…/ Os pais do real que votaram em Lula em 2022 não entendem por que o governo não comemorou, com pompa e circunstância, os 30 anos da moeda. Os petistas, porém, explicam: o partido votou contra o Plano Real quando do seu lançamento.
Blog da Denise, publicado em 9 de julho de 2024, por Denise Rothenburg
O relatório da Polícia Federal (PF) que coloca o ex-presidente Jair Bolsonaro como recebedor de US$ 25 mil em espécie, resultado da venda das joias presenteadas pelos sauditas, fará com que as campanhas eleitorais virem suas narrativas para os assuntos municipais. A estratégia é evitar que sejam contaminadas pelos temas nacionais negativos, tais como as joias. Afinal, nenhum candidato pretende transformar sua corrida eleitoral em palanque para a defesa do ex-presidente, num caso que nada tem a ver com as administrações municipais. Nesse sentido, a ideia é ter a imagem de Bolsonaro defendendo os candidatos, mas sem entrar nessa questão.
Em tempo: muitos aliados do ex-presidente estão preocupados, porque esse tema é de fácil entendimento pela população. O desgaste maior será quando confrontarem as falas de Bolsonaro sobre as joias e o relatório da PF.
Comparações
Cresce entre os fiéis escudeiros de Bolsonaro no Congresso a ideia de se revezar no plenário, exigindo a lista de presentes recebidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste e em outros mandatos, tal como o relógio Piaget que usou no ano passado. Aliás, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) falará isso na Câmara em breve.
Vacina
A forma de o governo Lula resolver isso, dizem os petistas, é municiar os deputados do partido com a lista de presentes que o presidente e a primeira-dama receberam. E demonstrar que está tudo registrado no patrimônio da União.
A lição da França
Se tem algo que animou os aliados de centro do governo Lula foi a união da esquerda com o centro para evitar a vitória da extrema direita, no segundo turno eleitoral. Emmanuel Macron sabia que não venceria sozinho. Por aqui, embora o sistema seja presidencialista, a avaliação do centro é de que Lula não terá meios de derrotar um candidato conservador, caso não mantenha a grande aliança que o levou ao Planalto.
A hora da tributária
A segunda-feira só terminou na madrugada de hoje para o grupo de trabalho da reforma tributária. Vêm aí mudanças no texto. E há quem diga que não será com a inclusão da carne na lista de produtos isentos
de impostos.
Agenda de costumes… / A Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial coloca em pauta, hoje, o projeto do ex-deputado Clodovil Hernandes sobre a inclusão do casamento homoafetivo no Código Civil. A ideia é se contrapor ao projeto do deputado Pastor Eurico (PL-PE, foto), que, no ano passado, aprovou uma proposta na Comissão de Previdência proibindo a união entre pessoas do mesmo sexo.
… permanece forte/ O Supremo Tribunal Federal (STF) já havia se pronunciado de forma unânime, equiparando o casamento homoafetivo à união estável. Porém, o projeto do deputado Eurico evitou que fosse incluído no Código Civil. Agora, volta à cena, incluído na pauta pela presidente da CDH da Câmara, deputada Daiane
Santos (PCdoB-RS).
Sobrou para os diplomatas/ Está no relatório da PF sobre o caso das joias: ao ouvir de uma funcionária do consulado do Brasil, em Orlando, que ela não iria ao aeroporto nem tinha motorista para buscar uma mala a ser entregue em Miami, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, responde: “Putz, pessoal do Itamaraty é enroladinho, hein?”
Olho nele/ Não foi por acaso que o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, lançou Eduardo Bolsonaro como candidato ao Senado por São Paulo. O parlamentar é visto como a maior promessa da família na política. É o 03, aquele que disse em 2018 que, para fechar o STF, bastava um cabo e um soldado.
O ex-ajudante de ordens Mauro Cid decidiu confessar seus crimes de contrabando de joias depois que viu seu pai, o general Mauro Lourena Cid, enroscado no esquema de venda das joias que o governo brasileiro havia recebido de presente da Arábia Saudita e do Bahrein. O general entrou nessa trama a pedido do filho. Agora, é o filho quem confessa, para tentar limpar o nome do pai, que, até então, era respeitado por todo o Exército brasileiro. Porém, desde que foi alvo de busca e apreensão, o general emudeceu. Foi o limite para seu filho, que, conforme contou o advogado César Bittencourt à revista Veja, decidiu confessar que fez tudo por ordem do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Mauro Cid se sente abandonado e nos tuítes de pessoas ligadas a Bolsonaro um sinal de que o ex-presidente deixaria o pai e o filho à deriva.
Bolsonaro está irritado e aposta na tese de que Mauro Cid não está bem emocionalmente e, por isso, acabou seguindo pelo caminho da confissão. Não é bem assim. Paralelamente à vontade de restabelecer o nome do pai, Mauro Cid sabe que. Policia Federal tem farta comprovação de que ele atuou na venda das joias. E, dizem alguns, não dá o coronel segurar isso sozinho, ficando junto com o pai, como aqueles que desviaram os presentes recebidos de governos estrangeiros. Tudo tem limite. Mauro Cid chegou ao seu.
Aliados de Bolsonaro pretendem tratar caso das joias como “trapalhada”
Por Denise Rothenburg – Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro bem que tentaram tirá-lo da linha de tiro do escândalo das joias, colocando na roda uma portaria dos tempos de Michel Temer, que tratava esse tipo de presente como bens de “natureza personalíssima”. Só tem um probleminha: o próprio Bolsonaro revogou a portaria em 2021 e, além disso, a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a devolução dos bens foi baseada em lei. Logo, a posse das joias por Bolsonaro e a venda por ex-auxiliares não se sustenta.
Com a “natureza personalíssima” descartada, a ideia é tratar o caso como uma “trapalhada”, uma vez que os bens foram devolvidos. Pelo menos, esse será um dos caminhos a ser traçado por aliados, no campo da política.
No campo jurídico, porém, é diferente. A esperança dos bolsonaristas é que, se o remédio for muito amargo, Bolsonaro vire vítima. O ex-presidente, segundo relatos, não está ajudando a construir essa imagem. Irritado, tem batido na mesa e diz que não quer saber de ir para a cadeia por causa de joias que foram devolvidas, depois de Lula, segundo ele, tirar contêineres do Alvorada quando era presidente.
A ideia dos bolsonaristas é colocar as comparações na roda.
No varejo
A ideia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de fechar a reforma ministerial esta semana, dará aos novos ministros Silvio Costa Filho (PE), do Republicanos, e André Fufuca (MA), do PP, a missão de conquistar os votos da legenda a conta-gotas. Ambos seguirão na linha de “independência” ditada por seus presidentes, Marcos Pereira e Ciro Nogueira, respectivamente.
Vocês que se virem
Avisado de que nos dois partidos o percentual de oposicionistas é maior do que o de potenciais governistas, Lula repete a velha máxima que norteia suas conversas, quando quer atrair um interlocutor: “Os meus eu já tenho, preciso que você me traga os seus”.
Todo cuidado é pouco
O governo ficou assustado com o fato de os líderes cancelarem a reunião que discutiria o texto das novas regras fiscais porque o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia dito que a Câmara tem poder demais e não pode humilhar o Executivo e o Senado. A avaliação, porém, é de que, depois da conversa dele com Arthur Lira (PP-AL) para esclarecer uma fala mal-entendida sobre o poder da Câmara, ainda há tempo e clima para votar o
arcabouço fiscal.
E a Argentina, hein?
O arcabouço é o tema mais importante em pauta. Em conversas reservadas, os governistas consideram que a economia afundou a esquerda na Argentina. Para que isso não se repita por aqui, é preciso ter claro que os temas econômicos são prioritários e não podem ser deixados de lado.
A pauta que une I/ O velório da agente da Polícia Civil Valderia da Silva Barbosa Peres colocou quase que lado a lado a deputada Érika Kokay (PT-DF), sempre muito combativa na causa feminina, e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Segundo relatos, as duas chegaram a trocar um cumprimento com acenos.
A pauta que une II/ A vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (foto), que já foi coordenadora da bancada feminina na Câmara dos Deputados, nunca teve dificuldades em colocar todas as mulheres de diferentes colorações partidárias na mesma sala para conversar sobre soluções quando o assunto é o crescimento do feminicídio no país e no DF.
Estou tranquila/ A presença de Michelle, além do óbvio ato de solidariedade à família e à luta contra o feminicídio, teve um viés político: mostrar que a ex-primeira-dama não cancelou nada por causa do escândalo das joias.
Mantenha a agenda/ Embora muita gente no PL prefira que o casal Bolsonaro fique mais recolhido, Michelle pretende manter a agenda e as viagens pelo país.
Governo pressiona União Brasil e coloca o segundo escalão em jogo
O governo está dando um ultimato ao União Brasil. Ou assegura os votos e não assina CPI dos Atos Antidemocráticos, ou não terá cargos no segundo escalão. Até aqui, o governo segurou os indicados do União no Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs) e na Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf). E não pretende promover trocas, mas será preciso mostrar lealdade ao governo.
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Preocupado em fechar a federação em curso com o PP, a turma do União considera que, antes de tentar dar ultimatos ao partido, o governo precisa se organizar e conter a fome do PT, que pressiona por cargos.
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O PT do Ceará, por exemplo, estado do líder do governo na Câmara, José Guimarães, pleiteia o Banco do Nordeste. O cargo já está prometido ao ex-governador de Pernambuco Paulo Câmara, que cumpre quarentena depois de deixar o governo estadual.
Os dois problemas de Lula
A sede por cargos dos aliados e a demora em acertar o passo no Congresso é um dos problemas de Lula, e é visto inclusive como o número dois. O primeiro é o risco de golpe no país, que, avaliam aliados do presidente, não está completamente afastado em parte dos quartéis e outros segmentos. A tensão pós 8 de janeiro é algo que ainda não foi totalmente dissipado e está drenando a energia que deveria ser gasta para as reformas de que o país precisa.
Ele quem?
Nas conversas mais reservadas no Parlamento, deputados e senadores reclamam que o ministro da Casa Civil, Rui Costa, estreante em Brasília, não conhece os meandros do Congresso Nacional nem os parlamentares, o que tem dificultado a relação.
Sobrou para ele
Começaram também as reclamações sobre o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que conhece todos, mas não tem resolvido. Há um sentimento de que o governo está à deriva no Parlamento.
Bolsonaro e o PL
A avaliação geral dentro do partido é a de que a melhor saída, no momento, é devolver as joias. O partido, aliás, está para lá de dividido. Enquanto um grupo pretende se aproximar do governo, outro olha para todos os lados, em busca de uma alternativa a Jair Bolsonaro. O nome que mais se encaixa no perfil dos sonhos de parte do PL é o de Tarcísio de Freitas. O bolsonarismo-raiz está cada vez menor. E, quanto mais o ex-presidente demorar a resolver a crise das joias, pior ficará.
A obra é federal/ Não foi mero acaso a falta de representantes do governo do Rio Grande do Sul no anúncio da hidrovia entre Brasil e Uruguai — ausência devidamente registrada por Rosane Oliveira no jornal Zero Hora. O governo Lula considera o governador Eduardo Leite (PSDB) como um potencial adversário ao Planalto em eleições futuras. A estratégia é não colocar azeitona na empada alheia.
Janja conquista apoios/ Invejada por parte do PT, Janja tem angariado apoios fora do partido. A ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, secretária de Relações Internacionais do município, é um exemplo. As duas conversam bastante. Marta tem vasta experiência administrativa e política. Foi vereadora, deputada, senadora, prefeita e conhece profundamente o PT, especialmente, o de São Paulo.
Nem tudo é política/ A amizade vai além dos conselhos. Dia desses, Marta estava em Madri, passou em frente a uma loja de grife, e logo mandou uma foto de uma saia para a primeira-dama. “Achei a sua cara”.
Menos, Nikolas, menos/ O deputado Nikolas Ferreira será levado ao Conselho de Ética, acusado de transfobia. Há alguns anos, deputado ou senador que usasse chapéu, ou quisesse entrar no plenário com acessórios, não tinha o direito de se manifestar. As ousadias se limitavam aos sapatos, como as alpargatas do senador Ney Maranhão, as gravatas Disney do senador Ney Suassuna, ou os tênis de Maurílio Ferreira Lima. Ah, também havia as calças jeans adotadas por Paulo Delgado e outros petistas nos anos 1980, antes de o partido chegar ao poder.