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Lula quer virar a página da crise de segurança

Publicado em Política

Por mais surpreendentes que sejam as denúncias envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores, seja na seara dos atos antidemocráticos/tentativa de golpe de Estado, seja nos gastos do cartão corporativo, o governo Lula terá que fazer uma escolha: gasta parte da energia nesses temas da segurança — entre eles o chamado pacote da democracia que vem por aí — ou acalma o país para garantir uma boa discussão da reforma econômica — na qual a tributária é considerada a mais importante. A partir daí, consolidaria os recursos para os programas sociais, especialmente a revolução que o presidente da República deseja fazer no sistema educacional.

Se depender exclusivamente de Lula, a ordem é virar a página. Deixar que a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Judiciário cuidem de Bolsonaro e a Presidência da República fique fora dessa seara. Falta combinar com o PT, que, diante dos atos antidemocráticos, se apresenta com sangue nos olhos, pedindo a cabeça do ministro da Defesa, José Múcio, e reclamando internamente do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. O entorno de Lula espera que a fala inicial dele, ontem, no café da manhã com a imprensa, tenha sido a senha para o PT reajustar o foco para os programas sociais.

Um quebra-cabeças…

O mosaico que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), vem montando há anos dentro do inquérito dos atos antidemocráticos, tem agora uma peça-chave: o manuscrito de uma minuta de decreto encontrado na casa de Anderson Torres, ex-secretário de Segurança do DF e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, é visto como uma prova de que houve realmente vários desenhos para evitar a posse de Lula.

…que preocupa os bolsonaristas

A continuar nesse caminho, avaliam alguns, cresce o risco de que Bolsonaro seja encaminhado a prestar depoimento assim que pisar em Brasília. Se houver alguma prova mais incisiva de participação do ex-presidente, ele pode ser preso.

Uma ajuda a Ibaneis

A minuta de um decreto de intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) encontrada na casa de Torres ajudará o governador Ibaneis Rocha na própria defesa. É que quanto mais elementos houver de que o ex-ministro estava no grupo que tentou articular um golpe no país, mais chances de recair sobre ele toda a culpa pela desmobilização de 8 de janeiro.

E a economia, hein?

O setor produtivo não gostou nada dessa história do voto de qualidade no Carf. É que, a partir de agora, a mão sempre pesará a favor da Receita Federal. Há, no setor produtivo, quem considere que o governo quebrou o que disse Lula: previsibilidade, transparência e credibilidade. O da “previsibilidade”, dizem alguns, não foi cumprido com o anúncio das medidas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O mercado, porém, gostou.

Caligrafia/ O autor da minuta do decreto encontrado na casa de Anderson Torres ainda não é conhecido. Já tem gente no mundo jurídico desconfiada de que não foi o ex-ministro que escreveu.

TCU em festa…/ Para marcar os 130 anos do Tribunal de Contas da União, o atual presidente da Corte de contas, Bruno Dantas (foto), levantou três pontos prioritários com os quais pretende marcar sua gestão: transparência, responsabilidade fiscal e cultura de consensualismo.

… e na lida/ A ordem é dar segurança aos gestores de que eles podem tomar decisões para não haver um “apagão das canetas”, quando muitos não decidem para não serem processados mais à frente.

Quem diria…/ O governo está apenas na sua segunda semana, encarando hoje uma sexta-feira 13, e parece ter mais tempo, de tantas coisas que aconteceram. E ainda estamos apenas nas “flores do recesso”, aquele período em que o Congresso e Judiciário estão de férias. 2023, realmente, promete.