Jogos de Espiões

Publicado em coluna Brasília-DF

Jogos de espiões
Cientes de que simpatizantes da presidente Dilma Rousseff lotados no Planalto repassam informações de governo à inquilina do Palácio da Alvorada, assessores de Michel Temer têm feito chegar dados errados até ela. Ontem, Dilma postou às 8h56 no Twitter que o governo tomava medidas nocivas ao negar o reajuste ao Bolsa Família. Uma hora depois, lá estava o presidente em exercício comunicando uma correção de 12,5% nos valores do benefício, três pontos percentuais acima do que havia sido proposto pela petista.

A ausência do aumento do Bolsa Família na agenda de Temer foi proposital. Agora, o Planalto tem certeza de que há espionagem na Casa, e os espiões de Dilma também sabem que, às vezes, a informação que chega até eles não é bem a atitude que o presidente em exercício adotará.

Quem pariu Mateus…
Alguns senadores fizeram de tudo para ver se o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, avançava o sinal e dizia que o governo não deseja o reajuste salarial dos servidores públicos. Especialmente Kátia Abreu, ex-ministra de Dilma, que fez questão de ir ao jantar com o ministro na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros. Meirelles não escorregou na casca de banana. “O governo tem seus números, mas não vou invadir a seara do Legislativo”, respondeu, mais político que os próprios congressistas.

…Que o embale em $$
Para uma maioria, o recado está dado: se o Congresso quiser dar o aumento, caberá aos parlamentares, mais cedo ou mais tarde, arrumar dinheiro para pagar a conta.

De olhos bem abertos
A presença de antigos aliados de Dilma Rousseff no jantar com Meirelles foi uma demonstração de que os votos em torno da presidente afastada não são tão sólidos quanto ela imagina. Em especial, os do PTB, bancada que compareceu em peso ao encontro com o ministro.

Renan, Dilma e Temer
Entre senadores aliados de Michel Temer cristaliza-se a ideia de que a visita do presidente do Senado, Renan Calheiros, a Dilma Rousseff foi uma espécie de recado para que o presidente em exercício nomeie logo Max Beltrão (PMDB-AL) como ministro do Turismo. Se o fizer, também terá problemas, porque cobrirá um santo e deixará outros ao relento, uma vez que o governo passará a ter dois ministros de Alagoas e nenhum de Minas Gerais.

Lula, o indiscreto
Sabendo que certamente suas ligações são gravadas, o ex-presidente Lula tem feito piadas com os amigos que demoram a procurá-lo. “Você não tem ligado mais para mim… Está com medo de ser preso?”, diz o ex-presidente, soltando a voz.

Caixinha
A assessoria de Dilma comemorou ontem os R$ 70 mil arrecadados para custear as viagens da presidente afastada. Só tem um probleminha: A hora de voo do Legacy cedido à presidente fica em torno de R$ 20 mil. Ela conseguirá preços bem mais em conta se, em vez do avião da FAB, de 12 lugares, buscar jatos menores, nas companhias de táxi-aéreo.

Jucá, impávido
Quem vê o senador Romero Jucá (foto), do PMDB de Roraima, tão dedicado aos assuntos do parlamento sai certo de que ele não se preocupa com as denúncias que têm envolvido seu nome. Ontem, mesmo depois do depoimento de Nelson Mello, da Hypermarcas, ele nem se abalou.

Seu papel é esse!
Líder na Câmara, o deputado André Moura (PSC-SE) recebeu ordens expressas do Planalto para defender o governo das acusações de que tem agido para proteger o presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha, e, assim, tentar evitar a cassação do mandato. Moura, que é aliado de Cunha, cumpriu a missão. Daí a entrevista no fim da tarde de ontem.