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Planalto tenta conter os danos de imagem na crise do coronavírus
Coluna Brasília-DF
Ao levar as coletivas do Ministério da Saúde para o Planalto, como parte do gabinete de crise, Jair Bolsonaro adota uma estratégia para evitar a leitura de que a equipe do ministro Luiz Henrique Mandetta é algo estanque, descolado do governo. Aliás, foi aconselhado a adotar esse modelo para tentar amenizar o impacto negativo não só do passeio de domingo, mas também das declarações da manhã, em que novamente defendeu que todos voltem ao trabalho, num momento em que até Donald Trump se rende à necessidade de isolamento. Veremos até quando isso vai durar. O presidente quer os louros do trabalho desenvolvido pelo Ministério da Saúde, mas quer distância do ônus econômico das suas recomendações, de distanciamento social.
Aliados têm dito que Bolsonaro não se convenceu da gravidade da crise. Primeiro, houve a defesa de uma campanha institucional para que o Brasil voltasse ao trabalho. Não deu certo. Depois, o rascunho de um decreto para determinar o retorno imediato às atividades em todo o país. Não funcionou. A contar pela disposição dele, algo mais virá. O Brasil vive a cada dia a sua aflição.
Ministros por Mandetta
Não são poucos os ministros que têm apelado a Bolsonaro para refluir nas declarações dissonantes com as de Mandetta. O que o ministro da Economia, Paulo Guedes, fala de público, a favor do isolamento, é voz corrente no primeiro escalão do governo.
A terceira onda
As declarações de Bolsonaro só serão tratadas de forma mais contundente no Parlamento, quando o país estiver em condições de voltar à normalidade. Em outras palavras, o Brasil seguirá com crise política em altos e baixos. Ninguém tomará qualquer atitude, até que se resolvam as questões de saúde, e as medidas econômicas tenham alguma resposta a fim de melhorar a vida das pessoas.
Está assim I
Em Londrina (PR), um empresário de 55 anos, que passou a infância e a adolescência em Brasília, começou a sentir dores pelo corpo em 18 de março. Em 20 de março, febre alta e dor de cabeça. Procurou a emergência de um hospital privado três dias depois. Foi mandado de volta para casa, sem teste para coronavírus e qualquer cuidado especial. Preocupado e ainda passando mal, voltou ao hospital dia 25. Aí sim, o tratamento foi diverso. Uma tomografia detectou lesões nos pulmões e, então, foi internado e houve coleta de material para o teste. Ontem, 29 de março, recebeu o resultado: Covid-19.
Está assim II
Esse empresário continua internado. Conta ainda que tem um passado atlético em piscina, alimentação saudável, não fuma, não bebe, não tem hipertensão, diabetes, ou qualquer outro fator de risco. Agora, seu quadro clínico começa a melhorar. “O vírus é violento”, avisa.
Militares e o meio-termo de Villas Boas
Integrantes da cúpula das Forças Armadas cobraram de Bolsonaro uma postura mais afinada com o Ministério da Saúde. Daí o motivo da nota do ex-comandante do Exército, general Villas Boas, que critica ações extremadas, delimita o centro como ponto de equilíbrio e, por tabela, sai em defesa do presidente. Divulgada, ontem, nas redes sociais, coloca Bolsonaro como bem intencionado. A leitura da política é a de que a caserna age para tentar conter o presidente e a crise política.
Continha/ Dia desses, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) reclamou de um juiz que suspendeu a carreata do “Brasil não pode parar”, referindo-se a um cidadão contra 57 milhões –– o número de votos que seu pai angariou no segundo turno. O problema é que, desses milhões, há muitos que defendem o confinamento e não votaram a favor de Bolsonaro, e sim contra o PT.
Sem exemplos para citar/ O fato de o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, adotar o autoisolamento depois que um de seus assessores testou positivo para o novo coronavírus, foi mais um baque nas atitudes de Bolsonaro, que, com vários colaboradores com resultado positivo, continua nas ruas.
Difícil, mas deve rolar/ A Câmara fez ontem testes para sessões virtuais. Só tem um probleminha: com 513 deputados, vai ser complicado definir a ordem de uso dos microfones –– e por aí vai.
Enquanto isso, na construção civil…/ Obras de fundação de um edifício na região do Park Sul continuavam ontem a pleno vapor.
Coluna Brasília-DF
Em 2005, quando o país viu eclodir o escândalo do mensalão, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva vislumbrou um possível processo de impeachment. À época, disse a adversários que qualquer movimento contra ele resultaria em ruas lotadas em sua defesa. Agora, o presidente Jair Bolsonaro tem dito o mesmo a um pequeno grupo da sua confiança. Para isso, entretanto, ele precisa recuperar parte da popularidade, sem dividir os louros das medidas adotadas com ninguém, e tratando tudo como se fosse iniciativa do seu governo.
Foi nesse sentido que Bolsonaro anunciou, de bate-pronto, na porta do Alvorada, o valor de R$ 600 mensais de ajuda para os trabalhadores informais, o triplo do projeto inicial do Poder Executivo. O projeto já estava em votação e, àquela altura, a área econômica aceitava, no máximo, conceder R$ 300. O Congresso ia dar R$ 500 e o presidente anunciou R$ 600. Enquanto essa disputa por protagonismo político ajudar a população, será bem-vinda. As consequências, como sempre, virão depois.
Perfil do comando
As trocas de militares no Alto Comando já eram previstas, mas a nova leva é ligada ao ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e ao comandante do Exército, general Edson Pujol.
Até eles
Alguns hospitais privados, inclusive, no Distrito Federal, projetam queda de faturamento, por causa do cancelamento de cirurgias eletivas e consultas. Até alguns setores da medicina passarão por dificuldades diante da pandemia de coronavírus.
Até ele
Com o estado de Nova York definido como o novo epicentro da pandemia da Covid-19, as declarações do presidente Donald Trump a respeito do coronavírus vão na linha de “pandemia grave”, e que veria, caso a caso, a necessidade de manter ou afrouxar as medidas de isolamento.
Ciência versus política
A virada de Trump é lida entre alguns aliados de Bolsonaro como fruto da campanha política que o presidente dos Estados Unidos enfrentará em breve. Porém, entre opositores do bolsonarismo, é a certeza de que Trump não teve saída, a não ser o que dizem os técnicos e infectologistas.
Só para contrariar/ A ideia de Bolsonaro aparecer com duas caixas de remédio que não precisa usar, e receitar como a promessa contra o coronavírus, teve uma motivação: provocar o médico Ronaldo Caiado, governador de Goiás, seu mais novo adversário.
Joyce na cobrança/ Em seu discurso no plenário da Câmara, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) não mediu as palavras ao cobrar do presidente que pare com essa história de negociar com o Congresso num momento e, minutos depois, ir às redes sociais dizer que não negociou. “Seja homem e cumpra de pé o que combina sentado. Eu o desafio à paz, ao diálogo, à união”.
Muito além da Mega-Sena/ O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) postou vídeos de reclamações para a abertura de casas lotéricas. Há cidades em que esses estabelecimentos são o canal para receber os benefícios governamentais e, fechados, as pessoas não conseguem sacar valores de aposentadorias, por exemplo.
Espelho meu/ Lula chamou a crise econômica de “marolinha”. Dilma Rousseff saudou a mandioca e queria estocar vento. Bolsonaro chama pandemia de gripezinha e diz que brasileiro mergulha no esgoto e não pega nada. Qualquer semelhança é mera coincidência.
Se Bolsonaro não agir para conter crise, será tratado como a “rainha da Inglaterra”
Coluna Brasília-DF
A carta dos 26 governadores propondo medidas econômicas, chamando o governo federal, leia-se, o presidente Jair Bolsonaro, a liderar o processo de combate ao coronavírus, e a quebra do silêncio do vice-presidente Hamilton Mourão, são tratados nos bastidores do poder como um alerta: ou o presidente sai da linha de confronto, e senta-se à mesa para um trabalho sereno, a fim de sair da crise da saúde e buscar soluções para a economia, ou será tratado por todos como a “rainha da Inglaterra”, isolada no Castelo de Windsor.
A avaliação geral é a de que o presidente adota esse discurso mais agressivo aos estados para não se contaminar com a crise econômica inexorável, deixando tudo no colo dos governadores –– que adotaram a quarentena recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a fim de evitar que o crescimento rápido do número de casos leve a um colapso dos serviços de saúde. Ocorre que, como disse Mourão, a primeira onda é a da saúde. A segunda, a da economia. Logo, para surfar na segunda, é preciso passar pela primeira que, em um mês, registrou 2.433 casos, com 57 mortes.
Militares com Mourão
Os generais que apoiaram a eleição de Bolsonaro, de corpo e alma, hoje estão mais afinados com Mourão. Nas redes de generais, o vice é altamente elogiado.
Abin de olho no coronavírus
A Agência Brasileira de Inteligência tem feito relatórios, quase que diários, a respeito da evolução da Covid-19 no Brasil, de olho nas curvas dos outros países. Um dos cenários indica que a situação por aqui segue o que ocorreu na França e na Alemanha. Os franceses já estão em confinamento. Os alemães estão com três estados em lockdown. Bares e restaurantes abertos apenas para serviço de entrega e todos os estabelecimentos que tenham contato corporal fechados.
Se é “gripezinha”…
Não é caso de calamidade pública. Já tem gente dizendo que, se o presidente insistir nessa tese, terá que pedir revisão do decreto.
DEM buscará outro caminho
A saída do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, da base de Bolsonaro, afasta quase que por completo o Democratas do atual governo. Os ministros do partido –– Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Teresa Cristina (Agricultura) e Onyx Lorenzoni (Cidadania) –– estão por conta própria.
Fixação eleitoral
Na reunião dos governadores do Sudeste com Bolsonaro, o único a quem ele respondia a qualquer intervenção era o de São Paulo, João Dória. Deixou claro que vê no paulistano um rival para o futuro.
Corrida do bem/ A Câmara aprovou uma série de projetos para aliviar a situação dos mais vulneráveis, enquanto o governo federal faz uma série de reuniões para anunciar novas medidas para proteção dos mais vulneráveis.
Padrinho/ Ronaldo Caiado foi um dos maiores entusiastas da ida de Mandetta para o Ministério da Saúde. Ou seja, se Bolsonaro, em algum momento, resolver substituí-lo, não faltarão governadores para abrigá-lo na equipe.
Chama o Meirelles/ O secretário de Fazenda de São Paulo, Henrique Meirelles, voltou a ser o sonho de consumo do mercado para o lugar de Paulo Guedes. Em especial, depois da postura serena que demonstrou nos últimos dias.
Nem pensar/ Bolsonaro não pensa em chamar ninguém que trabalhe no governo de São Paulo para atuar em seu governo. Se houver qualquer mudança, será caseira.
Comentários negativos fazem Bolsonaro mudar estratégia de comunicação
Coluna Brasília-DF
A estratégia de comunicação direta do governo, via redes sociais, e as entrevistas na porta do Palácio da Alvorada devem ser substituídas por notas oficiais. A ordem é evitar que o presidente fique exposto. A avaliação é de que, toda as vezes que ele se irrita com perguntas de jornalistas, fica pior.
Ali é que mora o perigo
Tem incomodado aos palacianos o fato de os anúncios nas redes sociais serem seguidos de uma onda de comentários negativos. O pior momento foi a decisão de suspensão dos salários, revogada em seguida. Bolsonaro não quer repetir aquela dose de ataques que recebeu nas redes. O problema é que, diante da pandemia, com os países tomando medidas de quarentena no mundo, o presidente está a cada dia mais isolado.
Coluna Brasília-DF
Enquanto o governo fecha as medidas econômicas necessárias para atravessar a pandemia, a avaliação, tanto do mercado quanto dos congressistas, é de que a agenda de reformas e de privatizações propostas pela equipe econômica ficará para, talvez, 2021. Essas são as estimativas mais otimistas. É que, diante da crise global, com cada país tratando de levantar sua própria economia, será mais difícil levar adiante uma pauta de privatizações, sob pena de vender ativos a preço de banana.
Foi esse novo cenário –– e não apenas a medida de suspensão dos salários –– que levou o ministro da Economia, Paulo Guedes, para a marca do pênalti no papel da bola. O coronavírus atropelou as reformas tributária e administrativa, que, a partir de agora, terão que ser revistas dentro de um quadro de maior atenção social, desemprego e não de economia dos gastos governamentais. Se ele não for capaz de entender que o projeto precisará sofrer mudanças drásticas, Bolsonaro terá que mudar o ministro.
A ordem dos fatores
Ao deixar os governadores do Sudeste por último, na série de encontros virtuais com os governos estaduais, e fazer o pronunciamento justamente na véspera da videoconferência em que ficará frente a frente na telinha com João Dória, de São Paulo, e Wilson Witzel, do Rio de Janeiro, Bolsonaro passou a muitos a ideia de que agiu deliberadamente para que eles o criticassem e dessem um motivo para cancelar a reunião de hoje. A ver.
A bolsa de apostas põe Mandetta na roda
O pronunciamento do presidente deixou em muitos políticos a impressão que o maior conselheiro dele é agora o ex-ministro da Cidadania Osmar Terra, deputado pelo MDB do Rio Grande do Sul. Bolsonaro praticamente repetiu o que disse o deputado ao CB.Poder, na segunda-feira.
O medo dos gestores
Os preços elevados cobrados no mercado internacional, para os equipamentos de saúde, tem feito com que os responsáveis pelas compras governamentais pisem no freio na hora de adquirir produtos às pressas lá fora. O receio é que, quando a pandemia passar, o responsável fique “pendurado” no Ministério Público. A opção é comprar por aqui mesmo. Assim, além de preservar empregos, o governo consegue negociar na mesma moeda e não se endividar ainda mais em dólares.
Eles estão cansando/ O pronunciamento de Bolsonaro, ontem, pegou de surpresa até seus apoiadores. Se com todas as medidas o número de casos subir, e houver um colapso no sistema de saúde, o presidente será responsabilizado.
Mourão na encolha/ O vice-presidente Hamilton Mourão tem ficado mais quieto do que nunca.
Depois não digam que não avisei/ Auxiliares tentaram pedir ao presidente que fizesse o pronunciamento outro dia, que evitasse polêmica e coisa e tal. Ele não quis. Há quem diga que Bolsonaro está morando em… Plutão.
Tá assim de fake news/ Nas redes sociais de WhatsApp nas quais os mais aguerridos apoiadores do presidente postam todos os dias, há uma estratégia deliberada de desacreditar a imprensa, na mesma linha da que o presidente afirmou ontem. Há, inclusive, o uso de uma foto em que o cinegrafista aparece com roupas normais e o repórter todo paramentado como médico de UTI. A montagem da foto é visível a olho nu.
Ministros do STF preocupados com a forma que Bolsonaro gerencia crise do coronavírus
Coluna Brasília-DF
Ministros do Supremo Tribunal Federal estão cada vez mais preocupados com a forma do presidente Jair Bolsonaro de gerenciar a crise do coronavírus. A avaliação na Corte é a de que o presidente tem feito uma sucessão de erros jurídicos em medidas provisórias e decretos. Há três semanas, os ministros têm se desdobrado em reuniões com Câmara e Senado e Tribunal de Contas da União para tentar evitar a judicialização da crise. Porém, agora, não têm mais tanta certeza de que isso será possível. A decisão do ministro Marco Aurélio, que suspende cortes no Bolsa Família, foi vista como um recado ao Executivo de que deve agir com racionalidade, e não com viés ideológico para proteger a população de perdas econômicas e sociais.
Guedes sai da foto, Onyx entra
Todos os ministérios estavam com seus titulares na entrevista do Planalto, menos o da Economia. É que sobrou para o ministro Paulo Guedes tentar aplacar a fúria do presidente Jair Bolsonaro com a repercussão negativa da desastrada medida de permitir a suspensão de salários por quatro meses, sem, em contrapartida, garantir o sustento dos trabalhadores para enfrentar esse período que o mundo atravessa.
Problema de DNA
Politicamente, há um descompasso entre uma equipe cuja cabeça é voltada para o ajuste fiscal e uma sociedade que, além da pandemia, caminha para o desemprego, com muitos serviços paralisados, e empresários preocupados com o futuro de seus negócios. O presidente, dizem alguns, se deixou levar pelo “Luciano da Havan” e não teve nenhum contato com os sindicatos de trabalhadores para contrapor à solução empresarial.
Passagem de bastão
A ordem agora no Planalto é resolver esse problema com outra medida que não seja o corte salarial por completo neste momento. E colocar mais os ministros da área social, como o da Cidadania, Onyx Lorenzoni, na vitrine. Ontem, foi Luiz Henrique Mandetta como personagem central.
A bandeira é de todos I
Passou despercebido por muitos, mas não pelos políticos, o apelo do governador de São Paulo, João Doria, pedindo aos paulistanos que colocassem bandeiras do Brasil e faixas verde-amarelas nas janelas. Doria justificou o gesto como “um ato de solidariedade” àqueles que precisam ficar nas ruas trabalhando para conter a pandemia de coronavírus.
A bandeira é de todos II
Doria fez questão de ressaltar que seu pedido não era um ato político, mas a classe começa a ver aí um movimento que surge também nas redes sociais, de tirar dos bolsonaristas a ideia de que guardam o monopólio na utilização da bandeira.
Mandetta, o jeitoso/ O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, tem tomado todo cuidado em
não ferir susceptibilidades no coração do Planalto. A todo o momento, diz “sob a coordenação do presidente Bolsonaro…”
Por falar em Mandetta…/Muita gente estranhou o fato de, desta vez, o presidente da República aparecer sem máscara depois do uso da proteção nas entrevistas anteriores. Há quem suspeite que esteja aí preparando o discurso para dizer que não é tão grave assim.
Tem gordura para queimar/ A fala do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de que os parlamentares podem sofrer cortes de salários, deixou muita gente desconfiada. Isso porque as excelências, além dos proventos, têm as vultosas verbas de gabinete. Como a maioria está em quarentena em casa, pelo menos a maior parte dessa verba poderia ser destinada ao combate ao coronavírus. O senador Reguffe (Podemos-DF), por exemplo, já fez isso.
Por falar em Maia…/ Não tem nada que mais irrite o presidente Jair Bolsonaro do que parecer que ele está cedendo alguma coisa a Rodrigo Maia ou à pressão da mídia. No caso da suspensão do pagamento de salários, não deu. É que, além de Maia, a pressão foi geral.
Colaborou Renato Souza
Coronavírus: sem receber ajuda do Governo Federal, governadores trocarão experiências
Coluna Brasília-DF
Os sete governadores do Sul e Sudeste se reúnem amanhã por videoconferência para trocar experiências e tentar resolver conjuntamente o combate ao coronavírus e como enfrentar as dificuldades de relacionamento com o presidente Jair Bolsonaro, que até agora não chamou os governos estaduais para uma ação conjunta e nacional de combate à pandemia. Outras regiões devem seguir por esse caminho.
A maioria concorda com a avaliação do governador de São Paulo, João Doria, de que a coordenação nacional não está funcionando, porque eles se veem obrigados a procurar ministério por ministério e há problemas que são interministeriais e seria mais fácil de resolver se houvesse uma coordenação nacional, a cargo do presidente da República, em linha direta com os governadores, em especial, daqueles estados onde há mais casos, como Rio e São Paulo.
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Um dos gargalos, por exemplo, é agilidade na compra de material médico, em especial, da China. Ontem, por exemplo, um importador conseguiu apenas 300 respiradores e a experiência dele diz que os governadores não conseguirão agilizar sozinhos essas compras. Ou a área de comércio exterior do governo federal, ou o próprio presidente, entra em campo nessa seara e pede ajuda, ou as dificuldades permanecem.
As consequências…
Os chineses replicaram, em suas redes internas, a crítica do deputado Eduardo Bolsonaro à China e também a nota do Itamaraty semana passada sobre o episódio do parlamentar dando um “pito” no embaixador chinês. O resultado é que, diante da procura mundial por produtos médicos, os empresários daquele país estão dando prioridade aos amigos.
… vêm depois
Quem tem agilidade para liberação de recursos e compra em cash também leva vantagem na hora da compra. Caso por exemplo, do Exército Americano, que, conforme a coluna publicou ontem em primeira mão, comprou 10 milhões de kits para testes rápidos de detecção do coronavírus.
Pregação no deserto
Amigos do presidente Jair Bolsonaro tentam convencê-lo a, mesmo tarde, mudar a nota divulgada pelo ministro Ernesto Araújo no caso do incidente com a China, para amortecer o mal-estar gerado a partir de um tuíte de Eduardo Bolsonaro. Até aqui, não funcionou.
CURTIDAS
Na guerra, transforma/ A Associação Nacional de Veículos Automotores (Anfavea) não foi procurada, mas já tem gente pensando em sugerir que as fábricas de automóveis voltem a colocar a mão na massa para produzir UTIs móveis.
Ele não deixa de ter razão/ “O mundo vive hoje sua verdadeira Primeira Grande Guerra Mundial. Japão, China, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Irã, enfim, todos, contra o inimigo invisível”, diz José Múcio Monteiro (foto), presidente do Tribunal de Contas da União.
O futuro dirá quem está certo/ O ex-ministro da Cidadania Osmar Terra trocou impressões com médicos gaúchos e viralizou nas redes. Ele diz: “Não concordo com a previsão do Mandetta (de que o número de casos diagnosticados vai regredir lá para os idos de agosto). Acho que regride em abril”. Ele, porém, ressalta que os contaminados serão dezenas de milhões e é isso que, na opinião dele, fará regredir a epidemia.
Fez bem/ O fato de o presidente Jair Bolsonaro não ter feito a prometida festa de aniversário foi bem recebido pelos seus apoiadores que estavam incomodados com as atitudes presidenciais. O momento é de trabalho.
Políticos cogitam adiar eleições e prorrogar mandatos de prefeitos
Coluna Brasília-DF
Acostumados a tentar se antecipar aos fatos, os políticos agora passam a monitorar o quadro da pandemia causada pelo coronavírus, de olho no calendário eleitoral. Há, inclusive, quem cogite adiar as eleições e jogar tudo para 2022, prorrogando os mandatos dos atuais prefeitos. O assunto será abordado assim que o Congresso resolver as ações mais urgentes relativas às medidas provisórias e a outros projetos emergenciais relacionados ao combate à pandemia de Covid-19.
Nos bastidores, há quem diga que, com o país quebrado, a prioridade deve ser a destinação dos recursos eleitorais para o tratamento de pacientes. Para completar, não será possível sequer sugerir a retomada do financiamento empresarial para custear campanhas. Portanto, o melhor é esperar tudo se acalmar para poder, mais à frente, tratar de outros assuntos.
Desconfianças federais
No show de teorias da conspiração que ronda o país, o episódio envolvendo o deputado Eduardo Bolsonaro e a China foi visto por muitos parlamentares como uma possível sinalização aos Estados Unidos. Algo do tipo, se a coisa apertar para os Bolsonaros por aqui, eles esperam contar com a ajuda de Donald Trump para permanecer no poder. Os equilibrados avisam: tudo o que o Brasil não precisa neste momento é de instabilidade democrática para salgar ainda mais o quadro causado pela Covid-19. A população espera que se cuide da saúde, deixando de lado o jogo rasteiro do poder e as disputas políticas com qualquer país.
Entre Eduardo e a China
O ultimato do presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, Fausto Pinato (PP-SP), publicado ontem no Blog, indica que mais um grande aliado do presidente Jair Bolsonaro está a um passo de seguir o caminho trilhado por Santos Cruz, Alexandre Frota, Joice Hasselman e outros.
Nada é para já
Pinato, entretanto, não tomará qualquer atitude mais contundente em meio a essa crise do coronavírus, com as pessoas adoecendo e a economia em frangalhos, nem tampouco a Frente Parlamentar de Agricultura. A ordem é esperar.
Por falar em esperar…
Antes da crise do coronavírus, deputados já falavam em dar um puxão de orelhas em Eduardo Bolsonaro. Agora, quando esse furacão terminar, alguma sanção virá.
..o embaixador ajusta a mira
Em seus tuítes ontem à noite, o embaixador chinês, Yang Wanming, disparou contra o deputado Eduardo Bolsonaro, a quem o governo de Xi Jinping ainda não perdoou nem ao ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
Eleição por videoconferência/ Pela primeira vez em seus 30 anos de história, a Federação Brasileira de Fiscais de Tributos Estaduais (Febrafite) fez uma assembleia e elegeu a sua diretoria por videoconferência. O uso da tecnologia em conferências, que já é uma realidade em audiências em diversos estados e poderes da República, agora vai se espraiar diante da realidade do coronavírus. O auditor fiscal de São Paulo Rodrigo Spada (foto) estará no comando da Febra no biênio 2020-2022.
Hoje tem mais #Aplausosnajanela/ Via redes sociais, a população combina um gesto de apoio aos profissionais da área de saúde. Hoje, às 20h30, vamos novamente usar as mãos para aplaudir médicos, enfermeiros, agentes de saúde que trabalham diuturnamente por todos nós. Algumas cidades começaram ontem mesmo com esse gesto que representa muito. A eles, nosso muito obrigada.
Enquanto isso, em Paris…/ Quem for às ruas sem motivo expressamente autorizado está sujeito à multa de 135 euros. Esperamos que o Brasil não chegue a esse ponto. Por isso, quem puder trabalhe de casa.
Para congressistas não é hora de impeachment, é hora de trabalho
Coluna Brasília-DF
Esse é o espírito dos congressistas, mas sem cenas de “amor” para com o presidente da República. A avaliação dos líderes partidários que, inclusive, levou Rodrigo Maia a recusar a participação na reunião com Jair Bolsonaro é de que não dá para “passar a mão na cabeça presidencial”, depois de o Planalto levar quase 15 dias se esquivando de uma crise de saúde pública grave. Agora, é trabalhar nas soluções a serem enviadas pelo governo, sem dar palco para o capitão aparecer bem na foto. Porém, nenhum líder vai tocar pedidos de impedimento de Bolsonaro ou tentar surfar neste momento gravíssimo definido pelo próprio ministro da Defesa, Fernando Azevedo, como uma situação de guerra.
Eles já calculavam a explosão…
Em 7 de março, o fim de semana depois do carnaval, as informações na área da Saúde, conforme publicou esta coluna, eram de que o número de casos aumentaria exponencialmente, dada a quantidade de voos da Europa para o Brasil no período pré-carnaval. No Planalto, entretanto, a ação demorou a ocorrer, uma vez que a gestão se mostrava mais focada em outros temas.
… mas a ação demorou
Agora, depois de perder um tempo precioso em manifestações, e em não querer alarmar a população para segurar a economia, o presidente Jair Bolsonaro entra atrasado e vai tentar recuperar o tempo perdido. Segue o ditado “antes tarde do que nunca” e torce para fazer valer o “tardo, mas não falho”. Terá de combinar com o povo, que, agora, percebeu a gravidade do que está por vir.
Onyx anuncia medidas
Ausente na coletiva do presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, anunciará, hoje, um conjunto de medidas para os idosos e os mais vulneráveis, além do que já foi dito ontem por Paulo Guedes na coletiva. “Vamos atender idosos do BPC (Benefício de Prestação Continuada), Bolsa Família e informais. Atenção e proteção total”, disse o ministro à coluna.
Termômetro I
Em outubro de 2018, moradores de condomínios de luxo de Brasília vibraram e comemoraram a eleição do presidente Jair Bolsonaro com fogos de artifício e muitos “fora, ladrões”. Ontem, nesses mesmos condomínios, o panelaço foi o do “fora, Bolsonaro”. Houve também panelaço a favor, segundo moradores isentos, mais sonoro que o primeiro.
Termômetro II
Na SQS 108, assim como nos bairros nobres do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde Bolsonaro ganhou de lavada em 2018, o “fora” predominou. A ira da população registrada nos panelaços foi detectada também por quem faz medições de redes sociais. Sinal de que a coletiva do presidente não foi suficiente para reverter a situação. Se Bolsonaro vai se recuperar, só o futuro dirá.
CURTIDAS
Segure os seus pit bulls/ A forma como o senador Flávio Bolsonaro (foto) se referiu ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pesou na recusa do deputado em posar para foto numa reunião com o presidente Jair Bolsonaro. Flávio foi às redes dizer que o deputado queria ser presidente do Brasil e ameaçava a democracia com ataques contra o Executivo. Quem atacou o Congresso foram os manifestantes de 15 de março.
Mandetta, o novo queridinho do Brasil/ Depois da live de quinta-feira, ao lado do presidente Jair Bolsonaro, foi o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, quem puxou as reuniões e pontes com outros Poderes, Congresso, Supremo Tribunal Federal, Procuradoria-Geral da República e Tribunal de Contas da União (TCU).
e da política/ O ministro ganhou nos meios políticos e empresariais a tarja “se sair, piora”, que hoje acompanham o cartão de visitas de Paulo Guedes e Sérgio Moro.
Por falar em Guedes/ O mercado em pleno ataque de nervos com a economia derretendo começou a entoar o “chama o Meirelles”. Do Planalto, entretanto, vem a sensação de que Bolsonaro jamais pedirá alguém que trabalhou com Michel Temer no comando da economia e hoje é secretário de Fazenda do Estado de São Paulo, comandado por João Doria.
Prepare-se/ A confirmar-se as notícias de que o aumento de casos continuará exponencial, o período de permanência em casa será prolongado. Pode esperar.
Coronavírus: Ministros e assessores trabalharam para conter Bolsonaro
Coluna Brasília-DF
O presidente Jair Bolsonaro começou a terça-feira chamando as recomendações para conter o coronavírus de “histeria”, criticando os governadores que agem com rigor para tentar manter as pessoas em casa, anunciando uma festa de aniversário. Terminou pedindo a decretação de calamidade pública, união nacional, falando, inclusive, em reunião com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia; do Senado, Davi Alcolumbre; do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. Personagens atacados nas manifestações de domingo, aquela que contou com a participação de Bolsonaro distribuindo apertos de mão, em desacordo com a orientação de seu próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
A mudança da atitude presidencial foi trabalho que começou com amigos, assessores e alguns políticos que, com muito jeito e habilidade, disseram a Bolsonaro que ele precisava liderar essa crise de uma maneira diferente daquela demonstrada no domingo. O que funcionou, entretanto, foi a mudança de clima nas redes sociais. As críticas ao comportamento presidencial diante do vírus, esse inimigo pouco conhecido, levaram Bolsonaro a passar o dia colocando nas redes as ações do governo para conter a Covid-19. Resta saber se ele continuará nesse caminho, ou, daqui a alguns dias, acionado pelos radicais, voltará ao estágio anterior. A ordem, no momento, é recuperar apoiadores.
A realidade bate à porta
A conclusão do secretário da Receita, Mansueto Almeida, de que, diante da crise que ainda está por vir, o governo terá que desistir das metas fiscais em 2020 foi o que levou o presidente Jair Bolsonaro a optar pela decretação de calamidade pública. Agora, falta combinar com o Congresso, em especial com Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia, que, até aqui, é visto como um inimigo pelos bolsonaristas.
Por falar em Maia…
Na noite de segunda-feira, o presidente da Câmara reuniu os líderes e a palavra “calamidade” chegou a ser utilizada por alguns dos presentes. Dos mais simpáticos ao governo até os oposicionistas, ninguém apostava nas rusgas políticas. Tirou-se dali somente declarações de que era preciso trabalhar para que a crise não se agrave.
Gestores garantidos
O presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, prepara em conjunto com a Advocacia Geral da União, Procuradoria Geral da República, Controladoria Geral da União (CGU) e Tribunal de Contas da União um protocolo para evitar que gestores públicos da área de saúde sejam processados por compras rápidas a fim de atender a população. A proposta será fechada hoje.
Incerteza eleitoral
Com a Covid-19 na avenida, ninguém vai arriscar entrar em disputa política mais ferrenha nesse momento. A ordem é esperar a crise passar e só tratar de eleição quando a curva de casos se inverter. Resta saber se as excelências vão se segurar até lá, uma vez que a previsão, se tudo correr bem, é lá para o final de maio.
Trilha 03// O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) foi às redes reforçar as ações adotadas pelo governo. Não é hora de briga política com gente morrendo pelo coronavírus,
Trilha 01// Já o senador Flávio Bolsonaro foi para as redes criticar Rodrigo Maia, dizer que o TSE deveria declarar se Maia havia sido eleito presidente do Brasil, que o deputado provocava instabilidade política, dificultava investimentos e geração de emprego.
Não colou// O senador, dizem até ministros do governo, errou feio ao tecer esse comentário. Afinal, quem foi a manifestações contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, apostando no consenso e desrespeitando orientações para conter o coronavírus, foi o presidente da República.
Faz sentido// O deputado Daniel Freitas (PSL-SC), mais um integrante da comitiva de Jair Bolsonaro a ter o teste positivo para o coronavírus, sugere que se adie o prazo de filiação partidária que se encerra no início de abril. No meio dessa pandemia, é impossível fazer reuniões políticas com muitos apoiadores e festas de filiações. O momento é de recolhimento.