Brasília vira epicentro da politização do coronavírus

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Coluna Brasília-DF/Por Carlos Alexandre de Souza

Brasília tornou-se o epicentro da politização do coronavírus. É da capital federal que parte o movimento contrário ao isolamento horizontal, única medida eficaz para conter o avanço assustador da Covid-19 pelo país — ao ritmo de cem mortes por dia. O presidente Jair Bolsonaro não apenas insiste em ignorar todos os alertas e estimula abertamente a população a sair pelas ruas — ontem, foi a uma padaria na Asa Norte, como despacha com uma espécie de ministério paralelo, chefiado por Osmar Terra, para desmoralizar o trabalho do ministro Mandetta.

O resultado está nas ruas, com o evidente aumento das aglomerações nas grandes cidades brasileiras antes mesmo de a pandemia do coronavírus atingir os níveis mais altos. A politização também contaminou o uso da hidroxicloroquina como medicamento contra a doença. A intromissão de políticos em um debate que deveria ser conduzido por médicos e cientistas apenas confunde a opinião pública, pois está claro que ainda faltam evidências científicas para autorizar o uso disseminado do remédio. Nesse momento crítico da Covid-19, a politização é o maior inimigo a espreitar a saúde dos brasileiros.

Apelo empresarial

A Associação Comercial e Empresarial de Minas enviou uma carta ao presidente Bolsonaro na qual apela por medidas urgentes para socorrer empresas em “funcionamento precaríssimo”. O documento alerta para a urgência de se lançar um plano mais contundente para as empresas formais — “as que sustentam o Estado” — sob o risco setores inteiros caírem em bancarrota.

Sacrifícios iguais

Assinada por Aguinaldo Diniz Filho, presidente da associação fundada em 1901, a carta propõe ainda um corte horizontal de 25% de toda a folha de pagamento dos servidores do Executivo, Legislativo e Judiciário. A alegação é de que o setor privado já contribui com uma sacrificada redução salarial.

Não às taxas

A deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF) sugeriu ao presidente Bolsonaro uma Medida Provisória que suspenda a cobrança de serviços bancários para os beneficiários da ação emergencial de renda mínima. Trata-se de uma fatura de mais de R$ 100 milhões, que poderia ser revertida em recursos para combater o coronavírus. “Os bancos precisam ter responsabilidade social nesse momento”, defende a parlamentar.

Reforço

A publicitária Sophie Wajngarten, mulher do Secretário Especial de Comunicação, Fábio Wajngarten, é a mais nova integrante do Conselho do Programa Nacional de Incentivo ao Voluntariado. Cofundadora do Instituto Liberta, Sophie se tornou-se próxima da primeira-dama Michelle Bolsonaro, presidente do conselho gestor do programa Pátria Voluntária.

Baixa

Janio Macedo, secretário de Educação Básica, pediu demissão. Ele deverá ser substituído por Ilana Becskeházy. Ela acredita que é possível reproduzir o modelo de alfabetização desenvolvido em Sobral (CE), referência no país. A saída de Macedo, anunciada ontem, ocorre exatamente um ano depois de Abraham Weintraub assumir o MEC.

Toga suspeita

O ministro Luís Felipe Salomão, do Superior Tribunal de Justiça, determinou o afastamento por 180 dias do desembargador Siro Darlan, do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ). Darlan é investigado pela Polícia Federal na Operação Platão, que apura denúncias de venda de sentenças no estado fluminense. O ministro Salomão também autorizou a quebra de sigilo bancário e fiscal do magistrado, além do bloqueio de bens.

Bolsonaro muda o tom para não perder relação com o Congresso

Bolsonaro
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Coluna Brasília-DF/Por Carlos Alexandre de Souza

O movimento de aproximação do presidente com os partidos para distensionar o clima pesado de Brasília, provocado em boa medida pelas atitudes mercuriais de Bolsonaro em relação à pandemia do coronavírus, é uma tentativa de superar um problema crônico no Palácio do Planalto: a dificuldade de articulação política com o Congresso. A demissão de Onyx Lorenzoni da Casa Civil e o desgaste com o Secretário de Governo, Luiz Eduardo Ramos, durante as votações do Orçamento Impositivo, eram até agora os percalços mais evidentes do Executivo na relação com os parlamentares.

O isolamento político do presidente Bolsonaro, em contraste com a popularidade do ministro Luiz Henrique Mandetta e o consenso em torno das políticas do Ministério da Saúde, transformou-se em obstáculo perigoso para o Planalto. As ações de Bolsonaro nos últimos dias indicam que o presidente acusou o golpe. Fez-se necessário reerguer pontes com as legendas. Afinal, dialogar com os outros poderes é atribuição necessária – para não dizer trivial – do chefe do Executivo. Em momentos extremos de crise, é a relação com o Congresso que define o futuro de um presidente.

Lições do passado

Nesse sentido, convém lembrar que a relação com Congresso foi a salvaguarda de Michel Temer contra os diversos pedidos de impeachment quando ele chefiava o Planalto. E o cadafalso de Dilma Rousseff.

Outra guerra

O consenso na Câmara dos Deputados sobre a aprovação de um orçamento de guerra no combate ao coronavírus não deve se repetir no Senado. A proposta de se criar um orçamento de guerra contra o coronavírus tende a provocar debate no Senado. Parlamentares como Simone Tebet questionam se a PEC seria necessária, uma vez que o Congresso aprovou o estado de calamidade pública, derrubando eventuais limites orçamentários; e o Supremo determinou que as ações do Executivo devem dar prioridade ao combate
contra o coronavírus.

Aliados

Os aliados do governo, por sua vez, entendem que o governo precisa de mais garantias legais para respaldar as ações contra a pandemia. A votação da PEC do orçamento de guerra está prevista para a próxima segunda-feira.

Na China

No artigo publicado na Revista Brasileira de Medicina Tropical sobre a crise do coronavírus no Brasil, o ministro Mandetta e os co-autores mencionam as diferenças culturais entre Brasil e China. No país oriental, o uso de máscaras é adotado amplamente, assim como o hábito de curvar-se como forma de cumprimento.

E no Brasil

Na América Latina, ressaltam os autores, não há costume de se usar máscara. E abraços e beijos são uma rotina, o que representa um risco adicional do ponto de vista médico.

Há como mudar?

Em razão dessas diferenças, os autores afirmam que essas diferenças culturais podem ser “decisivas” na evolução das pandemias, e que precisam ser tratadas pelos estudiosos de ciências sociais.

Máscaras em SP

A prefeitura de São Paulo vai contratar costureiras e artesãos para produzirem máscaras, protetores faciais e aventais. O programa, chamado Costurando pela Vida, vai oferecer R$ 2 milhões para entidades sociais que se adequarem aos critérios do edital.

E em Brasília

Em Brasília, o Hospital Universitário de Brasília coordena um projeto voluntário, com adesão de 270 costureiras. O projeto recebe doações em dinheiro ou de matéria-prima pelo telefone 2028-5036.

Bancada do agro pede a cabeça de Weintraub

agro bolsonaro
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O constrangimento provocado pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, com os chineses e as ameaças de demissão ao da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, acabaram por desgastar o presidente Jair Bolsonaro com dois grupos que ele acreditava contar no Congresso. A bancada da saúde, que indicou Mandetta, e a do agronegócio, que patrocinou Tereza Cristina, tornam públicos seus descontentamentos.

Fervem reclamações a respeito do comportamento de Weintraub e, ainda, do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), sem uma resposta contundente por parte do governo federal em relação aos dois. “O presidente Jair Bolsonaro tem que afastar imediatamente os conselheiros do gabinete do ódio, seja o ministro de Relações Exteriores (Ernesto Araújo), o da Educação e alguns dos filhos. Tem que pensar nos interesses do país. Se copia tanto o Trump, vamos copiar nisso”, diz o presidente da Comissão de Agricultura, Fausto Pinato (PP-SP).

Visão da Faria Lima

Agentes do mercado financeiro em São Paulo atribuíam a virada dos negócios, com a queda do dólar e subida da Bolsa de Valores, à “caneta sem tinta” de Bolsonaro.

Por falar em “caneta”…

A sumida de Bolsonaro, ontem, foi atribuída à raiva com a repercussão sobre o tenso dia em que tentou demitir o ministro da Saúde. A tensão continuará até o fim da crise. Com ou sem Mandetta.

Se é contra eles, eu faço

Um argumento que pesou, e muito, na decisão para Bolsonaro não demitir Mandetta foi a certeza dada pelos auxiliares de que essa atitude reforçaria o cacife de João Dória e de Wilson Witzel junto ao eleitorado.

“O poder do presidente é grande, mas é um presidencialismo compartilhado. O presidente que não entende isso corre o risco de cair”

Do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, durante videoconferência promovida por consultoria

A culpa é do Rodrigo?

Não faltaram aliados de Bolsonaro para culpar Rodrigo Maia, por causa das ameaças feitas pelo presidente de usar a caneta para os ministros que “estão se achando”. O presidente da Câmara declarou, dia desses, que o capitão não teria coragem de demitir Mandetta, e deu no que deu.

Lupa nas reservas

O senador Jader Barbalho (MDB-PA) voltou a cobrar do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que o Banco Central responda detalhadamente tudo o que foi feito e o que será feito com as reservas internacionais, que já foram de US$ 390 bilhões e agora estão em US$ 340 bilhões. Até hoje não recebeu resposta.

Mandetta para internautas/ Renan Santos, do Movimento Brasil Livre (MBL), fez um vídeo para traduzir os recados de Mandetta a Bolsonaro durante a entrevista da segunda-feira: valorizou a equipe, coisa que o presidente não fez no domingo; mencionou O Mito da Caverna, de Platão, para marcar a diferença entre ignorância e conhecimento; falou do papel do estado, de proteger a vida das pessoas. E sobre ser líder, que não precisa ficar o tempo todo buscando apoios nas redes sociais.

Obcecado/ Enquanto os ministros Braga Netto, Luiz Henrique Mandetta, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, davam a coletiva do dia, Bolsonaro compartilhava no Twitter entrevista da médica Nise Yamaguchi sobre o uso da hidroxicloroquina.

Quem quiser, que banque/ O Muda Senado vai defender, enquanto der, a proposta de destinar o fundo eleitoral para o combate à Covid-19, assunto que foi, inclusive, objeto de uma ordem judicial. “Quem quiser ficar com os recursos que depois vá explicar ao seu eleitor que não quis destinar os recursos ao combate ao coronavírus. Aí, quero ver”, afirmou o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).

Pausa de Páscoa/ Nestes feriados, a coluna ficará a cargo do nosso editor, Carlos Alexandre de Souza. Volto na semana que vem. Boa Páscoa a todos. Dentro de casa.

Pressão para Mandetta pedir demissão continuará

Queda de braço entre Mandetta e Bolsonaro
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Aos seus mais fiéis escudeiros, o presidente já disse querer que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, deixe o cargo. Porém, a cada dia, Jair Bolsonaro é lembrado de que, se a situação da pandemia piorar no Brasil, a crise da saúde cairá no colo presidencial. Mas, se Mandetta não aguentar a pressão e pedir para sair, os bolsonaristas terão a narrativa de que “o ministro não aguentou o serviço”.

O bolsonarismo mais ferrenho manterá as críticas ao ministro no sentido de ver se consegue cavar esse discurso para o grupo. A ordem é dar ao presidente algo do tipo, “eu não o demiti, ele é que pediu para sair”, para associar o discurso atual, de defesa da economia com o isolamento dos idosos e de pessoas com comorbidades. Até aqui, deu errado.

Orçamento da guerra sem consenso

As críticas do grupo Muda Senado à aprovação do orçamento da guerra por emenda constitucional levaram ao adiamento da votação para a semana que vem. Será o tempo para tentar convencer a maioria.

Guedes em campo

Depois de duas videoconferências com os deputados no fim de semana, do MDB e do DEM, agora é com os senadores que Guedes está preocupado. Ontem à noite, por exemplo, ficou até tarde numa reunião virtual com a bancada do MDB.

A outra crise I

Enquanto analistas e deputados ficam entretidos com o cai não cai do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o governo se preserva naquilo que, de acordo com os aliados do presidente, mais pode jogar no chão a popularidade presidencial: a demora no pagamento dos R$ 600 àqueles que, de repente, ficaram sem renda, em especial, os informais.

A outra crise II

Em alguns locais, a população está perto de um mês de distanciamento social e, até aqui, aqueles que necessitam não receberam um tostão. Com a confusão de ontem em relação
a Mandetta, a área econômica calculava ter conseguido mais 24 horas.

CURTIDAS

Mandetta demitido…/… No WhatsApp. Lá circulava um post fake como se fosse o tuíte do presidente Jair Bolsonaro com a seguinte mensagem: “Quero agradecer ao ministro @lhmandetta pelo seu trabalho desempenhado no Ministério da Saúde até agora. Mas, para enfrentar a Covid-19, achei melhor convocar @Osmar Terra, que é infectologista e pode nos guiar até o fim desta pandemia. Brasil acima de tudo”. Osmar Terra é pediatra.

Enquanto isso, no DEM…/ Conforme a coluna antecipou, o DEM sabe que vem chumbo grosso do bolsonarismo raiz contra Mandetta, da mesma forma de ataques que recaem, hoje, sobre os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre. Outro que entrou na linha de tiro foi o governador de Goiás, Ronaldo Caiado.

…e siga em frente/ Mandetta nem tinha terminado sua entrevista ontem, na qual falou em “ciência, disciplina, planejamento e foco”, e a turma do partido comemorava: “Temos um líder”.

Mais uma trapalhada de Weintraub no Twitter

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, assina  protocolo de intenções que institui a formulação de políticas públicas e a realização de ações para a garantia da proteção integral de crianças e adolescentes.
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Menos, Weintraub, menos/ Foi considerado mais uma trapalhada o post do ministro da Educação, Abraham Weintraub, no Twitter, ironizando o sotaque asiático com menções ao personagem Cebolinha, de Maurício de Sousa. “Como vamos conseguir ajudar na relação com a China com auxiliares do presidente agindo assim? Já não bastou a barbeiragem do ministro Ernesto e (do deputado) Eduardo? Falta de responsabilidade!”, comentou o coordenador da Frente Parlamentar Brasil-China e da Frente dos Brics, deputado Fausto Pinato (PP-SP).

Pior impossível/ O comentário irônico veio justamente na data em que a China promoveu um dia de luto nacional por causa das mortes pela Covid-19. A postagem de Weintraub foi criticada, inclusive, por apoiadores de Bolsonaro. Alguns classificaram o ministro nas redes como “um grande imbecil”.

Guedes bateu boca com secretário ao defender congelamento nos preços de remédios

paulo guedes
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Reunião virtual da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, deu em bate-boca entre ele e o secretário de Produtividade, Carlos Costa, por causa do congelamento de preços da cesta de medicamentos e insumos farmacêuticos necessários ao combate à Covid-19. Costa levantou a sua preocupação com o fato de a indústria trabalhar com insumos importados, cujos preços subiram no mercado internacional. Guedes não gostou.

Quem decide

“Se você me enfrentar, você está fora da equipe”, reclamou Guedes, segundo relatos que chegaram aos deputados. O clima ficou pesado. Difícil evitar que uma equipe moldada para a valorização do mercado, como motor da economia, seguir uma cartilha inversa, sem contestações. Congelamento de preços, por exemplo, é quase uma heresia. Porém, Guedes está afinado com o que deseja o presidente.

DEM (quase) na oposição

Dem
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Além do #ForaMandetta nas redes sociais, os bolsonaristas agora voltam suas baterias contra todos os ministros do Democratas dentro do governo. O monitoramento do partido indica que vem sendo tratado de forma hostil desde a semana passada, quando o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, rompeu com o presidente Jair Bolsonaro. Agora, praticamente todos, numa ação coordenada, têm recebido tratamento semelhante ao dispensado aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre. Estão na mira dos radicais a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni. O incômodo é grande, mas, assim como Mandetta, ninguém sairá no meio da guerra ao novo coronavírus.

Déjà vu

O grupo palaciano que não suporta o protagonismo do presidente da Câara, Rodrigo Maia, acredita que, a partir de agosto, o deputado perderá o poder, porque a campanha para sucedê-lo entrará em cena. A ordem entre os bolsonaristas é buscar um candidato para enfrentar o grupo do DEM. Em 2015, Dilma Rousseff tentou fazer o mesmo em relação ao MDB, contra Eduardo Cunha, hoje presidiário. A presidente ganhou um inimigo que lhe custou o mandato.

Cálculos equivocados

Os bolsonaristas acreditam que será possível encontrar um candidato para derrotar o DEM ou mesmo Arthur Lyra, do PP. Essa conta não leva em consideração a realidade do governo no Congresso. Hoje, não tem maioria nem para aprovar um simples projeto de lei, quem dirá eleger um presidente da Câmara.

Resistências à PEC da guerra

O grupo Muda Senado tem dúvidas sobre a Proposta de Emenda Constitucional que estabeleceu o Orçamento de Guerra. “Não precisaria de emenda constitucional para fazer gasto. É um precedente grave. Se abro a porta para mudar a Constituição por votação remota nesse caso, outros temas podem gerar novas emendas constitucionais, seja contra ou a favor do governo”, alerta o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que pretende conversar com Davi Alcolumbre a respeito.

A corrida nos municípios/ O sábado foi agitado para os parlamentares, por causa da data-limite para filiação de candidatos às eleições de outubro. Enquanto o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Congresso não decidem o que fazer com a eleição, o jeito é cumprir os prazos.

Muita calma nessa hora/ A resistência em mudar a data da eleição é grande, porque, afinal, as campanhas começam em agosto. E ainda que não se tenha muitos recursos financeiros para esse corpo a corpo com o eleitor, é importante seguir o calendário. Essa história de prorrogar mandatos é considerada perigosa e nada recomendável.

Radicais aliados de Bolsonaro causam preocupação na crise do coronavírus

Bolsonaro
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A dificuldade de o presidente Jair Bolsonaro fazer valer seu discurso diante da maioria da população, e a queda de popularidade detectada nas pesquisas desta semana, já levaram assessores palacianos ao diagnóstico de que, a preços de hoje, o capitão sairá da crise do novo coronavírus politicamente menor do que entrou. “O perigo é de que o presidente tenderá a se atirar de cabeça na sua zona de conforto, acirrando os ânimos de suas bases mais fiéis, o que, para a sociedade como um todo, significará mais tensão, conflito, incerteza e instabilidade, em meio a uma aguda recessão econômica”, prevê o relatório que o cientista político Paulo Kramer preparou para os palacianos.

Outras avaliações que chegam ao Planalto alertam ainda para a necessidade de o grupo mais fiel ao presidente não confundir os 57 milhões que elegeram Bolsonaro com o bolsonarismo. Desse total, parte expressiva votou nele por causa do desejo de derrotar o PT. Agora, diante da pandemia e das posições do presidente, esses grupos começam a se separar.

Bolsonaro pode até recuperar seus eleitores, a depender do comportamento diante da crise. Se permanecer na linha do conflito, a tendência é consolidar a separação entre antipetismo e bolsonarismo. Se quiser unir novamente esses grupos, terá que colar sua imagem à da equipe do Ministério da Saúde, que está com a aprovação anos-luz à frente do presidente.

Mandetta, o equilibrista

As últimas declarações públicas de Luiz Henrique Mandetta foram bem recebidas pelo presidente, em especial as que colocaram as ações de combate ao novo coronavírus como obra do governo Bolsonaro. De quebra, o presidente também gostou do fato de o ministro da Saúde dizer que estava ali porque o capitão o escolheu e deu liberdade para que montasse a equipe.

Até a próxima crise

O receio da turma do deixa disso é que o gabinete do ódio volte a encher os ouvidos de Bolsonaro, na semana que vem. Afinal, ninguém esqueceu o que o presidente disse a apoiadores, na porta do Alvorada: se o isolamento social não terminar, ele tomará providências.

Bolsonarismo reage

Terminada a entrevista do ministro da Saúde no Planalto, a hashtag #ForaMandetta bombava no Twitter. Parte do material foi monitorado por integrantes da CPMI das Fake News para tentar detectar robôs destinados a esse trabalho. No final do dia, entretanto, defensores de Mandetta começaram a usar a mesma hashtag, de forma a embaralhar o jogo.

Atos & consequências

A prorrogação da CPMI das Fake News é o primeiro reflexo no sentido de preparação do terreno minado que o governo enfrentará no Congresso, depois que a pandemia da Covid-19 passar. O governo tentou evitar, mas não foi atendido. Ali, tem prevalecido a máxima de que o que for “pelo bem do país” será feito. O que for apenas pelo bem de Bolsonaro, nem tanto.

Onde mora o perigo/ Se as quadrilhas já estavam atrás das pessoas para tentar aplicar golpes nos trabalhadores, por causa do auxílio emergencial de R$ 600 às pessoas carentes, o receio agora vai no sentido inverso. É o de que essa mesma bandidagem tente fraudar e vir com trabalhadores fantasmas. Todo cuidado é pouco.

Onde mora o outro perigo/ Esses cuidados não podem ser dispensados, mas o Poder Executivo está de olho também nas cobranças dos opositores, dia e noite, com a hashtag #pagalogo.

Livre do coronavírus/ A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, fez um novo teste de coronavírus, ontem. Foi o segundo desde que a pandemia começou. Deu negativo. Ela tem trabalhado todos os dias, inclusive nos fins de semana, acompanhando de perto o abastecimento.

Apelo aos católicos/ Depois do encontro de Bolsonaro, na porta do Alvorada, com pastores evangélicos, os grupos bolsonaristas de WhatsApp ligados aos católicos replicaram, como se fosse recente, uma foto do presidente rezando na Catedral de Brasília. A imagem é de 5 janeiro deste ano.

Apelo aos católicos II/ A iniciativa dos apoiadores do presidente é no sentido de tentar recuperar terreno entre os mais religiosos nessa temporada de Quaresma.

“Esqueçam o que ele diz”, repetem ministros sobre Bolsonaro

Bolsonaro na porta do Alvorada
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Essa tem sido a frase mais repetida por ministros do presidente Jair Bolsonaro, quando perguntados por governadores e parlamentares sobre as declarações presidenciais mais polêmicas a respeito da Covid-19, e críticas aos estados, em entrevistas e lives à porta do Alvorada. A recomendação da equipe tem sido prestar atenção naquilo que o presidente escreve. Por exemplo: embora tenha defendido a volta ao trabalho, dispensou por decreto a liberação do número de dias letivos das escolas. Apesar de ter dito que não iria socorrer os governadores, liberou R$ 16 bilhões aos estados por medida provisória e outros recursos virão.

O distanciamento entre o discurso do presidente e a prática do governo prosseguirá, enquanto durar a pandemia. Assim, se a realidade chegar ao ponto previsto pelos mais pessimistas, Bolsonaro colará o seu discurso nos atos do governo. Se ocorrer o cenário mais otimista lá na frente, reforçará o que tem dito. Como muitos nesta pandemia, ele também está de olho na política.

Cálculos políticos

Entre os parlamentares, muita gente não tem mais dúvida: o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, está de aviso prévio. Bolsonaro só não o substitui agora porque tem medo que o cenário da pandemia se agrave ainda mais e, lá na frente, seja acusado de ter subestimado a “gripezinha”.

Todo cuidado é pouco

Os serviços de defesa ao consumidor avisaram ao governo que têm recebido inúmeras denúncias a respeito de quadrilhas que captam informações de pessoas de baixa renda, por mensagens de celular e e-mails, a fim de pegar os R$ 600. O receio, agora, é que o dinheiro acabe nas mãos dos bandidos. Por isso, é preciso organizar muito bem os cadastros e a distribuição do dinheiro.

Deu água

A ida do deputado Osmar Terra (MDB-RS) ao Planalto esta semana e a reunião com os médicos deixaram a certeza de que o presidente tenta se cercar de visões técnicas parecidas com a sua, tanto em relação ao isolamento social apenas dos idosos, quanto ao uso de cloroquina. O deputado, que é médico, repetiu ao presidente o que já havia dito no CB.Poder que enfrentou a H1N1 sem precisar de distanciamento social geral. Dos médicos intensivistas, Bolsonaro ouviu que a recomendação, por enquanto, é de isolamento social.

“O presidente pode ser criticado, mas faz acenos à população. Tem gente fazendo aceno para composição política”

Do líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), referindo-se aos gestos do governador de São Paulo, João Doria, em direção ao ex-presidente Lula

CURTIDAS

À beira de um ataque de nervos/ Silas Malafaia e outros pastores evangélicos estão ensandecidos por causa da escassez de recolhimento do dízimo. Chegou ao ponto de um pastor de Minas Gerais pedir a Bolsonaro, na porta do Alvorada, a abertura de uma linha de crédito para as igrejas.

À beira de um ataque de nervos II/ Malafaia tem colocado seus fiéis para filmar comunidades no Rio de Janeiro, a fim de mostrar que o considera “quarentena de araque”.

Jogos eleitorais/ A filiação de Marta Suplicy ao Solidariedade indica que o PT pode ter ainda mais problemas para a eleição de prefeito de São Paulo. É que Marta, se concorrer, ainda é considerada boa de voto na capital paulista.

Enquanto isso, na economia/ As promessas feitas pelo governo, de recuperação econômica no ano que vem, não são compartilhadas pelos economistas. O cenário, diante de um endividamento necessário agora por causa da pandemia, ainda é para lá de incerto. Quem em juízo não arrisca previsões para o amanhã. Diante do vírus, a ordem é viver a cada dia a sua aflição.

Produtores rurais cobram do governo equipamento de proteção e testes para detecção de coronavírus

Alerta do agro
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Produtores rurais fizeram uma série de reuniões, nos últimos dias, para cobrar do governo equipamento de proteção e testes para detecção de coronavírus. O setor continua trabalhando a pleno vapor e não há o desabastecimento, porém quer das autoridades sanitárias a garantia de máscaras para os trabalhadores e, de quebra, também os testes capazes de mapear quem está infectado, para poder separá-los daqueles que não estão, de forma a garantir a continuidade dos serviços. A ideia é fazer no agro o que foi feito com toda a população da Coreia do Sul.

A preocupação já foi levada à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e ao presidente da Comissão de Agricultura, o deputado Fausto Pinato (PP-SP), que fazem a ponte com o agro e a Saúde, a fim de tentar resolver esse gargalo. O problema é que os testes têm sido voltados para os profissionais de saúde e a uma parcela dos doentes que chegam aos hospitais. Quando o cobertor é curto, uma parte fica descoberta.

O provocador

Foi dessa forma que os parlamentares classificaram Jair Bolsonaro, depois de reunião com um grupo de médicos para discutir o uso da cloroquina, sem avisar a Luiz Henrique Mandetta. Além de expor mais uma vez o ministro da Saúde, o presidente tirou os médicos da sua função na linha de frente do combate ao coronavírus, demonstrou não confiar na sua equipe e reduziu o prazo de validade do pronunciamento à nação esta semana. Pior, impossível.

Onde pega

Bolsonaro está convencido de que, se conseguir liberar logo os recursos para atendimento da população sem emprego, e se a cloroquina der certo, recupera a popularidade perdida. O problema é que a substância é usada hoje em casos de UTI por causa dos efeitos colaterais. E, para completar, tem gente no entorno presidencial torcendo pela demora na liberação de recursos para que ele possa dizer, lá na frente, que tinha razão quanto à volta imediata ao trabalho.

Discurso versus prática

A classe política gostou da mudança de tom do pronunciamento de Bolsonaro, na última terça-feira. Porém, para o “vamos dar as mãos”, será preciso que ele converta o discurso em ações de união e, até aqui, essas atitudes de unidade não vieram.

Pronunciamento iogurte

Há um consenso até dentro do governo de que, se o presidente continuar a ouvir mais o gabinete do ódio e, em especial, Carlos Bolsonaro, sua fala entrará na classificação dos gêneros perecíveis. Hoje, o 02 tuíta muito mais sobre desemprego do que sobre como ajudar no controle da doença na cidade pela qual foi eleito vereador, o Rio de Janeiro. Ou seja, serviço que é bom, é só o zero. Sem o número dois.

Sinais

Aliados do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), têm notado uma mudança nas redes sociais. Antes, qualquer postagem dele recebia uma chuva de milhares de interações negativas por parte dos bolsonaristas. Agora, essas interações caíram para menos de 400.

Lula na área…

Em entrevistas a blogs e sites alternativos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveita o momento de crise para tentar comparar a crise econômica, que chamou de “marolinha”, à atual, que Bolsonaro chamou na semana passada de “gripezinha”. “As duas crises levam à necessidade de ter governo, e agora não vejo. Não tem articulação”, disse, referindo-se a Bolsonaro.

… Quer o lugar de Dória

O objetivo do PT nesse momento é recuperar o espaço político de polarização com Bolsonaro, vaga que o governador de São Paulo, João Doria, está conquistando pelo país afora.

Curtidas

Família testada/ O presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, que compôs a comitiva de Bolsonaro aos Estados Unidos, em março, descobriu que terminou infectando a esposa, a filha e os netos, e todos foram testados. Estão todos bem.

Família no escuro/ Pelo país afora, há inúmeros exemplos de famílias que perderam entes queridos com quadro de Síndrome Respiratória Aguda Grave. Não sabem ainda se foi Covid-19, nem são levados a fazer o teste.

Quem pode pode/ O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, despachou 23 aviões para a China a fim de buscar equipamentos hospitalares e testes para detecção de coronavírus. No mundo, está assim: quem paga à vista, leva primeiro.

110 Sul, a quadra dividida/ Durante o pronunciamento de Bolsonaro, o som dos blocos de apartamentos funcionais em que residem os brigadeiros e altos oficiais da Aeronáutica era o do Hino Nacional. Uma estratégia inteligente para abafar o rufar das panelas nos blocos civis.