Categoria: coluna Brasília-DF
Governo e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), jogam a partir de hoje a batalha da vida política. Cunha oferece à oposição os votos de seu grupo em prol do impeachment de Dilma em vários partidos aliados. Em troca, pretende manter o mandato. O governo, conforme já antecipou a coluna há alguns dias, sentia a iminência da apresentação do pedido de impeachment e já contava os votos, sondando deputados sobre cargos e emendas.
Bateu temor
Entre os parlamentares crescem as desconfianças de que o líder do PSC, André Moura, gravou a conversa que teve com o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. Ele nega.
Colégio de líderes
Muitos comandantes de bancada já se escolheram para compor a comissão especial encarregada de dar parecer sobre o pedido de abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. O primeiro foi o do PMDB, Leonardo Picciani (RJ).
Prévia
A eleição dos integrantes da Comissão Especial que analisará o pedido de abertura de processo contra impeachment de Dilma Rousseff tende a se transformar numa disputa igual à escolha dos membros da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados. Todos os lados vão tentar influir nas indicações. Quem não conseguir poderá apresentar candidatos avulsos no plenário.
Tropeço na largada I
As duas primeiras ações do governo na batalha do impeachment foram atabalhoadas. O primeiro foi forçar a aproximação com o vice-presidente Michel Temer. O segundo foi o recurso ao Supremo Tribunal Federal que, ao cair nas mãos de Gilmar Mendes, fez o governo correr.
Tropeço na largada II
Quanto a Michel, seus mais fiéis escudeiros refutam a declaração de que ele teria dito à presidente Dilma que o pedido de impeachment não teria lastro jurídico. “Estão querendo colocar a assinatura dele num parecer que ele não deu”, afirmava ontem um de seus maiores aliados.
Separados/ Aliados do vice-presidente Michel Temer apostam que ele evitará a foto ao lado da presidente Dilma Rousseff como um dos defensores do mandato dela. Ontem, por exemplo, o vice, chamado, voltou do aeroporto, conversou com a presidente e voou novamente para São Paulo. Hoje, vai ao Espírito Santo. Só retorna a Brasília na terça-feira.
Afinados/ Assim que saiu da convenção do DEM ontem em Brasília, o prefeito de Salvador, ACM Neto (foto), foi se reunir com o presidente do PSDB, senador Aécio Neves. Ambos tratam dos termos de um possível acordo com o PMDB em prol do impeachment.
Por falar em DEM…/ O DEM finalmente começa a resgatar sua história dos tempos de PFL. Na convenção, homenagens ao ex-vice-presidente Marco Maciel, representado pela esposa, Ana Maria Maciel, e seu filho João.
Enquanto isso, em Israel…/ Integrante da comitiva de parlamentares brasileiros em Tel Aviv, o deputado Izalci Lucas (PSDB-DF) ouviu críticas do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ao governo brasileiro. Diz Netanyahu que, por diversas vezes, tentou estabelecer relações comerciais com o Brasil, mas as autoridades do Executivo não lhe deram resposta.
O anúncio de que o pedido de abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff será analisado pela Câmara foi recebido por deputados de todos os partidos como a maior demonstração de que o presidente da Casa, Eduardo Cunha, não tem mais onde buscar os votos para tentar escapar de responder por quebra de decoro perante o Conselho de Ética, com risco de cassação do mandato. Sem o PT, a admissibilidade do processo de cassação de mandato por quebra de decoro virá cedo ou tarde.
» » »
Ontem, no início da tarde, Cunha estava irado com os petistas. Há relatos de que telefonou para o presidente do Senado, Renan Calheiros, pedindo que começasse logo a ordem do dia do Congresso. Queria, assim, deixar a votação do parecer de Fausto Pinato para a semana que vem. Agora, ele espera passar a penumbra para ver o que é possível fazer até a próxima terça-feira, quando o Conselho volta a analisar o caso.
Tudo ou nada
Com as notícias de chantagem correndo soltas na terça-feira, o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) fez correr um documento entre os senadores propondo que se enfrentasse logo este processo de impeachment. “É melhor passar logo por isso do que ficar com esta espada de Dâmocles sobre a cabeça”, dizia a senadora Lídice da Mata (PSB-BA), que ajudava a coletar as assinaturas no início da noite.
Outros campos
Sem os votos do PT, Eduardo Cunha se preparava ontem para procurar o prefeito da Bahia, ACM Neto, para ver se o antigo colega de Câmara poderia ajudar a virar o voto do deputado Paulo Azi (DEM-BA). Há quem diga, entretanto, que o prefeito não deseja conversa que o deixe atrelado a Cunha.
Rio em foco
Os deputados estão preocupados. Temem que o número de casos de microcefalia registrados no Rio estejam subestimados para não afastar os turistas que pretendem visitar a cidade na virada do ano e nas Olimpíadas de 2016.
Vai uma força aí
Entre os deputados, há quem aposte que o presidente do Senado, Renan Calheiros, fará o que puder para dar uma mãozinha a Eduardo Cunha no sentido de adiar votações no Conselho de Ética. Tudo porque Renan sabe que será o próximo da lista de desgaste, se ou quando Cunha cair.
CURTIDAS
Corrida maluca/ A pergunta ontem, no início da noite, no salão azul do Senado, era “quem cai primeiro: Eduardo Cunha ou Dilma?” Já há quem diga que, com ele, o impeachment não vai. E, com ela, a economia não decola.
Holofotes & penumbra/ Os peemedebistas adversários da presidente Dilma não escondiam a felicidade com a tramitação do pedido de abertura do processo de impeachment. Diziam que, agora, as tevês só vão tratar disso, assim como as manchetes dos jornais. “Eduardo Cunha agora vai ficar mais sossegado, com o PT correndo atrás do prejuízo e deixando de falar dele”.
[FOTO2]
Nós nos demos bem/ Os congressistas do PSDB e do DEM comemoravam a apresentação do pedido de impeachment para análise na Câmara. Ficaram contra Eduardo Cunha e ainda conseguiram o que queriam. “Eu não vou mudar de posição”, afirmou o líder do DEM, Mendonça Filho (PE) (foto), referindo-se à defesa do afastamento de Eduardo Cunha do cargo.
Posse na ADPF/ Os delegados da Polícia Federal estarão em peso hoje em Brasília. Calma, pessoal. Até nova ordem, não se trata de nenhuma nova fase da Lava-Jato. É simplesmente a posse do novo presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, Carlos Eduardo Sobral.
Denise Riothenburg
3 POR 300
Aliados de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) comentavam ontem à boca pequena que o governo Dilma Rousseff terá que escolher: Ou controla os três deputados do Conselho de Ética, fazendo com que eles votem em favor de uma simples censura pública ao presidente da Câmara sugerida pelo deputado Wellington Roberto (PR-PB), ou terá que controlar 300 contra o impeachment da presidente da República no futuro próximo. Os petistas, que ao longo do dia pendiam entre um voto e outro, temem ser o salvo=-conduto de Cunha e, depois, ele não cumprir a parte dele no acordo.
O jogo…
A ideia de Eduardo Cunha com o voto em separado por Wellington Roberto é evitar que o parecer de Fausto Pinato (PRB-SP) seja objeto de recurso ao plenário. É que, se o parecer do relator for derrotado, não cabe recurso ao colegiado maior.
…Vai parar na Justiça
O voto em separado de Wellington Roberto corre o risco de não prosperar e parar na Justiça. É que , nessa fase do processo, não cabe escolher a penalidade e sim definir apenas se admite ou não avaliar investigar o deputado envolvido.
O que interessa
Ao se reunir ontem com seus ministros pela manhã, antes do encontro com os líderes, a presidente Dilma foi direta: “Quero saber é como estão as ações para acabar com o mosquito, os casos de microcefalia e o PLN 05”. Assim, tirou logo cedo da pauta temas como Eduardo Cunha, Delcídio do Amaral e impeachment.
“O fato de Eduardo Cunha se dizer portador da decisão sobre o impeachment da presidenta não pode fazer dele um homem-bomba, que assuste o país e o PT. Contra ele, há provas e indícios contundentes. Contra Dilma, não”
Do ex-líder do governo deputado Henrique Fontana (PT-RS).
Razões
PSDB e DEM decidiram não assinar a representação contra Delcídio do Amaral no Conselho de Ética por um motivo muito simples: quem assina não pode relatar o processo. E ali tem muita gente interessada em ser o algoz do senador petista.
CURTIDAS
Silvio Costa faz barulho…/ O deputado Silvio Costa saiu furioso do Conselho de Ética e, ao chegar no café, encontrou logo o deputado Luís Carlos Hauly (PSDB-PR), sentado à mesa com Heráclito Fortes (PSB-PI), Marco Maia (PT-RS) e Arlindo Chinaglia (PT-SP). Foi logo dizendo: “Vão salvar o Eduardo Cunha. Esse voto em separado é a maior indignidade que já vi na vida”.
… e ganha apoio dos tucanos/ Hauly, então, comentou: ´É um caso raro em que eu concordo com o Sílvio”. Sílvio, que perde o amigo, mas não a piada, brincou: ”É que eu estou sempre certo e você, raramente acerta!” Foi uma risada geral.
Tendência/ Deputados comentavam á boca pequena que o Congresso não deixaria de aprovar a mudança da meta fiscal por um simples motivo: Dilma disse na reunião “ter dinheiro, mas não poder usar por causa da meta”. “Então,vamos dar a meta para liberar as emendas”, resumiu um lider aliado ao governo.
“Jader e ACM”/ Um senador comparava ontem a situação da presidente Dilma Rousseff e do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ao duelo entre Jader Barbalho(PMDB-PA) e Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), no ano 2000. No confronto direto, o que chegou primeiro ao cadafalso puxou o outro. Caíram os dois.
Enquanto Eduardo Cunha tenta jogar para obter os votos do PT hoje no Conselho de Ética, a bancada caminha em sentido contrário. Se os três petistas que integram o Conselho votarem a favor de Eduardo Cunha, ou seja, contra o parecer de Fausto Pinato pela continuidade do processo, o PT da Câmara viverá um racha público. Tem um grupo disposto a ir à tribuna contra os colegas de partido. A maioria da bancada não aceita a hipótese do voto com Cunha.
Atirou no que viu…
Quem estava no plenário, não se esquece: na campanha para presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), cansado do que considerava à época provocações de Eduardo Cunha sempre atacando o Partido dos Trabalhadores de maneira generalizada, defendeu-se com esta: “Nós aqui somos julgados pelo que falamos pelo que propomos e pelas emendas e medidas provisórias que fazemos ou deixamos de fazer”.
… e acertou no que não viu?
Muitos peemedebistas consideram a frase um ataque direto ao então candidato Eduardo Cunha. Depois disso, em 30 de janeiro, durante uma entrevista, Chinaglia foi ainda mais incisivo. A propósito de um mandato de “altivez” e “independência” prometido por Cunha, Chinaglia comentou: “É só pesquisar as Medidas Provisórias para ver onde é que essa altivez acaba. Queremos um Parlamento que tenha de fato a independência para atender ao povo brasileiro. Não apenas para fazer um discurso que acaba no dia seguinte da eleição, basta chegar em algum tipo de acordo”.
Enquanto isso, no Senado…
Os senadores do PT sentiram o baque de ter votado pelo relaxamento da prisão de Delcídio do Amaral (PT-MS). Choveram e-mails reclamando e os petistas decidiram que, daqui para frente, tudo vai ser diferente.
Desastre natural é a…
O decreto presidencial que considerou o rompimento de barragens como desastre natural começa a ser objeto de uma queda de braço na Câmara. Um grupo capitaneado pelo deputado Evair de Melo (PV-ES) tenta suspender seus efeitos. Num momento em que as vítimas buscam punição dos responsáveis pela tragédia, não dá para colocar a culpa em São Pedro.
Atenção ambientalistas!
O fato de a União e os estados de Minas Gerais e Espírito Santo cobrarem R$ 20 bilhões das mineradoras levou muitos parlamentares a pensar na derrubada daquele veto, que permitirá a todos esses entes federativos usar os recursos depositados judicialmente. Do jeito que os governos estão ávidos por recursos para fechar as contas, esses R$ 20 bilhões pedidos por eles podem ter outras finalidades que não a recuperação das áreas afetadas. Vale (do verbo valer) ficar de olho.
Outras guerras/ O deputado Júlio Delgado (foto) não comparecerá hoje à sessão do Conselho de Ética destinada a votar o parecer do deputado Fausto Pinato (PRB-SP) contra Eduardo Cunha. Delgado integra a comitiva do Parlamento brasileiro a Israel e ontem estava na Faixa de Gaza. Há quem diga que esteja se preparando para o que vem por aí.
Velhas batalhas/ Aliados de Eduardo Cunha pensavam em pedir a suspeição de Delgado caso ele votasse hoje no parecer de Pinato. Delgado não vota, mas, quando voltar de Israel, espera participar de toda a instrução do processo.
Jabuti platinado/ Com a emenda supressiva que Eduardo Cunha apresentou para a MP 608, alguns deputados ironizavam ontem a necessidade de definir as variações dos jabutis: há os que tentam retirar benefícios já inclusos nas MPs que depois serão degolados. Esses são os jabutis platinados, que não geram luz própria. Os que tentam colocar benefícios em favor de algum setor são os jabutis dourados, defendidos até o fim por seus autores. A que ponto chegamos, leitor…
Te cuida, Alexandre Nero!/ Os senadores voltaram para Brasília essa semana impressionados com o número de eleitores que lhes disseram ter visto pela TV Senado a sessão da Casa que decidiu pela manutenção da prisão de Delcídio Amaral, na semana passada. A novela da vida está muito mais atraente do que a da ficção.
Aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, foram informados de que ele aproveitará a prisão do líder do governo, Delcidio Amaral (PT-MS), para fazer caminhar já na próxima semana o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Assim, Cunha, que também está enroscado na Lava Jato e no Conselho de Ética da Câmara, espera obter algum alento junto aos oposicionistas e, ao mesmo tempo, tirar do governo o discurso de que o pedido de impeachment não passa de vingança por não ter todos os votos do PT no Conselho.
E tem mais: Embora Cunha saiba que o envolvimento de Delcídio no episódio nada tem a ver com os pedidos de impeachment presidente Dilma, o cidadão comum pode achar que os dois casos estão ligados. Assim, enquanto o governo e a imprensa se distraem com o pedido de impeachment em curso, Cunha acredita que terá mais espaço para tentar salvar a própria pele no Parlamento.
Apartados
O fato de a maioria dos senadores do PT e do PMDB seguirem caminhos opostos na votação que referendou a prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS) foi visto como um prenúncio do que vem por aí no futuro: as duas legendas cada vez mais distantes. Além da vontade de tirar o assunto do colo do Senado, houve a clara sensação entre alguns petistas de que o PMDB aproveitou o episódio para ensaiar a sua carreira solo. Vale conferir ao longo dos próximos meses.
Diferenças I
Senadores do Democratas se preparam para tripudiar em cima do PT, caso alguém faça alguma cobrança em plenário. Vão dizer que, no caso do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, flagrado num vídeo recebendo dinheiro, o DEM logo o expulsou do partido. Delcídio, preso, obteve a solidariedade de seus colegas de bancada numa votação em plenário.
Diferenças II
Senadores e deputados lembravam ontem que o presidente do Senado, Renan Calheiros, soube ganhar pontos ao acolher o recurso da oposição e submeter ao plenário a decisâo final sobre o voto aberto ou fechado sobre o caso Delcídio. Já o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tem perdido terreno justamente por tentar a todo custo fazer prevalecer a sua vontade.
Missão espinhosa I
O governo terá dificuldades em escolher um novo líder na bancada petista. A maioria teme ficar sob holofotes e virar alvo de desgaste. Os ministros palacianos já foram informados que a melhor saída é buscar um comandante para o governo em outro partido governista.
Missão espinhosa II
Outro fator que desanima os petistas é o tempo fechado previsto para 2016. Ninguém quer ser líder de um governo enfraquecido e se ver obrigado a defender aumento de impostos, como a CPMF, e medidas impopulares, que certamente virão. Com Joaquim Levy ou sem ele.
CURTIDAS
Mui amigo…/ Assim os senadores petistas têm se referido ao presidente do PT, Rui Falcão. Ele em nenhum momento consultou a bancada antes dispensar qualquer solidariedade ao senador Delcídio Amaral. Muitos só souberam quando o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) leu a nota do Partido dos Trabalhadores em plenário.
Pensando bem…/ O PT está virando uma casa onde falta pão: Aquela em que todo mundo briga e ninguém tem razão.
Quanto mais passa, pior fica/ Quanto mais tempo a presidente Dilma Rousseff leva para se pronunciar sobre a prisão do seu governo, mais a oposição cobra a impressão de que quem cala consente.
O verdadeiro front/ O deputado Raul Jungmann (PPS-PE) sai temporariamente de cena da Frente Parlamentar pelo Controle de Armas e da PEC das reformas das polícias para conhecer de perto outras batalhas. Ele desembarca hoje em Tel-Aviv, para participar de um seminário para líderes políticos brasileiros, a convite do primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu. A agenda inclui visita ao Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Agrário de Israel e até um corajoso sobrevôo de helicóptero na fronteira com a Síria.
As gravações de conversas de Delcídio do Amaral (PT-MS), incluindo uma menção ao vice-presidente da República, Michel Temer, e trechos como aqueles sobre pressões a ministros do Supremo Tribunal Federal para pedir alguma ação em prol dos enroscados na Lava-Jato vão servir de divisor de águas. Até aqui, ainda havia alguma esperança de alívio, apesar do rigor jurídico do ministro Teori Zavascki. Agora, há uma sensação geral entre senadores e deputados de que acabou qualquer clemência com os envolvidos. Afinal, o STF não quer passar a ideia de que aceita pressão. Fim do recreio e, pelo que se comenta nos bastidores, até das conversas. Aos envolvidos, o rigor da lei e um pouco mais.
A onda do Senado
O discurso de Renan Calheiros antes de abrir o processo de votação, com o alerta para o fato de que os senadores não estavam julgando os diálogos de Delcídio, deu a todos a sensação de que o presidente do Senado torcia para o plenário decretar a liberdade do senador. Afinal, ali tem um grupo com temor de seguir o mesmo destino do petista.
Pais & filhos
Da mesma forma que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa optou pela delação premiada para que não houvesse qualquer ação sobre suas filhas, o empresário José Carlos Bumlai terminará recorrendo a esse recurso para salvar os seus. Há quem diga, por exemplo, que a condução coercitiva dos rebentos na última terça-feira foi um aviso: ou o paizão fala, ou os pimpolhos vão lhe fazer companhia em breve.
Sem saída
No meio da tarde, os senadores já haviam decretado o fim político do senador Delcídio do Amaral. Ainda que ele conseguisse escapar da prisão, a aposta era a de que, em breve, Delcídio responderá por quebra de decoro no Conselho de Ética do Senado, que, aliás, sequer foi instalado. Ou renuncia, ou terá um longo calvário. E, se renunciar, estará nas mãos de Sérgio Moro.
Desesperado
Quem acompanhou o dia-a-dia do senador nas últimas semanas percebeu que ele andava à flor da pele. Chegou inclusive a procurar advogados com trânsito no Supremo em busca de ajuda, mas não obteve.
Acordes finais
Enquanto os senadores discutiam o caso Delcídio, o líder do governo na Câmara, José Nobre Guimarães (PT-CE), aproveitava para tentar combinar a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias e o ajuste da meta fiscal (PLN 05) para a próxima terça-feira. Depois dessa confusão de Delcídio, todos querem sair logo de recesso.
A volta das vuvuzelas/ Um pequeno grupo de manifestantes voltou a fazer barulho no Senado. Desta vez, não era por causa do aumento dos salários do Judiciário, uma vez que o veto presidencial foi mantido. A barulheira era para manter Delcídio na cadeia.
Chocado/ No início da noite, um grupo de deputados foi acompanhar in loco a sessão do Senado que decidia sobre a prisão do senador. Na sala de café dos senadores, com a transcrição dos diálogos de Delcídio em mãos, o deputado petista pelo Rio Grande do Sul Paulo Pimenta (foto) virava as páginas e fazia aquela expressão de tsc-tsc a cada parágrafo.
Ávido por notícias/ De seu gabinete, o ministro dos Portos, Helder Barbalho, telefonou para o pai, senador Jader Barbalho, para saber como estavam as coisas no Senado. Lá pelas tantas, pergunta: “Alguma outra novidade?” Eis que o senador responde: “E você ainda quer mais?!!!”
Para relaxar…/ Em meio à perplexidade com os diálogos do líder do governo, assessores do Planalto não perderam o bom humor, nem o sentimento de disputa com o PSDB: “Finalmente, prenderam um tucano!”, afirmavam. Referiam-se à proximidade do senador com o PSDB, que, aliás, no passado fez vários convites para Delcídio trocar de legenda.
E o Cunha, hein?/ Há alguns meses, Eduardo Cunha reclamava que o Ministério Público era menos rigoroso com o senador Delcídio do Amaral. Ontem, ele certamente mudou de ideia.
Embora seja crescente a sensação de que Dilma Rousseff ficará no poder até o fim do mandato, deputados peemedebistas e outras autoridades que visitaram o vice-presidente Michel Temer por esses dias saíram convencidos de que ele está em franca movimentação para se consolidar como alternativa de poder. Se não for para já, talvez para 2018. Quem o conhece não pestaneja ao dizer que o vice-presidente começou a gostar do jogo. E, discretamente, vai caminhando sem perder, em público, aquele jeitão de quem não está fazendo nada demais.
» » »
Há quem diga que Michel só largará uma pré-candidatura se José Serra se apresentar para ser o candidato dentro do PMDB. Nesse momento, o senador ainda avalia se tem condições de jogo dentro do PSDB. Os tucanos, que já perceberam algum movimento na turma de Michel, começam a pensar que hoje o impeachment da presidente Dilma só ajudaria o PMDB, que assumiria o poder, e Lula, que cantaria de galo na oposição.
Preliminar
Antes de escolher o futuro presidente da Câmara, o PMDB definirá seu novo líder. Um grupo se prepara para tentar tirar de cena qualquer movimento que possa resultar na recondução de Leonardo Picciani (RJ). Tudo para não deixar o líder forte o suficiente para tentar concorrer à Presidência da Câmara, na hipótese de Cunha deixar o cargo antes
do prazo.
Isolamento
Corre à boca pequena que o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, não está conseguindo centralizar todas as decisões da empresa como gostaria. A maioria dos diretores e gerentes toca a vida sem lhe dar satisfações de todos os atos.
Mar de tragédias
Depois da demora em criar barreiras de contenção a fim de evitar que a lama tóxica liberada pelo rompimento das barragens da mineradora Samarco se espalhasse pelo Rio Doce, vem a falta de ações rápidas para conter o Zika, vírus decorrente do mosquito da dengue. Especialistas alertam que, sem ações rápidas para exterminar o mosquito transmissor, o Brasil corre o risco de ter no futuro 10 mil crianças com microcefalia.
Guerra fria tucana
A escolha do líder do PSDB na Câmara corre o risco de virar uma guerra. No páreo, o deputado Marcus Pestana (MG) corre pela escuderia de Aécio Neves. Por isso, não conta com a simpatia de José Serra, que defende Otávio Leite (RJ). Os paulistas, ligados a Geraldo Alckmin, também não querem entregar a liderança a Minas Gerais. Só confusão.
A conta de chegada/ Considerado figura certa no segundo turno para prefeito de São Paulo, o deputado Celso Russomanno trabalha hoje para se desvincular um pouco da igreja. É que, para vencer, ele precisa ampliar os votos em outros credos.
O vídeo de Rosso/ O líder do PSD, Rogério Rosso, fez circular um vídeo em que aparece com centenas de garrafas de água mineral ao fundo, prontas para serem enviadas às cidades atingidas pelo rompimento das barragens da mineradora Samarco. Na mensagem, ele pede que as doações de água mineral sejam entregues na liderança do partido na Câmara.
Voz ativa/ O grupo de jovens tucanos composto por Bruna Furlan (SP), Arthur Bisneto (AM), Bruno Covas (SP), Sheridan (RR), Mariana Carvalho (RO), Pedro Cunha Lima (PB), entre outros, trabalha para formar uma aliança capaz de fazer de um deles líder do PSDB no ano que vem. Falta combinar com os mais antigos, que não se mostram dispostos a abrir do espaço aos novatos.
Pente-fino/ A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) fecharam acordo para fazer uma varredura nas 1.212 normas aplicadas atualmente a cosméticos, produtos médicos, alimentos e agrotóxicos. Até o fim do primeiro trimestre de 2016, CNI e Anvisa vão verificar as normas obsoletas e aquelas sobrepostas, de forma a tornar as regras mais eficientes.
Os aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, se reuniram e passaram a trabalhar com três cenários para o desfecho do caso das contas na Suíça dentro no Conselho de Ética:
1) Vitória de Cunha sem os votos do PT: ele põe o pedido de impeachment para caminhar.
2) Derrota do presidente da Câmara, Eduardo Cunha: também coloca o impeachment na roda.
3) Cunha escapa com os votos do PT: ele segura o pedido de impeachment.
Ou seja, vai esperar o resultado do Conselho de Ética para depois decidir o que fará com o pedido de afastamento da presidente Dilma Rousseff.
Em tempo: quando houver sessão no Conselho de Ética, os aliados de Eduardo Cunha vão pedir vista do parecer de Fausto Pinato, o que dá ainda mais tempo ao presidente da Câmara. Significa que, até o fim do ano, não acontece nada que dependa exclusivamente do Congresso em relação ao futuro de Eduardo Cunha e de Dilma.
Governo em fúria
Agora sim, Joaquim Levy subiu de vez na corda bamba. Enquanto o governo se mobilizava para tentar derrotar o projeto de limites de endividamento do senador José Serra, Levy foi ao Senado defender o texto. O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, sempre paciente, rodou a baiana.
Vitória, mas nem tanto
Em conversas reservadas, até os líderes governistas confessam: a vitória do governo na manutenção dos vetos se deveu mais ao receio de agravamento da crise econômica do que propriamente a uma base homogênea. O descontrole continua. A CPMF, por exemplo, não passa.
E o leilão, hein?
Conforme antecipou a coluna Brasília-DF, o lote D do leilão sobre transmissão de energia não teve interessados. E o lote A, de Minas Gerais, que alguns apostavam que seria procurado, teve apenas um interessado.
Inflamados
Depois do confronto de ontem, os deputados começam a ficar preocupados com as manifestações em frente ao Congresso e a tensão entre os diferentes grupos. Há quem aposte que o conflito dessa quarta-feira foi encomendado para resultar numa ação de retirada do grupo pró-impeachment do gramado em frente ao Congresso.
E a Lava-Jato, hein?/ Diante do acordo de delação premiada de executivos da Andrade Gutierrez, tem gente em Brasília que não consegue mais dormir. Nem com Rivotril.
Roqueiro irritado/ O fato de o governo conseguir manter vetos importantes não foi suficiente para alegrar o líder no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS). Ele estava num mau humor danado: “Perdi o show do Pearl Jam e nem vi o jogo do Brasil!!”. Para quem não sabe, Delcídio é fã de rock e não perde um grande show no país.
Por falar em Delcídio…/ O senador Roberto Requião (PMDB-PR) não perdoa. Ao perceber Delcídio caminhando à sua frente, foi chamando: “Ei, delírio! Delírio”. Delcídio cumprimentou-o sem levar em conta a provocação. Requião, então, completou: “De governistas aqui temos o Delírio Amaral e o Lindoso Farias”. Referia-se ao senador Lindbergh Farias (PT-RJ).
Apoio a Chico/ A deputada Luiza Erundina (PSB-SP) passou parte do dia de ontem circulando entre os colegas em busca de uma moção de solidariedade ao deputado Chico Alencar (PSol-RJ), acusado no Conselho de Ética pelo colega Paulinho da Força. Em menos de uma hora tinha conseguido mais de 100 assinaturas.
Ordem do dia/ Hoje tem Pedro Barusco (foto) na CPI dos Fundos de Pensão. Com tornozeleira e tudo.
Com a “resfriada” nos pedidos de impeachment, o PMDB aliado ao governo procurou alguns petistas para oferecer o seguinte acordo: se o PT abrir mão de lançar um candidato em 2018, apoiando um nome do PMDB, é possível reaglutinar o partido em torno do governo e, assim, evitar um processo de impeachment, esfriar a crise política e, ao mesmo tempo, buscar uma saída para a crise econômica. Como nomes, os peemedebistas citam o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o próprio Michel Temer. Mencionou-se ainda o nome de José Serra, como uma hipótese. Os petistas, entretanto, fizeram ouvidos de mercador.
Em todas as oportunidades, eles reforçam que, em 2018, vão às urnas mostrar que podem sobreviver. Resposta do PMDB: sem abrir mão de 2018, não tem acordo que vingue por muito tempo ou alguém muito disposto a ajudar.
O articulador
Jorge Picciani, pai do líder do PMDB, Leonardo Picciani, esteve com alguns dirigentes partidários para começar a construir a candidatura do filho à Presidência da Câmara. Procurou inclusive o ex-presidente do PR Valdemar Costa Neto.
O cobrador
Eduardo Cunha não gostou de saber das articulações do correligionário e foi cobrar do líder peemedebista. A resposta de Leonardo Picciani, segundo aliados de Cunha: “Eu não controlo o meu pai”.
Antes tarde…
… Do que nunca. O governo parece que finalmente tomou consciência de que o rompimento das barragens da mineradora Samarco é o maior desastre ambiental da história do país. Amanhã, um comitê de sete ministérios vai se reunir no Planalto sob a coordenação do ministro da Casa Civil, jaques Wagner.
Últimos acordes
Depois da vitória da repatriação, o governo espera para a próxima terça-feira a manutenção dos vetos, como, por exemplo, o do reajuste do Judiciário. Além do Orçamento, dizem os palacianos, é o que falta para fechar a pauta de votações de 2015.
O teste de hoje
A oposição e o governo prometem observar com muita atenção as manifestações de hoje pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, que devem incluir ainda o “fora, Cunha”. Se isso ocorrer, vai reforçar a atitude dos oposicionistas de abandonar o presidente da Câmara e, paralelamente, pregar a saída da presidente Dilma.
CURTIDAS
Navalha na carne/ Numa rodinha de deputados essa semana, um deles saiu-se com esta: “O Eduardo Cunha tenta imitar o Renan Calheiros, que explicou seu dinheiro com gado. Cunha, quase dez anos depois, como não tem fazenda, processou a carne e enlatou”.
Devagar com a ostentação/ A primeira-dama da Câmara, Claudia Cruz, está sendo aconselhada a manter os seus relógios mais caros e as bolsas dentro do armário. É que já tem gente calculando quanto ela carrega. Em algumas fotos, aparece com bolsas na faixa de US$ 6 mil.
A anfitriã/ A senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) é quem está organizando um jantar para seus colegas na bancada na véspera do Congresso da Fundação Ulysses Guimarães.
O homem do governo/ Que Joaquim Levy que nada. Quem negociou pessoalmente o não abatimento do PAC da meta de superavit foi o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, hoje o maior interlocutor do governo com os partidos.