Autor: Ronayre Nunes
Rui Costa, na Casa Civil; Wellington Dias, no Desenvolvimento Social; Fernando Haddad, na Fazenda; e Camilo Santana, na Educação. Esses ministérios não foram para esses nomes à toa. Dentro do partido, há quem diga que eles formam o quarteto que o PT deseja preparar para o futuro. Afinal, se um deles der certo e conseguir destaque, terá tudo para representar os petistas numa corrida presidencial. Ok, ainda falta muito tempo, Lula nem assumiu o terceiro mandato e já tem gente pensando em 2026. Sim, o PT não abriu postos que considera estratégicos para preparar seus quadros. E ainda segurou toda a articulação política do Planalto nas mãos do partido, com Alexandre Padilha e Márcio Macedo. A avaliação nas coxias do PT é a de que, quanto menos “intrusos”, melhor.
Nesse sentido, existem ainda resistências à entrega do Meio Ambiente para Simone Tebet. Os petistas avaliam que Marina Silva nesse posto não seria problema para o PT no futuro, uma vez que a ex-ministra de Lula não é vista como um nome potencial para concorrer ao Planalto. Simone Tebet, porém, é outro caso. E, numa área que tem a cada dia mais visibilidade política, ela pode surpreender.
Esquece isso
Aprovada a PEC da Transição, o entendimento dos petistas é que ficou mais difícil arrumar um candidato a presidente da Câmara para enfrentar Arthur Lira. O deputado alagoano soube jogar e estancou movimentos. A avaliação é a de que os espaços para a construção de uma candidatura alternativa forte ficaram muito reduzidos.
Quem comprou, comprou
Integrantes dos CACs — Caçadores, atiradores esportivos e colecionadores de armas — já fizeram chegar ao futuro governo que ninguém vai devolver os armamentos adquiridos na vigência dos decretos de Jair Bolsonaro que afrouxaram as regras para compras.
Onde mora o perigo
Em conversas reservadas, parlamentares têm dito que “haverá tiro para todo lado”, se o futuro governo insistir em recolher armamentos desse pessoal. O aviso está dado.
Enquanto isso, no Alvorada…
A uma semana de deixar o cargo, o presidente Jair Bolsonaro não para de ouvir conselhos, do tipo, assuma logo a liderança da oposição antes que alguém ocupe esse lugar. Em política, não existe espaço vazio. Até aqui, ele continuava à espera de um milagre de Natal.
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Embaralhou mais/ Lula desarrumou um pedaço do MDB na semana passada, ao anunciar o ex-governador do Ceará Camilo Santana (PT) (foto) como futuro ministro da Educação. O deputado eleito Eunício Oliveira, do MDB, não contava com essa escolha.
Expectativa versus realidade/ Muitos aliados do MDB consideravam que o PT iria ceder Desenvolvimento Social ou Educação. Os petistas ficaram com os dois e, de quebra, ainda devem arrematar Comunicações, para onde está cotado o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).
Tem mais/ O PT deseja ainda o Ministério de Cidades, responsável pela gestão do Minha Casa Minha Vida. Lula mantém o partido em suspenso nesse quesito.
A trégua do Natal/ Hoje, está suspenso o estica-e-puxa em torno dos cargos. Mas por apenas 24 horas. Amanhã, recomeça. Que, apesar
da disputa democrática, os políticos tratem de construir e preservar a harmonia.
Por Luana Patriolino (interina)* — O ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) Vinícius Marques de Carvalho foi escolhido como o novo chefe da Controladoria-Geral da União (CGU). Uma de suas atribuições mais esperadas é a revisão do sigilo de 100 anos para documentos da administração pública, determinado durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Na campanha eleitoral, Lula prometeu derrubar todos os segredos. Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos.
Michelle Bolsonaro irritada
A primeira-dama Michelle Bolsonaro usou as redes sociais para criticar os deputados do Partido Liberal (PL) que votaram pela aprovação da PEC da Transição. Ela se disse “triste” e “decepcionada” com a decisão. Conforme a coluna noticiou ontem, a votação do projeto acirrou os ânimos na sigla. Entre senadores e deputados, 14 filiados traíram a orientação partidária. A situação deflagrou um mal-estar interno. O presidente da agremiação, Valdemar Costa Neto, não gostou nada da situação. E, pelo visto, a atual primeira-dama, também não… Nos bastidores, há rumores de que ela pretende entrar oficialmente na política em um futuro próximo.
Gafe
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) causou controvérsia ao se referir ao ex-governador do Piauí Wellington Dias (PT) como “nosso melhor índio”. A fala aconteceu durante o anúncio do aliado como ministro do Desenvolvimento Social. Segundo a antropologia, o termo é considerado pejorativo para se referir às pessoas de etnias indígenas porque dá a ideia de que os povos originários são selvagens ou seres do passado.
A internet não perdoa
Nas redes sociais, não faltaram críticas à fala de Lula. Os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro ridicularizaram o petista e disseram que, se o presidente eleito fosse da direita, seria “cancelado” pela forma com a qual se referiu a Wellington Dias.
Alckmin na Indústria
O nome do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) agradou boa parte das entidades industriais. A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) afirmou que vê como muito positiva a escolha do político para a condução do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O presidente-executivo da Abiquim, André Passos Cordeiro, integrou o grupo a convite de Alckmin e do coordenador técnico da transição, Aloizio Mercadante. A instituição também defendeu a urgência de uma reforma tributária no país.
Atos antidemocráticos
Uma pesquisa do Datafolha revelou que 75% dos brasileiros são contra os atos antidemocráticos realizados no país desde a derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas urnas. Entre os entrevistados, 56% defendem uma punição aos que pedem golpe militar nos protestos. Já os que defendem as manifestações somam 21%. No estudo, os eleitores bolsonaristas que se dizem contrários aos atos são 50%. Entre os eleitores de Lula, 96%. No recorte dos que declaram ter votado branco ou nulo, a aversão às manifestações chega a 90%.
Orçamento secreto
A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu esclarecimentos ao Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o alcance de um dos pontos da decisão da Corte sobre o orçamento secreto. O órgão questionou se trecho de determinação a respeito dos recursos de 2021 e 2022 atinge as emendas de relator já em execução. Na última segunda-feira, os integrantes do tribunal tornaram o mecanismo inconstitucional devido à falta de transparência.
Por Luana Patriolino (interina)* — O gosto pela traição no Legislativo não é um fato raro, mas ainda dá o que falar. No Congresso, a votação da PEC da Transição, ontem, acirrou os ânimos no Partido Liberal (PL). Dos 331 votos favoráveis ao texto na Câmara, 10 partiram da sigla do presidente Jair Bolsonaro. No Senado, foram quatro favoráveis dos 63 votos. Os parlamentares que ajudaram na aprovação do texto contrariaram o líder partidário, deputado Altineu Côrtes (PL-RJ), que orientou contra a proposta. A situação deflagrou um mal-estar interno, e o presidente da agremiação, Valdemar Costa Neto, não gostou nada da situação.
Nova composição
O auditor federal Marivaldo Pereira está confiante na nova composição do Ministério da Justiça. Ele, que será secretário de Acesso à Justiça, afirmou que o foco do seu trabalho é a defesa das pautas antirracistas, de combate à violência e em defesa da população LGBTQIA . Outros temas também estão no radar. “São as questões principais: a mediação dos conflitos fundiários e a violência contra a população negra, contra as mulheres e contra as minorias”, disse à coluna.
Desconforto
O delegado Marcos Paulo Cardoso Coelho da Silva, chefe de de gabinete do ministro da Justiça, Anderson Torres, pediu desfiliação da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF). Ele ficou incomodado com o posicionamento da entidade que, por diversas vezes, fez cobranças públicas e criticou Torres, em razão das reivindicações da categoria, não atendidas no governo de Jair Bolsonaro (PL).
Torres desfiliado
Em agosto, o atual chefe do MJ já tinha pedido desligamento da ADPF. A aliados, ele disse que não se sentia mais representado pela associação. Com a saída de mais um delegado, a entidade marcou, para amanhã, uma assembleia extraordinária com o objetivo de deliberar sobre a aprovação do delegado associado Cristiano de Souza Eloi ao cargo de tesoureiro regional da ADPF, no lugar de Marcos Paulo Cardoso Coelho.
Sem definição
Após ter seu nome ventilado como futuro ministro do Desenvolvimento Social, o senador eleito Wellington Dias (PT-PI) tem negado aos jornalistas que será o chefe da pasta — uma das mais disputadas do governo Lula. No Congresso, ele tem sido chamado de ministro por aliados e circulado como articulador político. No entanto, ao ser questionado se assumiria a função, caso recebesse convite formal do presidente eleito, o ex-governador do Piauí desconversou e afirmou que vai tomar posse no Senado, em 1º de feveiro.
Preparativos para a posse
A futura primeira-dama Janja está com os preparativos a todo vapor para o evento de posse de Lula no primeiro dia de 2023. Ontem, ela e a equipe do petista visitaram o Congresso Nacional para conhecer o roteiro da cerimônia. A mulher do presidente eleito é a responsável pela organização dos festejos e já anunciou que terá, na Esplanada dos Ministérios, a apresentação de shows de artistas que apoiaram o futuro chefe do Executivo durante o período eleitoral.
Homenagem
O ex-presidente José Sarney enalteceu a carreira do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas. Em artigo, o político ressaltou que a Corte está em boas mãos e que o magistrado tem brilho intelectual, sólida formação e grande precisão na análise das questões. Dantas afirmou estar contente com o destaque recebido e que é um “privilégio” ser notado por Sarney.
Por onde anda?
O presidente Jair Bolsonaro voltou a “sumir”. Nas redes sociais, os poucos registros do atual chefe do Executivo são sobre ações do governo federal, obras realizadas pelo país e redirecionamento para outros perfis oficiais. Enquanto isso, seus filhos, principalmente o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), o mais assíduo na internet, continuam ativos com críticas às eleições, ao Judiciário e aos opositores políticos. Em Brasília, correm os rumores de que o futuro ex-presidente teve uma nova crise de tristeza pela perda do cargo.
Errou quem imaginou que o presidente da Câmara, Arthur Lira, estaria totalmente enfraquecido, depois da derrota das emendas de relator, vulgo orçamento secreto, no Supremo Tribunal Federal (STF). Até aqui, ele não só negociou a ampliação de recursos destinados às emendas individuais como também pode ter garantido a própria reeleição no comando da Casa. A redução do período de validade da PEC da Transição, de dois para um ano, acoplada ao aumento de recursos para as emendas parlamentares, mantém Lira na posição de favorito para a Presidência da Casa. Obviamente, como a eleição é só em fevereiro, ainda tem muita água para passar sob a ponte. Porém, até aqui, não apareceu nenhum candidato forte para enfrentá-lo.
E sempre pode piorar: a desconfiança do Centrão em relação aos movimentos do futuro governo não se dissipou com o acordo para tentar votar a PEC da Transição. A certeza do momento é a de que a vida não será fácil depois da posse.
Procura-se um candidato
Até aqui, o senador Renan Calheiros não encontrou um candidato forte para concorrer com Arthur Lira para a Presidência da Câmara no ano que vem. Mas ele vai buscar. É a briga alagoana que, como o leitor da coluna já sabe há tempos, desembarcou com tudo em Brasília.
Noves fora…
O União Brasil de Luciano Bivar e Antonio Rueda já fechou com Arthur Lira. Os candidatos da esquerda não têm chances. O líder do MDB, Isnaldo bulhões (AL), está quieto e é visto com um nome óbvio demais. Eunício Oliveira, deputado eleito pelo MDB do Ceará, é uma das maiores apostas, uma vez que integra o grupo ligado a Renan. Mas ele só pretende entrar se for para vencer. Se houver um candidato contra Arthur Lira — e perder —, vai sobrar para Lula.
Menos um
O futuro governo pensou inclusive em tentar alguma aproximação com Marcos Pereira, presidente do Republicanos. Mas a nota da legenda contra a PEC da Transição foi um divisor de águas na relação com o partido.
Aguinaldo é Progressistas
Arthur Lira e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, presidente licenciado do PP, fecharam a indicação do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) para retomar a relatoria da reforma tributária. Aguinaldo é aliado de Lula, mas sua recondução ao posto de relator da tributária foi decidido sem ouvir o futuro governo nem o PT. É o PP entrando no jogo de 2023.
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Vêm mais embates por aí/ O estica-e-puxa em torno da PEC da Transição deixou a certeza de que o futuro governo não deseja terceirizar o poder como fez o presidente Jair Bolsonaro. É no Congresso que o bicho vai pegar.
Veja bem/ Há muita gente apostando que Lula recorrerá sempre ao Supremo Tribunal Federal para “desmanchar” o que for decidido no Congresso. Só tem um probleminha, avisam alguns: quem brigou com o Congresso não terminou o mandato.
Professora Celina/ No dia seguinte da diplomação dos eleitos no DF, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF-foto) foi visitar a vice-governadora eleita, deputada Celina Leão (PP-DF), na Câmara dos Deputados. Celina foi direta: “Você me surpreendeu ontem (segunda-feira)”, disse Celina a Damares, referindo-se ao discurso da ex-ministra de Jair Bolsonaro, pregando a pacificação. “Aprendi com você, Celina paz e amor”, respondeu.
Por falar em paz e amor…/ As apostas dos militares são as de que os acampamentos na frente dos quartéis serão desfeitos naturalmente, depois da posse de Lula. A conferir.