Autor: Denise Rothenburg
Idealizado pelo ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta, o documento divulgado com o título “Manifesto pela Consciência Democrática” foi, até aqui, o gesto mais concreto de união entre os pré-candidatos de centro a presidente da República. Seis nomes assinam o documento, Ciro Gomes, Eduardo Leite, João Amoedo, João Dória, Luciano Huck e Mandetta. Os seis sonham em uma união de forças para derrotar Jair Bolsonaro e o PT em 2022. Só tem um probleminha: Ninguém quer ser vice e os programas partidários e econômicos os afastam.
O PDT de Ciro Gomes, por exemplo, jamais rezaria pela cartilha de Amoedo, do partido Novo. Os tucanos não planejam hoje apoiar outro partido , apesar dos esforços do senador Tasso Jereissati. Ali, um grupo está disposto a testar o nome do governador gaúcho, Eduardo Leite, e outro aliado a Dória. Aliás, do portfólio de presenciáveis signatários do manifesto, apenas Dória e Leite têm a chance de concorrer a um segundo mandato de governador em seus respectivos estados.
Na outra ponta dessa lista, o empresário Luciano Huck tem dito a amigos, conforme registrou em primeira mão a Coluna Brasília_DF dia desses, que seu projeto no curto e médio prazo é assumir os tardes de Domingo na Globo no lugar do Faustão e guardar o sonho da candidatura a presidente para 2026.
Com esses três personagens de olho em projetos alternativos ao Planalto, restam Ciro, Amoedo e Mandetta. Amoedo tem um partido muito pequeno. Mandetta e Ciro, de partidos médios são vistos quase que obrigatoriamente candidatos. Mandetta, por sua vez, tem aproveitado muito bem a oportunidade em entrevistas e um discurso claro em relação à pandemia. Ciro Gomes, que enfrenta Bolsonaro até quando faz um monólogo, é visto por alguns como o nome mais forte do grupo a preços de hoje. Porém, como falta muito tempo para a eleição e o há muitos dos peritagens que assinam a nota duvidosos de seu acesso, ninguém vai apostar em ninguém agora. O casamento, por enquanto, é de fachada e será preciso muitas outras cartas para que comece a render frutos reais com promessas para 2022. De concreto mesmo, avisam alguns, só aquilo que o documento reforça: A defesa da democracia. Qualquer aposta além disso hoje não passa de chute.
MANIFESTO PELA CONSCIÊNCIA DEMOCRÁTICA
Muitos brasileiros foram às ruas e lutaram pela reconquista da Democracia na década de 1980. O movimento “Diretas Já”, uniu diferentes forças políticas no mesmo palanque, possibilitou a eleição de Tancredo Neves para a Presidência da República, a volta das eleições diretas para o Executivo e o Legislativo e promulgação da Constituição Cidadã de 1988. Três décadas depois, a Democracia brasileira é ameaçada.
A conquista do Brasil sonhado por cada um de nós não pode prescindir da Democracia. Ela é nosso legado, nosso chão, nosso farol. Cabe a cada um de nós defendê-la e lutar por seus princípios e valores.
Não há Democracia sem Constituição. Não há liberdade sem justiça. Não há igualdade sem respeito. Não há prosperidade sem solidariedade.
A Democracia é o melhor dos sistemas políticos que a humanidade foi capaz de criar. Liberdade de expressão, respeito aos direitos individuais, justiça para todos, direito ao voto e ao protesto. Tudo isso só acontece em regimes democráticos. Fora da Democracia o que existe é o excesso, o abuso, a transgressão, a intimidação, a ameaça e a submissão arbitrária do indivíduo ao Estado.
Exemplos não faltam para nos mostrar que o autoritarismo pode emergir das sombras, sempre que as sociedades se descuidam e silenciam na defesa dos valores democráticos.
Homens e mulheres desse país que apreciam a LIBERDADE, sejam civis ou militares, independentemente de filiação partidária, cor, religião, gênero e origem, devem estar unidos pela defesa da CONSCIÊNCIA DEMOCRÁTICA. Vamos defender o Brasil.
CIRO GOMES, EDUARDO LEITE, JOÃO AMOEDO, JOÃO DORIA, LUCIANO HUCK, LUIZ HENRIQUE MANDETTA
Num cochilo do governo, a Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara acaba de aprovar requerimento do deputado Elias Vaz (PSB-GO), convocando o ministro da Defesa, Braga Netto, a explicar as compras de salmão, picanha, filé mignon e outras iguarias pelas Forças Armadas. As compras foram divulgadas em meados de março e o próprio Elias Vaz já pediu ao Tribunal de Contas que investigue se havia necessidade, por exemplo, de 438 toneladas de salmão e outras tantas de file mignon e outros itens totalizando mais de R$ 50 milhões, especialmente, nesse momento em que o país necessita de recursos para o combate à pandemia.
Como se trata de uma convocação, será o caso agora de marcar a data. Elias Vaz já havia pedido que se aprovasse a convocação do antecessor de Braga Neto, o general Fernando Azevedo e Silva.”Como a convocação é para o ocupante do cargo, foi apenas mudar o nome”, diz Elias Vaz. O chamamento servirá também como oportunidade para que Braga Netto explique aos congressistas a troca dos comandantes militares. Segundo os parlamentares, esta é uma explicação que tanto o presidente Jair Bolsonaro quanto o ministro da Defesa ainda devem ao país.
Em tempo: A convocação mostra que a indicação da deputada Flávia Arruda ainda não fez com que deputados do Centrão trabalhassem a favor do governo, uma vez que ninguém do grupo fez questão de evitar que o ministro fosse convocado.
A troca dos comandantes militares vem para o presidente Jair Bolsonaro cumprir o que queria, ou seja, afastar o comandante do Exército, general Edson Pujol, com quem se sente contrariado há tempos. Porém, isso não quer dizer que o Exército, sob nova direção, levará as Forças Armadas a tomar uma atitude a fim de garantir o cumprimento daquilo que o presidente prega desde o início da pandemia, ou seja, o fim do lockdown e do isolamento social. As Forças Armadas vão ajudar na distribuição de alimentos, remédios, equipamentos, oxigênio, transporte de pacientes, vacinas, mas não vão se prestar ao papel de garantir aglomeração em plena pandemia, tampouco defender a reabertura do comércio ou o fim de toque de recolher, enquanto a ciência recomenda o inverso, ainda mais com recordes de mortes.
Cabe ao governo, avisam os militares, cuidar dos desafios de garantir recursos para o atendimento de saúde, o novo auxílio emergencial, que até hoje não foi pago, e cumprir sua obrigação constitucional de vacinas para todos. O foco é a pandemia. E, a contar pela Ordem do Dia deste 31 de março de 2021, o “movimento de 64 é parte da trajetória histórica do Brasil” e assim deve ser entendido. Para bons entendedores, a menção de “Forças Armadas conscientes de sua missão constitucional” foi a senha para acalmar a tropa e avisar que não há ruptura institucional.
Faria Lima preocupada, mas…
A mudança na Secretaria de Governo, com a chegada da deputada Flávia Arruda, foi lida pelo mercado como um sinal de que pode haver mais compromisso entre Legislativo e Executivo.
… de olho
A repercussão das trocas militares do governo de Jair Bolsonaro, porém, preocupa. A turma do mercado está com muitas dificuldades de explicar aos grandes fundos internacionais o que está acontecendo por aqui. Na Europa, então, onde o presidente é tratado como “ultradireita” ou “extrema direita”, é ainda mais difícil explicar o governo.
Senadores insatisfeitos
Os senadores não estão colocando muita fé nas mudanças anunciadas, até aqui, pelo presidente Jair Bolsonaro. Nem na gestão da deputada Flávia Arruda (PL-DF), hoje um expoente do grupo do presidente da Câmara, Arthur Lira. Há uma pressão sem fim para mudança nas pastas do Meio Ambiente e de Minas e Energia, que, aliás, era um lote do Senado no governo de Dilma Rousseff.
O retorno/ Quem está feliz é o presidente do PL, Valdemar Costa Neto. O desembarque de Flávia Arruda no Planalto lhe garantiu o ingresso pela porta da frente, de onde estava afastado há tempos.
Eu sou democrata/ O líder do PSL, Major Victor Hugo, contou à coluna que apresentou o projeto para incluir pandemia no programa de mobilização nacional pensando, exclusivamente, no atendimento de saúde, na possibilidade de requisitar empresas para a produção de insumos básicos. “Era um projeto para ajudar o país. Não seria nada feito sem aprovação do Congresso Nacional”, defende o autor.
Nem vem/ Os líderes partidários, porém, consideraram que, neste momento, é melhor ter calma e não tratar desse assunto. Resultado: a proposta foi
para a gaveta.
Pente-fino/ O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, agora analisa, um a um, os pedidos de seguidores em seu Twitter. Diante dos ataques que recebeu de redes bolsonaristas nos últimos dias, a intenção é preservar a sua timeline e identificar os robôs.
A chegada da deputada Flávia Arruda (PL-DF) ao cargo de ministra da Secretaria de Governo do Palácio do Planalto, sob as bênçãos do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), serve para compensar o Centrão por não ceder o Ministério da Saúde. E, depois de presidir a Comissão Mista de Orçamento, ela desembarca no quarto andar do Planalto com o compromisso de garantir a execução da lei que ajudou a aprovar.
Só tem um probleminha: a equipe econômica está preocupada com o Orçamento e já avisou que, do jeito que está, não será possível cumprir. Isso significa que Flávia terá dificuldades em cumprir sua missão. Se tem uma qualidade que ela terá que exercer daqui para frente, será a paciência para lidar com os ministérios que executam o Orçamento, tarefa essa que sempre incomodou todos os que passaram pela Secretaria de Governo. No desespero para azeitar a base política, Bolsonaro pode ter comprado uma briga com a equipe econômica.
Arrumou um canto…
… e desarrumou outro. No meio militar, a perspectiva de saída dos comandantes é vista como um sinal de que essa área voltará a ser motivo de tensão e é o ponto nevrálgico da reforma. Afinal, reza a Constituição, as Forças são instituições de Estado e não de governo. Agora, também está na Carta que cabe ao presidente da República nomear o ministro da Defesa. Portanto, não dá para reclamar tanto.
Tudo bagunçado
O primeiro teste do futuro chanceler Carlos França será o organograma do Itamaraty. Ernesto Araújo colocou secretários para comandar ministros e conselheiros, desrespeitando a hierarquia da Casa. Se não promover um reordenamento, França será mais do mesmo.
Esqueceram dele
Em meio à reforma ministerial, quem continua quietinho no governo é o assessor internacional Filipe Martins. Bolsonaro não quer demiti-lo. E, vale lembrar, o cargo de assessor internacional não é apenas mais um assessor. Tem lugar reservado no terceiro andar do Planalto e ajuda a elaborar a chamada “diplomacia presidencial”.
Faltou ele
Até aqui, a reforma ministerial atendeu à Câmara e representou uma atenção ao Senado, ao afastar Ernesto Araújo. Porém, a manutenção de Filipe Martins, que fez o gesto indecoroso e está sob investigação no Parlamento, não vai sanar o problema como um todo. E, de quebra, ao entregar a Secretaria de Governo à Câmara, o poder entre as duas Casas se desequilibra.
Última forma
No Centrão, está muito claro que, se a reforma não servir para apaziguar o meio político, o grupo segue outro rumo sem pestanejar. Afinal, seus líderes fizeram isso ao largar o PT e se aninhar a Jair Bolsonaro.
Curtidas
Reforma agita o jogo eleitoral do DF/ A política do “quadradinho” vai ferver daqui para frente. Flávia Arruda é citada como candidata a governadora com o apoio de Bolsonaro. Falta combinar com outros aliados, por exemplo, a deputada Bia Kicis (PSL-DF).
Chance perdida/ Em meio às mudanças na equipe, mais uma vez Bolsonaro deixou de fora um amigo, Alberto Fraga. Internamente, há quem diga que, se o presidente quisesse, teria arrumado um lugar para o ex-deputado.
Chance agarrada/ Quem aproveitou o embalo da saída de Ernesto Araújo foram os filhos de Bolsonaro: 01 e 03 ajudaram a emplacar Anderson Torres no Ministério da Justiça e, segundo políticos, o outro padrinho é o vice-presidente nacional do PSL, Antônio Rueda.
Sonho era príncipe no Itamaraty/ Se dependesse exclusivamente do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o nome para o ministério de Relações Exteriores seria o do correligionário Luiz Phillipe de Orleans e Bragança (PSL-SP). Era a forma de compensar o “príncipe”, depois que o PSDB ficou com a comissão de Relações Exteriores da Câmara.
Enquanto isso…/ Vale lembrar que as mudanças de ministros do governo não despacharam o vírus. Este, só as vacinas. E olhe lá.
Entre quatro paredes, no Itamaraty, a pergunta que se faz neste momento é “Quem vai aceitar ser mandado por Eduardo Bolsonaro?”Se Flávio Bolsonaro ajudou na hora de escolher o novo ministro da Saúde, o deputado Eduardo Bolsonaro está de olho no novo ministro de Relações Exteriores. O filho 03 do capitão atuou ativamente no cenário externo nesses dois anos e três meses de governo e não quer perder a influência nessa seara. Em praticamente todas as viagens internacionais do pai, o filho marcava presença, até porque era o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Em Washington, acompanhou o pai e participou inclusive da audiência na Casa Branca. Em Nova York, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, acompanhou quase todos os encontros do chanceler, sem deixar de manifestar a sua opinião sobre os temas externos.
A resposta que mais se ouve no momento é que um dos poucos com perfil para essa “missão” é o embaixador na França, Luiz Fernando Serra. Ele veio ao Brasil para a posse de Jair Bolsonaro, é visto como um defensor fiel do presidente da República. Só tem um probleminha: Conforme o leitor do blog já sabe, é preciso mudar a política externa. Serra, porém, ao defender demais as posições bolsonaristas radicais, passou a ser visto, no próprio meio diplomático, como um Ernesto mais sutil, porém…. mais um Ernesto. Resta saber se, confirmado no cargo de ministro, Serra irá seguir a cartilha de Ernesto Araújo até nessas questões bem características do bolsonarismo, como, por exemplo, manter Eduardo Bolsonaro quase que um ministro informal.
As saídas de Eduardo Pazuello da Saúde e o pedido de demissão de Ernesto Araújo do cargo de ministro das Relações Exteriores têm o objetivo de tentar preservar o mandato de Jair Bolsonaro. O aumento do número de mortes por covid-19 e o colapso em hospitais, com falta de medicamentos básicos, atropelaram o discurso do governo, de que a pandemia estava passando, da resistência ao uso de máscaras e em relação à vacina, que lá atrás o presidente disse que não tomaria. Essa demora em atentar para a gravidade da situação fez com que os índices de popularidade do presidente despencassem, inclusive nas redes sociais, o principal medidor dentro do governo. Pressionado pela política, a ordem agora é mudar ou mudar. Caso contrário, “remédios amargos”, alguns “fatais”, como lembrou Arthur Lira, virão.
Na Saúde, a chegada de um médico, o cardiologista Marcelo Queiroga, transformou parte do discurso governista. Embora Queiroga tenha dito que a “política era de continuidade”, surgiu a “pátria de máscaras”, a visita aos hospitais, não para colocar um dúvida o número de mortes e sim para avaliar o que seria necessário para salvar vidas. De quebra, ainda o respeito às medidas de distanciamento social, como alternativa para situações de colapso.
Agora, é chegada a hora de resolver também a política externa. Desde a eleição de Joe Biden nos Estados Unidos, a pressão para a troca de Ernesto Araújo é forte. Ele, até na visão dos diplomatas, perdeu as condições de permanecer no cargo, porque é muito alinhado ao discurso do deputado Eduardo Bolsonaro contra os chineses. Além disso, apostou demais na eleição de Donald Trump e perdeu. Resta saber se o novo ministro de Relações Exteriores ajudará na mudança da política. Até aqui, não há indicação de isso vá acontecer. Se um novo ministro chegar sem mudança na política externa, a situação do presidente não vai se alterar. E os “remédios amargos” e, talvez, “fatais” vão continuar assombrando o Planalto.
Em fevereiro de 2015, durante a gestão de Eduardo Cunha na presidência da Câmara, o Congresso aprovou a obrigatoriedade da liberação de emendas de deputados e senadores ao Orçamento da União. A ideia era se livrar das pressões do governo e do toma lá dá cá. A turma, porém, encontrou um jeitinho de manter a base aliada mais favorecida com as “emendas extras”, ou seja, recursos que vão para os programas governamentais de forma genérica e terminam distribuídos aos mais fiéis. São a essas emendas que, segundo técnicos de Orçamento, Pazuello se referiu no discurso de despedida no Ministério da Saúde, chamando de “pixulé”.
Agora, com o avanço dos parlamentares sobre os recursos da Previdência Social para garantir o pagamento de suas emendas, essa discussão vem à tona. Se “tudo tem limite”, como bem disse o presidente da Câmara, Arthur Lira, chegou o momento de impor essa verdade, também, ao apetite dos parlamentares no Orçamento.
O protesto diplomático I
O site Divergentes traz uma carta de diplomatas para diplomatas, com uma reflexão do pessoal de carreira do Itamaraty sobre os valores da diplomacia brasileira e a gestão do chanceler Ernesto Araújo, que, diz o texto, “submeteu o acervo de princípios e tradições da diplomacia brasileira aos humores e ditames de uma ideologia facciosa, muitas vezes antidemocrática, que presta contas apenas aos seus próprios seguidores”. A ideia da carta, cuja autenticidade foi confirmada à coluna por diplomatas, é chamar a atenção para o Dia do Diplomata, em 20 de abril.
O protesto diplomático II
O texto acusa Ernesto de usar o Itamaraty para mobilizar a base bolsonarista. “Não raro, assistimos à nossa diplomacia, o nosso trabalho cotidiano ser subordinado a interesses de mobilização de uma base política, sem qualquer conexão com interesses permanentes e estruturais do desenvolvimento, da soberania e do bem-estar da sociedade brasileira”. E segue dizendo que as dificuldades da pandemia “descortinam os riscos de uma diplomacia amadora, despreparada e personalista, dirigida por critérios fantasmagóricos”.
Tic-tac-tic-tac
A carta dos diplomatas que se associam aos apelos para a demissão de Ernesto Araújo é uma forte indicação de que, quanto mais tempo Jair Bolsonaro levar para mudar a política econômica, pior para o chanceler. Há, inclusive, o risco de o Senado rejeitar o nome do ministro para uma embaixada, caso Bolsonaro opte por transferi-lo para um posto de destaque. Chegou-se ao ponto que exonerar Filipe Martins não vai salvar o chanceler.
Pelo visto, está sobrando dinheiro
A intervenção federal no Rio de Janeiro terminou quando Jair Bolsonaro assumiu a Presidência da República, mas o gabinete da intervenção continua firme, prorrogado até o final deste ano, mesmo diante dos problemas de carência de recursos para várias ações de governo. Na sexta-feira, por exemplo, o Diário Oficial da União trouxe uma portaria de movimentação de servidores para ordenar despesas por lá.
CURTIDAS
Muito além do discurso/ O ex-ministro Eduardo Pazuello que se prepare. Depois do discurso de despedida, em que mencionou a busca de políticos por um “pixulé” no Ministério da Saúde, ele corre o risco de levar mais um processo por não ter reportado o caso às autoridades competentes.
Michelle na área I/ A primeira-dama Michelle Bolsonaro participa, amanhã, da cerimônia de aniversário dos cinco anos da legislação que implementou o marco legal da primeira infância. O evento vai destacar o programa Criança Feliz, criado no governo Michel Temer, reconhecido internacionalmente como o maior do mundo em visitas domiciliares a crianças e gestantes.
Michelle na área II/ O programa Pátria Voluntária, que ela gerencia, tem feito diversas parcerias com o ministro da Cidadania, João Roma Neto. O mais novo projeto é o Brasil Fraterno, para distribuição de cestas básicas.
Roda a Esplanada, ministro!/ Foi preciso uma ordem do ministro Marcelo Queiroga para que os funcionários do Ministério da Saúde passassem a usar máscaras por lá. Há quem diga que é melhor ele fazer uma blitz em outros órgãos governamentais. Inclusive, no Palácio do Planalto.
Recordes na pandemia e crise no Itamaraty colocam Bolsonaro em sinuca de bico
Em meio ao agravamento da pandemia e mais um recorde de mortes em 24 horas, o presidente Jair Bolsonaro está numa sinuca de bico e vai tentar ganhar tempo antes de tratar de qualquer afastamento do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo. É que, se ele afastar o chanceler, teme que parte dos seus apoiadores mais fiéis terminem abandonando o barco, acusando-o de ter se rendido ao Centrão. E se Bolsonaro perder mais uma parte desse segmento que ainda lhe é fiel, o risco de ficar fora de um segundo turno no ano que vem é grande.
Porém quem sabe das coisas já avisou que, para o presidente conseguir passar a ideia de que mudou a política externa, demitir só Filipe Martins não basta.
“Não podemos ficar atrás do Doria”
A frase foi repetida durante todo o dia nos bastidores de Brasília, logo depois do anúncio da ButanVac pelo governador de São Paulo, João Doria, com direito a slogan, banner e tudo mais no Palácio dos Bandeirantes. Daí, a entrevista no Planalto com os ministros Marcos Pontes e Marcelo Queiroga e o anúncio da vacina de Ribeirão Preto.
Anvisa sob pressão
Mais uma vez, a Anvisa ficará sob os holofotes, para decidir qual a vacina que vai liberar primeiro para testes em humanos. A ideia, segundo alguns técnicos, é tratar dos dois casos ao mesmo tempo, para evitar interpretações políticas.
Pátria de máscaras, tudo bem
O Planalto não vai brigar com o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, por causa da correta defesa do uso de máscaras — até o próprio presidente já está usando mais esse acessório que, antes, nem admitia. Porém, a restrição de circulação não faz parte do script de Bolsonaro nem fará. É o que resta do discurso presidencial para aqueles que defendem a volta ao trabalho.
A vacina salvou
O governo classificou esta semana como a pior dos últimos tempos. Desventuras em série que deixaram em segundo plano a reunião dos Poderes que criou o comitê anticovid: a marca das 300 mil mortes por covid; a fala do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), com ameaças de impeachment nas entrelinhas; acusações por parte de Eduardo Pazuello de que os políticos iam atrás de um “pixulé” (dinheiro); o assessor Filipe Martins, investigado por gesto obsceno no Senado; e a pressão de todos os lados para demitir Ernesto Araújo.
CURTIDAS
Cuidadores/ A Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa da Câmara dos Deputados aprovou pedido da deputada Leandre Dal Ponte (PV-PR) de envio de mensagem ao Ministério da Saúde para inclusão dos cuidadores de idosos no grupo preferencial para vacinação contra covid-19. Já são vários os casos de idosos que terminaram contaminados por suas enfermeiras e cuidadoras.
Não está fácil…/ São Caetano do Sul, na região do ABC paulista, começa hoje a fazer barreiras sanitárias para o ingresso na cidade. Com 98% dos leitos de UTI ocupados, e uma fila em busca de atendimento, não há outra solução.
… e tende a piorar/ O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG, foto), porta-voz dos governadores no comitê dos Poderes de gestão da covid-19, terá dificuldades na segunda-feira. Bolsonaro não quer saber de ajudar mais os estados que decretaram o lockdown, na avaliação dele, só para contrariar a posição presidencial.
Enquanto isso, no DF…/ Imagens da população clamando por “vacina, vacina” na porta de um posto de saúde de Brasília, cidade em que 69,99% dos votos válidos em 2018 foram de Bolsonaro, são vistas na seara da política como a certeza de que o governo federal errou ao não apostar nos imunizantes. E talvez esteja errando ao não entender a situação de colapso dos hospitais, que exige medidas para tentar segurar a proliferação do vírus, enquanto os fármacos não chegam em larga escala para todos os brasileiros.
Desde o ano passado, o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, aposta na vacina brasileira contra a covid-19. Em entrevistas, ele sempre mencionava seis promessas nesse campo, entre as quais esta desenvolvida em parceria pela faculdade de Ribeirão Preto. O governo, porém, demorou para bater bumbo sobre essas pesquisas, da mesma forma que demorou a apostar nas vacinas. O governo falhou nessa comunicação e também na política. Agora, diante do anúncio da ButanVAc, 100% brasileira, produzia pelo Butantan e pronta para entrar em fase de testes, vem o governo e aponta outro imunizante no mesmo patamar de pesquisa, trazendo também para a população uma notícia tão boa quanto o anúncio feito hoje cedo pelo governador de São Paulo, João Dória.
Politicamente, a ordem no governo é “não se pode ficar atrás do Dória”. Afinal, desde que Dória anunciou a compra da Coronavac, pelo Instituto Butantan, no ano passado, o presidente Jair Bolsonaro reagiu contra o imunizante. Disse com todas as letras que a “vacina chinesa do Dória” não seria comprada e inclusive, desautorizou o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a assinar contrato com o Butantan para a compra de 46 milhões de doses. A aposta de Bolsonaro àquela altura era em remédios para combater a doença e não em vacinas. Em dezembro do ano passado, chegou a dizer que se a pessoa que tomasse vacina virasse “jacaré”, ele não teria nada a ver com isso, e ainda afirmou que não tomaria a vacina. Na porta do Alvorada, apoiadores chegaram a entoar uma música para a “cloroquina”.
Diante da chegada da CoronaVac, Bolsonaro não teve saída, senão se render à “vacina chinesa do Dória”, a que país tinha naquele momento para vacinar a sua população, um público que, como criança do lado de fora da loja de doces, via pela tevê muitos países imunizando seus cidadãos. Em seguida, chegou a da AstraZeneca, a aposta do governo federal, produzida em parceria em a Fiocruz e são essas duas vacinas que estão hoje à disposição dos brasileiros.
Agora, com a fase de testes da vacina brasileira, a aposta é a de que, no futuro, teremos, em relação à covid, a situação que temos hoje em relação à gripe. Enquanto a disputa política beneficiar a população, será bem-vinda. Que venham mais vacinas.
Crise com assessores próximos a Eduardo coloca Bolsonaro em situação difícil
Tanto o chanceler Ernesto Araújo quanto o assessor internacional da Presidência da República, Filipe Martins, são muito ligados ao deputado Eduardo Bolsonaro, o filho 03 do presidente, e à ala de extrema direita que apoiou Jair Bolsonaro desde a primeira hora. Por isso, afastar ambos, atendendo à pressão do Congresso e de setores do empresariado para mudar a política externa, não será tão fácil. A ideia inicial é tirar um para preservar o outro. Até aqui, o presidente considera trocar apenas Filipe para acalmar o Senado e tentar dar um ar de mudança na relação internacional.
Bolsonaro considera que, se trocar o chanceler neste momento, soará como alguém que cede às pressões. No seu grupo mais fiel, há quem diga, que nem mesmo na troca do ministro da Saúde, fez exatamente o que o Centrão queria. Agora, conforme o leitor da coluna já sabe desde o fim do ano passado, as apostas de Ernesto Araújo em Donald Trump o colocaram na linha de tiro. E, diante da pandemia, se resistir, será porque os padrinhos de casa fizeram milagres.
Só tem um probleminha, e o presidente foi avisado: se der errado em termos de uma relação mais cordial com a China ou mesmo com os Estados Unidos lá na frente, nas doações de vacinas ou outros projetos de interesse do Brasil, não vá colocar a sua turma para bater no Congresso ou no Supremo Tribunal Federal.
Outros focos de tensão
Ao separar os projetos que podem dar uma resposta de alívio à população nesses tempos sombrios de pandemia, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), vai tirar da gaveta uma série de propostas que mexerão no caixa da União. Está no radar, por exemplo, a suspensão de reajustes nos preços de medicamentos este ano, proposta pelo deputado Denis Bezerra (PSB-CE).
A bolsa de bondades
A intenção é colocar para votar tudo o que puder ajudar para a dar um alento nessa hora de dificuldades financeiras, em que o auxílio emergencial será bem menor. O governo dará um auxílio minguado, mas o Congresso vai trabalhar para evitar aumentos nos gastos obrigatórios da população. Os congressistas querem aproveitar essa fase para mostrar que não estão passivos diante da situação do país.
Juízes federais na lida…
Uma comissão da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) listou 23 pontos preocupantes no projeto que tramita no Congresso para alterar a Lei de Improbidade Administrativa (LIA). Por exemplo: propostas que restringem novas ações, dificultam a punição de pessoas desonestas e tornam mais rígidas as hipóteses de bloqueio de bens de investigados.
… e na guerra pelo patrimônio público
Os integrantes da comissão consideram que a LIA representa um importante marco para a proteção do patrimônio público e a moralidade administrativa e, por isso, necessita de uma discussão mais aprofundada com a sociedade. A intenção é esperar a volta das discussões presenciais para tratar desse tema mais apropriadamente.
Pocket live/ No dia em que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), cobrou uma troca na política externa, Bolsonaro fez uma live bem menor do que de costume, dedicada exclusivamente às ações do governo em relação à pandemia. Nem uma palavra sobre política externa.
Primeiros acordes I/ As visitas do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a São Paulo e ao Rio de Janeiro foram uma tentativa de aproximar a comunidade médica do governo. Até aqui, estava difícil.
Primeiros acordes II/ O convite ao secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, para o encontro, foi mais um sinal de que a área técnica quer acertar. O próprio governador João Doria, consultado, disse que Gorinchteyn devia ir e que nada melhor do que a união de esforços para salvar a vida das pessoas.
Sutis diferenças/ A chegada de Queiroga fez até Bolsonaro alterar o discurso. A defesa da cloroquina foi substituída por “não há remédio específico”, mas “se eu for contaminado, o médico vai receitar o que eu tomei da primeira vez”.
Por falar em Bolsonaro…/ Ele não quer brigar com Arthur Lira. E nem Lira quer brigar com Bolsonaro. Porém, Lira vai defender o Congresso, e Bolsonaro, o governo. O casamento continua enquanto esses dois objetivos estiverem na mesma direção.