Autor: Denise Rothenburg
Aliados vão aproveitar afastamento de Bolsonaro para amenizar crise entre os Poderes
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro se mantiver afastado sob cuidados médicos, os seus articuladores políticos querem aproveitar para tentar amenizar a crise entre os Poderes que vinha numa onda crescente. A ordem é aproveitar o período do recesso parlamentar e do Judiciário para baixar a poeira e promover conversas nos bastidores, que costumam ser muito mais produtivas do que os encontros formais, com discursos protocolares que não surtem efeito prático.
Até aqui, avisam alguns, o escalado para essa tarefa foi o ministro de Comunicações, Fábio Faria, um dos mais próximos de Jair Bolsonaro.
Diga ao povo que fico
Bolsonaro segue no comando do país, mesmo no hospital. É que, com o vice-presidente Hamilton Mourão viajando, Arthur Lira (PP-AL), o presidente da Câmara, passaria pelo constrangimento de não poder assumir porque é réu em processo no Supremo Tribunal Federal. Assim, a Presidência da República, até a volta de Mourão, marcada para sábado, ficaria a cargo do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
Quem manda
A decisão sobre licença caberá à equipe que está atendendo o presidente. Se os médicos assim determinarem, Bolsonaro terá que se licenciar para cuidar da saúde e Mourão pode, inclusive, antecipar sua volta ao Brasil para preservar Lira.
Deixe tudo para depois
Com Bolsonaro internado, temas importantes para ele foram adiados. No caso da proposta que estabelece a impressão do voto, por exemplo, falta número para aprovar. Ou o presidente põe seu pessoal na porta do Congresso exigindo essa aprovação ou não passa.
E dá-lhe desgaste
Com a prorrogação da CPI da Covid aprovada, o governo pode se preparar para ficar sofrendo desgastes até o final de outubro — ou seja, um ano antes da eleição.
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Sobrou para ele/ A contar pela determinação dos congressistas em partir para o recesso, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), ficará até o final do mês “sangrando”, esperando o depoimento à CPI. É o único que não tem nada a ganhar com o recesso.
É por aí/ Se o caso de Bolsonaro fosse simplesmente um mal-estar, ele não teria sido transferido para São Paulo.
Sem trégua/ Com o presidente internado, vários passageiros de carros que passavam em frente ao Hospital das Forças Armadas (HFA), em Brasília, gritavam “Fora Bolsonaro”. Um grupo de apoiadores fez o contraponto, com bandeiras e orações.
Parceria reforçada/ Na véspera de sua internação, o presidente conversou pela primeira vez com o primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett. Além dos protocolares agradecimentos pelos calorosos parabéns que Bolsonaro enviou pelo estabelecimento do governo em Israel, Bennett elogiou a eleição do Brasil como membro não-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e enfatizou a posição forte e contínua do Brasil ao lado de Israel na arena internacional.
As deferências do presidente Jair Bolsonaro ao líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), vieram sob encomenda para servir de amortecimento para o caso do surgimento de gravações do presidente durante a conversa com os irmãos Miranda, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e o técnico do Ministério da Saúde Luis Ricardo, em março deste ano.
O governo, aliás, está disposto a contornar as falas desastradas do presidente nos últimos dias, que afastam muitos apoiadores do Centrão e criam instabilidade. A ideia é promover várias demonstrações de apreço aos integrantes da base aliada. Bolsonaro sabe que não pode prescindir do Centrão, onde estão Barros e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Especialmente se houver algum pedido de licença para que ele seja processado no Supremo Tribunal Federal (STF), dentro da investigação em curso.
Se não correr…
A baixa de Bolsonaro nas pesquisas e as incertezas que cercam seu futuro político são os ingredientes que o levaram a marcar conversas com a cúpula do PSC, do Pros e do PTB para amanhã, notícia publicada em primeira mão no site do Correio pela repórter Ingrid Soares. Bolsonaro quer sentir o clima, uma vez que, nos bastidores, muitos partidos já não fazem tanta questão de receber a filiação do presidente da República.
… perde o barco
A aposta de muitos partidos é a de que Bolsonaro, se não corrigir os rumos do discurso, terá dificuldades em se recuperar. Hoje, não são poucos os parlamentares da base governista com a avaliação de que ele, da mesma forma que se fez praticamente sozinho, está se inviabilizando também praticamente sozinho.
E o Mourão, hein?
As declarações do vice-presidente Hamilton Mourão, garantindo a realização de eleições, foram lidas no Congresso como um “estamos aí” para assumir a Presidência, caso haja alguma mudança de rota dos congressistas em relação aos pedidos de impeachment.
Nem vem
As excelências, porém, não querem de fato o impeachment de Bolsonaro. O receio é que o vice caia no gosto da população e seja candidato em 2022, com chances de vitória.
E as reformas, hein?/ A tributária hoje tem muito mais chance de ser aprovada do que a administrativa. E quanto mais perto do ano eleitoral, mais difícil ficará.
Dória no quadrado de Ciro/ A ampliação da escola em tempo integral em São Paulo vem sendo comparada ao projeto que marcou a vida do pedetista Leonel Brizola, que implantou o sistema no Rio de Janeiro, quando foi governador. É uma forma de tentar atrair o segmento do eleitorado brizolista que não é lá muito simpático à candidatura de Ciro Gomes.
A hora dos ministros/ Diante das dificuldades de ouvir técnicos que chegam ali e ficam calados, caso de Emanuela Medrades, que se disse “exausta”, a CPI da Covid deve promover em breve o desfile de ministros. Estão na lista Walter Braga Neto e Onyx Lorenzoni, além de Wagner Rosário, da Controladoria-Geral da União.
Por falar em Emanuela…/ Ao se declarar “exausta”, a funcionária da Precisa deu a deixa para os senadores. Alessandro Vieira (Cidadania-SE) já começou dizendo que “exaustão” não é motivo para não responder. E o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), completou: “Exaustos estão os familiares das mais de 530 mil pessoas que morreram de covid”.
Arthur Lira curte a “maçaranduba do tempo” do tempo. A expressão muito comum no Nordeste está diretamente relacionada à madeira dura e resistente, como o implacável tempo. É nessa linha que está o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Pelo menos, até o final do ano, será fiel a Jair Bolsonaro. Porém, se na virada de 2021 para 2022 o desgaste presidencial se mostrar irreversível, o deputado encontrará um meio de buscar outros rumos.
O projeto do presidente da Câmara é a reeleição como deputado federal e mais dois anos no comando da Casa. Se Bolsonaro se recuperar e for reeleito, será positivo para o plano de voo de Lira. Se o presidente não apresentar sinais de recuperação de popularidade, o deputado não poderá ficar comprometido com o governo no ano eleitoral, sob pena de atrapalhar suas metas.
Piores momentos
Empresas que desde o início do ano medem diariamente o comportamento das interações relacionadas a Bolsonaro nas redes sociais, em especial o Twitter, começaram a notar que as menções negativas vêm subindo e apresentam alguns pontos elevados, entre cinco e seis milhões de posts negativos em três situações, com um descolamento brutal entre menções positivas e negativas.
CPI na veia
O primeiro pico negativo veio em 14 de março, aniversário da morte da vereadora Marielle Franco, com mais de seis milhões de menções negativas. O segundo foi na morte do ator Paulo Gustavo, em 4 de maio. Por último, aparece o depoimento dos irmãos Miranda na CPI da Covid, com mais de cinco milhões de posts negativos contra o presidente.
Se acalma ou perde mais terreno
As investigações das suspeitas de prevaricação envolvendo Bolsonaro são vistas por aliados como uma chance até para recuperar sua popularidade, caso nada seja comprovado contra ele. Agora, dizer que não vai responder e ficar brigando com jornalistas, senadores e quem mais chegar, só vai desidratar ainda mais a campanha reeleitoral. Afinal, todos os destemperos já estão devidamente registrados para exibição no horário eleitoral em 2022.
A campanha do Exército
O Exército mantém seu pessoal da ativa engajado na campanha “ajudar está no nosso sangue”. Em 2018, quando essa iniciativa foi lançada, a Força conseguiu quase 10 mil doações de seu efetivo. No ano passado, com a pandemia, esse número subiu para 41 mil doadores. Agora, o primeiro semestre de 2021 fechou com 25.639 doações de sangue, beneficiando 102.556 pessoas. Com essa marca em um semestre, a ideia é fechar o ano com, pelo menos, 50 mil doadores.
O tempo de Pacheco
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), só tratará de 2022 depois de outubro. A ideia é não ir tão rápido que pareça afobação, nem tão devagar que possa passar a imagem de receio da disputa.
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Cai o mito/ A maioria dos partidos considera que o ex-governador Geraldo Alckmin derrubou a tese de que o governador de São Paulo é sempre nome obrigatório de ser levado em conta numa eleição presidencial. Ele era governador e ficou lá atrás em 2018. Agora, tem muita gente mencionando isso nos bastidores para tirar João Doria do páreo.
Haja oração/ O pedido de Bolsonaro para rezar um Pai Nosso no meio de uma entrevista, tudo por causa de uma pergunta que ele não gostou, foi para tentar se acalmar. Se está assim agora, diante de jornalistas, imagine nos debates eleitorais em 2022.
Distensão com cada um no seu quadrado/ Depois do encontro entre Bolsonaro e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, a cúpula dos Poderes quer aproveitar o embalo para tirar qualquer dúvida sobre a realização das eleições de 2022. Com ou sem voto impresso, decisão que cabe ao Congresso.
Muita calma nessa hora/ A população cansou do distanciamento social, porém, diante das novas variantes, dificilmente a vida voltará ao normal. Os epidemiologistas têm dito em todas as oportunidades que não está no momento nem de tirar a máscara nem de promover aglomerações.
As acusações que o presidente Jair Bolsonaro levantou contra o senador Omar Aziz (PSD-AM) em conversa com apoiadores, sem apresentar provas, serviram de motor para a carta enviada ao Palácio do Planalto, em que a CPI da Pandemia cobra uma posição do capitão em defesa do líder do governo, Ricardo Barros. Até aqui, o chefe do Planalto vinha sendo poupado de um pedido de explicação oficial. Agora, diante da carta, a CPI acreditava ter colocado o presidente numa sinuca de bico: se defendesse o líder e chamasse o deputado Luis Miranda de mentiroso, poderia ser confrontado com uma gravação da conversa entre ele e Miranda. Se atacasse o líder, brigaria com uma parcela expressiva do Centrão.
Ocorre que Bolsonaro chutou essa granada para fora do campo. A resposta do presidente, “caguei”, dita na live desta semana, indica que o presidente vai continuar tratando a CPI como algo feito apenas para desgastar o governo. Porém, diante dessa inflexibilidade e de ataques aos senadores, fica mais difícil para os governistas encontrarem algum espaço capaz de quebrar a hegemonia do G7 na CPI da Pandemia, chamados, inclusive, de patifes e picaretas pelo presidente. O problema é que, nesse cenário, quanto a Barros, o risco é essa granada que Bolsonaro atirou para fora cair no colo do líder. Barros, por sua vez, já percebeu e, ontem mesmo, foi à tribuna da Câmara se defender. Enquanto não for chamado à comissão, é ali que ele apresentará a sua defesa.
Em tempo: com o presidente irredutível, a estratégia da CPI, agora, é jogar Ricardo Barros contra Jair Bolsonaro. Daqui para a frente, serão muitas as declarações de integrantes da CPI no sentido de levar o líder a cobrar publicamente do presidente se é verdadeira ou falsa a versão do deputado Luis Miranda, de que Bolsonaro citou o nome do seu líder na Câmara quando recebeu de Miranda a denúncia de que havia esquema de corrupção em gestação na Saúde. É um jogo de truco de final, até aqui, imprevisível.
O jogo de Bolsonaro
A frase “ou fazemos eleições limpas ou não temos eleições” não foi dita por mero acaso. Faz parte de uma estratégia engendrada no Planalto para impor a vontade de aprovar o voto impresso, ou voto auditável, para as eleições do ano que vem. A proposta, porém, depende da aprovação de uma emenda constitucional em debate no Congresso e, hoje, não há 308 votos a favor.
Auxílio menor tira força da reeleição
O auxílio emergencial num valor menor do que a metade dos R$ 600 pagos no passado é visto até por apoiadores do presidente como o responsável pela queda da popularidade e o aumento da rejeição, como demonstram todas as pesquisas de opinião. Em especial, entre aqueles que recebem até dois salários mínimos, conforme registrou o DataFolha.
Dois fatores
Os ministros, porém, consideram que essa queda de popularidade entre os mais pobres será possível resolver com o novo Bolsa Família. A economia é o ponto nevrálgico para 2022 e, até aqui, avaliam alguns, não reagiu a contento. O outro fator é denúncia de corrupção.
Até aqui…
As denúncias de suspeita de corrupção no Ministério da Saúde estão nas costas da raia miúda que foi exonerada, Roberto Dias e Laurício Monteiro Cruz, respectivamente, diretores do Departamento de Logística e de Imunização e Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.
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O pacificador/ Aos poucos, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, vai se colocando como alguém não tão afastado do governo, mas de outra cepa. Há quem diga que está preparado para herdar os votos dos decepcionados com o jeitão de Bolsonaro e avessos ao PT.
Nem tanto/ Alguns senadores têm dito que Pacheco, porém, ainda não está na pista, e foi o general Braga Netto quem ligou para o presidente do Senado, a fim de desfazer mal-estar entre os Poderes, e não Pacheco que procurou o ministro.
Na área dele/ Depois do Rio Grande do Sul, Bolsonaro irá, na semana que vem, ao Amazonas, estado do presidente da CPI, senador Omar Aziz. A ideia é mostrar que tem apoio no território do inimigo.
Enquanto isso, no Congresso…/ A corrida para aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) ainda não está ganha. A tendência, por enquanto, é de recesso branco.
Ataques de Bolsonaro a Aziz apimentam crise entre os Poderes, enquanto Pacheco tenta contornar
Enquanto do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, trabalhava para encerrar a tensão entre os Poderes, com uma conversa entre ele e o ministro da Defesa, general Braga Netto, o presidente Jair Bolsonaro colocava mais pimenta na panela. Ao temperar a sua conversa com apoiadores esta manhã com acusações contra o presidente da CPI, senador Omar Aziz, sem provas, e declarações do tipo, ao defender o voto impresso, “ou fazemos eleições limpas ou não temos eleições”, Bolsonaro mantém a tensão acesa. E justamente numa semana que começou com áudios atribuídos a uma ex-cunhada do presidente da República, sobre um suposto envolvimento do capitão em rachadinhas no tempo em que era deputado federal. Esses ingredientes foram citados hoje em rodas de deputados e senadores com muita preocupação, porque alguns entenderam que Bolsonaro, se não houver o voto impresso, vai tentar melar o jogo eleitoral.
Hoje, ainda não há maioria no Congresso para essa aprovação, uma vez que se trata de uma Proposta de Emenda Constitucional, para a qual são necessários 308 votos sim. Enquanto esse número não vem, Bolsonaro joga a ameaça para ver se consegue forçar a aprovação da PEC. Porém, amplia o mal estar no Parlamento em relação ao governo.
A conversa entre Bolsonaro e seus apoiadores chegou para Omar Aziz logo no final da manhã de hoje. Ali, da Presidência da CPI, Aziz respondeu, acusando Bolsonaro de ser contra a ciência, de desqualificar as vacinas. E completou que fazia essas acusações porque poderia provar-las. “Não chamei o senhor de ladrão, de fazer parte das rachadinhas”, disse Aziz, referindo-se aos áudios divulgados pelo site Uol e atribuídos à ex-cunhada de Bolsonaro Andreia Valle, gravações que ainda não tiveram um laudo do poder público.
No momento em que Omar Aziz discursava, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, conversava com ministro da Defesa para tentar acabar com a tensão gerada entre os dois Poderes, por causa da nota do ministro divulgada ontem à noite, em repúdio às declarações de Aziz sobre militares estarem envergonhados com a atuação de alguns citados pela mídia. Na verdade, o ministro achou que Aziz teria generalizado, quando, justiça seja feita, o senador elogiou o trabalho das Forças Armadas, que deveriam estar envergonhadas de alguns. O presidente do Senado foi justamente explicar que houve um mal entendido por parte dos militares com as declarações de Aziz. E também reforçou a independência do Legislativo. Após a conversa, o senador afirmou em seu twitter que o assunto estava encerrado. Este, talvez sim. Falta, porém, combinar com Bolsonaro que tem aproveitado as conversas com apoiadores para manter a relação entre os Poderes apimentada.
A decisão do presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), de prender o ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, provocou abalos no G7, grupo de senadores que até aqui joga praticamente fechado. A maioria do grupo foi contra porque considera que outros mentiram e não tiveram o mesmo tratamento, e pode levar a comissão de inquérito a ter problemas para ouvir outras testemunhas.
Aziz quis fazer algo do tipo “que sirva de lição” aos demais. Porém, o receio agora é que outros servidores da Saúde e empresários chamados ao colegiado cheguem com um habeas corpus para evitar que ações desse tipo se repitam. Até aqui, a Justiça tem concedido.
O que Bolsonaro quer
A amigos, o presidente Jair Bolsonaro já disse que discorda do Distritão, sistema pelo qual apenas os mais votados são eleitos. Afinal, os cálculos indicam que deputados “bons de voto”, caso de Eduardo Bolsonaro (PSL) em São Paulo, podem perfeitamente levar mais alguns para o Parlamento. No Distritão, ninguém carrega ninguém.
Recuo do mar
Ao dizer que a CPI da Covid tem que parar se houver recesso, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), dá uma ajuda ao governo. Porém, não por muito tempo e nem com tanta segurança. Nos últimos tempos, todos os governos que esperavam contar com o recesso parlamentar para esfriar crises voltaram em agosto com ondas muito mais fortes.
Pimenta nos olhos…
É voz corrente nas três Forças que querer criminalizar a caserna é o mesmo que querer criminalizar a política, colocando todos no mesmo balaio. Esse é o sentimento geral que permeia Exército, Marinha e Aeronáutica, e que serviu de base para a nota, divulgada ontem à noite, pelo Ministério da Defesa e pelos comandantes militares.
… mas nem tanto
Os congressistas consideraram que a nota foi acima do tom, uma vez que Aziz não generalizou e ainda disse que os bons oficiais das Forças Armadas “devem estar envergonhados” com essa situação, ao ver alguns dos seus enroscados na CPI da Covid.
Nem vem/ A ordem no Planalto é “esqueçam as pesquisas de opinião” que apontam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva muito acima de Bolsonaro na corrida presidencial de 2022. A avaliação dos parlamentares bolsonaristas é a de que o petista terá problemas para circular pelo país.
Já estava marcado, mas…/ A visita de Bolsonaro a Porto Alegre, amanhã, com direito a “motociata” no sábado, é vista como uma forma de o presidente tentar segurar o eleitorado gaúcho ao seu lado. Nos bastidores, muitos bolsonaristas dizem que, com o governador Eduardo Leite se colocando na disputa presidencial, todo o cuidado é pouco.
Precursora/ Antes de Bolsonaro desembarcar no Rio Grande do Sul, quem chega é o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, o curinga de Bolsonaro. Há quem diga que o “capi”, como o Bolsonaro o chama, pode ser até mesmo um vice na chapa presidencial.
Enquanto isso, nos partidos de centro…/ A senadora Simone Tebet (MDB-MS) começa a ser vista como uma opção para colocar na roda de 2022 uma candidatura pelos partidos de centro. Ela tem sido destaque na CPI da Covid e também no plenário da Casa.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, está sendo chamado a intervir no caso que resultou na prisão do ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias. É que o plenário já estava em sessão, quando o presidente da CPI, Omar Aziz, deu voz de prisão a Dias. Por isso, Pacheco está sendo aconselhado a tornar o ato nulo. Se o fizer, será a primeira vez que Rodrigo Pacheco intervém na CPI, algo que, até qui, o presidente do Senado tem evitado.
Em café com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL), os caciques dos partidos políticos avisaram que vão acolher o que for aprovado pela Casa em relação à reforma política e eleitoral. Os parlamentares tendem a aprovar o Distritão, que garante a vaga aos mais votados, e, para atender aos pequenos, vão embutir a federação de partidos. Há um grupo expressivo convicto de que esse sistema é o que mais lhe garantirá a reeleição. E, ali, a maioria só pensa mesmo é em sobreviver. Se ficar ruim, muda-se para 2026.
O que pode comprometer o acerto é a bancada feminina, que deseja garantir a cota para as mulheres, antes de aprovar o distritão. Capitaneadas pela coordenadora da Secretaria da Mulher, Celina Leão (Progressistas-DF), as 79 deputadas prometem fazer muito barulho para garantir o espaço feminino nas nominatas.
Assim, fica difícil
Deputados e senadores reclamam, dia e noite, que o ministro da Casa Civil, Luís Eduardo Ramos, demora a despachar as nomeações aprovadas pela Secretaria de Governo, território sob jurisdição da ministra Flávia Arruda. Especialmente no Senado, a insatisfação é grande.
André na lida
O advogado-geral da União, André Mendonça, já está em périplo pelo Senado em busca de apoio para o Supremo Tribunal Federal para o lugar de Marco Aurélio Mello, que se aposenta na próxima semana. Corre entre os senadores que a rejeição não está descartada, como forma de enviar um recado ao presidente. A tensão está no ar, porém a avaliação do governo é a de que será possível quebrar essa resistência.
Mourão na área
Os parlamentares têm intensificado a procura pelo vice-presidente Hamilton Mourão. Ainda que o presidente da Câmara, Arthur Lira, tenha dito que não colocará os processos de impeachment em tramitação, um grupo quer sentir o pulso do vice em relação a assumir a Presidência.
Por falar em impeachment…
O sentimento dos parlamentares ligados ao governo é de que as últimas denúncias de rachadinhas atribuídas a ex-cunhada do presidente Jair Bolsonaro vão ficar no noticiário, nas falas da oposição, mas não vão levar a um processo de impeachment. O problema é arrumar um discurso para contrapor essas denúncias na campanha de 2022.
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Dia tenso/ O depoimento do ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias, hoje, promete ser o mais tenso da semana. Os parlamentares da CPI querem saber a serviço de quem ele estava.
Causa e efeito/ Quem acompanha o dia a dia da CPI da Covid notou que o colegiado está muito mais aguerrido depois que a Polícia Federal indiciou o relator Renan Calheiros (MDB-AL) por suspeita de corrupção passiva. Ou seja, não vai ser por aí que o governo conseguirá estancar o desgaste.
Cada um no seu quadrado/ O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), está no seguinte pé em relação à CPI da Covid: ele não atrapalha os trabalhos da Comissão e a maioria dos senadores não fala mal dele.
E o Datena, hein?/ Há quem diga que o jornalista José Luiz Datena chega ao PSL como um potencial nome para vice de Bolsonaro à reeleição. O futuro a Deus pertence.
Se Jair Bolsonaro não pode ser investigado por atos que não dizem respeito ao exercício do mandato presidencial, seus filhos podem. E é aí que a oposição irá com tudo no sentido de tentar apurar as denúncias de supostas rachadinhas registradas em áudios divulgados pelo UOL, atribuídos à fisiculturista Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do presidente.
O primeiro teste desta nova trilha, que promete dar muito trabalho ao governo, virá ainda hoje (7/6) na CPI da Covid. O relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), já divulgou em suas redes sociais que planeja convocar Andrea para prestar depoimento à comissão de inquérito, algo que o governo não aceitará, porque considera que esse tema não é objeto de investigação do colegiado. A briga ganha cada vez novos contornos.
Isso o povo entende
Ao anunciar a prorrogação do auxílio emergencial numa solenidade dentro do gabinete que sequer constava em sua agenda, ficou claro para os setores da política que Bolsonaro deseja ver se reduz o impacto dos áudios atribuídos à ex-cunhada e também ao desgaste já provocado pela CPI.
Isso também
Até aqui, aliados do presidente não tinham visto nada que pudesse arranhar a imagem de Bolsonaro com escândalos de corrupção, nem no caso das vacinas e do contrato da Covaxin, que não foi cumprido dentro do prazo nem tampouco houve pagamento. O episódio das rachadinhas, porém, é diferente: “Sinal amarelo: rachar salário é coisa que está ao alcance do entendimento do povão”, escreveu o cientista político Paulo Kramer.
Já era
Ao dar cinco dias para que o senador Omar Aziz (PSD-AM) explique os motivos para o adiamento do depoimento do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR), o ministro Ricardo Lewandowski ajuda a CPI. É que Barros queria depor nesta quinta-feira. Aziz poderá responder ao STF até sábado.
Abre o olho, viu?
O movimento Freio da Reforma, que reúne 33 instituições da sociedade civil, listou 20 retrocessos da reforma do Código Eleitoral em discussão no Congresso. Um desses pontos é o fim da divulgação dos bens dos candidatos. A apreciação das contas partidárias também passa a ser feita por empresas privadas e a prestação dessas contas de gastos de campanha, também. Ou seja, como as campanhas hoje são financiadas com dinheiro público, a transparência na aplicação dos recursos ficará prejudicada.
A guinada da Fiesp/ Com a eleição de Josué Gomes da Silva, filho do ex-vice-presidente José Alencar, para presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá um aliado num posto importante. Pior para o centro e para Bolsonaro.
Surpresa geral/ O empate na votação que pretendeu retirar de pauta a proposta de emenda constitucional do voto impresso surpreendeu os defensores da PEC, que acreditavam perder de lavada. Há, porém, uma certeza: a de que não há 308 votos para aprová-la em plenário.
Enquanto isso, no WhatsApp…/ Grupos bolsonaristas começaram um verdadeiro cerco aos integrantes da comissão especial que analisa o voto impresso. A ordem é entupir as caixas de e-mails e redes sociais de cada parlamentar em defesa da PEC.
E as reformas, hein?/ O presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), quer ouvir hoje dos líderes como está a construção de consensos em torno da reforma tributária e, ainda, em torno do Código Eleitoral. No caso da tributária, dificilmente terá rolo compressor. O mesmo não se pode dizer em relação ao Código Eleitoral e os retrocessos apontados por várias instituições.
Paralelamente à CPI da Pandemia no Senado e a investigação no Supremo Tribunal Federal, o governo trava outra batalha no Congresso: tentar convencer os parlamentares a, dentro da Lei de Diretrizes Orçamentárias a ser votada em breve, acabar com as chamadas emendas de relator, as RP9, que, desde o ano passado, consomem parte dos recursos públicos e comprometem as prioridades elencadas pelo governo em termos de obras e serviços.
Discretamente, os ministros têm trabalhado para que o chamado “baixo clero”, aquele grupo de políticos que não tem acesso a essas emendas, consiga extirpar essa distorção do Orçamento. Falta convencer o segmento que domina a comissão e não se mostra disposto a perder esse privilégio.
Em tempo: Se a LDO não for votada em 15 dias, não tem recesso. É a única lei que, se não for apreciada, prorroga automaticamente o período legislativo.
O que eles pensam
A abertura de inquérito contra o presidente Jair Bolsonaro é lida por setores da base governista como um meio de se tentar barrar a reforma administrativa. “Estou convencido de que esse inquérito é um movimento nesse sentido, tal e qual Rodrigo Janot fez contra o presidente Michel Temer quando a Casa se preparava para votar a reforma da Previdência”, diz o deputado Evair de Melo (PP-ES), hoje um dos fiéis escudeiros do Planalto.
Distritão dificulta renovação
Uma ala da política está muitíssimo preocupada com a tentativa de alguns partidos de emplacar o Distritão, um sistema para eleger apenas os mais votados. Como esta coluna adiantou, na semana passada, trata-se de um dispositivo para acabar com a proporcionalidade e estabelecer a reserva de mercado para os mesmos, uma vez que os novos não terão chance de legenda. Cada partido lançará pouquíssimos candidatos, fechando a porta para quem ainda não é conhecido.
O espetáculo do crescimento…
Dados da Anatel mostram que o negócio da banda larga via fibra óptica só cresce: entre 2019 e 2020, o número de clientes que optaram por essa tecnologia para acessar a rede aumentou 66% — de 10,22 milhões para 17,04 milhões. Esse mercado é hoje dominado pelas operadoras regionais em 19 estados, seguidas de perto pela Oi, em doze. Não à toa essas operadoras de menor porte têm tentado criar obstáculos à reestruturação financeira da Oi, que está em recuperação judicial desde 2016.
… e das pressões
Na próxima terça-feira (6), a TelComp, que reúne as operadoras regionais, e a Associação NEO, dos operadores de TV por assinatura, fazem webinar para apresentar seus argumentos contrários à venda dos ativos móveis da Oi. No dia seguinte, 7, está previsto o leilão dos ativos de fibra da Oi — só há um interessado, o BTG Pactual. Com essa injeção de recursos, a Oi volta a investir e se tornar relevante em um mercado muito estratégico para as operadoras menores.
CURTIDAS
Se não correr…/ Em política, a ansiedade é constante. A da vez é com a demora do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, em assumir uma postura mais contundente de candidato ao Planalto. Já tem muita gente achando que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, foi quem melhor se apresentou até aqui, porque tem condições de unir gestão com respeito à diversidade.
…perde o trem/ Pacheco, porém, tem dito a amigos que depois da primavera, o tempo estará mais propício para novos movimentos. A avaliação geral é a de que, antes da prévia tucana, os partidos que querem quebrar a polarização PT versus Bolsonaro não colocarão todo o bloco na rua.
Só tem uma saída/ Os senadores do G7 até aqui apoiaram Luis Miranda, mas, depois do áudio em que ele aparece fazendo negociações comerciais em pleno mandato e as notícias da reunião com Silvio de Assis, conhecido lobista da cidade, muita gente pisou no freio. Se Mirando quiser recuperar a confiança do grupo, terá que contar tudo o que sabe.
Quem te viu…/ “Apoiar a Lava Jato é fundamental no combate à corrupção no Brasil. O fim da impunidade é uma das frentes que estanca o problema, outra é atacar na sua raiz, pondo fim nas indicações políticas do governo em troca de apoio. Nós temos a independência necessária para tal”. Jair Bolsonaro , em 12 de setembro de 2018.
… quem te vê/ Nenhum segmento da política brasileira tem hoje o monopólio das ruas. Porém, o grupo contrário ao presidente que faz manifestações aqui e ali está cada vez maior. Se o governo não for capaz de captar os sentimentos daqueles que votaram em Jair Bolsonaro e hoje se mostram decepcionados, não tem urna de voto impresso ou eletrônico que assegure a reeleição.