Autor: Denise Rothenburg
Coluna Brasília-DF/Por Leonardo Calvacanti
» A escalada de declarações agressivas do presidente Jair Bolsonaro tem hora e lugar para ocorrer, pelo menos desde o início da semana. Desde segunda-feira, o capitão reformado tem embicado frases no mínimo controversas sobre as circunstâncias da morte de um pai nos porões da ditadura, trabalho escravo, legalização de garimpo em terras indígenas — além dos ataques constantes ao Partido dos Trabalhadores. Em comum, as coletivas foram feitas de maneira improvisada na frente do Palácio da Alvorada, entre as 8h30 e 9h, todos os dias da semana.
» Os quebra-queixos — como são chamadas no jargão jornalístico as entrevistas improvisadas, geralmente com a repórteres e autoridades em pé — ocorrem na primeira camada da segurança, onde populares se posicionam para acenar para o presidente. Em média, 10 eleitores de Bolsonaro se revesam ao longo do dia no Alvorada. O ritual, iniciado na última segunda-feira, é seguido à risca pelo presidente. Próximo à saída, ele pede para o comboio parar, cumprimenta os populares e espera as perguntas dos jornalistas. Entre uma e outra pergunta, puxa conversa com os eleitores, que filmam toda a cena.
» Se, no início da semana, o pessoal mais próximo ao presidente ficou cabreiro com as declarações, depois foi obrigado a aceitar os arroubos de Bolsonaro. Na prática, o capitão reformado trabalha com a mesma estratégia da campanha eleitoral e joga para o leitor raiz, aquele que optou por ele desde o primeiro turno. Não à toa, por mais que a popularidade do presidente tenha caído em seis meses, ele tem o mesmo número de apoiadores daquela época.
» Em tempo: as declarações de Bolsonaro pela manhã mudaram até a rotina de jornalistas que cobrem o dia a dia do presidente.
CURTIDAS
Pequisa // O Instituto Locomotiva fez um estudo que revela o perfil do consumidor brasileiro em tempos de crise e a sua relação com o varejo. Entre os principais dados, alguns chamam a atenção, como sonhos de consumo. As categorias de produtos que lideram na intenção de compra para o próximo ano são móveis, eletrodomésticos e carro, seguido de smartphone. Segundo a pesquisa, 43% da população não se identifica com nenhuma marca de varejo.
Pergunta de um milhão // Técnicos que participam da reforma tributária governista dizem que o texto está pronto. Não sabem, contudo, o que falta para, enfim, apresentar o texto aos articuladores no Congresso. A ideia, dizem, ainda é de encaminhar a proposta ao Senado, pelo senador Flávio Bolsonaro. O governo foi avisado de que, se apresentar o texto na Câmara, a tendência é de apensar a matéria à PEC 45.
Desconforto // A demora do governo na apresentação da reforma tributária está incomodando os empresários. Representantes de entidades dos setores de comércio e serviços estão ouvindo todas as propostas, e avaliam que o melhor caminho para o país é dividir o texto em dois. Primeiro, se unifica apenas os impostos federais, e, depois, promove a união do ICMS e do ISS. O problema, reclamam, é que o Executivo não apresentou nada.
Prêmio // No próximo 13 de agosto, às 19h, será entregue o Prêmio Marco Maciel — Ética e Transparência entre o Público e o Privado. O evento ocorrerá no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes, e é uma iniciativa da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig).
Celebração // O presidente Jair Bolsonaro e a primeira-dama Michelle participam amanhã da cerimônia em comemoração dos 25 anos da Igreja Fonte da Vida. O evento é gratuito e terá a participação da banda gospel Pedras Vivas. O início das comemorações será às 10h, na sede da igreja em Brasília.
Clima no STF esquenta após revelações de que Dallagnol teria incentivado investigação contra Toffoli
Coluna Brasília-DF/ Por Leonardo Calvacanti
» O clima esquentou no Supremo Tribunal Federal após as revelações de que o procurador Deltan Dallagnol teria estimulado integrantes do Ministério Público a investigar o ministro Dias Toffoli. Até a reportagem do Intercept de ontem — que revelou a ação do chefe da Lava-Jato ainda em 2016 contra o magistrado —, parte da Corte esperava que a própria Procuradoria-Geral da República ou o conselho nacional da categoria resolvesse a situação, estabelecessem limites e até mesmo uma eventual sanção para Dallagnol.
» Os diálogos revelados ontem — que envolvem inclusive familiares de outros ministros, como a mulher de Gilmar Mendes — levaram integrantes do Supremo a defender uma reação mais firme da Corte. A avaliação interna é de que o Supremo não pode ficar inerte diante dos movimentos de Dallagnol. Pelo menos dois ministros pediram que o assunto seja incluído no inquérito aberto para apurar ataques contra os ministros e demais membros do Supremo. De qualquer forma, a pressão agora recai sobre a procuradora-geral Raquel Dodge.
» Pelo menos duas ações de ontem dos ministros do Supremo podem ser interpretadas como freios e contrapesos na visão deles em relação à força-tarefa da Lava-Jato. A primeira foi a determinação de Alexandre de Moraes de suspender a investigação na Receita sobre 133 contribuintes, entre eles Mendes, e de mandar afastar dois servidores do órgão federal.
» A segunda foi a liminar concedida pelo ministro Luiz Fux, determinando que os registros de diálogos hackeados a partir de celulares sejam preservados. O ministro da Justiça, Sérgio Moro, havia avisado a políticos que as mensagens seriam inutilizadas. Os próprios magistrados da Corte reagiram na semana passada a tal ideia, ato confirmado por Fux a partir de um pedido do PDT para que os diálogos, incluindo do próprio Moro, fossem conservados. O movimento de Fux tem caráter provisório e precisa ser conformado pelo plenário do STF.
» Em tempo: a imagem de Moro entre os integrantes da Corte se desgasta a cada dia.
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A volta da polarização/ Os ataques do presidente Jair Bolsonaro ao PT na cerimônia do lançamento do programa Médicos pelo Brasil não surpreenderam auxiliares governistas. Depois de focalizar as últimas polêmicas no presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, o diagnóstico feito por assessores é de que seria preciso uma nova estratégia para mudar o disco e calibrar o discurso no que, efetivamente, levou o atual governo ao poder: a polarização. O balanço feito por governistas é de que o presidente acertou nas palavras, algo raro nos últimos dias.
Otimismo comedido/ Conselheiros dizem que é cedo para comemorar, mas celebram que Bolsonaro esteja evitando algumas polêmicas. Ontem, por exemplo, absteve-se de comentar as críticas proferidas pelo deputado do PSL de São Paulo Alexandre Frota (foto) e de associar — ao menos abertamente — as informações sobre crescimento do desmatamento divulgadas pelo Inpe a uma ligação entre o diretor da instituição, Ricardo Galvão, e partidos da oposição.
Na bronca/ O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), está insatisfeito com a letargia do governo em apresentar, de vez, a reforma tributária. Bolsonaro diz a todos que apresentará uma reforma que unifique impostos federais sobre consumo, mas, até agora, o discurso está só no papel. A pessoas próximas, Maia avalia que falta engajamento. Reclama que, para discutir uma reforma impopular, como a da Previdência, o governo foi rápido. E que, para discutir uma reforma com apelo popular, sente falta de engajamento.
Descontração/ O secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, e o secretário de Desenvolvimento do Distrito Federal, Ruy Coutinho, conseguiram se entender durante o Fórum Latino Americano de Infraestrutura. No evento, foram discutidos projetos estruturantes para Brasília, como o Gasoduto Brasil Central, hub de carga do Aeroporto JK e a privatização de empesas estatais.
Declaração contra presidente da OAB deixa Bolsonaro entre a cruz e a caldeirinha
Coluna Brasília-DF/ Por Leonardo Calvacanti
Caso venha a ter de prestar esclarecimentos formais sobre a morte de Fernando Santa Cruz — pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz —, o presidente Jair Bolsonaro passará por dificuldades. O desgaste será inevitável, segundo advogados ouvidos pelo Correio, com prejuízos políticos ou jurídicos. “Ele vai ter de escolher o caminho menos pior”, disse à coluna um jurista que acompanhou a feitura da ação impetrada no Supremo Tribunal Federal (STF) para que o capitão reformado explique como recebeu informações sobre o assassinato na ditadura.
Das duas, uma. Ou Bolsonaro terá de dizer como coletou dados sobre a morte e os autores do assassinato de Fernando e, assim, explicar a razão de ter ocultado até o momento tais informações — o que implicará um problema jurídico para ele — ou vai admitir que tudo não passou de uma “conversa fiada”, o que levará inevitavelmente a prejuízos políticos. O desgaste de um ou outro caminho a ser escolhido pelo presidente está no fato de ele ocupar a cadeira mais importante da República, na qual a responsabilidade é regra de ouro.
A escolha do ministro do Supremo Luís Roberto Barroso como relator da interpelação de Felipe Santa Cruz foi comemorada por advogados que acompanham o caso. A explicação está no fato de o magistrado ser comprometido com causas ligadas aos direitos humanos. A expectativa é de que Barroso acolha o pedido do presidente da OAB e peça, a partir daí, as explicações de Bolsonaro.
Silêncio de ouro
A leitura feita no Parlamento é de que, no momento, o melhor para o governo é manter Bolsonaro de boca fechada, o que parece impossível. No Congresso, há clima favorável para apoiar formalmente o Executivo, com a construção de base de apoio constituída pela composição de parte do Centrão. O problema, criticam aliados, é que as conversas estão estagnadas. Sendo assim, o recesso parlamentar vai terminar com o governo sem uma tropa de choque para apoiá-lo. Até que a base governista esteja formada, dizem que o melhor que Bolsonaro pode fazer é ficar quieto.
Sem tutela
O trabalho para fazer Bolsonaro ficar em silêncio, no entanto, não tem sido simples. Assessores, ministros e demais conselheiros dizem que, embora ele reconheça que precisa dosar melhor o discurso, a fim de evitar um desconforto maior junto aos parlamentares, não quer ser tutelado em tudo. Uma independência que preocupa a cúpula do Planalto.
Festa do arroz // Ex-vice-líder do governo Michel Temer na Câmara dos Deputados, Beto Mansur (MDB) tem frequentado eventos políticos promovidos pelos aliados do presidente Jair Bolsonaro. Foi assim ontem, durante a assinatura de concessão de um trecho da ferrovia Norte/Sul, em Anápolis (GO). Ex-deputado e ex-prefeito de Santos (SP), Mansur fez questão de compartilhar fotos cochichando com Bolsonaro ao lado do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM). Vale lembrar que, na mesma época do ano passado, a página do Instagram do então parlamentar era recheada de vídeos com Temer.
Recife falando para o mundo // A candidatura do deputado federal João Campos (PSB) — filho do ex-governador Eduardo Campos — à prefeitura do Recife é um segredo de polichinelo. João não só é concorrente, como também já tem adversários. Na disputa, estão os também deputados federais Daniel Coelho (Cidadania) e Marília Arraes (PT), prima de João Campos. As chances de a sucessão de Geraldo Júlio (PSB) ser uma guerra entre atuais integrantes da Câmara aumentam com as eventuais presenças de Túlio Gadelha (PDT) e Raul Henry (MDB).
Índios // Na Esplanda, os integrantes do alto escalão arrumaram uma desculpa para se manter calados em relação ao conflito entre índios e garimpeiros no Amapá. Enquanto a titular dos Direitos Humanos, Damares Alves, diz que não se manifesta por não estar à frente da Funai, o chefe da Justiça, Sérgio Moro, tem o argumento de que, pelo menos oficialmente, a fundação ainda não chegou à pasta. A burocracia de Brasília como escapadela.
Comemoração // O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, comemorou ontem o encerramento de dois inquéritos abertos contra ele nas eleições de 2014, quando venceu a eleição no Amapá. A ministra do Supremo Rosa Weber acolheu parecer do Ministério Público e arquivou as investigações sobre uso de documentos falsos na prestação de contas.
Colaboraram Bernardo Bittar e Rodolfo Costa
Gastos do governo com cyberdefesa caem ano após ano, mostra levantamento
Coluna Brasília-DF/ Por Leonardo Calvacanti
Gastos federais para a proteção de ambientes virtuais despencam ano a ano, desde 2012. Levantamento da Associação Contas Abertas, feito com exclusividade para o Correio, revela que a ação 147F de implantação de sistema nacional de defesa cibernética autorizou, a partir daquele ano, até o último mês de julho, R$ 637,1 milhões (em valores constantes, IPCA). Mas apenas R$ 378,6 milhões foram pagos efetivamente.
Uma das descrições da ação 147F é a de “ampliar a capacidade do país de atuar com liberdade de ação; a fim de elevar o nível de segurança da informação e das comunicações; assim como a capacidade de defesa nas esferas civil, industrial e militar, para atuação em ataques de natureza cibernética”. Entre os oito anos verificados no Orçamento, o ápice dos gastos ocorreu em 2012 (R$ 167 milhões). Segundo o Contas Abertas, o maior desembolso em valores efetivamente pagos ocorreu em 2016 (R$ 67 milhões).
As despesas despencaram nos últimos anos. Em 2018, foram gastos em valores constantes, atualizados pelo IPCA, apenas
R$ 34,8 milhões — menor valor anual desde 2012. Em 2019, estão autorizados R$ 31,3 milhões. Até 27 de julho, foram consumidos R$ 15,7 milhões (50,1% do valor autorizado), incluindo os restos a pagar.
Ministério
Os recursos entregues até agora, segundo o Ministério da Defesa, foram para obras na Escola Nacional de Defesa Cibernética; adequação do saneamento no Forte Marechal Rondon — local em que se encontram instalações relacionadas à Defesa Cibernética, no Distrito Federal; e celebração de convênios e parcerias com centros de pesquisa para o desenvolvimento e a implementação de soluções de segurança da informação e das comunicações.
Celulares
Em tempo: a ação 147F não abrange proteção a aparelhos celulares de autoridades do Executivo, parte delas vítimas dos hackers de Araraquara. Tal missão é do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
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Tranquilão/ Tido como o “cabeça” do grupo acusado de hackear celulares de nomes do alto escalão do governo — como Bolsonaro e o ministro da Justiça, Sérgio Moro —, Walter Delgatti Neto não demonstrou nervosismo ao ser submetido à audiência de custódia ontem pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira (foto), titular da 10ª Vara Federal de Brasília. No interrogatório, o suspeito falou por cerca 12 minutos e, ao contrário dos outros três investigados, não fugiu das acusações de que teria invadido ao menos mil aparelhos de autoridades. “Tudo que fiz até agora foi por livre e espontânea vontade.”
Advogado na mira/ Nem mesmo Ariovaldo Moreira, advogado de defesa de dois dos investigados — o casal Gustavo Henrique Elias Santos e Suelen Priscila de Oliveira —, ficou refém do hackeamento de Delgatti. Após a audiência de custódia, ele revelou que o hacker tentou invadir o aparelho celular. Segundo Ariovaldo, Delgatti sabia de cor o número do aparelho dele. “Ele (o hacker) falou: ‘Eu tentei, tanto que o seu telefone é…’, e disse o número, na frente de todo mundo”, comentou o advogado. “Mas Delgatti sempre foi assim”, acrescentou.
Estilo/ Enquanto os demais membros do grupo compareceram ao Edifício-sede 3 da Justiça Federal de Brasília com roupas simples, no caso de Danilo Cristiano Marques e Gustavo Henrique Elias Santos — ou com uniforme de presidiária, como ocorreu com Suelen Priscila de Oliveira —, Delgatti não economizou no estilo: apareceu de terno azul-escuro, camisa social-azul claro e mocassim marrom.
Medo do avião/ O voo que trouxe os suspeitos de São Paulo a Brasília, na terça-feira da semana passada, causou calafrios em dois dos investigados. Algemados, segundo disseram na audiência de custódia, Delgatti e Danilo Cristiano se assustaram com as condições do avião da Polícia Federal. “Fiquei com medo de ele cair”, disse Walter. “O avião era perigoso”, reforçou Danilo Cristiano.
Declaração de Bolsonaro sobre presidente da OAB constrange delegados da PF
Coluna Brasília-DF/ Por Leonardo Calvacanti
A vergonhosa e tosca declaração de Jair Bolsonaro sobre o pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, é um incômodo duplo do capitão reformado. O primeiro com o próprio chefe da entidade de classe, vítima de uma série covarde de fake news divulgada por integrantes de tropas de bolsominions nas redes sociais há pelo menos dois anos.
Tal incômodo de Bolsonaro está relacionado com ações da OAB regional e nacional envolvendo declarações anteriores do político do PSL, como as que enaltecem o covarde torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. Agora, vai se incomodar com mais uma: a própria interpelação de Santa Cruz promete levar ao Supremo Tribunal Federal (STF) por causa da entrevista desassisada de ontem do presidente brasileiro.
A segunda bronca de Bolsonaro é com a investigação da Polícia Federal envolvendo Adélio Bispo, autor do ataque à faca contra o então candidato ao Palácio do Planalto, em 2018. O presidente não se convenceu com as apurações, que apontaram que o criminoso agiu de maneira solitária, ao contrário do que tentam fazer acreditar as redes de bolsominions, que associam a facada a uma ação política mais ampla.
Não é a primeira vez que Bolsonaro faz tal cobrança, que se espalha entre os seguidores, deixando delegados numa situação para lá de constrangedora. No final de fevereiro, o capitão reformado cobrou que a corporação acelerasse a investigação sobre o “ato terrorista”. Na época, em mensagens privadas, policiais chegaram a dizer que o presidente perdeu a oportunidade de ficar calado.
Desconhecimento
Apesar de dizer que sabe qual foi o destino de Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira, pai de Felipe, Bolsonaro não tem qualquer informação. Mas, mesmo sem ter dados, pode ter que explicar no Supremo o que disse.
Moro e o silêncio
Há poucos silêncios tão ensurdecedores quanto o do ministro da Justiça, Sérgio Moro, com o episódio dos ataques de Bolsonaro à memória de um desaparecido político, inclusive pela forma como foi feita, ao tentar constranger o filho, que na época tinha 2 anos. E aqui não está em jogo uma defesa ou um ataque ao presidente — o ex-juiz não faria tal coisa —, mas qual é mesmo a opinião de Moro sobre a ditadura e as torturas. Seria bom saber também o que ele acha da investigação da PF sobre Adélio.
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Um olho na segurança digital…/ A reforma tributária será a noiva da vez na Câmara, depois da aprovação em segundo turno da reforma da Previdência. Porém, como ainda não há consenso sobre “qual” matéria será prioritária, um outro texto deve ganhar status de prioridade: o Projeto de Lei nº 2.303/2015, que prevê a regulamentação das criptomoedas no Brasil na definição de “arranjos de pagamento”, sob a supervisão do Banco Central.
… com prioridade…/ A regulamentação das criptomoedas é um projeto pessoal do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Chegou a ser tratado como prioritário por ele enquanto a reforma da Previdência ainda tramitava na Comissão Especial. E, depois das informações de que ele também foi alvo de supostos hackers presos pela Polícia Federal, pessoas próximas dizem que a matéria ganhou ainda mais importância. Afinal, é comum os cibercriminosos serem remunerados ou fazerem transações por meio dessas moedas digitais.
de Estado…/ O projeto das criptomoedas será apreciado em uma comissão especial a partir do retorno das atividades parlamentares. O presidente do colegiado, Augustinho Ribeiro (SD-SE), tem sinal verde para acelerar o debate. “O momento é oportuno para debatermos o tema, com tudo o que acontece no país, tendo em vista que as moedas virtuais servem a criminosos, para que possam receber até pelo seu serviço”, sustenta.
… e outro olho na cybereconomia/ O interesse do Parlamento na matéria, no entanto, não se refere apenas à segurança. A regulamentação das bitcoins pode valorizar bastante quem investe nas moedas digitais. E, quando se trata disso, não se fala apenas de hackers. Investidores e até mesmo alguns parlamentares têm interesse pessoal.
Presidente do PSL comemora possível ida de Eduardo Bolsonaro para embaixada
Coluna Brasília-DF/Por Leonardo Calvacanti
A indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada brasileira nos Estados Unidos, em Washington, não preocupa o presidente do PSL, Luciano Bivar. Pelo contrário. A pessoas próximas, ele confidencia que vê até com bons olhos. Não é para menos. Para ser embaixador, o filho de Bolsonaro precisaria se desfiliar.
Com isso, os recursos do fundo partidário que seriam destinados a ele ficariam com o partido. Se o Congresso aprovar a ampliação prometida para o fundo, o partido terá quase R$ 500 milhões para as eleições de 2020. Cálculos internos apontam que os votos de Eduardo correspondem a 20% do fundo.
Como esta coluna já mostrou, as chances de aprovação de Eduardo Bolsonaro, tanto na Comissão de Relações Exteriores quanto no plenário, são enormes. As duas votações são por maioria simples. Há poucas possibilidades de os senadores recusarem um pedido pessoal do presidente — a crise aberta teria proporções inimagináveis.
O custo político da aprovação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada e da reforma da Previdência no Senado vai implicar mudanças na diretoria do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão subordinado ao Ministério da Educação, com orçamento de cerca de R$ 55 bilhões. No Congresso, as informações são de que o PP tem as digitais nesse processo. As indicações contam com o sinal verde do DEM, que preside as duas Casas no Parlamento.
Olho nas bases
Boa parte dos deputados do PSL está nas respectivas bases eleitorais. Isso porque o partido se prepara para um dia nacional de filiações, em 17 de agosto. O problema é que parlamentares criticam a desorganização. O evento ocorrerá em diversos estados e em diferentes municípios numa mesma unidade da Federação, como no próprio Rio de Janeiro, que terá mais de um evento no estado.
Chamada final
O prazo para a apresentação de emendas à reforma tributária da Câmara termina logo no início de agosto. Com isso, há uma corrida contra o tempo para bolar sugestões de aperfeiçoamento do texto. No entanto, diferentemente da reforma da Previdência, a atenção é bem menor. Bom para aqueles que defendem o mínimo de modificações na proposta de emenda à Constituição (PEC) 45/2019.
CURTIDAS
Generais // Em 5 de agosto, uma segunda-feira, os generais Alberto Cardoso e Eduardo Villas-Boas abrirão o ciclo de diálogos do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal. O tema do evento é a “Construção do pensamento político do Brasil” e ocorrerá na sede do instituto a partir das 19h. Villas-Boas é ex-comandante do Exército, e Cardoso, ex-chefe do GSI.
Prêmio // Os vencedores do 16º Prêmio Engenho de Comunicação serão conhecidos em 5 de setembro durante cerimônia na Embaixada de Portugal, em Brasília. Criada em 2004, a premiação é destinada a jornalistas e veículos de comunicação da capital federal. “Os jornalistas de Brasília merecem uma premiação que destaque os serviços que prestam a todos do país”, diz a presidente do Prêmio Engenho e criadora da premiação, Kátia Cubel.
Debate // O Correio realizará, em 6 de agosto, das 9h às 14h, o debate Como fazer os juros caírem no Brasil. O evento reunirá alguns dos maiores especialistas no assunto. Para participar, basta se inscrever, gratuitamente, pelo site: www.correiobraziliense.com.br/correiodebate/juros. As vagas são limitadas.
Colaborou Rodolfo Costa
Procuradores querem saber por que só as mensagens da Lava-Jato foram divulgadas
Coluna Brasília-DF
A extensão dos telefones hackeados pelos presos na operação Spoofing mostra que o ministro da Justiça, Sérgio Moro, ganhou fôlego. Uma coisa era uma ação centralizada nos integrantes da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba — entre descuidos e troca de informações sobre o processo, as imagens do ex-juiz e do procurador Deltan Dallagnol se desconstruíam dia a dia.
Com as revelações de ontem e com parte da República hackeada, Moro agora tem com ele personagens dos Três Poderes na defesa da própria narrativa: a de que a divulgação das conversas foi feita a partir de um crime. Ele conta com o trunfo da identificação dos hackers e o aprofundamento das investigações da Polícia Federal.
O ministro terminou o dia de ontem melhor do que começou, ganhando tanta confiança que fechou o expediente com uma espécie de pito do ministro do Supremo Marco Aurélio Mello. O magistrado disse à Folha e ao Correio que apenas o Judiciário poderá decidir se as mensagens apreendidas com os hackers serão destruídas, ao contrário do que havia dito o ex-juiz a autoridades.
Por sua vez, os procuradores da Lava-Jato em Curitiba ficaram surpresos ao saber do alcance da quadrilha de hackers que atacou. Agora, a expectativa deles é de que a investigação esclareça se houve patrocinador para que o serviço começasse e continuasse. Os procuradores esperam ainda que seja esclarecido por que a divulgação estava concentrada exclusivamente nos procuradores e no ex-juiz da Lava-Jato.
Perdão nordestino / As críticas e afagos de Jair Bolsonaro ao Nordeste estão, pouco a pouco, sendo digeridas no Congresso. Sobretudo por parlamentares da Paraíba e do Maranhão. O líder do PL, Wellington Roberto (PB), avalia que o presidente foi infeliz, mas sugere que, se há uma intenção de se redimir e mostrar que não tem preconceitos, pode fazer isso liberando emendas parlamentares para saúde e educação. O líder do PTB, Pedro Lucas Fernandes (MA), concorda. “É uma oportunidade de levar mais políticas públicas à região.”
Problema à vista / A liberação de emendas, no entanto, esbarra na conclusão do Projeto de Lei do Congresso Nacional (PLN) que pedirá mais um crédito suplementar para quitar os compromissos. A questão é que o governo ainda não concluiu o texto. Líderes partidários que, inclusive, se encontram em Brasília em pleno recesso parlamentar, sustentam que não foram chamados para tomar conhecimento da proposta — uma exigência para a votação do segundo turno da reforma
da Previdência.
Na crista da onda / A demora para apresentar o PLN gerou bônus ao líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO). Afinal, o compromisso em apresentar o crédito suplementar foi feito pela líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), e pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Pelo simples fato de não ter prometido a liberação de emendas, Vitor Hugo está com moral elevada junto aos demais líderes.
Lamento de Temer / O ex-presidente Michel Temer ficou abalado com a hemorragia cerebral sofrida por Eliseu Padilha, ex-ministro-chefe da Casa Civil. Os dois são amigos há mais de 30 anos. No partido, Padilha toca a Fundação Ulysses Guimarães como vice-presidente, fazendo cursos e preparando a próxima safra de políticos da legenda. A ausência do político no período que estiver hospitalizado abre espaço para a disputa de poder entre caciques.
Decisão de Toffoli limita trabalho da PF em ação contra hackers
Coluna Brasília-DF/Por Leonardo Calvacanti
A decisão do ministro Dias Toffoli, que proíbe a continuidade de investigações que utilizem dados de Coaf, Receita e Banco Central sem autorização da Justiça, limitou o trabalho da PF no caso dos hackers.
Os investigadores cogitaram abortar as diligências até que o tema fosse analisado pelo plenário do STF. No entanto, as equipes decidiram evitar avançar em detalhes das transações financeiras para não entrar em choque com a determinação do ministro.
Ficou decidido que as movimentações mensais nas contas dos acusados eram estranhas o suficiente para motivar um pedido de prisão na Justiça. A avaliação de momento é de que o trabalho ainda poderá ser prejudicado caso o STF mantenha o entendimento de Toffoli.
Há poucos elementos para relacionar prisão de hackers a diálogos do Intercept
Coluna Brasília-DF/Por Leonardo Calvacanti (interino)
Ainda há poucos elementos — pelo menos até aqui — para se chegar a uma relação entre os hackers presos na operação da Polícia Federal e o vazamento das conversas entre os procuradores da Lava-Jato e o ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Nada mais fértil no terreno das especulações de Brasília do que incertezas e pouca informação. Depois da ação da PF, o que se viu foi uma guerra de narrativas, a começar pelo próprio ex-juiz.
No início da tarde, pelo Twitter, Moro, ao parabenizar a Polícia Federal, num texto enviesado, escreveu: “Pessoas com antecedentes criminais, envolvidas em várias espécies de crimes. Elas, a fonte de confiança daqueles que divulgaram as supostas mensagens obtidas por crime”.
A questão é — tirando o fato de que o ministro pode ter maiores informações sobre as prisões — que a relação entre a ação da Polícia Federal e o conteúdo divulgado pelo site Intercept ainda é impossível de ser estabelecida, por absoluta falta de elementos.
Mas, aí entra a outra narrativa, a de que há uma cortina de fumaça e “bodes expiatórios” foram presos para que se achem culpados pelo vazamento. Nos bastidores, quem acompanhou a investigação garante que nem tanto ao mar nem tanto à terra. Uma coisa é ter achado, numa operação de sucesso, os hackers que invadiram o celular de Moro, outra é fazer uma ligação com o vazamento da Lava-Jato.
Gato escaldado…
Assim como nas investigações envolvendo Adélio Bispo de Oliveira — em que os delegados se sentiram pressionados pelo presidente Jair Bolsonaro a encontrar uma conexão mais ampla para o atentado —, a turma da Polícia Federal agora tenta se blindar de interferências políticas no caso dos hackers. O receio é de que se aumente a tensão para chegar de qualquer forma a uma relação com os vazamentos das conversas do pessoal da força-tarefa da Lava-Jato.
Luz ao fim do túnel / Nem tudo está perdido para o governo. O deputado Arthur Lira (PP-AL), líder da legenda na Câmara, brigou com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, na votação da Previdência. O demista iniciou a votação da matéria à revelia do pepista.
Não pegou bem, e o líder iniciou o recesso parlamentar na bronca. Dentro do partido, parlamentares dizem que é chegada a hora de o PP comandar movimento de composição de parte do Centrão com o governo.
Cadê a base? / A solenidade do Saque Certo, ação governista que vai injetar R$ 30 bilhões na economia em 2019 via saques do FGTS, foi prestigiada por uma boa quantidade de colaboradores da Caixa, por secretários e representantes do Ministério da Economia e… por 10 deputados.
Era esse o número de cadeiras reservadas aos parlamentares. Mesmo em período de recesso, a leitura de alguns é de que faltou mais engajamento da articulação política do governo. Afinal, trata-se de uma MP, que ainda precisará ser aprovada pelo Congresso.
Direito / Fábio Medina Osório, ex-advogado-geral da União, se tornou o novo e primeiro presidente da Comissão Especial de Direito Administrativo Sancionador da OAB nacional.
Coluna Brasília-DF/ Por Leonardo Calvacanti (interino)
Por mais desastrosa que a declaração de Jair Bolsonaro sobre nordestinos possa ter sido, a ausência do governador da Bahia, Rui Costa (PT), na inauguração do aeroporto de Vitória da Conquista, levou estrategistas do Planalto a comemorarem.
A estratégia do pessoal que entrou em campo para gerenciar a crise aberta pelo próprio capitão reformado foi posta em prática na manhã de ontem e se limitava ao contraponto entre Bolsonaro e os chefes dos executivos regionais de oposição.
Como ficou ao lado de aliados e de uma claque de convidados, e sem a presença de Costa, o presidente tentou se defender. Ganhou espaço nas tevês e na internet.
Agora, é esperar as pesquisas de opinião para avaliar qual o tamanho do desgaste com a declaração de Bolsonaro.
A avaliação no núcleo do PT — incluindo aí o senador Jaques Wagner (BA) — é a de que Costa delimitou espaço e isolou o presidente.
A popularidade do petista está em alta no estado, a ponto de um vídeo postado por ele para explicar a ausência ter ganhado visibilidade nas redes.
Costa acusou o Planalto de ter selecionado os convidados, deixando a população de fora do evento. Também exaltou as administrações passadas, como a de Dilma Rousseff, responsáveis pela maior parte das obras.
Verificação I
Segundo monitoramento da Levels Inteligência em Relações Governamentais, nas redes sociais, as mensagens geradas por grupos favoráveis a Bolsonaro representaram 57% do monitoramento; em usuários únicos, esse número se manteve estável, 55%.
A narrativa de maior abrangência na rede traçou críticas genéricas aos grupos que estariam se opondo ao presidente, 35%.
Mensagens em defesa das críticas dele a governadores nordestinos ocuparam 10%, e repercutiram principalmente tuítes do próprio presidente e de sua equipe de governo, com destaque para o ministro Sérgio Moro.
Verificação II
As narrativas contrárias à declaração do presidente repercutiram em 43% da rede monitorada. Quando analisada em usuários únicos, a porcentagem desse grupo subiu para 45% da rede. A rede critica o chefe do Executivo por sua relação com o Nordeste.
Para 28%, ele apresenta um histórico de suposto descaso com a região, tendo em vista que sua primeira viagem oficial ao Nordeste ocorreu em maio, cinco meses após a posse.
As postagens enfatizaram o caráter preconceituoso das falas do capitão, 4%, e questionam se esta polêmica pode dificultar a aprovação da reforma da Previdência, que será votada em segundo turno em agosto.
Alertas
Segundo os analistas da Levels, a estratégia de comunicação do presidente é assertiva em mobilizar sua rede, mas perpetua a forte polarização que tem marcado o debate político, além de não fortalecer a narrativa de que governadores de oposição têm prejudicado o desenvolvimento do Nordeste.
“Nesse sentido, as visões regionalistas têm maior abrangência, destacando o caráter preconceituoso das falas do presidente, dificultando ainda mais a entrada de Bolsonaro na região.”
O problema… // Bolsonaro vai ter que se esforçar mais para ganhar o prestígio de lideranças do Nordeste do que os afagos dados na cerimônia de ontem, na Bahia.
A estratégia do presidente em construir apoio na região esbarra não apenas na resistência de parlamentares da oposição, mas, também, de partidos de centro.
Deputados da região dizem que o governo não vai ter suporte na base de agrados, que dirá no discurso de radicalização.
… é mais embaixo // O problema em construir apoio passa pelo Nordeste, mas vai além. Afinal, a construção da base governista no Parlamento está nos líderes.
Na Câmara, tirando a oposição, oito partidos são liderados por deputados nordestinos que, juntos, comandam 184 deputados.
São os casos do PSC, Cidadania, PP, PL, PSD, Solidariedade, DEM e PTB. E, por ora, é baixa a disposição para compor com o governo. O líder do Cidadania, Daniel Coelho (PE), por exemplo, garante que não há nenhuma pretensão do partido em “ser governo”.
Opções contra greve I //O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, tenta encontrar soluções adicionais para os problemas dos caminhoneiros.
Em contato com líderes da categoria, ele se dispôs a estudar o cumprimento da fiscalização da chamada Lei do Descanso.
Prometeu que pediria para a equipe técnica da pasta comandar estudos que apontem para a eficácia da proposta.
Opções contra a greve II // O governo atribui os problemas do baixo custo do frete à oferta muito maior de caminhões do que a demanda pelos serviços. Caminhoneiros trabalham em média 16h por dia, o dobro das 8h diárias previstas na Lei do Descanso.
Parte das lideranças da categoria sustenta que uma fiscalização dura o suficiente para punir quem descumpre a legislação pode, na ponta, equilibrar a oferta e demanda.