George Simenon escrevia romances policiais pra lá de instigantes. O segredo dele: “Livro-me de todo vocábulo que está na frase só para enfeitar… ou atrapalhar”. O homem faxinava o texto. Cortava palavras.
Quais? Seu e sua. Eles são aparentemente inofensivos. Mas causam senhores estragos. Sabe por quê? Às vezes, dão duplo sentido à declaração. Acontece, então, o que Mário Quintana sintetizou: “Você pensa uma coisa. Escreve outra. A pessoa entende outra. E a coisa propriamente dita desconfia que não foi dita”. Veja:
O presidente garantiu aos parlamentares que o seu esforço levaria à aprovação da reforma.
Esforço de quem? Dos parlamentares? Do presidente? A frase é ambígua. Permite dupla leitura. O que fazer? Partir para o troca-troca. Substituir o possessivo pelo pronome dele:
O presidente garantiu aos parlamentares que o esforço dele (ou deles) levaria à aprovação da emenda.
Por falar nisso…
Certas palavras rejeitam o possessivo. Aproximá-los é briga certa. Gente boa, evite confusões. Não o use com:
- as partes do corpo: Na batida, quebrou a perna (nunca sua perna). Arranhou o rosto. Fraturou os dedos.
- os objetos de uso pessoal: Calçou os sapatos (não seus sapatos). Pôs os óculos. Vestiu a saia.
- as qualidades do espírito: Perdeu a consciência (não sua consciência). Mudou a mentalidade (não sua mentalidade).
Dica: em 90% dos casos, o possessivo sobra. Xô! Assim: Paulo fez a (sua) redação. Pegou o (seu) carro. Perdeu as (suas) chaves.
É isso. Escrever é cortar. Ou trocar.