Datas comemorativas exercem papel que vai além de cumprimentos, presentes e palavras bonitas. Elas jogam os holofotes sobre fatos que merecem ser vistos com mais atenção. Por figurarem no calendário, ganham espaço na mídia e sobressaem da normalidade inercial.
Como Jano, o deus de duas caras da mitologia greco-romana, impõem um olhar para o passado e outro para o futuro. Em outras palavras: analisam o que foi feito e traçam os avanços para o aperfeiçoamento contínuo. Daí a relevância do Dia da Mulher, Dia do Trabalho, Dia de Finados, Dia da Abolição da Escravatura.
Hoje é Dia do Professor. Ao lado do médico, que salva vidas, o mestre salva o futuro. Na pandemia, que pegou o mundo de surpresa e as escolas despreparadas, gigantes multiplicaram as forças, buscaram saídas e retiveram os alunos no sistema escolar. Trocaram o pneu com o carro em alta velocidade.
De um lado, se familiarizaram com a tecnologia – negligenciada nos cursos de pedagogia, cujos currículos olham para o século 20 e ignoram os desafios da contemporaneidade. Prepararam e ministraram conteúdos de forma remota. De outro, ficaram atentos aos excluídos.
Sem acesso a computador ou a internet, eles corriam o risco de ver ampliar-se o fosso da marginalidade. Professores, a exemplo dos médicos que repetem o mantra “nem um a menos”, levaram material impresso para a casa das crianças e orientaram a aprendizagem.
Acionaram ONGs, igrejas, clubes sociais, rádios comunitárias e deram aula ao ar livre para conservar o elo aluno-escola. Muitos pegaram barco para chegar às populações ribeirinhas. Outros, bicicletas, carroça ou o próprio carro. Eles sabem que o evadido do convívio dos livros corre sério risco de figurar na lista dos jovens cujo destino termina com c – caixão ou cadeia.
Os quase 2,5 milhões de docentes brasileiros merecem o reconhecimento do imperador japonês, que só faz reverência ao mestre. Ou as palavras de D. Pedro II, que repetia com sinceridade: “Se eu não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências juvenis e preparar os homens do futuro”.
Além dos mestres, os 57 milhões de estudantes, as respectivas famílias e os brasileiros em geral esperam as palavras de Milton Ribeiro. O ministro da Educação deve desculpas à nação. Em entrevista, disse que “ser professor é ter quase uma declaração de que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa”. Melhor reconhecer: a pessoa conseguiria ser o que quisesse. Escolheu ser professor. A pandemia serve de prova.
(Editorial do Correio Braziliense de hoje)