Mudar pra ficar na mesma

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Dad Squarisi // dadsquarisi.df@diariosassociados.com.br

Urgências? O Brasil tem muitas. A saúde pede socorro. Sobram pacientes, mas faltam leitos, remédios, profissionais. A segurança assusta. Homicidas, latrocidas, traficantes fazem a festa com crescente desenvoltura. O cidadão ergue grades, tranca portas, esconde-se em casa. Torna-se prisioneiro enquanto os bandidos invadem ruas, escolas, comércio e prédios.

A educação não fica atrás. Pais fazem a parte deles. Mandam os filhos à escola. Passados os anos, descobrem que ter o nome na lista de chamada não significa acesso ao conhecimento. Crianças tornam-se jovens incapazes de ler e entender, escrever e ser entendido, resolver questão que envolva as quatro operações. Em suma: bancos escolares viraram sinônimo de perda de tempo.

Ano após ano, fazem-se avaliações. Ano após ano, confirma-se o diagnóstico — a escola vai mal. O mais recente retrato da tragédia mostrou o ensino médio de corpo inteiro. Na lista do Enem, os colégios municipais e estaduais figuraram na rabeira. Os particulares, no topo. Ora, como a maior parte da população depende de instituições públicas, algo precisa ser feito. E não é de hoje.

O ensino fundamental é exigência da Constituição. Pais que não matriculam os filhos correm o risco de parar atrás das grades. A obrigatoriedade, porém, para aí. O descalabro revela-se, então, sem eufemismos. Situado no meio do caminho, o nível médio serve de ponte para a universidade. Mas muitos não têm vocação para a academia. Mesmo assim, têm de se submeter à decoreba sem fim pra passar no vestibular. Sem base e sem motivação, a moçada cai fora. Resultado: torna-se presa fácil do tráfico & cia. bandida.

O que fazer? O MEC anunciou projeto de mudanças — distribui as 12 disciplinas em quatro grupos (línguas, matemática, humanas, exatas e biológicas) e aumenta a carga horária (de 2.400 para 3 mil horas). O modelo está previsto nas diretrizes do ensino médio desde 1988. De lá pra cá, o país não se preparou pra novidade. Mas quer implantá-la em 2010. Conclusão: sem qualificar professores, equipar laboratórios e modernizar bibliotecas, confirma-se a tese do italiano Giuseppe di Lampedusa. Muda-se pra ficar tudo na mesma.

(artigo publicado em Opinião do  Correio Braziliense)