Misericórdia divina

Publicado em Grafia, Regência verbal, verbo

O papa Francisco avançou no alcance da misericórdia. Antes, para ser perdoada, a mulher que praticou aborto tinha de recorrer ao bispo. Agora o padre pode fazê-lo. Não deixar um ser humano nascer continua crime para a Igreja, mas a absolvição tornou-se mais fácil. “Não há pecado que ultrapasse a misericórdia de Deus”, disse o pontífice.

O anúncio da boa-nova trouxe perplexidade e, com ela, tropeços linguísticos. Confusão de grafia e de regência fez a festa. Dois verbos sobressaíram. Um deles: absolver. O outro: perdoar. Levantar-se e dar a volta por cima é fácil como tirar chupeta de bebê. Quer ver?

 

Absolver x absorver

Uma letra faz a diferença. Absolver significa perdoar, remir. Absorver, sorver, consumir: Deus absolve os pecados. O juiz absolveu o réu. O esforço lhe absorveu a energia.

 

Perdoar

O vício de Deus? É perdoar. Daí a generosidade do verbo. Ele pode jogar em quatro times:

  1. Intransitivo, sem complemento: Perdoa para seres perdoado.
  1. Transitivo direto (perdoar alguém ou alguma coisa): Deus perdoa as ofensas. Perdoai os nossos pecados, Senhor. O pai perdoa o filho.

       3. Transitivo indireto (perdoar a alguém): A Receita perdoa aos devedores. Deus perdoa aos pecadores. Perdoou aos assassinos do filho.

  1. Transitivo direto e indireto (perdoar alguma coisa a alguém): O patrão perdoou aos empregados as falhas cometidas. Deus lhes perdoou os pecados. A lei perdoou a dívida aos devedores.