A pandemia revelou verdades antes despercebidas. Trata-se da luta de médicos e professores. Eles jogam no mesmo time. Ambos trabalham com a mais preciosa matéria-prima – a vida. Conjugam também o mesmo verbo. Salvar. Mas, no Brasil, um oceano os separa. Uns vivem no século 21. Os outros, no 19.
Se um cirurgião dos anos 1800 entrar hoje numa sala de operação, será incapaz, até, de reconhecer um bisturi. Um professor da mesma época dará a aula com a desenvoltura de então. Talvez encontre alguma maquiagem aqui e ali. Em vez do quadro-negro, quadro branco. Com sorte, eletrônico.
Na era digital, em que a inovação é a ordem, a educação continua analógica, voltada para a revolução industrial – horários rígidos, menininhos de uniforme, sentadinhos um atrás do outro, recebendo o mesmo conteúdo do mestre que detinha o monopólio do saber. Preparavam-se, à época, operários pra linha de montagem. Quanto mais iguais, melhor. Deu certo.
Ocorre que as crianças de hoje nascem digitais. Mas a escola, ao contrário da medicina, negou-se a fazer a leitura correta do tempo. Manteve-se no passado. Com a informação na palma da mão e as bibliotecas do planeta no kindle, ninguém precisa do blá-blá-blá do pseudo-Google pra saber que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil, que Michelangelo esculpiu Davi, que Bethoven compôs a Quinta Sinfonia, que o Japão fica na Ásia. Precisa, sim, saber onde encontrar o que procura e como discriminar o certo do errado.
Ninguém passa por internação hospitalar a passeio. O paciente tem a oportunidade de presenciar ao vivo a dedicação das equipes de saúde. Impressiona a determinação obstinada. Eles não desistem do paciente jamais. Mesmo quando os exames dizem que o prazo de validade está vencido, mantêm a luta e a esperança.
O mesmo ocorre com os professores. Nós não desistimos de nossos alunos. Nem os deixamos para trás. Cada estudante carrega um drama diferente que interfere nos estudos. Temos de ajudá-los a superá-los para que não interfiram na aprendizagem. É o que os mestres têm feito Brasil afora. Além de ministrar ensino a distância, socorrem os sem-internet entregando material impresso na casa de cada um.
Os médicos e os professores têm dois denominadores comuns: o primeiro: eles salvam vidas. Nós salvamos o futuro. O segundo: eles não desistem nem diante das evidências. Nós também não desistimos jamais. Graças a nosso esforço, jovens ocuparão lugar de destaque em vez de celas desumanas, superlotadas e sem saída.