Manhas do imperativo afirmativo e do negativo

Publicado em português

Imperativo deriva de império. A família diz tudo. Trata-se de clã com poderes absolutos. Imperador, imperial e imperioso são alguns dos membros que mandam e desmandam. Às vezes, as criaturas têm de baixar a crista. Em vez de ordenar, pedem. Ou suplicam. Em qualquer dos casos, o imperativo impera.

Sim e não

O imperativo joga em dois times. Num, libera a ação ou o modo de ser. É o afirmativo. Noutro, recusa. É o negativo. Pra não deixar dúvida, antecede as formas verbais de não.

Trate diferentemente os desiguais

O imperativo afirmativo exige atenção plena. Rigoroso, divide as pessoas do discurso em dois grupos. As segundas pessoas (tu e vós), preferidas dos gaúchos, ficam de um lado. As outras (ele, você, nós, eles), de outro. Nada de misturas.

Tratar diferentemente os desiguais”, reza o mandamento do mandão. Como? Recorrendo ao presente do indicativo e do subjuntivo. O tu e o vós derivam do presente do indicativo. Mas esnobam o s final. Assim:

Presente do indicativo: estudo, estudas, estuda, estudamos, estudais, estudam.

Imperativo afirmativo: estuda tu, estudai vós.

Simples, as demais pessoas não dão trabalho. Saem todas do presente do subjuntivo: que você estude, nós estudemos, eles estudem.

Eureca! Eis o imperativo afirmativo completo: estuda tu, estude você, estudemos nós, estudai vós, estudem vocês.

Negue

O imperativo negativo é curto e grosso. Sai todinho do presente do subjuntivo — sem tirar nem pôr. Pra não deixar dúvida, antecede-se do advérbio não. Veja: não estudes tu, não estude você, não estudemos nós, não estudeis vós, não estudem vocês.

Não misture

Vem pra Caixa você também”, diz o anúncio da Caixa Econômica Federal. Reparou? Ele misturou alhos com bugalhos. O alho: o verbo se dirige à segunda pessoa (vem tu). O bugalho: o pronome você conjuga o verbo na 3ª pessoa (você). Que tal desfazer a mistura? Há duas saídas. Uma: optar pelo tu (vem pra Caixa tu também). A outra: assumir o você (venha pra Caixa você também).

Outra cara

Se liga na revisão”, ordena o Telecurso 2000. Ops! Olha a salada de pessoas. O se é pronome de terceira pessoa. O liga, imperativo da segunda pessoa. Que indigestão! Vamos tratar bem a língua e o organismo. Escolhamos uma ou outra. Sem misturas: Te liga na revisão (tu). Se ligue na revisão (você).

Mais uma

Diga-me com quem andas e te direi quem és”, alardeia o povo sabido. O problema? A mistura de pessoas. Melhor descer do muro. Assumamos uma pessoa ou outra: Diga-me com quem anda e lhe direi quem é você. Dize-me com quem andas e te direi quem és.

Moral da história

Você tem poder? Mande. Não tem? Peça. Ou suplique. Mas faça-o bem. A receita: cuide do imperativo.