Manhas do encantamento 2: eco, cacófato e harmonia

Publicado em português

Rima é qualidade da poesia, mas defeito na prosa. Recebe, então, o nome de eco. Como descobri-lo? Leia o texto em voz alta. Ocorre repetição de sons iguais ou semelhantes? Mande-os pras cucuias:

Houve provocação e confusão na reunião da diretoria.

Cruz-credo! Tantos ãos provocam otite. Xô, eco! Assim: Houve provocação e tumulto no encontro da diretoria.

 Cacófato

Ops! De vez em quando, ocorrem encontros indesejados. O fim de uma palavra se junta com o começo de outra. Forma-se, então, uma criatura indesejada: Pagou R$ 10 por cada peça. Lá tinha muitos amigos. Deu uma mãozinha à vizinha. Maria diz que nunca ganha nada na loteria.

Harmonia

Palavras e frases devem conversar sem tropeços, ecos ou repetições. O resultado é a harmonia. Como alcançá-la? Há caminhos. Um deles: o metro.  A colocação dos termos é a chave — o mais curto (com menor número de sílabas) deve vir na frente do mais longo. Quer ver? Leia os períodos em voz alta:

  1. O presidente pediu aos deputados que votassem a PEC em regime de urgência urgentíssima.
  2. O presidente pediu aos deputados que votassem, em regime de urgência urgentíssima, a PEC.

Viu? O 2º dá a impressão de que lhe falta alguma coisa. Mas não falta. Ele está gramaticalmente certinho. A sensação de incompletude se deve ao tamanho dos termos. Em regime de urgência urgentíssima tem 13 sílabas. A PEC, duas. Daí o desequilíbrio.