João se separou da mulher. Viveu o luto. O tempo passou. Num sábado, acordou alegre. Vestiu roupa nova e ganhou a rua. No bar, encontrou amigos. Entre um chopinho e outro, pintou a paquera. Lá foi ele. Copo na mão e dentes à mostra, chegou-se sem pressa. Olhos nos olhos, perguntou sedutor:
— Posso me sentar na sua mesa?
— De jeito nenhum. Pega mal.
— Você tem compromisso?
— Não.
— Então…
— Se você se sentar na mesa, vai disputar o espaço com a cerveja e os pasteizinhos.
Ele se lembrou da lição da professora Valci. Ela ensinou que, para indicar proximidade ou vizinhança, só a preposição a tem vez. Sorridente, disse baixinho:
— Eu quero pôr o copo na mesa e sentar-me à mesa. Posso?
Eles se sentam à mesa até hoje. Falam ao telefone todos os dias. Ficam um tempão à porta conversando. No avião, disputam lugar à janela. Volta e meia, cochicham ao ouvido um do outro.
Até quando?
Segundo Vinicius, o amor é infinito enquanto dura. Millôr disse de outro jeitinho: “Eterno no amor tem o mesmo sentido que permanente no cabelo”. Será?