Na língua rolam muitas histórias de amor. Uma é velha conhecida nossa. Trata-se da paixão da preposição a pelo artigo a. Eles juntaram os trapinhos há tempo. Desde então, perderam a individualidade. Viraram à.
Outra é o da preposição com os demonstrativos. Tudo começou com o nascimento dos pronomes aquela e aquele. Eles têm irmãozinhos gêmeos — a e o. Um pode ocupar o lugar do outro sem alterar o sentido da frase. Veja:
Aquelas que preencherem o cupom concorrerão aos prêmios.
As que preencherem o cupom concorrerão aos prêmios.
Aqueles que escrevem sem esforço são lidos sem prazer.
Os que escrevem sem esforço são lidos sem prazer.
Quando vê o demonstrativo, a preposição não resiste. Sem preconceitos, amasia-se com ele. Nasce, então, a duplinha à que. Para chegar lá, percorre um trajeto. Ei-lo:
Sua proposta é anterior à proposta que chegou ontem.
Para não repetir o substantivo proposta, há uma saída. A gente o substitui pelo demonstrativo. Pode ser aquela ou o irmãozinho a:
Sua proposta é anterior àquela que chegou ontem.
Sua proposta é anterior à que chegou ontem.
Sofisticado, não? A fim de não tropeçar, recorra ao velho macete. Substitua o substantivo feminino que aparece antes do a que por um masculino (qualquer um, não precisa ser sinônimo). Se no troca-troca der ao que, sinal de crase. Se der a que, só a preposição solteirinha tem vez:
Sua proposta é anterior à que chegou ontem.
(Seu projeto é anterior ao que chegou ontem.)
A proposta a que me referi não foi aceita.
(O projeto a que me referi não foi aceito.)
Houve uma sugestão posterior à que você apresentou.
(Houve um projeto posterior ao que você apresentou.)