Lamento a morte do Papa Francisco, um defensor da tolerância, da justiça e da paz. Lembrei que em 2013, logo após a sua visita ao Brasil, para a Jornada Mundial da Juventude realizada no Rio de Janeiro, escrevi um texto sobre os vinhos que foram servidos em suas refeições. Como não tenho e não sei o que expressar sobre a grandeza do Papa Francisco irei apenas repetir aqui a publicação que foi feita anteriormente na Revista Cariri.
Os vinhos da visita do Papa Francisco ao Brasil
“Os idosos têm a sabedoria de ter caminhado na vida. Doemos esta sabedoria aos jovens: como o bom vinho, que com os anos torna-se melhor, doemos aos jovens a sabedoria da vida”.” Papa Francisco
Na igreja católica muitas são as referências e analogias ao vinho. Na Bíblia são mais de 500 citações. O primeiro milagre de Jesus, segundo os Evangelhos, foi transformar água em vinho em uma festa de casamento em Caná, na Galiléia. Na Santa Ceia, por fim, Cristo celebra o pão como seu corpo e o vinho como seu sangue.
O Papa Francisco é argentino, terra que elevou a Malbec a um patamar de excelência antes não conhecido. Sua família, Bergoglio, descende de imigrantes italianos. A Itália que era conhecida como Enótria, a terra dos vinhos. Como se não bastasse agora, como Papa, reside no Vaticano, país que, segundo pesquisa realizada pelo Wine Institute da California, é o maior consumidor de vinho per capita do mundo (54,78 litros). Apesar deste resultado ser surpreendente, não é difícil de ser explicado: muitas missas e população majoritariamente adulta e solteira. É o paraíso para elevar o consumo de vinho ao céu.
Portanto, nada mais certo do que oferecer vinho em todas as refeições servidas ao Papa e sua comitiva em sua primeira viagem ao exterior. Considerando-se ainda todas as missas realizadas para os participantes da Jornada Mundial da Juventude realizada no Rio de Janeiro entre 23 a 28 de julho de 2013.
Existe dentro da doutrina da Igreja, Redemptionis Sacramentum, Instrução Geral do Missal Romano e no Código de Direito Canônico, toda uma definição para o vinho de missa: “deve ser natural, do fruto da videira, puro e dentro da validade, sem mistura de substâncias estranhas.” Para ser produzido é necessária uma autorização da Igreja.
Quatro empresas brasileiras (três gaúchas e uma paulista) abastecem esse mercado: Salton, Aliança, Chesini e Maziero. Não se deve esperar muita qualidade no vinho de missa, seu objetivo não é a degustação, é um vinho licoroso ao qual foi adicionado álcool etílico de vinho. O resultado é uma bebida licorosa e “docinha”, generoso, macio, aveludado e suave ao paladar. A grande concentração de açúcar e o alto ter de álcool é proposital: serve para conservar o vinho por mais tempo, considerando o seu consumo lento, a cada missa celebrada. Tem quem o consuma como vinho de aperitivo ou para acompanhar sobremesas.
Os vinhos servidos nas refeições foram selecionados com antecedência. O Salton Talento 2007, Cabernet Sauvignon (60%), Merlot (30%) e Tannat (10%), foi anunciado pela Salton como o “vinho oficial da Jornada”. Produzido apenas nas grandes safras. É um vinho muito aromático e com grande persistência.
O Salton Volpi Cabernet, 100% Cabernet Sauvignon, que acompanha muito bem massas com molho vermelho e queijos curados. O fresco e equilibrado espumante Salton Prosecco e ainda da mesma vinícola o vinho de sobremesa Salton Licoroso Intenso.
Da Miolo o branco RAR Viognier, que é floral e cremoso, para acompanhar peixes e saladas e o seu ícone, o Lote 43, 2008, corte de Cabernet Sauvignon e Merlot, elaborado apenas em safras consideradas excepcionais. É elegante e com boa estrutura.
No almoço servido ao Papa na sua visita a Aparecida é que o negócio pegou, foi servido um vinho da Adega Mazieri, de Jundiaí, SP, elaborado com a uva Niagara, que não é vinífera, sendo usada apenas para os vinhos de garrafão. Foi escolhido pela amizade dos padres locais com o produtor.
No local de hospedagem do Papa no Rio de Janeiro, toda a estrutura de alimentação, bebidas e serviço ficou sob a responsabilidade da equipe do tradicional restaurante paulistano Terraço Itália. Não deu outra, os vinhos eram italianos, os toscanos, Santa Cristina e o Villa Antinori.
O Santa Cristina Rosso, 2011, Sangiovese, é um tinto simples, básico e fácil de beber, já o Villa Antinori 2009, 55% Sangiovese, 25% Cabernet Sauvignon, 15% Merlot e 5% Syrah, é bem superior, sendo mais amadeirado, frutado e encorpado.
Se já sabíamos comer como um abade, agora já sabemos como beber como um Papa. Amém.
One thought on “UMA LEMBRANÇA – OS VINHOS DA VISITA DO PAPA FRANCISCO AO BRASIL”
Muito interessante a matéria e linda homenagem ao Papa.