EXPECTATIVAS X PERCEPÇÃO – O EFEITO PLACEBO NA DEGUSTAÇÃO DE VINHO

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EXPECTATIVAS X PERCEPÇÃO – O EFEITO PLACEBO NA DEGUSTAÇÃO DE VINHO

 

Algumas coisas não falham. Uma é que, todo mês, diversas mídias divulgam ao menos uma historinha em que sommeliers e degustadores profissionais foram enganados pelas trocas de rótulos ou de informações e acabaram por elogiar vinhos de baixa qualidade e preço, em detrimento de outros melhores, famosos e muito mais caros. Outra coisa que não falha é que receberei, de todos os lados, diversos links para a mesma matéria.

Então, quanto mais caro é o vinho, melhor é a sua qualidade? Não! Isso é um mito. A realidade é que, quanto mais caro é o vinho, maior é a nossa expectativa em sua relação. Essa tal de expectativa, a grande inimiga da objetividade!

Estudos de neurociência mostram que a expectativa de qualidade ativa regiões do cérebro relacionadas ao prazer e à recompensa. Assim, quando um consumidor acredita que está degustando um vinho de alta qualidade, seu cérebro ajusta a percepção sensorial para confirmar essa expectativa, amplificando a satisfação e tornando o vinho “melhor” do que realmente é.

A própria objetividade na degustação dos vinhos, a análise da sua qualidade, sofre interferência direta da subjetividade intrínseca à experiência e conhecimento, dos conceitos e preconceitos, e das emoções de cada degustador. A psicologia considera que a plena objetividade, em qualquer circunstância, é praticamente impossível de se obter.

Todas estas experiências que resultaram nestas avaliações fora da curva, em que o conhecimento dos degustadores foi lançado em uma barrica de dúvidas, partiram de um denominador comum: informações falsas em relação a preço e origem, troca de rótulos ou alguma ilusão dos sentidos na apresentação do vinho, que acabaram por causar um efeito psicológico prejudicial a uma análise objetiva: o Efeito Placebo.

Nos testes com humanos de novas medicações, um grupo recebe o remédio verdadeiro e outro, sem conhecimento, é tratado com uma pílula totalmente inócua. E acontece de alguns pacientes deste segundo grupo apresentarem melhoras apenas por acreditarem estar recebendo um tratamento eficaz. O nome disso é Efeito Placebo.

E, como vimos acima, o Efeito Placebo também acontece na degustação de vinho. E este efeito não acontece apenas em experimentos dentro de ambientes controlados. No mundo real, temos diversos fatores que potencializam o Efeito Placebo:

  • rótulos, embalagens e garrafas com design sofisticado;
  • origem de regiões famosas que evocam associações de qualidade;
  • histórias emotivas de famílias a gerações produzindo o vinho;
  • processos artesanais, uvas colhidas à mão, rótulos colados pelos proprietários.

Como tudo na vida, o Efeito Placebo no vinho apresenta tanto aspectos positivos como outros negativos. A favor, seria que, independente da qualidade objetiva do vinho, o consumidor, devido a tantas expectativas, poderá realmente ter a sua experiência mais enriquecida. De negativo, seria supervalorizar vinhos sem maior qualidade, de preços mais altos, baseado apenas no seu marketing e outras estratégias de venda.

É difícil escapar destes fatores externos que influenciam a nossa percepção, mas, a partir do momento em que nos conscientizarmos sobre esse fenômeno e treinarmos mais para identificar aromas, sabores e texturas, poderemos equilibrar sua influência e focar mais na essência do vinho, apreciando-o de maneira mais independente e autêntica.

Outra coisa que não falha é se divertir degustando vinhos com os amigos — o melhor de todos os Efeitos Placebo.

 

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