Cosette Castro & Adriana Silva
Brasília – Desde 2021, quando o blog foi criado, abrimos as portas para as cuidadoras familiares e também para projetos inovadores. A história de hoje é da cuidadora familiar Adriana Silva, que nasceu em Brasília e foi criada na Asa Norte. Ela é professora de História aposentada pelo Distrito Federal e é co-cuidadora dos pais.
Nesta edição, depois do relato da Adriana, abrimos espaço para um projeto emocionante relacionado à memória individual e coletiva criado pelo grupo Entrevazios. O projeto foi selecionado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC) e resgata a historia de 80 mulheres, até então invisibilizadas, que vieram construir Brasília.
Adriana Silva – “Somos três irmãs e um irmão que cuidamos nossos pais idosos, ele com 86 anos e ela com 84, portadora de demência mista. Foi muito difícil entender e trabalhar as minhas emoções, os meus sentimentos.
Eu acreditava que tinha de assumir mais responsabilidades em relação a eles por estar divorciada, aposentada e ter filhos adultos que já não moravam comigo. Eu passava a maior parte do tempo com meus pais e quando saía um pouco, me sentia culpada, perdida. Era uma avalanche de sentimentos.
Como meus pais passaram a precisar de mim para cuidá-los? Por que meus irmãos insistiam em dizer que eu era a mais forte, a filha que seria capaz de estar à frente da rotina de cuidados?
Sem respostas a essas questões, decidi buscar terapia, pois me sentia cobrada pelo nosso pai, pelos irmãos e por mim também.
As demandas foram e são muitas e os ajustes acontecem com frequência, mas ao longo do caminho fui me apropriando da necessidade de busca por informações, da importância do autocuidado e do suporte de uma rede de apoio.
No ano passado concluí o curso de extensão de Educadora Político Social em Gerontologia pela UniSER/UnB e atualmente sou aluna do Curso de Técnico em Nutrição e Dietética, na Escola Técnica do Guará. Estudar e aprender temas novos faz parte das minhas práticas de autocuidado.
Desde 2024 faço acompanhamento com nutricionista e pratico atividades físicas diariamente, que vão da musculação às aulas de dança terapêutica, onde encontro uma preciosa rede de apoio. Além disso, participo de um coral feminino com encontros semanais. O canto coral é uma paixão que está comigo desde a adolescência. E ainda tenho tempo para as sessões de terapia, imprescindíveis.
O percurso não foi fácil, mas hoje entendo que só posso cuidar o outro se antes cuidar de mim.”
Autocuidado Não é Egoismo
Tem muita gente que pensa que cuidar de si é sinal de egoísmo. Não é. É preciso estar bem, física e emocionalmente para cuidar um ou mais de um familiares com demência ou outras questões de saúde. Por isso, o Coletivo Filhas da Mãe realiza caminhadas semanais aos domingos nos parques dos Distrito Federal. E realiza mensalmente uma Roda de Conversa online das 18 às 19h30. Os dois projetos estimulam a saúde física e mental de quem cuida.
O Coletivo também incentiva projetos de parceiros, como o Canto Coral, pois a música é a última memória que se perde, mas precisa ser estimulada. Atualmente o projeto gratuito Sementes do Som está com vagas abertas para quem gosta de Canto Coral e música popular brasileira. Os ensaios e aulas acontecem aos sábados, das 16 às 18h, no Parque Olhos D´Água, na Asa Norte. Mais informações no celular 61-999555227 com o professor Luiggi Cerqueira.
Em se tratando de estímulo à memória individual e coletiva vale a pena conhecer o projeto “Memória Migrante” que reune exposição, documentário, oficinas e teatro no Museu da Memória Viva Candanga de 06/10 a 01/11. É possível conhecer, através de objetos e relatos, as histórias de mulheres com 60 anos ou mais que vivem em sete regiões administrativas do Distrito Federal. O projeto é gratuito e o Coletivo Entrevazios oferece ônibus para grupos, escolas e associações. Saiba mais em @entrevazios.
Para trilheiras e caminhantes, na terça-feira, dia 07/10, acontece live sobre “Trilhas Inclusivas no DF”, a partir 19h30 dentro do projeto de pesquisa “DF Trilhas”. O Coletivo Filhas da Mãe vai contar sobre o projeto Caminhantes, onde pessoas de diferentes idades se reunem todos os domingos para caminar nos parques do Distrito Federal desde 2023. Link aqui.

