Em Brasília Todo Junho é Violeta

Publicado em violência contra pessoas idosas

Cosette Castro & Natalia Duarte

Brasília – No domingo, 15 de junho, não há o que comemorar. No Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa, os dados do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC, 2024) mostram que aumentou em 22% os diferentes tipos de violência contra as pessoas idosas no Brasil. A maioria das vítimas são mulheres.

Para escrever sobre o tema, a convidada desta edição é a professora da UnB, Natalia Duarte, uma das Coordenadoras do Coletivo Filhas da Mãe.

Natália Duarte – “Estabelecido pela(ONU) em 2006, a data pretende chamar a atenção para os diversos tipos de violência que atingem as pessoas idosas.

O Coletivo tem tradição nesse tema e há cinco anos promove diferentes atividades para promover essa consciência. Dentre elas oficinas de leitura e escrita criativa aberta para população, caminhadas, rodas de conversa, palestras sobre envelhecimento e intergeracionalidade. E participa ativamente em conferências distritais e nacionais apresentando propostas para melhorar a qualidade de vida das pessoas com 60 anos ou mais.

Quando se fala em violência, é importante pensar que ela se manifesta de múltiplas formas para poder enfrentá-la. Há violência física, psicológica, emocional e financeira. E sexual contra mulheres idosas, embora sobre isso quase nem se fale.  Também há negligência e abandono, especialmente de pessoas idosas com demência. Nesse caso, há comportamentos associados a condição da demência, entre elas o Alzheimer, que podem ser mal interpretados como rigidez, teimosia, falta de educação, o que pode gerar violência.

O Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa faz parte da campanha Junho Violeta, que busca sensibilizar a sociedade sobre a importância de proteger e respeitar os direitos das pessoas idosas e de suas cuidadoras, familiares ou profissionais.

Estes foram temas tratados na V Conferência Livre sobre os Direitos das Pessoas Idosas – DF, realizada na semana passada. E são temas da 6ª Conferência Distrital dos Direitos da Pessoa Idosa, convocada pelo Conselho Distrital dos Direitos do Idoso (CDI-DF), que acontecerá no próximo dia 27 de junho no Centro Cultural da ADUnB/DF, Campus Darcy Ribeiro, em Brasília.

A conscientização sobre a violência contra a pessoa idosa é essencial em um país que envelhece aceleradamente. Enfrentar uma violência fortalece o enfrentamento de todas as violências, inclusive a institucional.

O Coletivo Filhas da Mãe se vê obrigado a afirmar que o Governo do Distrito Federal (GDF) promove violência institucional contra pessoas idosas e contra pessoas que cuidam, com ou sem remuneração, por inação. Em quatro anos o GDF não avançou em uma proposta sequer da, aprovada por unanimidade na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Não implementou nenhum dos programas ou políticas previstas na Lei.

Como se fosse pouco, não existe uma Secretaria própria para a pessoa idosa, não há orçamento para projetos e ações para as mais de 400 mil pessoas com 60 anos ou mais que vivem no DF.

Construir consciências que enfrentem a violência é também apontar violências institucionais e reivindicar políticas públicas já aprovadas e ações comunitárias que promovam o convívio intergeracional, fortalecendo laços, promovendo cuidados e prevenindo o isolamento social. É construir condições para uma Sociedade do Cuidado em que todas as fases da vida tenham respeito e atenção, inclusive a velhice.

O Coletivo também aponta outra violência institucional do GDF. Cuidadoras familiares ou profissionais de pessoas idosas dependem da escola pública funcionando para que possam exercer o papel de cuidadoras.

Entretanto, as escolas públicas do DF estão fechadas em função da greve das professoras e professores. Infelizmente, o GDF encerrou as negociações e ainda ameaçou a categoria de diversas formas. Ameaça também é violência. Com ameaça não há possibilidade de cuidado coletivo.

Não há Sociedade do Cuidado sem professoras e professores valorizados e escolas públicas bem estruturadas e equipadas. Não há o trabalho de cuidado da pessoa idosa sem que o filho ou filha da cuidadora, com ou sem remuneração, esteja na escola.

O Coletivo segue esperançando que a Sociedade do Cuidado seja construída com participação social e que as violências contra as pessoas idosas e  outras violências institucionais cessem o mais rápido possível”.

O Junho Violeta reforça a importância de construirmos juntas e juntos uma Sociedade do Cuidado.

PS: No domingo, 15, estaremos juntas e juntos na Caminhada de Conscientização da Violência Contra Pessoa Idosa que vai acontecer no Eixão Norte, saindo da Quadra 207, às 9h. Depois haverá atividades promovidas pela Sub- Secretaria da Pessoa Idosa.

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