Cosette Castro
Brasília – Este foi um fim de semana intenso. Como esperar menos quando a alegria contagiante de Gilberto Gil se expandiu no sábado, noite a dentro, na Capital Federal?
O artista baiano, de 82 anos, mostrou para as cerca de 50 mil pessoas presentes no seu show que existem diferentes tipos de velhice. De corpos e de despedidas.
Com Gil, foi possível se despedir com graça, dança e alegria. Sem sofrimento, principalmente quando há qualidade de vida. Mesmo que o tempo seja rei e passe para todos, o cantor mostrou que é possível escolher melhores maneiras de viver. De seguir existindo e experimentar a vida.
No espetáculo “Tempo Rei“, Gil cantou a sua história na música brasileira. Uma história que se mescla com a história cultural e política do país. Ele lembrou dos tempos duros da ditadura civil-militar que assolou o Brasil durante 21 anos, de 1964-1985. Sem esquecer dos presos políticos e dos desaparecidos.
Gilberto Gil cantou “Cálice” escrita por ele e Chico Buarque em 1973, música que foi censurada durante cinco anos. E, com elegância, criticou o extremismo político e o ódio, lembrando que é preciso falar sobre isso para que a história não se repita.
Durante quase 03 horas ele cantou sobre sua fé na humanidade. Mas também sobre racismo, desigualdade social e direitos humanos. Basta prestar atenção nas letras para saber que Gil é amor, respeito aos outros, valorização da ancestralidade e daqueles que não são visíveis socialmente.
Com a diversidade de gêneros que lhe caracteriza desde os anos 60, Gil homenageou a diversidade da música e da cultura brasileira. Não faltou MPB, reaggae, rock, música afrobrasileira. Nem convite para artistas locais, como Alexandre Carlos, vocalista da banda brasiliense Natiruts. Juntos cantaram a música “Extra“, de Gilberto Gil.
Envelhecer com Qualidade de Vida
No mesmo sábado, dia 07, durante o dia ocorreu V Conferência Livre em Defesa dos Direitos da Pessoa, na UnB Ceilândia organizada pelo Fórum da Sociedade Civil em Defesa das Pessoas Idosas e parceiros, entre eles o Coletivo Filhas da Mãe.
Mais de 200 pessoas debateram sobre Rede de Proteção da Pessoa Idosa: “Defesa dos Direitos, Cuidados, Participação e Financiamento”. Elas e eles apresentaram e aprovaram propostas para melhorar a qualidade de vida das pessoas com 60 anos ou mais no Distrito Federal onde vivem cerca de 450 mil pessoas (IPE-DF, 2024).
Quatro grupos refletiram sobre: 1.Rede de Proteção: Implementação na Defesa de Direitos, na Integração das Políticas Sociais e no Financiamento; 2. Cuidados: Modalidades de Atenção, Saúde, Assistência Social e Direitos de quem é cuidado e de quem cuida; 3. Envelhecimento Saudável: Educação, Participação, Mobilidade, Acessibilidade e Atividades Físicas e 4.Inclusão Digital e Interação Intergeracional.
Em cada eixo foram aprovadas quatro propostas. Nesta edição foram selecionadas uma de cada grupo:
1. Construir um plano integrado para a pessoa idosa, abrangendo as políticas sociais: educação, saúde, segurança pública, mobilidade urbana e assistência social, de forma que fortaleça a troca intergeracional, intersetorial, as organizações da sociedade civil, as associações, entidades, coletivos e centros de convivência;
2. Criação da Política Distrital de Cuidados, com políticas integradas de Estado para mulheres pobres, negras, idosas, pessoas com deficiência (PcD), público LGBTQIPN+, e outros grupos com fragilidade social;
3. Oferecer ônibus adequados, tratamento respeitoso para pessoas idosas, garantia da prioridade de assentos, fim das calçadas e ruas esburacadas para evitar quedas, assim como locais com acessibilidade e oferta de práticas desportivas que tenham espaço qualitativo e perto das residências;
4. Implementar oficinas práticas regulares em centros comunitários, unidades básicas de saúde, bibliotecas, escolas e praças públicas, onde as pessoas idosas possam aprender a utilizar celulares, aplicativos e serviços digitais, de maneira articulada com os Pontos de Cultura do DF.
Em tempos de violência institucional contra as pessoas idosas, com a não implementação de Leis distritais e nacionais já aprovadas, espera-se que, como na música “Tempo Rei”, seja possível transformar as velhas formas de envelhecer no Brasil. E que o envelhecimento saudável e ativo ocorra com políticas públicas efetivas.
PS: Assim que o relatório da V Conferência Livre em Defesa dos Direitos das Pessoas Idosas estiver pronto, será disponibilizado no Blog.