Cosette Castro
Brasília – Esta semana o mundo enterrou José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai. Ele se foi, mas deixa um legado de solidariedade, afeto e cuidado coletivo que extrapolou as fronteiras do país vizinho.
Mais de 100 mil pessoas foram às ruas no país de 3,4 milhões de habitantes. Uma população um pouco maior que o Distrito Federal, que em 2024 registrou 2,9 milhões de moradores, segundo o IBGE.
O presidente Lula, recém chegado da China, foi na despedida do ex-presidente de quem era amigo e admirador. Juntos, eles trabalharam pela integração latino-americana, estimulando o que os países tinham em comum, não suas diferenças.
Pepe Mujica dizia para quem quisesse ouvir que democracia não é concordar, é respeitar. Que o ódio não muda o mundo, mas a persistência, sim. E que não é vergonha ser pobre. Vergonha é esquecer aqueles que mais necessitam. Ele foi o primeiro presidente da América Latina a estimular e sancionar uma Política Nacional de Cuidados. Uma referência para o Continente.
A Lei uruguaia se tornou o Sistema Nacional de Cuidados em 2015. Atualmente o Uruguai está colocando em prática o seu Terceiro Plano Nacional de Cuidados. Ele corresponde ao período 2025-2030.(Saiba mais aqui).
Domingo tem momento de autocuidado e cuidado coletivo
Depois do Uruguai outros dois países implementaram suas Políticas de Cuidado na Região: Costa Rica, com política nacional em 2019 e Bolívia com políticas distritais (2021). Outros 15 países da América Latina e Caribe estão em fase de aprovação ou implementação da Política Nacional de Cuidados.
No final de 2022, a Conferência Latino-americana e Caribenha pelos Direitos das Mulheres/Unesco lançou um documento (Carta/Compromisso de Buenos Aires) reconhecendo como trabalho o cuidado de pessoas sem remuneração e reconhecendo o trabalho precário de quem cuida profissionalmente. Nos dois casos, em sua maioria mulheres. E convocou os países signatários, entre eles o Brasil, a construir uma Sociedade do Cuidado. (Saiba mais)
A partir de 2023, o governo brasileiro começou a escutar os diferentes grupos sociais e a desenhar o marco teórico para a Política Nacional de Cuidados e para a futura Lei. A Política Nacional de Cuidados (Lei 15.069) foi sancionda em dezembro de 2024 pelo presidente Lula. Isso aconteceu após ampla discussão nacional de forma presencial e virtual. (Conheça a lei aqui)
O Coletivo Filhas da Mãe esteve presente e apresentou propostas para construir uma Sociedade do Cuidado levando em conta o envelhecimento populacional (Saiba mais aqui). Também levou-se em consideração as diferentes realidades das pessoas que cuidam no Distrito Federal, cuja população engloba todas regiões do país. As mulheres cuidadoras sem remuneração, por exemplo, estão envelhecendo, estão empobrecendo, estão endividadas e estão exaustas.
Toda a discussão sobre cuidado precisa incluir o cuidado para toda a vida e incluir as mulheres 60+. Elas representam 50% dos 70% de pessoas idosas que são chefes de família no Brasil (IBGE, 2024) E seguem cuidando gratuitamente diferentes gerações ao mesmo tempo.
PS: Domingo, 18/05, será realizada a 3a. Edição da Trilha Urbana “OS CAMINHOS DE ATHOS BULCÃO NA ASA NORTE”. A caminhada com condução e comentários de Vitor Borisow é aberta e gratuita e faz parte do projeto de Cuidado e Autocuidado do Coletivo. Encontro: 8h15, em frente à Fiocruz/UnB. Leve algo para o lanche coletivo.