Cosette Castro
Brasília- A semana começa comentando a informação do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (Dieese) sobre o aumento da procura por cuidadoras profissionais no país.
No feminino. Elas são majoritariamente mulheres (94%) e negras ou pardas (64,2%).
Essa procura reflete o aumento da população idosa no país e a sua crescente necessidade de cuidados. Este também é o caso das pessoas com deficiência que precisam cuidados por toda a vida. Atualmente elas representam 79% de quem cuida pessoas de forma remuneradas (não incluídas aqui o cuidado de crianças).
Segundo o IBGE, desde 2024 há 35 milhões de pessoas idosas vivendo no Brasil, um país marcado por desigualdades sociais e diferentes tipos de envelhecimento. Por exemplo: 70% das pessoas com 60 anos ou mais são chefes de familia. Deste percentual, 50% são mulheres idosas que seguem cuidando sem remuneração diferentes gerações da sua família.
Entre quem trabalha como cuidadora de pessoas, o percentual das chefes de família cresce para 56,4%. Ou seja, elas cuidam duplamente. Dentro e fora de casa.
Ao mesmo tempo em que aumenta a busca por pessoas que cuidam, ocorre redução da procura por empregadas domésticas, agora contratadas como diaristas. O que não muda é a situação de precariedade das profissionais do cuidado de pessoas. Mesmo quando contratadas como mensalistas. Somente 21% tem carteira assinada.
A análise do Dieese publicada no começo de maio reflete o que o estudo “Perfil da Pessoa Idosa com Demência e Perfil de Cuidadores do Distrito Federal” (IPE-DF) apontou em 2022. A pesquisa, encomendada pelo Coletivo Filhas da Mãe em parceria com o Fórum Distrital da Sociedade Civil em Defesa da Pessoa Idosa, foi realizada com 608 pessoas que cuidam no Distrito Federal, 86% delas mulheres. (Leia o estudo do IPE-DF aqui).
As cuidadoras de pessoas remuneradas ainda não possuem profissão regulamentada, em sua maioria são negras ou pardas, estão envelhecendo e realizam trabalhos sem proteção dos direitos socials. Além disso, está aumentando o número de pessoas idosas cuidando de outras pessoas idosas, com ou sem remuneração.
No Brasil, de acordo com o Estatuto da Pessoa Idosa (2003), brasileiras e brasileiros começam a ser considerados velhos a partir dos 60 anos. O cálculo sobre a idade da chegada na velhice tem motivos de existir e vão além do Produto Interno Bruto (PIB).
Ele foi estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e faz toda diferença na hora de definir políticas públicas e a garantia de direitos sociais e econômicos.
A partir dos 65 anos são consideradas pessoas idosas aquelas que vivem em países desenvolvidos, com melhor qualidade de vida e/ou proteção social. E são consideradas pessoas idosas aos 60 anos aquelas que vivem em países em desenvolvimento. Este é o caso do Brasil, marcado por diferentes tipos de velhices, baixos valores de aposentadorias e baixo índice de implementação das leis que deveriam proteger as pessoas idosas.
A-Ventura de Envelhecer
Semana passada comecei a ler o mais recente livro do professor emérito da UnB, Vicente Faleiros, um estudioso na área do envelhecimento.
Em a “A-Ventura de Envelhecer”, publicado pela editora Hucitec, Faleiros, aos 82 anos, convida leitoras e leitores a conhecer mais sobre a velhice ao lado dele. Sem receio ou vergonha das fragilidades do corpo. E sem medo de mostrar as alegrias de viver com consciência da finitude.
Com a erudição de pesquisador renomado e 44 livros publicados, Faleiros vai mais além. Convida a um passeio pela sua vida cotidiana revelando cuidados diários para se manter saudável.
Ao mesmo tempo em que escreve sobre a sua experiência, ele também escreve sobre o envelhecimento no Brasil, com suas tantas desigualdades. Além disso, presenteia com seus poemas, um delicado cuidado com leitoras e leitores, nem sempre preparados para refletir sobre a velhice, que pode ser uma aventura. E uma ventura, como lembra Faleiros.
PS: Nesta terça-feira, dia 13 de maio, às 19h, vai ocorrer o lançamento do livro no Bar Beirute (109 Sul), em Brasília.
PS: Domingo, dia 18 de maio, teremos a 3a edição da Trilha Urbana “Os Caminhos de Athos Bulcão na Asa Norte”, sob a condução de Vitor Borisow. A trilha é gratuita e é aberta à população. Encontro às 8h15 em frente a Fiocruz/UnB. Lembre de levar algo para o lanche compartilhado.