Ana Castro & Cosette Castro
Brasília – Falta 01 dia para o Bloco Filhas da Mãe ir para a rua. Você sabe criança que espera um presente? Assim estamos nós.
Nem parece que está quase chegando o dia de brincar mais uma vez e de celebrar a vida.
E o que há para celebrar?
A vida em si mesma. Ainda que neste momento a vida apresente muitos desafios para quem cuida um familiar com demência. Particularmente os custos físicos e emocionais de enfrentar uma doença neurodegenerativa que colocam diariamente o desafio das perdas cognitivas, do esquecimento e da morte.
No sábado a tarde, dia 25, não estaremos sozinhas. Aliás, a trajetória de 03 anos do Coletivo Filhas da Mãe é marcada pelo mantra “ninguém solta a não de ninguém”, como conta nossa primeira marchinha. Crescemos com as parcerias realizadas em todo o país.
No Esquenta Carnaval 2023, colocamos o Bloco na rua em parceria, dando visibilidade às demências, mostrando a necessidade de autocuidado das cuidadoras e lembrando que também temos direito à brincadeira e à folia. Durante a festa intergeracional, fomos manchete de jornais e revistas de Norte a Sul do país.
Para o sábado pós-carnaval, há mais surpresas. Sairemos juntas com o RivoTrio, o Bloco da Saúde Mental mais antigo do Distritto Federal, e com outros blocos da saúde mental. Desta vez na Asa Norte.
Participar do carnaval possibilita às cuidadoras, mesmo que por algumas horas, se deslocarem do sofrimento invisível do mundo privado, restrito às casas e às famílias. Uma situação que individualiza e fragiliza. Entrar no espaço público contribuí para dar nome e voz às cuidadoras. Desta vez em forma de marchinha, fantasias, estandartes, tiaras e bloco carnavalesco. Dizemos em alto e bom tom que as demências são, sim, uma questão de saúde pública. São uma nova pandemia subterrânea.
Ao ir às ruas para festejar a vida de forma lúdica, saímos da vida rodeada por medicamentos, fraldas geriátricas, cadeiras de rodas, camas hospitalares e casas adaptadas. Ao ir para as ruas (também) no carnaval, cada uma de nós reafirmamos que queremos prevenção de saúde e direito ao envelhecimento saudável.
Saúde Mental e Carnaval
Por que saímos com outros blocos da saúde mental? Porque juntas somos mais fortes.
O sofrimento mental das cuidadoras familiares é desconhecido e foi intensificado durante os dois anos de pandemia. Isso ocorreu pelo medo da morte, pela falta de vacinas, pelo desemprego, pelo empobrecimento, pelo endividamento das famílias e pela solidão.
Segundo o relatório do Instituto de Comunicação e Informação Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz, 2021)durante o primeiro ano da pandemia 40% da população adulta foi afetada por sentimentos frequentes de tristeza e depressão. Outros 50% por sensação frequente de ansiedade e nervosismo. Imagine essa realidade em pessoas que já estavam vivendo com sofrimento psíquico e sobrecarga física, como as cuidadoras familiares.
Por outro lado, a saúde mental, de acordo com relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2022), é o bem-estar no qual cada pessoa desenvolve suas habilidades pessoais, consegue lidar com os estresses e desafios, trabalha de forma produtiva e está apta a contribuir com a comunidade.
Ao participar do carnaval estimulamos a saúde mental, independente da idade. O cortejo que recupera o melhor do carnaval de rua, também celebra a liberdade, a folia, a brincadeira e o direito ao deslocamento na cidade.
No dia 25 use a imaginação e venha para rua.
Vista sua melhor fantasia. Pode ser um avental de cozinha. Uma tiara comprada de última hora ou emprestada de uma amiga. Uma camiseta velha picotada. O rosto cheio de gliter, uma tiara divertida ou um camisolão. Não importa. Se organize para viver o último dia do carnaval 2023 sem medo de brincar e rir de si mesma.
PS: Existem várias maneiras de falar sobre o direito à vida, à prevenção de saúde e ao envelhecimento saudável. No dia 28, estaremos realizando em Brasília a Conferência Livre de Saúde, com o tema “Saúde Mental e Envelhecimento”. Inscrições aqui.