Saindo da Invisibilidade

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Ana Castro & Cosette Castro

Brasília – Emocionante. Esta foi uma das palavras que mais escutamos no anoitecer da sexta-feira, 23 de setembro, na abertura da Exposição Fotográfica MULHERES QUE CUIDAM E SE CUIDAM.

Muitas das mais de 80 pessoas que circularam nas duas horas e meia do evento se sentiram tocadas pelas fotos e pelos 20 depoimentos da Mostra. Algumas choraram durante a leitura dos depoimentos. Outras, igualmente emocionadas, relataram que foi preciso sair para respirar e ir percorrendo a mostra aos poucos.

Talvez a fala das cuidadoras familiares seja o grande diferencial da Exposição. Algo além do belo conjunto de fotos de cuidadoras familiares, resultado do trabalho de Claudio Reis.

Registros de mulheres já foram tema de diferentes projetos fotográficos. Dentro e fora do país.

Mas esta Exposição especial, parte das atividades do Setembro Roxo, permitiu que as mulheres cuidadoras familiares fotografadas possam se ver e reconhecer a partir de um outro lugar. Sem os desafios do cuidado. Sem  constrangimento por se permitirem o direito ao riso e à alegria.

Dar visibilidade e voz às mulheres cuidadoras familiares foi o objetivo do Coletivo Filhas da Mãe ao realizar a parceria com o SESC-DF. Estimulamos o cuidado e autocuidado e este é um dos nossos mantras nestes 2 anos e nove meses de existência.

Fotos Lya Astrid

As mulheres cuidadoras familiares representam 82% da atividade no Brasil. Um trabalho sem remuneração, pois é considerado, equivocadamente, como uma “obrigação amorosa”. E “amor” não se paga. Mesmo sendo trabalho 24h ao dia, sete dias na semana e 365 dias ao ano. Ou que a maioria tenha deixado projetos pessoais e profissionais para atender um familiar com demência.

Cuidar de um familiar com uma doença neurodegenerativa que não tem cura também adoece, ainda mais pela falta de preparo e conhecimento sobre demências. Isso ocorre pela constante sobrecarga física e emocional.

A Exposição Fotográfica vai muito além de uma coleção de 20 fotos. Ela trata de identidade e resgate da auto estima. Propõe superar o estigma social e a falta de informações sobre quem cuida, já que o foco das ações se concentra na doença.

Não foi fácil convencer as mulheres cuidadoras familiares a participar. Muitas mal conseguem se olhar no espelho. Imagine entrar em um estúdio e se deixar fotografar. Isso ocorreu com mulheres brancas e também com mulheres negras.

Também foi desafiador convencer que a alegria e o prazer são direitos, ainda que a conta gotas. A maioria sequer se conhecia presencialmente. Mantinha contato apenas por meio do grupo de WhatsApp ou das rodas de conversa que ocorrem nas primeiras terças-feiras de cada mês (on line).

Na sexta-feira estas mulheres se emocionaram, se abraçaram e comemoraram a vida após tanto tempo de pandemia, medo e mortes.

A Exposição Fotográfica MULHERES QUE CUIDAM E SE CUIDAM ficará aberta ao público até o dia 23 de outubro, na unidade da 504 Sul do SESC-DF, em Brasília.

Cosette Castro

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