Somos Velhas Graças a Ciência. Por que Não Comemorar?

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Ana Castro &  Cosette Castro

Brasília – Até os anos 60, quando as Nações Unidas passaram a compilar  dados globais, a expectativa de vida no mundo era de  52 anos. Hoje, graças aos avanços da ciência a  média de vida é de  72 anos. No Brasil, a mudança foi ainda maior. Saltamos de uma média de 48 anos para 75,5 anos.

Dos anos 60 até hoje, muita pesquisa na área da saúde foi desenvolvida para melhorar a qualidade de vida da população.  A longevidade foi conquistada com a ajuda de novas vacinas e medicamentos. Também recebemos informações constantes sobre o funcionamento do nosso corpo pela televisão e pela internet, ampliando o conhecimento até então restrito à escola.

Mas essa longevidade vem sendo colocada em risco pela falta de vacinas e pela falta de políticas públicas de prevenção. Por falta de políticas públicas para os idosos. Falta de políticas de cuidado. Falta de políticas públicas de saúde mental.

Como se fosse pouco,  há  sobrecarga no Sistema Único de Saúde (SUS), a maior rede pública do mundo, que acaba de ter o orçamento cortado por mais um ano seguido em plena pandemia. Foi-se o tempo em que 10% do PIB eram destinados à educação e à saúde.

Até 2016 tínhamos políticas públicas de saúde e programas como o Farmácia Popular e Mais Médicos  chegavam  a todos os rincões do país. Em 2021, em plena pandemia, o programa Mais Médicos ofertou vagas para 3 mil profissionais, quando o número de municípios brasileiros é de 5.570. Enquanto isso,  Vivemos o caos e as mortes pelo Covid-19 e suas variantes.

Em meio a tudo isso, as pessoas de +60 têm que enfrentar vários desafios. Entre eles a falta de acessibilidade nas cidades brasileiras que não são pensadas para o envelhecimento.  Em Brasília, por exemplo, a maior parte das ruas,  sequer calçada têm. E quando existem, não possuem calçamento. A Capital do país foi uma cidade planejada para carros, não para os pedestres.

Há ainda o preconceito contra idosos, também conhecido como ageismo,  idadismo ou etarismo, praticado majoritariamente  por homens, jovens ou adultos, segundo relatório recente publicado pela ONU.

Os números são gravíssimos. Uma em cada duas pessoas no mundo discrimina em função da idade, ao ponto da ONU sugerir aos governos que adotem medidas jurídicas e sociais para combater o preconceito.

A ONU planeja realizar campanha mundial para combater o ageismo. Enquanto isso, hospitais saturados, inclusive da rede  particular que atende planos de saúde, optaram por salvar pacientes mais jovens, dada a escassez de ventiladores ou de camas nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs).

As pessoas que mais sofrem preconceito pela idade são as mulheres, cobradas a tentarem se congelar no mito da eterna juventude. Algo impossível de ocorrer, mas que tornou o Brasil o primeiro  país  do mundo em plásticas desde 2020.

Não se trata apenas de negação do processo de envelhecimento do país. Algo que deveria ser comemorado, pois chegamos aos 60 anos, em geral com saúde, mas com mais responsabilidades.

Há outras consequências, como o empobrecimento, a insegurança econômica na velhice, a alta mensal nos preços dos medicamentos e do custo de vida. E, por outro lado, a diminuição do valor das aposentadorias. E desde 2020, uma pandemia sem freio, que anda a galope.

E o que dizer das cuidadoras familiares, informais (amigas e vizinhas) e profissionais que estão envelhecendo enquanto cuidam de seus familiares enfermos? Muitas abandonam o plano de saúde privado por falta de orçamento. Outras, em meio à pandemia, deixaram de ter cuidadoras profissionais e passaram a fazer sozinhas o atendimento  ao familiar doente, com graves danos à saúde física e mental.

Em meio a tudo isso, o que podemos fazer?

Apesar da grande  responsabilidade de quem se tornou cuidadora familiar, é preciso buscar momentos de cuidado e autocuidado para garantir nossa saúde física e mental. Encontrar espaços para nós, para ficar em silêncio, para dar risada ou para conversar virtualmente com parentes e amigas.

Além de buscar redes de apoio, quem tem acesso a internet (01 a cada 04 brasileiros) pode praticar em casa exercícios . O SUS oferece semanalmente on line  práticas integrativas de saúde que valorizam o  autocuidado. São serviços de boa qualidade que exigem um pouco de tempo e disciplina para não desistir. Você pode escolher entre Automassagem, Yoga, Técnica de Redução do Estresse (TRE), Lian Gong e Tai Chi Chuan, por exemplo.

O  Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Atividades Físicas para Idosos (GEPAFI)  da UnB   oferece práticas  que envolvem exercícios físicos, como ginástica, circuito antiquedas e pilates, entre outros. E é possível praticar meditação, esse momento importante de estar presente, de presente apenas para você,  disponibilizado gratuitamente pela Sociedade Vipassana ao menos três vezes na semana.

E enquanto isso, vamos praticando a aceitação da idade, desfrutando a experiência acumulada e os charmosos cabelos brancos que se expandiram durante a pandemia.

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