O discurso débil de fraude nas urnas

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Leonardo Cavalcanti // Ao insistir na tese de que as urnas eletrônicas são sujeitas a fraudes e que não aceita a derrota, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) deixa expostas maquinações medrosas, débeis e ameaçadoras sobre o processo eleitoral. Todas combinadas, evidenciam pelo menos dois pontos importantes sobre cenários eleitorais, além da irresponsabilidade e da fraqueza de um candidato ao Palácio do Planalto.

O primeiro é a incerteza da vitória. Nenhum político que tenha a convicção da conquista começa a elencar razões para a derrota antes mesmo de o resultado ser anunciado. No caso de Bolsonaro, há dúvidas em relação ao placar após o fechamento das urnas. Dentro da campanha, os mais pé no chão, quando
questionados em off — com a certeza de que não serão citados —, são incapazes de dizer que o capitão reformado vai chegar em primeiro lugar no próximo domingo, quanto mais liquidar a fatura de uma só vez.

A diferença dele para o segundo colocado é de seis pontos percentuais, o que na prática o deixa a dois pontos de um empate técnico com Fernando Haddad (PT) no primeiro turno. Numa segunda etapa, a equação é ainda mais complexa para Bolsonaro, pois ele perde para todos os adversários com potencial para avançar, como é o caso do próprio Haddad, Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin
(PSDB). No último Datafolha, Marina Silva (Rede) não foi testada. Os números das pesquisas são os únicos capazes de servir para mapear tendências, por mais que hoje o capitão reformado seja o favorito para aparecer na frente no próximo dia 7.

Blefe
O outro ponto das declarações de Bolsonaro contra as urnas não se trata apenas de blefe ou medo— algo intrínseco à maioria dos políticos. Ao colocar em dúvida a lisura do processo eleitoral, o presidenciável
do PSL flerta contra o processo democrático, estimulando grupos de amalucados a defenderem a
tese sem o menor conhecimento sobre a máquina e, pior, sobre a própria legitimidade das eleições.

“A tratativa das notícias falsas para fins de propaganda é uma coisa grave, mas, quando se ataca a urna com notícias falsas, quando a credibilidade da Justiça Eleitoral é atacada, a instituição é atacada. E precisa se defender”, disse, ao Correio, o secretário-geral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Estêvão Cardoso Waterloo. A produção de uma fake news tem várias etapas. Os defensores de Bolsonaro vêm
montando a estrutura há tempos para tumultuar o processo eleitoral. Um dos ataques foi desmobilizado a partir de um pedido da Advocacia-Geral da União (AGU) e aceito pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Há pelos menos seis motivos para acreditar nas urnas: (1) elas não estão ligadas à internet, o que impede ataques virtuais; (2) antes de cada eleição, a Justiça Eleitoral convoca hackers para o teste público de segurança; (3) partidos, PF, MP, OAB podem ter acesso antecipado ao sistema; (4) no dia da eleição, o TSE realiza uma votação paralela, com o uso de cédulas de papel; (5) equipamentos de impressão tem até cinco vezes mais chances de apresentarem problemas técnicos; e (6) em caso de suspeitas de fraude,o sistema eletrônico permite a recontagem dos votos para confirmar os resultados que foram divulgados. Há outros, mas fiquemos por aqui, pois são mais do que suficientes para expor a debilidade do discurso de apoiadores de Bolsonaro.

Fake news
A uma semana das eleições, os principais atores da Polícia Federal e do Ministério Público se preparam para uma enxurrada de fake news, principalmente nas campanhas regionais. O grande teste sobre a extensão das notícias falsas será de quarta-feira a domingo. A questão será saber até que ponto a sociedade estará preparada para não embarcar na mentira produzida por grupos paralelos das campanhas — se depender das autoridades, a chance de atuação nas últimas horas será reduzida, pois o tempo de reação dos tribunais regionais é mínimo.

leocanti

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