Investigada na Operação Lava Jato, a construtora Camargo Corrêa revelou um esquema de fraudes em licitações de transportes sobre trilhos no Distrito Federal e em outros sete estados. Em Brasília, as negociações entre as integrantes do cartel para a expansão do metrô teriam acontecido entre 2008 e 2010, à época da gestão do ex-governador José Roberto Arruda (PR).
As alegações constam no acordo de leniência — a delação premiada das empresas — firmado entre o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a Camargo. Segundo representantes da construtora, a irregularidade não se concretizou por “fatores externos à vontade dos participantes do cartel”. Ainda assim, os depoentes contaram detalhes dos acertos.
De acordo com a documentação, publicizada nesta segunda-feira (18/12), as tratativas ficaram a cargo do G5 do mercado de infraestrutura (CCCC, Andrade Gutierrez, Odebrecht, Queiroz Galvão e OAS) e de um seleto grupo de empreiteiras para obras de implantação de metrô. Conforme as narrativas, as empresas dividiam as maiores obras entre si. O Cade instaurou um processo administrativo para investigar o caso.
Os delatores contam que, em 10 de novembro de 2008, a Companhia do Metropolitano do DF (Metrô-DF) lançou o Edital de Pré-Qualificação, que selecionaria as empresas ou consórcios aptos à participação na concorrência pública para o desenvolvimento do projeto de engenharia, fornecimento e montagem dos sistemas operacionais, além da execução das obras. A proposta deveria compreender o Trecho Plano Piloto (Asa Norte), Samambaia e Ceilândia.
Pela costura, as beneficiadas, nesta oportunidade, seriam CCCC, Andrade Gutierrez, Serveng-Civilsan, TC/BR, Alstom e lesa. Segundo os depoimentos, “todas essas empresas tinham conhecimento e participação nos arranjos anticompetitivos ora narrados”.
Depoentes apontaram que “é possível que o edital de pré-qualificação tenha sido elaborado de modo a restringir a participação de empresas não alinhadas”. Nesta etapa, classificou-se como apta apenas a Odebrecht, além do grupo formado por CCCC, Andrade Gutierrez, Serveng-Civilsan, TC/BR, Alstom e Tesa. A construtora, entretanto, ofereceria preços maiores para garantir que a licitação ficasse nas mãos do consórcio.
“Alinhamento”
O acordo de leniência destaca que “era necessário forte alinhamento com Governo do Distrito Federal para garantir que a licitação seria feita conforme os preços unitários, especificações e critérios de medição elaboradas pelo consórcio”. Contatado pelo CB.Poder, Paulo Emílio Cata Pretta, advogado de José Roberto Arruda, afirmou que não teve acesso à íntegra dos autos e, portanto, não poderia se manifestar.
Delatores explicaram que as minutas do edital de licitação de fase comercial e seus anexos (planilhas de preço, orçamento final, especificações técnicas, etc) foram construídos pelas empresas, seriam internalizados pelo Metrô-DF e, então, publicados.
A elaboração dos preços unitários, especificações e critérios de medições referentes aos serviços de obras civis ficaram a cargo das construtoras que compunham o consórcio. Já o material referente às demais especificidades (projeto, sistemas e energia) ficou em responsabilidade das demais empresas do consórcio (TC/BR, Alstom e Tesa). A documentação completa, supostamente, acabou consolidada pela Andrade Gutierrez.
“O intuito do grupo era efetivamente “montar a licitação” para o GDF, o que compreendia desde a elaboração dos estudos técnicos e projeto base até o próprio edital de licitação”, destaca o acordo de leniência.
Instabilidade política
Conforme os depoimentos, os materiais produzidos pelas empresas nunca foram publicados pelo Metrô-DF. Isso porque, em 2010, “houve um momento de grande instabilidade no cenário político do DF, pondo de lado os planos de lançar uma nova licitação naquele momento”.
Os ex-executivos da Camargo Corrêa destacam que, ao longo dos anos, houve a expectativa de que o projeto fosse retomado, razão pela qual a proposta “era eventualmente contabilizada nas discussões do G-5 como passível de negociação”. Em 2011, chegou-se a discutir, por exempIo, uma divisão de obras que contemplasse CCCC e Queiroz Galvão nas obras da Linha Leste do Metrô de Fortaleza e Odebrecht, OAS e Andrade Gutierrez, nas obras do Metrô de Brasília. A negociação, contudo, não vingou.
Coluna Eixo Capital, publicada em 21 de novembro de 2024, por Pablo Giovanni (interino) Um…
Coluna Eixo Capital publicada em 21 de novembro de 2024, por Pablo Giovanni Um áudio…
Da Coluna Eixo Capital, por Pablo Giovanni (interino) Um relatório da Polícia Federal, que levou…
Texto de Pablo Giovanni publicado na coluna Eixo Capital nesta terça-feira (19/11) — O ministro…
Coluna publicada neste domingo (17/11) por Ana Maria Campos e Pablo Giovanni — A Polícia…
ANA MARIA CAMPOS O colegiado da Comissão Eleitoral da OAB se reuniu na noite desta…