Vácuo de segurança

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960 »

jornalista_aricunha@outlook.com /
com Circe Cunha e MAMFIL

Com as imagens do massacre na penitenciária Anísio Jobim, em Manaus, correndo o mundo, mais uma vez, o Brasil é mostrado ao vivo e em cores como um país primitivo e extremamente violento. A Anistia Internacional elaborou e divulgou um relatório sobre o episódio, em que mostra o que os governos há muito querem esconder: a falência das políticas de segurança do país e principalmente do sistema carcerário. No documento, é dito que, por causa da superlotação, a violência, um problema comum em todas as cadeias brasileiras, é generalizada. Amontoada e abandonada à própria sorte em celas minúsculas e insalubres, a maioria dos prisioneiros já percebeu que a única assistência com que pode contar e que está à mão é fornecida diretamente pelas facções do crime que agem, com desenvoltura, dentro e fora dos presídios.

São os grupos de foras da lei que assumiram, de fato, muitos presídios, fornecendo desde a escova de dente até o acesso aos advogados de defesa. O preço, obviamente, por esses serviços assistenciais é alto e é cobrado na forma de adesão obrigatória ao bando. O crime (bem) organizado conhece o vácuo de poder do Estado dentro do sistema carcerário e preenche o espaço vazio e nele se fortalece ainda mais.

Com a facilidade das comunicações e dos chamados pombos-correios, que podem se, desde familiares até servidores públicos e mesmo advogados, os grupos, antes dispersos, resolveram se unir de norte a sul, multiplicando as atuações, os lucros e o poderio estratégico. Para piorar a situação, a corrupção endêmica em todos os escalões contribui para facilitar o trabalho e o crescimento dos grupos criminosos. Trata-se de fenômeno que vem ganhando corpo e que, se não for contido, facilmente poderá evoluir para a formação de grupos paramilitares, à semelhança de muitos cartéis das drogas que agem em toda a América Latina há décadas, principalmente nas extensas áreas de fronteira da Amazônia.

A situação beira o surreal. O próprio juiz, chamado pelos rebelados do Compaj para negociar o fim da rebelião, Valois Coelho, é suspeito de possuir ligação com a facção criminosa Família do Norte e é investigado na Operação La Muralla, que tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A corrupção generalizada nos altos escalões do governo local e federal estão por trás dos acontecimentos de Manaus. Entre 2010 e 2016, as empresas Umanizzare e a Conap, que cuidam da gestão dos presídios na região, receberam mais de R$ 1 bilhão em repasses do governo. Somam-se às irregularidades as suspeitas de que a própria facção Família do Norte deu apoio formal à campanha de reeleição do atual governados José Melo. Pesa ainda sobre a gestão do atual governo do Amazonas a acusação de que as mesmas empresas que cuidam do sistema prisional no estado doaram R$ 300 mil para a campanha eleitoral ao governo.

A chacina, inclusive, foi um massacre anunciado, já que as autoridades daquele estado, há mais de um ano, tinham informações seguras sobre a possibilidade da ocorrência dessas ações bárbaras. A corrupção política e administrativa, praticada desde sempre nos estamentos superiores, foi reproduzida com muito sangue, na base da pirâmide. Tem sido assim desde a chegada de Cabral, em 1500.

A frase que foi pronunciada

“Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar.”

Friedrich Nietzsche

Emprego

» Boa notícia para os desempregados. A rede de cafés Starbucks anuncia expansão no país e diz que vai começar por Brasília. Peet’s Coffe também seria interessante.

À espera

» É justamente agora, no início do ano, que a política fervilha longe dos olhos da população. Antes de localizar os compradores de votos e os empresários que bancarão as campanhas, a articulação, que está no auge, a busca é pelo candidato que convencerá o brasileiro a dar o voto. Depois fortunas são gastas em publicidade, quem tinha mais dinheiro para bancar as promessas aparentemente convincentes vence (na maioria), depois é a vez da troca de favores e do balcão de negócios às custas dos contribuintes e finalmente o choque de realidade. Até as próximas eleições.

1º passo

» Marcelo Crivella, eleito prefeito do Rio de Janeiro, já entrou desagradando muita gente. Uma das primeiras iniciativas prometidas pelo ex-senador é rastrear os supersalários. Por enquanto, só rastrear.

2º passo

» Como sempre, depois de ocupar o cargo, todas as lentes se voltam para o passado do político. Uma força-tarefa desencravou da radiola uma música na qual Crivella rejeitava a idolatria e rimava com heresia, ao referir-se ao chute dado na imagem de Nossa Senhora. Bem acessorado, ontem pediu desculpas.

História de Brasília

O sr. Adauto Lúcio Cardoso, em quem tanto confiávamos, desistiu da representação apresentada contra o então presidente da República e os três ministros Militares. Para recuar depois, deputado, é melhor pensar antes e não fazer. (Publicado em 20/9/1961)

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