Quando a política vira caso de polícia

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960 »

jornalista_aricunha@outlook.com /
com Circe Cunha e MAMFIL

Foi preciso que 60 presos, sob a custódia frouxa do estado do Amazonas, fossem brutalmente assassinados para que as autoridades e parte da imprensa acordassem para um outro problema, maior e mais preocupante do que tudo o que já ocorreu anteriormente. Trata-se das evidências claras de que o crime organizado, nas suas variadas modalidades, já escalou os principais degraus que levam ao poder do Estado.

Há muito tempo, os sinais do flagelo vêm sendo emitidos, sem que nenhuma resistência séria tenha sido providenciada. A própria coluna já registrou que cinegrafistas da TV Câmara precisaram de tempo para esquecer os horrores que gravaram nas penitenciárias do país durante rico documentário produzido pela própria emissora.

Todos os elementos que têm levado a política a se transformar em caso de polícia estão postos sobre a mesa para quem quiser ver. O que já é evidente para toda a sociedade é que o avanço contínuo do submundo do crime sobre a atividade política se vale, em grande parte, da inapetência e, em alguns casos, do comprometimento das autoridades, com a anomalia silenciosa.

Não é por outro motivo que, alarmados, a população e o próprio Ministério Público apresentaram suas propostas para impedir e dificultar a instalação do crime nas instâncias de poder, principalmente no Poder Legislativo. A Lei da Ficha Limpa e as 10 medidas contra a corrupção são parte desse esforço desesperado de pôr freio no avanço, mas infelizmente, ou melhor, sintomaticamente, ainda não foram entendidos como tal e postos em prática.

No vácuo que se criou entre o que vale e o que ainda necessita de entendimento para barrar o caminho dos fora da lei é que o crime medra. Nas últimas eleições para prefeito e vereadores, exemplos da proximidade perigosa foram registrados em todo o país.

Vídeo que circula nas redes sociais, por exemplo, mostra a posse do vereador eleito pela cidade de Caratinga (MG), Ronilson Marcílio (PTB), trajando o uniforme vermelho do presídio onde se encontra em regime fechado. O político sai do camburão, adentra a Câmara Municipal algemado e, sob escolta policial, faz o juramento de posse, assina a papelada e, impávido, é recolocado na gaiola da viatura policial e retorna para a cadeia sob vaias e protestos da população. O vídeo é espelho do Brasil atual.

Em algumas cidades, outros vereadores e prefeitos eleitos nem sequer compareceram para tomar posse. Foragidos e com mandado de prisão expedidos, muitos nem foram para a cerimônia de posse, com medo, obviamente, de serem presos. É preciso reconhecer que os escândalos do mensalão e do petrolão deram exemplos “edificadores” de como a política pode descambar facilmente para o crime e como é difícil ser detido pelas forças da ordem, uma vez eleito e empossado.

Também é preciso assinalar que os projetos de liberação dos jogos de azar e dos cassinos no país, em fase conclusiva no Congresso, servirão como patamar sólido para a escalada do crime organizado rumo ao controle definitivo do Estado.

A frase que foi pronunciada

“Para cobrar dos cidadãos pelas obrigações não cumpridas, o Poder Executivo é implacável. E quando o próprio Poder Executivo afronta a lei? A quem recorrer? Onde está a OAB? A Defensoria Pública? Nossos dirigentes são uma vergonha para o mundo!!!”

Grito de uma mãe solidária com as mães do lado de fora do Complexo Penitenciário Anísio Jobim

Solução

» Danilo Porfírio de Castro Vieira, advogado, levanta a bandeira do recall eleitoral. Se o candidato sair da linha, não cumprir o que prometeu ou causar danos ao erário, a população teria o poder de lhe cassar e revogar o mandato. A chamada para a reavaliação seria feita por iniciativa popular. No caso, ou assumiria o vice ou haveria nova eleição.

Ombusdman

» A cada dia, as ações do site de Rinaldo de Oliveira, SóNotíciaBoa, devem subir. O site é um refúgio para descansar os olhos e ouvidos das tragédias diariamente publicadas na imprensa. É bom lembrar que não faz muito tempo as notícias que detalham movimentos sórdidos da violência, no passado, eram publicadas apenas na imprensa especializada em desgraça humana.

Registro

» Assistindo à matéria de Fabiano Andrade, da Globo, sobre a mansão de Valmir Amaral, lembrei-me do abandono da Academia de Tênis. O glamour deu lugar ao abandono.

História de Brasília

Sem solução o caso da Prefeitura de Brasília. O presidente da República não está mais disposto a uma partilha política. Isso significa que está compreendendo a situação do Distrito Federal.

(Publicado em 20/9/1961)

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