A traumática preparação de um sucessor

Publicado em ÍNTEGRA

DESDE 1960 »

jornalista_aricunha@outlook.com
com Circe Cunha e MAMFIL

Ainda está por ser escrita a história recente sobre os bastidores dos bastidores da Presidência da República, à época de Fernando Henrique Cardoso, com foco específico nas suas relações com o seu ministro e candidato natural à sucessão, José Serra. A imagem que restou ao grande público é de um embate de egos, surdo e permanente, entre dois dos maiores líderes do PSDB, o que teria resultado na flagrante apatia do então presidente em abrir caminho para fazer seu sucessor. A impressão geral é que José Serra teria sido, naquela ocasião, abandonado à própria sorte.

Alguns observadores do cenário político da capital preferem a versão de que FHC, preso às suas convicções políticas e éticas, preferiu abrir mão da possibilidade de construir a candidatura Serra para não ser posteriormente acusado de usar a máquina pública em benefício de seu partido.

É bom lembrar que, naquela ocasião, o presidente da República, mesmo contando com maioria parlamentar flutuante, vivia sob intenso fogo da artilharia petista. Pichações nas principais ruas do país pedindo a cabeça de FHC eram visíveis e, não raro, vinham acompanhadas de ameaças veladas.

Das tribunas da Câmara e do Senado, os discursos de ódio, recheados de acusações eram diários. Boa parte da imprensa, que, naquela ocasião, rendia simpatias ao Partido dos Trabalhadores ajudava o quanto podia para minar, com matérias escandalosas, a credibilidade do governo.

Sindicalistas incrustados nas repartições públicas cuidavam de vazar informações sigilosas sobre o governo. Durante seus dois mandatos, FHC foi atacado dia e noite impiedosamente pela oposição, que, para ele, criou e espalhou pelos quatro cantos a narrativa de que aquele era um governo de direita, conservador, ligado ao grande capital internacional, cuja missão era entregar as riquezas do país aos estrangeiros.

Acuado por uma oposição que se comportava abertamente como inimiga mortal, FHC fechou as portas à Serra, possibilitando que outras fossem abertas para a chegada do PT ao poder. Incompreensivelmente e em certo sentido, Fernando Henrique pode ser considerado o padrinho político de Lula. Foi ele quem aplainou as veredas e suavizou a rampa do Planalto para a subida do Partido dos Trabalhadores.

Três anos depois de instalado no Executivo, o PT se vê protagonista do escândalo do mensalão. Ante a iminência de sofrer um merecido processo de impeachment, Lula recorre a FHC, que passa a cuidar pessoalmente, junto ao seu partido e aos seus simpatizantes, de uma solução que preservasse o presidente, sob o argumento de que as instituições brasileiras não suportariam nova cassação de um presidente. Com isso, FHC abriu ampla possibilidade para um segundo mandato de Lula.

É possível afirmar, portanto, que sem FHC, não haveria nem o Lula do primeiro mandato, nem o Lula reeleito. Até mesmo as políticas públicas implementadas com êxito pelo petista, foram criações de seu padrinho FHC. Curiosamente, depois do megaescândalo de corrupção trazido à tona pela Operação Lava-Jato que levou parte substancial do antigo governo para atrás das grades, FHC veio a público para alertar sobre os perigos que uma possível prisão de Lula poderia provocar na estabilidade de nossa jovem democracia. Ainda não se conhece as razões que têm levado FHC a proteger sistematicamente alguém que tem pregado de público contra ele. Talvez para dar à população a oportunidade de viver pelo método construtivista o que o PT é capaz de ensinar.

Por essas e por outras, não é de todo exagerado considerar que FHC foi uma espécie de sócio dessa que é a maior crise de toda a nossa história. Tivesse ele agido como Lula, defendendo seu sucessor, o candidato Serra, a história seria diferente e não seria exagero afirmar que o Brasil estaria entre as quatro nações mais desenvolvidas do planeta.

A frase que foi pronunciada

Inflação: “Todos já deveriam ter aprendido que todos os modelos são errados; alguns são úteis”

Delfim Netto

Novidade

» Assinada pela senadora Gleise Hoffman, com relatoria da senadora Marta Suplicy, a emenda do cheque em branco será discutida em breve no parlamento. O projeto autoriza governadores a gastar recursos de emendas parlamentares como eles quiserem, inclusive com o pagamento de salários de servidores. Para quem tem certeza de que isso será ferramenta para a corrupção, as senadoras esclarecem que tanto o Fundo de Participação dos Estados (FPE) quanto o Fundo de Participação dos Municípios (FPM) são bastante fiscalizados.

Pobreza

» Mães que buscavam fantasias criativas nada chinesas ficaram decepcionadas com as lojas dos shoppings. Nenhuma costureira se deu o trabalho de pegar um pano natural e confeccionar uma roupinha para a meninada no carnaval.

História de Brasília

Luiz Macedo, Diário de Notícias (Rio): Não se pode afirmar que Jânio está morto para a política. Muito ao contrário, ele ainda se constitui num dos poucos líderes com que pode contar o povo brasileiro. O futuro político de Jânio, entretanto, é um enigma. Enigma tão profundo quanto sua própria personalidade. Só ele sabe como voltará a participar da vida política brasileira. (Publicado em 22/9/1961)

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