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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Uma coisa é certa: superada a questão da pandemia, se é que isso vai ocorrer algum dia de forma definitiva, os cidadãos brasileiros estarão, na sua maioria, vacinados. Ao menos no que diz respeito à onda de politicagem que envolveu todo esse processo, desde março deste ano. Com isso, fica mais uma vez confirmado que há males que vêm para o bem ou, pelo menos, que nos ensinam a optar por caminhos mais claros e seguros.
A pandemia, as mortes e internações seguidas, que nos aproximam da triste marca de 200 mil óbitos, não tiveram, por sua gravidade, o condão de unir a nação, por conta exclusiva das disputas que se seguiram em torno do assunto, protagonizadas, exclusivamente, por nossas lideranças políticas. O mais espantoso é que toda essa polêmica criada, do início ao fim, parece ter sido motivada apenas por disputas políticas, tanto nas eleições municipais, como nas disputas futuras de 2022.
O mais surreal é que, em meio a esse banzé, a questão da pandemia e das potenciais vacinas ficou em segundo plano. Trata-se aqui de uma discussão que não tem levado em conta as agruras e incertezas, mas, tão somente, a possibilidade dos diversos grupos políticos se ajeitarem e fortalecerem suas posições de mando, além dos laboratórios, é claro. O pior, se é que possa haver uma piora nessa questão toda, é que nenhum dos lados parece ter razão nessa briga.
Para complicar ainda mais o que em si já é um quiprocó infernal, até mesmo o Supremo foi envolvido nessa disputa e, como já tem sido costume, errando por último, ao criar uma espécie de obrigatoriedade e sanções para aqueles brasileiros que se recusarem a tomar a vacina.
Dois fatos, absolutamente comprovados, estão diretamente ligados à questão da pandemia. O primeiro é que há muitíssimo dinheiro envolvido em torno dessa questão, sendo que boa parte vai desaparecer nas brumas de uma pandemia totalmente atípica. O segundo é a pressa com que as pesquisas e os laboratórios parecem ter encontrado resposta para um problema que, a médio e longo prazo, sabidamente 5 anos, pode ter seus efeitos colaterais e trágicos espalhados por centenas de milhões de indivíduos.
Todos os testes da chamada terceira fase foram acelerados, o que é em si e, segundo a metodologia científica, um sinal de alerta. Não há como negar que estamos ainda no escuro, tateando e em busca da chave que possa abrir os porões dessa pandemia. As únicas certezas, até aqui, são que o país onde essa virose irrompeu em primeiro lugar, coincidentemente, tem sido o que mais tem lucrado com a pandemia e o mais refratário a que investigações isentas sejam realizadas.
Há, em todo esse assunto, um roteiro que precisa ainda ser colocado diante da realidade. De certo, até o momento, temos que separar os “lucros políticos” que os diversos grupos, no Brasil, vão retirar dessa pandemia, e os lucros argentários que países diversos, com a China no topo, estão obtendo com todo esse pesadelo.
Para os roteiristas dessa trama surreal, a realidade, por sua complexidade, tem ido muito mais além do que qualquer ficção, situando esse drama global na fronteira que divide a vida real dos sonhos mais perturbadores.
A frase que foi pronunciada:
“Dinheiro perdido, nada perdido; saúde perdida, muito perdido; caráter perdido, tudo perdido.”
Provérbio Chinês
Idosos
Juliana Seidl prepara a turma do ano que vem para atendimento individual como orientadora de carreira e para aposentadoria. Veja, a seguir, a palestra ministrada “Reinvenção na Carreira e Projeto de Vida”, a convite da Universidade Corporativa dos Correios.
Consome dor
Nos velhos tempos da capital, as donas de casa exerciam o poder que têm. O abuso de preços dos supermercados era logo impedido com o boicote. Sem internet, conseguiam se mobilizar para frear a alta injustificada de preços. Numa pandemia seria o momento de baratear, não de diminuir os produtos nas embalagens e precificar em dobro.
Evolução
A situação do Teatro Nacional Claudio Santoro é de abandono total. Sem sensibilidade para a cultura, o GDF vai precisar responder, ao Ministério Público do Distrito Federal, o que foi feito até agora na sala de concertos. A interdição do local aconteceu no início da pandemia e a Orquestra do teatro está desabrigada há anos. Não dá para entender. O governador Ibaneis já viajou tantas vezes para o exterior. Poderia ter trazido, na bagagem, a consciência de que a cultura enobrece o governo.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Esse novo prédio ficará da altura da rampa, numa extensão de duzentos metros, e conterá novas salas para comissões e um escritório para cada deputado e senador. (Publicado em 20/01/1962)
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Com a Revolução Industrial, veio a sociedade de consumo e com ela o marketing, que nada produz e, mesmo assim, converteu-se na alma, a dar vida a todo e qualquer negócio. De tanto ser valorizado, neste mundo consumista em que estamos metidos, o marketing, ou a propaganda, tornou-se maior e mais importante até do que o produto que anuncia.
Como um papel de embrulho luxuoso, esse apelo imediato e insistente ao consumo esconde hoje, em seu conteúdo, exatamente o que não anuncia, numa armadilha pronta a capturar consumidores incautos e famintos. No Livro Sagrado, poderia muito bem ser representado pela alegoria do sepulcro caiado, a camuflar o engano. Em tudo, o marketing lança sua fumaça ilusória.
De perfume, passando por carros, roupas, comidas e até hospitais particulares. Tudo ao alcance de todos. No caso de hospitais particulares, abundantes na capital, onde a renda média da população, que vive nas áreas do Plano Piloto, é uma das mais altas do país, é fácil encontrá-los em cada canto, cada um oferecendo de remodelação estética completa até a vida plena eterna repleta de saúde. O problema com esse tipo de oferta mágica, à disposição de bolsos dispostos a pagarem os altos custos de atendimento, é que, uma vez retirado o papel de embrulho e examinado, bem de perto, o que esses estabelecimentos têm a oferecer, de fato, fica a impressão de que estamos sendo enganados da mesma forma que acontece em muitas igrejas neopentecostais, onde uma vaga no céu é vendida aos crentes, sem recibo e livre de impostos.
Quem adentra nesses moderníssimos templos da saúde, erguidos com os requintes de uma arquitetura que é somente uma fachada oca, equipados com os móveis da última feira de design de Milão, quadros chamativos e caros pendurados em cada recanto, jardins internos, salas de descanso, serviço de cafeteria, televisores e tudo o que o mundo do entretenimento poder oferecer, fica a sensação de que está adentrando num hotel de luxo e não em um estabelecimento que vende serviços de saúde.
Nesses ambientes, a união entre técnicos em instalação hospitalares e decoradores faz o impossível para que o paciente, agora transformado em cliente, não perceba a diferença entre estar em um ambiente de hospedagem e uma casa de saúde. A intenção talvez seja essa mesma. A ilusão propiciada pelo marketing da saúde começa a se esvair logo na primeira consulta, quando o paciente-cliente se depara com médicos que mais se assemelham a crianças, recém-saídos das muitas faculdades, também particulares, que se espalharam por todo o país nesses últimos anos.
Justiça seja feita. Com raríssimas exceções, esses encantadores hospitais não apresentam um corpo clínico de primeira linha, com doutores e currículos à altura da arquitetura desses portentos edifícios. O mundo vem abaixo com a bateria de exames pedidos a encarecer os serviços de diagnóstico. A pouca empatia entre médicos noviços e pacientes é logo notada. Aqueles médicos de cabelos brancos e ar cansado, que já perambularam por hospitais públicos por anos, e cuja a experiência faz a diferença, simplesmente não existem. Tudo é novo e embrulhado em papel de seda a esconder o que importa.
Por conta dos nomes estrelados que se apresentam como proprietários dessas joias, a fiscalização dos órgãos de controle da saúde jamais é vista. Talvez por conta desse simples fato, os hospitais de fachada têm se proliferado na capital, mais do que as viroses. A questão é que a maior parte são apenas cenários, com fachadas modernas, como papel de embrulho em caixa vazia.
A frase que foi pronunciada:
“O género humano assemelha-se a uma pirâmide cujo vértice – um homem, o primeiro homem – se esconde nas alturas quase inacessíveis de sessenta séculos sobrepostos uns aos outros, e cuja base, de miríades de indivíduos, poisa no abismo incomensurável de um futuro desconhecido.”
Alexandre Herculano, poeta português, historiador e jornalista
Presente
Veja, no blog do Ari Cunha, a cartilha elaborada pela Fiocruz e pelo Ministério da Saúde para ser distribuída pelo WhatsApp aos amigos, como presente virtual. Recebemos da leitora Ana Paula Cunha Machado.
Diplomada
Laice Miranda Machado comemora o bom desempenho obtido no curso “A Defesa Nacional e o Poder Legislativo”, promovido pela Escola Superior de Guerra.
Pauta
É hoje que o famoso chef Dudu Camargo vai participar da campanha “Nosso Natal 2020”, para crianças e adolescentes da Instituição Batuíra, localizada em Ceilândia Norte. A primeira-dama, Mayara Noronha Rocha, foi a catalisadora da ação que é coordenada pela Subchefia de Políticas Sociais e da Primeira Infância.
Ontem
Interpretando JK, o ator João Campos já comemora o episódio pronto e disponível das Histórias de Brasília nas plataformas digitais. Vamos conhecer o passado da nossa cidade. Veja no link Primeira radionovela sobre Brasília estreia nesta quinta (17/12).
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Por mais um mês ficará, ainda, interrompida a pista do Eixo Monumental do lado da Câmara. E que estão construindo o túnel que ligará ao novo anexo do Congresso. (Publicado em 20/01/1962)
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Em meio a mata e em terrenos de difícil visibilidade, é comum que as tropas e pelotões, envolvidos em batalhas, fiquem atentos às recomendações das cartilhas de guerrilhas que ensinam: “Quando o inimigo avança, nós recuamos. Quando o inimigo recua, nós avançamos. Quando o inimigo para, nós aquietamos.” Uma lição dessa natureza pode ser empregada também em tempos de pandemia, quando o inimigo invisível, representado pelo vírus da Covid-19, parece sitiar as populações em todo mundo.
Em tempos de guerra pela preservação de vidas e quando já se prevê que, na virada do ano, cerca de 180 mil brasileiros poderão perder a batalha contra a doença sufocante, a recomendação mais sensata a ser seguida por aqueles que detêm o poder de governar uma cidade seria, exatamente, a observância dos sinais emitidos pela pandemia. Nesse caso, e dadas as ondas de avanço e recuo da doença, a prudência, aceita pelos homens de bom senso, manda que qualquer ação mais ousada por parte do governo deveria aguardar o momento propício para ser deflagrada. Incluem-se nesses casos, além de todo o processo de privatização, feito, ao ver de muitos, como uma ação um tanto açodada e sem medir as exatas repercussões que tais medidas trarão para a população, a médio e longo prazos, toda e qualquer realização de obras de grande vulto, que venham a demandar recursos públicos, numa hora tão delicada.
Na verdade, os recursos e poupanças públicas deveriam, neste momento tão especial, ficar retidos para eventualidades, sendo sua utilização reservada apenas para casos de emergência pública. O momento requer serenidade e parcimônia com o dinheiro do contribuinte. A privatização de estatais, merecidas ou não, deveriam esperar outro momento. Assim como a construção de pontes, viadutos, estradas e outras obras de interesse do governo.
Os preciosos recursos recolhidos da população, numa hora de incerteza como esta, deveriam, por parte de governantes prudentes, ficar, prioritariamente, à disposição para serem gastos em necessidades de emergência, como na compra de medicamentos e insumos, aparelhamento de centros de saúde, hospitais, contratação de pessoal de saúde, compra de vacinas, geladeiras para acondicionar esses materiais, o restabelecimento de hospitais de campanha, compra de ambulâncias e uma infinidade de outros gastos necessários em tempos de guerra, como estamos presenciando.
Por certo, haverá oportunidade para que o Governo do Distrito Federal demonstre sua capacidade administrativa e de empreendedorismo centrada na realização de obras vistosas nos quatro cantos da cidade. Por enquanto, o inimigo, vindo do Leste, de terras distantes, está à espreita, comprando terras, portos, indústrias e atacando a cada movimento desastroso feito por nós, ceifando a vida de nossos cidadãos, sem piedade.
É tempo de preservar a vida de nossos soldados, reunindo a tropa, mantendo-os seguros e protegidos do fogo inimigo. É tempo de nos aquietarmos.
A frase que foi pronunciada:
“A política brasileira está dividida entre paranoicos e messiânicos.”
Jaime Lerner, urbanista.
Recordando Neusa
Merecida homenagem à autora do Hino de Brasília, Neusa França. Debaixo do bloco J, onde morou desde os primeiros anos da capital, os alunos Soledad Arnaud, Wandrei Braga e Alexandre Romariz e Beatriz Pimentel (por vídeo) tocaram músicas compostas pela mestra. Com a colaboração de Rogério Resende, que tratava o piano da Neusa como um cardiologista, o instrumento foi levado ao ar livre, onde a audiência aplaudia animada. Alexandre Romariz, Dib Francis e Durval Cesetti trataram da divulgação, e quem organizou o evento, além dos alunos, foi Mauria França, a nora de Neusa. Denise França, filha, não escondeu a emoção com o carinho dos alunos.
Pela cidade
Leia, no Blog do Ari Cunha, a opinião da professora de arquitetura Emilia Stenzel, em relação ao Setor Comercial Sul. Emília é representante do International Council of Monuments and Sites (ICOMOS), ligado à UNESCO.
–> A proposta de revitalização do SCS, ao colocar a ênfase na introdução do uso habitacional, sob a justificativa da democratização dos espaços da cidade, parece não reconhecer que a alocação de usos de caráter público nos centros urbanos – como os usos definidos para a escala gregária: comércio, serviços, cultura – assegura o acesso a camadas mais amplas da população, do que a sua destinação ao uso habitacional.
A par de assegurar uma maior amplitude no acesso àqueles espaços, pelo caráter público desses usos, a implantação de polos de tecnologia e de ensino, bem como o apoio ao desenvolvimento do comércio e o suporte adequado às manifestações culturais são ações que têm em seu conjunto o potencial para a revitalização que o SCS demanda.
A introdução da habitação traz para aquele setor comercial demandas que não poderão ser atendidas no âmbito do SCS, como mais escolas, mais silêncio, ou espaços para playgrounds, para citar as imediatas.
A “cidade de 15 minutos” que buscamos no Século XXI demanda ações mais amplas e pode se realizar sem que se alterem os usos definidos no quadro da preservação.
O SCS demanda ações de fortalecimento dos usos que lhe são inerentes e a resposta a essa situação não comporta o abandono de sua estrutura física, da mesma forma como não comporta o abandono de suas características gregárias.
A introdução de uso habitacional na escala gregária não responde às pautas levantadas para justificar tal uso, não se mostra sustentável (seja do ponto de vista econômico, seja do ponto de vista social) e fere a preservação do patrimônio cultural.
Por um outro lado, a proposta de uma tal alteração de uso nos espaços centrais do conjunto urbanístico tombado é colocada sem que tenham sido estabelecidos os mais elementares instrumentos de gestão definidos pelas Nações Unidas para os sítios inscritos na Lista do Patrimônio Mundial, quais sejam: um plano de preservação do conjunto urbanístico e um comitê gestor do mesmo.
Brasília é um feito da cultura brasileira no campo do urbanismo e da arquitetura, mundialmente reconhecida como um dos mais importantes legados do Século XX. A construção de Brasília tornou realidade um projeto de cidade que é nosso privilégio, mas também nosso compromisso: é nosso compromisso transmitir essa riqueza às futuras gerações, é nosso compromisso inserir esse legado cultural em nossos projetos de futuro.
Condizente com nossa autonomia como povo é recusarmos a miopia e o casuísmo de interesses políticos e econômicos, que não hesitam em tornar letra morta os dados estruturantes de nossa memória coletiva.
Magia
Reginaldo Marinho publicou, na coluna Bahia de Todos os Cantos, comentário sobre a magia das pedras encantadas da Serra do Sincorá. Tudo registrado no link Diário do Turismo.
Viva hoje
Não sei o nome dela. Passou a vida inteira planejando a volta para Laranjeiras, no Rio. Juntou cada centavo que podia. Ano a ano. Eliminou viagens, passeios, almoços, só para economizar. Tudo conspirava a favor. Até que o grande dia chegou. O caminhão de mudança estacionava na rua Estelita Lins. Um choro escapou por alguns minutos de tanta emoção. Dali em diante sua vida virou um inferno. O vizinho era viciado em drogas pesadas e nunca mais ela conseguiu dormir em paz. Moral da história trazida pelo ditado lídiche: “Deus ri de quem faz planos” (Mann Tracht, Um Gott Lacht).
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Não faz muito, denunciamos desta coluna, que numa granja depois de Taguatinga, seu proprietário alimentava porcos com abóbora e cenoura, porque não tinha comprador, e não tinha lugar para vender na cidade. (Publicado em 20/01/1962)
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A frase que foi pronunciada:
“O bem estar do povo é a suprema lei.”
Marco Túlio Cícero, advogado, político, escritor, orador e filósofo romano, 43 anos a.C
Eventos
A seguir, linda foto no gramado do Congresso Nacional, onde centenas de aparelhos de iluminação chamavam a atenção para o desespero dos empresários e trabalhadores de eventos em Brasília.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
A Prefeitura está multando o pessoal do Setor de Indústria e Abastecimento pela existência de letreiros, e pela falta de habite-se. Não pensa, entretanto, em indenizar os prejuízos que tem causado, sem dar luz, água, esgoto e telefone. (Publicado em 14/01/1962)
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Se ainda estivesse na ativa, cruzando os rios Estige e Aqueronte, carregando em sua nau as almas dos recém falecidos, por certo, o barqueiro Caronte de Hades, da mitologia grega, teria muito trabalho a realizar, tendo que atravessar esses cursos d’água 738 mil vezes, levando os atingidos em todo o mundo pela nova peste negra, desta vez, chamada de Covid-19. Somente para transportar os mortos do Brasil, Caronte teria que realizar o mesmo trajeto mais de 103 mil vezes, indo e voltando, numa viagem de ida e vinda sem dia para terminar.
No poema épico Eneida, de Virgílio, escrito no século I a.C., “Se não posso dobrar os céus, moverei Aqueronte”, o que em outras palavras poderia significar uma busca por um significado, uma razão ou mesmo um culpado por tamanha fatalidade global. Muitos ainda buscam uma razão para uma mudança tão brusca no modus vivendi de todos nós. Que consequência terá essa situação dramática e inusitada para os indivíduos, sobretudo para os mais moços? Por certo, haverá oportunidade para traumas, do tipo pós-guerra, maculando o subconsciente de muitos. Talvez uma questão dessa dramaticidade possa ser superada, em parte, buscando-se, ao menos, os pretensos culpados por instalar, sem aviso e sem remorsos, o mundo distópico que acreditávamos existir apenas na ficção, nos filmes noir.
Quem sabe, ao indicar os responsáveis diretos e indiretos por esse drama humano, talvez seja encontrada a razão de tudo isso. Se o mundo ainda não identificou corretamente os culpados por tantas mortes presentes e futuras, ao menos, muito já sabem os nomes e sobrenomes daqueles que, por ofício, tinham a obrigação de levar as pessoas a um bom porto. E se soubéssemos os nomes e a culpa atribuída a cada um nesses episódios macabros, de que adiantaria? Os que foram levados para o outro lado do rio, pelo barqueiro da morte, lá ficarão para sempre. O que parece não ser possível, ou ao menos concebível, é que não exista protagonistas responsáveis por essa verdadeira montanha de mortos.
Mesmo a vacina, que se anuncia no horizonte, capaz de aplacar o medo de uma morte sufocante, não terá o condão de pacificar o mundo e, sobretudo, os traumas permanentes gerados em muitos. É preciso encontrar os culpados, para ao menos entender suas razões. O mais inquietante é pensar que, por ação humana deliberada de alguns líderes políticos do nosso mundo, ousaram transformar a Terra no próprio Hades, onde as expectativas de uma vida de quietude e simplicidade foram, simplesmente, banidas para longe.
Ao destruir, com propósito, qualquer feixe de uma luz de esperança, esses que agora estão sentados em suas cadeiras, dirigindo nações inteiras, organismos, e em outros postos chaves, por certo, cometeram crimes hediondos e devem responder por eles, seja internamente ou perante os tribunais internacionais. O que não dá é fingir que nada aconteceu, que tudo foi um acidente sem maiores problemas, varrendo esses acontecimentos para debaixo do tapete da história, cobrindo-os com a poeira do tempo e do esquecimento. O que se quer, muito mais do que os culpados, que certamente aí estão impunes, é buscar suas razões. Até para que flagelos como esse não voltem a surpreender a todos novamente.
A frase que foi pronunciada:
“A palavra é meu domínio sobre o mundo.”
Clarice Lispector
MAB
Muitos planos para o Museu de Arte de Brasília. Localizado em uma região especial, há um projeto grandioso para entregar, à cidade, o antigo museu aportado como uma área moderna, num complexo cultural que a capital merece de volta. A Concha Acústica será uma extensão desse complexo.
Conhecimento
Por falar em Ceará, recebemos do amigo Silvestre Gorgulho um depoimento da Dra. Rosete Ramos. Ela fala nas lições passadas pelo Dr. Fábio Rabelo, no então Hospital Distrital. O cearense, Dr. Edmar Maciel, também é destaque como o precursor no uso da pele de tilápia para reconstituir peles queimadas, que lhe rendeu o Prêmio Abril de Ciência. O conhecimento está sendo enviado para o Líbano.
Resultado
Novacap, Administração Regional do Lago Norte e Secretaria de Saúde, unidas para cercar e aumentar o Horto ao lado da Unidade Básica de Saúde do Lago Norte. Brasília acorda para proteger tudo o que já foi conquistado. O próximo passo é o Parque Nacional.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Hoje é Sábado, dia de conferir o grau de desenvolvimento das tilápias do Lago. Vou para o meu pesqueiro. Lá, terei a tilápia que quero, com o caniço que escolherei. (Publicado em 13/01/1962)
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Em tempos de crise profunda, como a vivenciada agora nesses tempos sombrios de pandemia, ações radicais, como a decretação de um estado de lockdown total ou a estipulação de um regime de quarentena rígido, não soariam fora do comum, dada a periculosidade e a estranheza da situação que se impôs sobre todo o mundo, sem exceção. Não seria nada absurdo cobrar, diretamente do governo chinês, uma indenização de US$ 250 mil pela morte de cada brasileiro atingido pelo vírus. Assim seriam cobertos os enormes prejuízos causados pela irresponsabilidade dos mandatários alojados no burocrático e nada transparente Partido Comunista Chinês (PCC).
Com essa espécie de multa, os danos gerais causados pela pandemia seriam parcialmente cobertos, e ajudando o país a enfrentar a maior crise de saúde pública já enfrentada pelos brasileiros em todos os tempos. Enquanto ações como essas não são postas em prática para o enfrentamento de tempos absolutamente radicais, como experimentamos agora, ficamos com o que temos ao alcance das mãos. Nesse caso, o que temos diante de nós é simplesmente um dos maiores organismos estatais de saúde pública de todo o planeta: o Sistema Único de Saúde (SUS). Reconhecer a importância desse mega Sistema, único no mundo pelo tamanho e pela abrangência no atendimento médico gratuito, servirá, doravante, tanto para turbinar esse instituto com o que de melhor existe de pessoal, recursos e tecnologia nessa área, como para garantir que futuras crises, como a que estamos mergulhados agora, não venha a surpreender nossa gente.
De fato, o bafo da morte, vindo desde o leste, por ação direta da incúria de comunistas burocratas, encontrou no Brasil, mais inclusive do que em quaisquer outros países, uma estrutura sui generis como o SUS, criada e montada para atender as exigências de um país continental e desigual como o nosso. Infelizmente, como praticamente tudo nesse País, o SUS vem há anos sendo sucateado pela má gestão de seguidos governos, tanto no âmbito federal, quanto por governos locais.
A chegada do vírus mortal fez com que a população abrisse os olhos para a importância desse sistema de saúde universal. O mundo inteiro, por conta das mesmas situações emergenciais de saúde, passou a notar também a existência desse sistema brasileiro, considerando-o como sendo a melhor fórmula, a mais barata e eficaz para o enfrentamento, não só de pandemias com essa extensão, mas para prática da verdadeira medicina social. Foi preciso, no entanto, que uma pandemia mortífera, como a atual, chamasse a atenção de toda a sociedade para a importância do SUS.
Sintomaticamente, como tem acontecido no passado, apenas a sociedade despertou para esse fato, permanecendo o governo e a maioria das autoridades alheias ainda para a importância vital do SUS. Segundo dados mais recentes, todo esse Sistema conta com mais de 45 mil equipes de Saúde da Família, atuando em mais de 40 mil Unidades Básicas de Saúde, com 4700 hospitais públicos e conveniados, oferecendo mais de 32 mil leitos de UTI. Apenas em 2019, foram realizadas, graças a esse Sistema, mais de 330 milhões de visitas domiciliares e mais de 3,7 milhões de atendimentos ambulatoriais. Trata-se aqui de um verdadeiro gigante gentil que deveria merecer os melhores cuidados desse ou de quaisquer outros governos vindouros.
A frase que foi pronunciada:
“O absinto do licorista envenena o copo em que bebe o indivíduo; o absinto do pessimismo envenena as fontes a que todos os filhos de Adão vêm procurar a paz da fé ou o íris da esperança, a embriaguez do entusiasmo ou os hinos da poesia.”
Paolo Mantegazza (1831-1910) foi um neurologista, fisiologista e antropólogo italiano. Notável por ter isolado a cocaína da coca, que utilizou em experimentos, investigando seus efeitos psicológicos em humanos. Também é conhecido como escritor de ficção. (Do site O pensador)
Divulgação
Hoje, a Associação dos Juízes Federais, em parceria com a AJUFESP (Associação dos Juízes Federais de São Paulo e Mato Grosso do Sul) e com a Justiça Federal – Seção Judiciária de São Paulo, promove a Webinar “iJuspLab 2020 – 3 anos de história”. Veja a programação completa a seguir. A transmissão ao vivo e aberta ao público será feita pela TV Ajufe, no YouTube, das 9h às 18h30.
Será?
Está registrado, no Tweeter de Sarah Winter, que a ação da PM em Brasília é política. Acampamento pró-Bolsonaro, na Esplanada, foi calmamente e permanentemente desmontado. “Primeiro tiram a militância digital, agora desmantelam a militância de rua. Presidente, reaja, por favor!”, pediu a ativista.
Acampamentos desmantelados em Brasília pela PMDF.
Faixas, bandeiras, mesas, TUDO impedido. Polícia passando de 3 em 3 minutos pra nos intimidar. pic.twitter.com/ejJFG258cn— Sara Winter (@_SaraWinter) June 11, 2020
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Um telegrama da Meridional, procedente do Rio, diz que uma jiboia de três metros irrompeu na cozinha do prédio 307 da rua das Laranjeiras. Diz mais que a Rádio Patrulha foi chamada, mas quando chegou os vizinhos já haviam liquidado o ofídio. E é para lá, que dr. Adauto Lúcio Cardoso quer levar o Distrito Federal. (Publicado em 09/01/1962)
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Quem já caminhou pelas ruas desertas em qualquer cidade interiorana pode perceber que, na aparente quietude desses lugares, uma infinidade de olhos e ouvidos está atentamente postada por detrás de portas e janelas, espreitando qualquer movimento e identificando cada um deles apenas pela impressão digital produzida pelo som característico de cada passo.
O mesmo ocorre hoje com o mundo em quarentena. O tempo de sobra e a monotonia fizeram dos humanos seres mais antenados com o que se passa ao lado. A pandemia fez, de todos nós, espectadores interessados nos movimentos em volta, em outras ruas, em outros países. Buscamos com isso mais do que satisfazer nossa curiosidade. Estamos atrás de exemplos e de soluções mais harmônicas para nossos problemas comuns.
Nessa preocupação com o que ocorre para além de nossas janelas, o mundo passou a observar mais atentamente outras nações, avaliando, com lupa de cristal, como cada um dos países vem enfrentando a virose, que medidas cada governo vem adotando, que atitudes cada sociedade vem tendo frente à quarentena. Somos observados com mais acuracidade em tempos de enfrentamento da virose pandêmica. Erros e acertos vistos por lupas mundiais.
Enquanto isso, buscamos uma receita que talvez nos sirva, um exemplo que nos estimule. Nesse olhar espichado para o que se passa ao lado, vamos observando também os exemplos edificantes que engrandecem o ser humano como uma raça dotada de grande poder de adaptabilidade e resiliência, capaz de mitigar até as mais duras adversidades. O mundo está vendo e aprendendo com os exemplos em volta.
É possível afirmar, com segurança, que, apesar das ruas desertas do mundo atual, a humanidade está postada por detrás das janelas da internet, de olhos e ouvidos postos nas ruas vazias do planeta, observando como raposas como cada um se move. Vistos dessa posição, uma pergunta se faz necessária: com qual figura estaria sendo apresentado, o Brasil, perante o mundo nesse momento de agonia? Se formos responder essa questão pelo o que a maioria dos jornais do mundo vêm estampando em suas manchetes, é possível afirmar que o Brasil e, principalmente, o atual governo vêm enfrentando a corrupção, os laboratórios, os cleptocratas de governos anteriores e toda a forma de pensamento que nunca lutou pelo país.
Está claro que, quando alguém entra em um “esquemão” até agora impenetrável, sofre o que o governo enfrenta. Devolveu dinheiro para o partido, usou uma ninharia durante a campanha, dispensou os gigantes da comunicação. Tem sido traumatizante para quem está acostumado a se encostar no foro privilegiado para dilapidar o país. Não se trata de modelo a ser seguido ou não. Trata-se de alguém, bem-intencionado, que conseguiu convencer a população brasileira de que é possível governar sem roubar. A população não é mais ingênua. Para desespero de muitos, a comunicação mundial foi popularizada. Uma rádio vira TV, um cidadão tem milhões de seguidores em blogs e vlogs. Uma menina de 15 anos que faz maquiagem no banheiro arrebanha milhões de visualizações. O mesmo número que um Ibope registraria em um jornal produzido com centenas de milhares de dólares por trás da estrutura. Acabou e poucos se deram conta disso. Ou é mais confortável não ver. Poucos reagiram com inteligência a essa mudança. A maioria insiste em mentir, denegrir, roubar, matar e destruir, fazendo as honras do que há de pior na humanidade.
Acabou. A população brasileira quer outro país. Menos estádios e mais hospitais, menos cadeias e mais escolas, menos privilégios e mais trabalho. Aqui mesmo, na América Latina, as manchetes dos jornais informam que nossos hermanos, em destino histórico e aflições cotidianas, passaram a nos ver como ameaças e um risco muito grande não apenas pelo grande número de casos de Covid-19, mas, sobretudo, pelo modo como a atual governo vem lidando com a pandemia. Até agora, a pandemia ocupou o primeiro plano nas análises. Outras pandemias virão. As que vieram antes dessa receberam um mundo paciente, resiliente, inerte, deixando a possibilidade de crime contra a humanidade de lado.
Nunca tivemos hospitais que pudessem arcar nem com os doentes diários espalhados por estados e municípios, que até lanche da merenda escolar têm a coragem de roubar. Um país que obedeceu ao padrão FIF,A para usar até bilhões para a construção de estádios, não foi capaz de pensar na saúde e na educação em primeiro lugar. Até chute no traseiro ouviu que levaria sem reagir.
Notícias correm na América do Sul de que nossos vizinhos vêm se apressando em fechar suas fronteiras, com medo do gigante adoecido e descontrolado. Que assim seja. Será bom para todos. Pelo menos por enquanto.
Por outro lado, fala-se no exterior que o Brasil vem perdendo o status de democracia liberal e se enfeixando cada vez mais numa rota autoritária, cujo os desfechos são ainda incertos e sombrios. Não há rota autoritária. Há dentes de todos os lados, dos que perderam a boquinha. A precariedade de nosso sistema público de saúde está exposta ao mundo. Legado que parece apagado de algumas memórias. Herança maldita, nunca comentada pelos que criticam. Essa sim, vem de longa data e não é vista por quem não a quer ver.
A frase que foi pronunciada:
“A nação que pretende assegurar a estabilidade e provar o direito que lhe assiste de existir, deve assentar numa base religiosa.”
Bismark, destacado estadista da Alemanha do século XIX
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
A estrada do aeroporto é uma estrada parque. Não há, por conseguinte, razão para que eles painéis que enfeiam e transformam a paisagem. Antes que novas placas surjam, uma limpeza geral é necessária. (Publicado em 06/01/1962)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
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Historicamente, o Brasil sempre teve problemas, e até conflitos com dezenas de mortos, por conta de questões envolvendo, de um lado, o que prega a ciência e o que acredita a população, de acordo com suas crenças e superstições. Nessas disputas, tanto as autoridades do governo como os políticos, de forma geral, sempre extraíram desses desentendimentos todo o tipo de proveito possível para seus interesses próprios e de seus grupos. Essa contenda tem, em sua origem, de um lado e de outro, a pouca ou quase nenhuma bagagem cultural e intelectual dos envolvidos.
Cento e dezesseis anos já se passaram, e a Revolta da Vacina em 1904, na então capital do Brasil, Rio de Janeiro, é um exemplo desses desencontros entre os ditames da Ciência, as crendices populares e o oportunismo político, formando um amálgama que resultaria, naquela ocasião, em 30 mortos, quase mil presos, além de aproximadamente 500 indivíduos deportados para o Acre, o equivalente brasileiro ao Gulag.
No início daquele século, uma lei federal tornava compulsória a vacinação da população contra a varíola, ao mesmo tempo em que se iniciava um amplo movimento de reforma urbana que objetivava, entre outros pontos, sanear muitas áreas de cortiços e alagadiços, como forma de deter o avanço de doenças como a febre amarela e a peste bubônica, obras essas que tinham à frente o médico e cientista brasileiro Oswaldo Cruz.
Incitada por políticos e pelos próprios militares, a população se revoltou e, durante mais de uma semana, a antiga capital virou um palco de escaramuças que ameaçaram, inclusive, a República nascente. Vários escritores têm se dedicado ao estudo sobre os conflitos gerados no Brasil por conta de programas de vacinação e de outras questões que obrigavam a população a se render aos argumentos científicos.
Livros como a Poliomielite no Brasil de João Baptista Júnior; A Vacina Antivariólica, de Tania Maria Fernandes; Vacinas, Soros e Imunizações no Brasil, de Paulo Buss, José Temporão e Rocha Carvalheiro, além de muitos outros como a Virologia no Estado do Rio de janeiro, de Hermann e Mauroli. Passadas décadas desses episódios sangrentos no Rio de Janeiro, outro acontecimento, também surpreendente, opôs ciência e política, ou mais precisamente, ciência versus ditadura militar.
Em 1980, em pleno regime militar, outro fato deixaria clara nossas pendengas mal resolvidas com a Ciência. Desta vez envolvendo o médico e cientista Albert Sabin (1906-1993). Cientista renomado em todo mundo por seus trabalhos sobre pneumonia, câncer, dengue e encefalite, foi também o responsável pelo desenvolvimento da vacina da Pólio, doença altamente infecciosa aguda que leva à chamada paralisia infantil e que, no pós-guerra, vinha causando uma verdadeira pandemia. Graças à vacina desenvolvida por Sabin, que leva inclusive seu nome, a poliomielite foi praticamente erradicada de todo o mundo. Sabin renunciou aos direitos de patente de sua descoberta, afim de que esse medicamento se espalhasse por todo o planeta com mais facilidade. Ganhou, por essa e outras pesquisas, inúmeros prêmios pelo mundo afora, sendo reconhecido até hoje como um dos grandes nomes da medicina e das ciências.
Toda essa fama merecida não livrou o cientista de confusões aqui no Brasil. Convidado a vir ao Brasil em 1980, durante o governo Geisel, na condição de consultor especial do Ministério da Saúde como parte de uma ampla campanha de vacinação, naquela ocasião, o cientista, que era casado com uma brasileira, acabou se desentendendo com as autoridades em virtude das discrepâncias existentes nas estatísticas do IBGE sobre o número de vacina. Sabin duvidou desses dados, que para ele estavam supervalorizados, indicando uma cobertura de 97,7 por cento das crianças até cinco anos.
O cientista para quem o Brasil era sua segunda pátria, se dizia triste e desapontado, quando qualquer problema ameaçava a continuidade dos programas de vacinação. “Daria tudo que tenho para construir um centro de recepção ambulatorial para atendimento de crianças pobres. Infelizmente não disponho dessa quantia para ajudar”, disse em visita a Pernambuco em certa ocasião. Algumas autoridades, tanto de saúde como do próprio governo, incluindo, nessa ópera bufa, agentes do SNI, acusaram o cientista por suas reclamações sobre os erros nas estatísticas de vacinação de “persona, non grata”, considerando suas observações uma intromissão em assuntos internos.
Essa gafe monumental passou a compor mais um capítulo da infâmia de nossa história recente. Por esse tratamento, o cientista Albert Sabin resolveu abandonar o cargo de consultor que ocupava, não sem antes deixar claro que o governo militar no período entre 1969 a 1973 tinha manipulado todos os dados de vacinação, acusando o então ministro da saúde, Waldir Arcoverde, de grosseria e negligência do dever funcional, enredado que estava “numa burocracia nada confiável”. Por esses desencontros, o renomado cientista declarou que nunca mais viria ao Brasil.
Recentemente foi o que voltamos a assistir com os desentendimentos entre o Governo Bolsonaro, contrário à quarentena e a opinião dos médicos e cientistas quanto a necessidade de isolamento social para conter o coronavírus, numa repetição que confirma o descompasso secular que ainda persiste entre a Ciência e um Brasil atrasado e comandado por uma elite supersticiosa e autoritária.
A frase que foi pronunciada:
“Nenhum tônico é mais eficaz à saúde do espírito que a saúde do corpo. Uma enformatura de atleta tem de ordinário um rouxinol por alma.”
Fialho de Almeida, jornalista, escritor e tradutor pós-romântico português
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
O pão em Brasília está caro, ruim e misturado, porque os proprietários de Padarias estão sendo vítimas dos seus fornecedores. (Publicado em 05/01/1962)
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Em meio a um conjunto imenso de problemas, disseminados nas mais diversas instâncias do Estado por conta da pandemia do Covid-19, um em especial, tão grave quanto a questão da saúde dos brasileiros, diz respeito ao modo como irão se processar o acompanhamento e a fiscalização dessa verdadeira montanha de recursos públicos, que, oficialmente, está sendo liberada ou mesmo prometida a todo o instante.
Essa questão obviamente diz respeito à saúde econômica do próprio país e que, todos devem saber, tem ligações estreitas com a saúde dos cidadãos. De fato, esse é um ponto, que, dada a sofreguidão do momento, tem passado despercebido e até sido deixado de lado. Trata-se aqui de uma discussão que pouco interessa àqueles que não perdem oportunidades, nem nas horas de maior aflição, para extrair vantagens de todo o tipo.
Por outro lado, esse passa a ser um problema ainda mais angustiante quando se conhece a tradicional inoperância e mesmo pouca dedicação que os Tribunais de Contas dão aos gastos públicos, seja por falta de pessoal técnico suficiente para vistoriar, seja pelo nefasto aparelhamento político desse órgão e suas ligações, digamos, frágeis, com o Poder Legislativo. Apenas à guisa de exemplo dessa miopia proposital com o dinheiro do contribuinte, basta recordar um fato um tanto prosaico: durante quase duas décadas do início desse século, esse Tribunal especializado não foi capaz, em momento algum, de acender a luz vermelha de suspeição e dúvidas, quando bilhões de reais, silenciosamente, escorreram dos cofres da nação para o ralo sem fundo da corrupção.
Foi necessário, nesse caso, o trabalho solitário de um juiz de primeira instância do Paraná para estancar essa sangria. A mesma displicência vale para a Receita Federal e para o sistema financeiro do país, sempre cegos a grandes movimentações de fundo político, mas atinadíssimos quando se trata de fiscalizar centavos dos mortais contribuintes que suam para ter o pão de cada dia honestamente.
Toda essa preocupação toma ainda uma feição mais pavorosa e preocupante quando chega a informação de que a Câmara dos Deputados, via Centrão, tem devotado um esforço, até fora do comum, para aprovar, em meio à crise e por votação à distância, um amplo pacote denominado Plano Mansueto, para socorrer especificamente estados costumeiramente inadimplentes, permitindo, entre outras medidas, prorrogar a capacidade de pagamento das dívidas, de modo a enquadrarem esses entes da federação dentro do Regime de Recuperação Fiscal.
Tudo, obviamente, na sequência da pandemia, quando as atenções da nação estão focadas na questão da saúde. Trata-se aqui do famoso jabuti, com roupagem da grife da Covid-19. Sem o estabelecimento de um modelo extraordinário de fiscalização e acompanhamento desses recursos que vão sair dos cofres públicos, por conta do momento de emergência e ainda mais em ano eleitoral, quando a classe política está ouriçada com as campanhas, todo o cuidado é pouco, tanto por parte dos cidadãos que vão votar em urnas inauditáveis como por parte do governo, que lá na frente poderá ser acusado de crime contra a ordem econômica ou coisa que o valha.
A frase que foi pronunciada:
“O coronavírus encheu os hospitais do DF de médicos, leitos, material cuidados, desinfecção, planejamentos, solidariedade. E o melhor. Sem pacientes até agora.”
Enfermeira de plantão
Relaxe
Fernando Fernandes, de 27 anos de idade, é o autor da plataforma Good News Coronavírus, com mais de um milhão de acessos, trazendo só notícias boas sobre o assunto. Confira em Conheça o Good News Coronavírus.
Atitude
Eu estou aqui e você também. Trata-se de uma iniciativa do instituto tocar em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social do DF, para promover apoio aos moradores de rua que estão reunidos no autódromo. Precisam de doações! Vejam mais detalhes para as doações no grupo do WhatsApp. Eles buscam tudo para você.
Cultura
Coisas boas que apareceram com o coronavírus. Uma lista com centenas de cursos online, alguns gratuitos, e programação do maestro Barenboim, ao piano, celebrando os duzentos e cinquenta anos de Beethoven. Barenboim é o maestro ovacionado por construir uma orquestra com jovens palestinos e judeus. Veja a lista na página: Listamos 1156 cursos em português com certificado gratuito, para você aprender em casa.
Ruído
Não bate a notícia de que o embaixador Georg Witschel, da Alemanha, está convocando os cidadãos que se encontram no Brasil em viagem para voltar imediatamente para a Alemanha. O que diz no portal da embaixada em Brasília é para permanecerem onde estão. Veja no link IMPORTANTE: Está imediatamente proibida a entrada na Alemanha, a princípio, pelos próximos 30 dias!.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Estão em São Paulo, os representantes do Movimento do Rearmamento Moral. Gostaram do Brasil, os meninos. Há um índio, que faz o papel de um trabalhador fichado em São Paulo, para ser o representante dos trabalhadores no Partido Socialista. Tinha casa e comida para não fazer nada, e, nas sessões, sentar-se à mesa como representante classista. (Publicado em 04/01/1962)
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Muito mais do que a proeza de atravessar uma tempestade e escapar dessa experiência, incólume e sem um arranhão, é preciso sair dessa turbulência com algumas lições capazes de induzir um crescimento moral interno, proveitoso e duradouro para toda a vida.
Esse talvez seja o principal benefício e aprendizado a ser adquirido pela população, tão importante quanto a própria sobrevivência nesses dias difíceis. Dentre as centenas de mudanças que podem ser necessárias não apenas para atravessar a crise com certa segurança, mas sobretudo para dar um novo rumo ao futuro do país, numa fase posterior, sem dúvida nenhuma a questão da qualidade dos gastos públicos despontará como absoluta no horizonte. A começar pelo corte profundo em todas as chamadas mordomias e outros penduricalhos vergonhosos que dilapidam sensivelmente o Tesouro Nacional a cada ano e que não param de crescer.
A lista desses gastos supérfluos e que nesse momento podem inclusive receber a tarjeta de imorais faria com que uma montanha de recursos, oriunda dos escorchados pagadores de impostos, fosse alocada, totalmente para a prevenção e socorro à população e ao combate ao surto de virose mortífera que se anuncia pela frente. O anúncio de que estamos em regime extraordinário, semelhante a um período de guerra generalizada, já é reconhecido por grande parte das autoridades com responsabilidade e visão do momento. Como é o caso do ministro da Saúde, Henrique Mandetta.
E o que é pior, esses recursos, na casa de bilhões de reais, ainda estão prisioneiros de rubricas supérfluas, destinadas à manutenção de privilégios que há muito tempo são criticados pelos brasileiros. Esperar que o velho regime e a velha política se sensibilizem com a atual situação é perda de tempo. Da mesma forma, embora o governo ainda afirme que a possibilidade de decretação de Estado de Sítio está, por hora, fora do radar, essa alternativa, segundo alguns especialistas, não está totalmente descartada.
Para os chamados realistas, a decretação dessa medida é apenas questão de tempo, quando o número de mortos atingir um patamar crítico. Conhecendo a tradicional falta de operacionalidade de nossos hospitais em tempos de paz e que não é nada positiva, imaginem essa engrenagem frente a um período inusitado de alta turbulência. Falta para o adequado aparelhamento dos hospitais, kits de teste, medicamentos, respiradouros automáticos e outros insumos como equipamentos de proteção e tantas outras necessidades urgentes que ainda não estão plenamente disponíveis, o que é visto e sentido pela população.
Imagens que nesses dias passaram a circular pelas redes sociais, mostrando uma dúzia de enormes, custosos e obsoletos estádios de futebol espalhados por todo o Brasil, dão um tom do desperdício de recursos num país carente e que tanta falta faz nesse momento. O que a população enclausurada poderá observar agora, talvez com maior tempo para refletir sobre a questão, é a existência de um fosso imenso entre a realidade nacional e a vida de luxo e segurança desfrutada há séculos por nossas autoridades. Se essa desigualdade já não fazia sentido em tempos de bonança, muito menos faz agora em plena tempestade.
A frase que foi pronunciada:
“Guerra é o que acontece quando a linguagem falha.”
Margaret Atwood, escritora canadense
Provocações
Foi estranho mesmo. Em meio a esse rebuliço todo, um repórter perguntou ao presidente se ele estava sabendo que a popularidade do ministro Mandetta estava subindo mais que a do chefe. “Você não tem nada inteligente para perguntar não? Isso é jornalismo?”
Contra a maré
Rafaela Ferreira, pesquisadora mineira, usa a tecnologia para encontrar as fórmulas de remédios que não interessam à indústria farmacêutica. Já foi financiada pela Capes, CNPq, Fapemig e recebeu prêmios da L’Oréal e da Unesco. Pesquisadores são a nata da sociedade. Eles merecem ter todo apoio possível do governo.
Dicas em tempos de guerra
1.Nunca atenda chamadas de robô. Golpistas se aproveitam disso para propor desde tratamentos fraudulentos do coronavírus até esquemas de trabalho em casa.
2.Pessoas bem-intencionadas repassam todas as informações que recebem. Antes disso, procure verificar os fatos em portais do governo federal, estadual ou municipal.
3.Vendedores online precisam ser conhecidos. Muitos estão alegando que entregam produtos sob demanda quando na verdade não têm.
4.Nunca acredite em oferta de dinheiro fácil.
5.Jamais clique em links que chegam por e-mail. Eles podem levar vírus para a sua máquina.
6.Não há vacinas, pílulas, poções, loções, pastilhas ou outros produtos sujeitos a receita ou sem receita médica disponíveis para tratar ou curar a doença do Coronavírus 2019. Ignore esse tipo de oferta.
As informações são da Comissão Federal do Comércio Norte Americana.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Que a gente possa falar, possa dizer, possa existir como fonte de informações para o público, são os nossos desejos. Nossa repulsa aos acontecimentos de Belo Horizonte, um general se sentir ofendido por um soco, e mandar o Exército destruir o jornal tenha paciência. (Publicado em 04/01/1962)