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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Criada na Grécia antiga pelos filósofos Sócrates, Platão e, principalmente, Aristóteles, a ética sempre foi entendida como um eixo orientador da vida humana, um critério para a virtude, para a justiça e para a convivência social pautada pelo bem comum. Não por acaso, transformou-se em disciplina própria dentro da filosofia, justamente porque estabelece o fundamento do que deve ser uma vida virtuosa, pacífica e feliz. Quando se observa esse legado, percebe-se que ética e moral são indissociáveis, sobretudo nas relações sociais e políticas, pois ali se decide não apenas o destino de instituições, mas de gerações inteiras.
Na política, ética não é um ornamento teórico; é condição de governança. Envolve honestidade, transparência, responsabilidade, justiça e respeito aos direitos humanos. Sem esses princípios, qualquer governo, por mais robustas que sejam suas estruturas, transforma-se em mero simulacro de poder, incapaz de promover desenvolvimento real ou estabilidade institucional. O Brasil conhece bem esse processo corrosivo. Há décadas, a população assiste, perplexa e cada vez mais descrente, ao desfile contínuo de escândalos de corrupção que corrói a confiança no Estado e fere de morte a própria democracia.
Do Mensalão à Operação Lava Jato, passando agora pelos casos de desvios bilionários que atingem aposentados, justamente o grupo mais vulnerável e que deveria ser protegido, o país revela, repetidas vezes, uma ferida que nunca cicatriza. A cada novo escândalo, a sensação é de que a ética se tornou presença rara, quase exótica, no exercício da política nacional. E o mais grave: enquanto a sociedade clama por integridade e justiça, o Estado e seus representantes demonstram uma surdez seletiva, incapaz de ouvir a demanda mais básica de um povo que deseja apenas ser governado com decência.
É preciso reconhecer um fato incômodo: a corrupção, no Brasil, não é fenômeno difuso ou espontâneo. É, por excelência, um produto gerado pelo próprio Estado e por seus agentes eleitos ou não. Nasce onde há concentração de poder, baixa transparência, impunidade crônica e estruturas burocráticas que facilitam o desvio, o superfaturamento e o uso privado do dinheiro público.
Ao longo do tempo, isso produziu uma cultura institucional que normaliza a imoralidade, que tolera o ilícito como método administrativo e que recompensa quem deveria ser punido. Os efeitos são devastadores. A corrupção drena recursos essenciais para a educação, a saúde, a segurança pública e a infraestrutura. Impede investimentos estratégicos, retarda o crescimento econômico, afugenta empresas sérias e desestimula qualquer tentativa de planejamento de longo prazo. Pior ainda: consolida uma pedagogia perversa para as novas gerações, ensinando, pelo exemplo dos poderosos, que vantagem pessoal vale mais do que o interesse coletivo.
Não há futuro possível para um país que cresce desconectado da ética. As crianças e jovens que hoje assistem ao noticiário e veem governantes, gestores públicos e empresários envolvidos em tramas criminosas aprendem que o Estado pode ser capturado, que a lei é maleável e que a impunidade é quase garantida. Esse aprendizado tácito destrói a confiança social e amplia o cinismo político, abrindo caminho para novas formas de autoritarismo e para o descrédito completo das instituições democráticas.
Por isso, o debate sobre ética na política não pode mais ser adiado. Trata-se de uma urgência nacional, de uma agenda civilizatória. O país precisa recuperar a centralidade da virtude na vida pública, reconstruir mecanismos de controle, fortalecer órgãos de fiscalização, proteger denunciantes e punir com rigor quem trai o interesse público. Mais do que isso: precisa reafirmar que o Estado existe para servir ao cidadão, e não o contrário.
Sem ética, nenhuma nação se sustenta. O Brasil já pagou caro demais pelo distanciamento da moralidade pública. Persistir nesse caminho é condenar as próximas gerações a um futuro reduzido, injusto e moralmente desabitado. A reconstrução ética do país é, portanto, a única obra verdadeiramente inadiável porque dela dependem todas as demais. A escola, a família e a comunidade precisam assumir um compromisso explícito com a construção de valores como honestidade, responsabilidade, respeito, empatia, justiça e valores que, quando enraizados na infância, tornam-se a base sólida de uma sociedade íntegra.
Educar eticamente não significa impor doutrinas, mas oferecer às crianças ferramentas para discernir o certo do errado, compreender as consequências de seus atos e reconhecer que o bem comum depende da ação de cada indivíduo. Ensinar ética às crianças é, portanto, uma estratégia de longo prazo para a transformação do país. É formar cidadãos capazes de rejeitar práticas imorais, pressionar por governos íntegros e participar da vida democrática com consciência e coragem. Se quisermos que as futuras gerações vivam em um Brasil mais digno, precisamos começar pelo óbvio: ensinar ética enquanto ainda estamos moldando o caráter de quem irá herdar este país. Sem isso, continuaremos reféns da mesma engrenagem que, há décadas, corrói nossa democracia e compromete nossos sonhos coletivos.
A frase que foi pronunciada:
“Não há dúvida de que, à medida que a ciência, o conhecimento e a tecnologia avançam, tentaremos realizar coisas mais significativas. E não há dúvida de que sempre teremos que ponderar essas ações com ética.”
Ben Carson

História de Brasília
Excelente iniciativa, a da delegacia do IAPC em Brasília, determinando a dedetização de todos os apartamentos. Os inquilinos terão que comprar apenas uma lata de querosene, para se verem livres das baratas que estão invadindo todos os apartamentos. (Publicada em 12.05.1962)
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Na publicação do best seller “The beautiful tree”, do pesquisador James Tooley, foi aberta e exposta ao mundo uma ferida antiga e muito mal cicatrizada, relativa ao debate sobre a qualidade da educação nos países em desenvolvimento, sobretudo aquela ministrada nas escolas públicas. O pesquisador britânico demonstrou, por meio de um rigoroso trabalho de campo em diferentes continentes, algo que muitos governos tentam sistematicamente ocultar: que as populações mais pobres, cansadas da ineficiência crônica do Estado, estão criando suas próprias soluções educacionais, financiando com grande sacrifício pequenas escolas privadas de baixo custo que, embora invisíveis à narrativa oficial, produzem resultados superiores aos da rede pública.
Essa revelação foi recebida com desconforto justamente porque expôs a distância entre o discurso paternalista dos governos e a realidade enfrentada pelas famílias que vivem nas margens das estatísticas. No Brasil, essa realidade não é apenas semelhante: é ainda mais gritante. Há décadas, o país convive com um sistema educacional que consome volumes colossais de recursos públicos, mas entrega resultados medíocres, quando não desastrosos.
Ano após ano, as avaliações nacionais reiteram a incapacidade estrutural do Estado de garantir alfabetização plena, proficiência mínima em matemática ou mesmo um ambiente escolar seguro. Em vez de avanços sólidos, o que se vê são sucessivas reformas anunciadas com pompa, planos estrondosos, metas que expiram sem nunca terem sido alcançadas e, ao final, milhões de estudantes que concluem etapas escolares sem aprender o básico. Essa realidade é conhecida, debatida, lamentada, mas raramente enfrentada com honestidade. E enquanto governos discutem comissões, diretrizes e marcos regulatórios, famílias pobres brasileiras buscam alternativas.
Nas periferias urbanas, nos sertões e nas áreas ribeirinhas, florescem discretamente pequenas escolas comunitárias, creches improvisadas, instituições confessionais de baixo custo e iniciativas independentes sustentadas por mensalidades modestas, pagas com enorme esforço. Elas não contam com subsídios estatais, não são celebradas em conferências internacionais, tampouco aparecem nas estatísticas oficiais. No entanto, são procuradas porque oferecem algo essencial: ensino efetivo, disciplina, controle social direto e, principalmente, a sensação de que existe ali um compromisso real com o aprendizado das crianças.
Assim como Tooley registrou em suas viagens pela Índia ou pela África, o Brasil também tenta invisibilizar essas experiências. A burocracia estatal, ao mesmo tempo em que falha em entregar qualidade, cria barreiras para que essas iniciativas prosperem. Exige-se delas um nível de regularização estrangulador, muitas vezes incompatível com sua realidade material, ao mesmo tempo em que se tolera a precariedade estrutural da própria escola pública. O paradoxo é evidente: cobra-se excelência administrativa de quem está tentando suprir uma ausência do Estado, mas aceita-se, como inevitável, o baixo desempenho de escolas cuja manutenção consome bilhões. Trata-se de uma inversão de prioridades que revela mais sobre a proteção de interesses políticos do que sobre uma preocupação genuína com a educação de crianças pobres.
Reconhecer sua eficácia significaria admitir que o problema da educação brasileira não é, prioritariamente, falta de recursos, mas sim de gestão, accountability, responsabilidade e visão de longo prazo. Significaria aceitar que a liberdade de escolha das famílias pode produzir resultados mais sólidos do que estruturas burocráticas incapazes de se reformar. A verdade é que o Brasil vive hoje uma contradição profunda: dispõe de um dos maiores orçamentos educacionais do mundo em valores absolutos, mas entrega índices de aprendizagem comparáveis aos de países muito mais pobres.
É um esforço silencioso, invisível, doloroso, mas que revela uma fé inabalável na educação como caminho de ascensão social. O Brasil precisa encarar essa realidade com maturidade. Ignorar ou perseguir iniciativas independentes não resolverá o fracasso estrutural da educação pública. Pelo contrário, apenas ampliará o fosso entre a retórica estatal e a experiência concreta das famílias. Se o objetivo nacional é garantir aprendizagem real, então o país deve reconhecer, apoiar e estudar esses modelos alternativos, não para substituírem o Estado, mas para ensinarem ao Estado como reconstruir sua própria credibilidade.
The Beautiful Tree traz a lição de que não é que o Estado deva desaparecer. É que, quando ele falha reiteradamente, a sociedade encontra caminhos. E no Brasil, como em tantos outros lugares, a árvore bonita já começou a brotar entre os escombros da negligência oficial. Cabe aos governantes decidir se continuarão a arrancá-la, em nome de uma narrativa que não se sustenta, ou se finalmente permitirão que ela cresça, iluminando caminhos que há muito tempo deixamos de percorrer.
A frase que foi pronunciada:
“Se uma nação espera ser ignorante e livre, em um estado de civilização, ela espera o que nunca existiu e nunca existirá.”
Thomas Jefferson

História de Brasilia
Os outros Institutos bem que poderiam fazer a mesma coisa, para que a campanha se verificasse simultaneamente em todo o Plano Pilôto. (Publicada em 12.05.1962)
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Por mais que se repitam discursos grandiosos sobre preservação, sustentabilidade, compromisso planetário e metas ousadas de carbono, a Amazônia – aquela, concreta, habitada, viva, sofrida e desigual – permanece invisível. Fala-se da floresta como se ela fosse um monumento intocado, como se existisse à parte da vida humana que nela pulsa. No entanto, mais de 30 milhões de brasileiros vivem naquele território, enfrentando os piores indicadores sociais do país, como se estivessem condenados, há décadas, a figurar como estatística de abandono.
Esse apagamento deliberado não ocorre por acaso. Ele é fruto de um paradigma ambientalista que separa, artificial e ideologicamente, o homem da natureza um equívoco conceitual que compromete qualquer política séria de desenvolvimento sustentável. O resultado é que grandes conferências climáticas, como a COP30 e tantas outras que a antecederam, seguem tratando a Amazônia como se fosse um parque temático global, um ativo geopolítico sob tutela internacional, enquanto as populações amazônicas aparecem apenas como nota de rodapé, quando muito como figurantes do cenário que líderes mundiais querem exibir ao planeta.
Incômoda, a verdade é que tais encontros raramente admitem que a sustentabilidade sem desenvolvimento humano não passa de ornamento retórico. Nenhuma floresta será preservada por muito tempo se seus habitantes permanecerem aprisionados à pobreza extrema, ao desemprego crônico, à infraestrutura precária, à ausência de saneamento básico e à falta histórica de oportunidades econômicas. É ilusório imaginar que uma região inteira pode ser mantida sob uma espécie de “congelamento civilizatório”, como se humanos fossem intrusos num templo ecológico.
Ao longo dos discursos e painéis da COP30, é possível observar um fenômeno conhecido e recorrente: a tentativa de transformar a Amazônia em símbolo político de agendas globais que pouco dialogam com a realidade local. Nesse cenário, multiplicam-se expressões de efeito, propostas genéricas, promessas de financiamento que raramente se concretizam e uma constante disputa de narrativas entre governos, ONGs internacionais e organismos multilaterais. Raramente, contudo, aparece um plano concreto que coloque o amazônida no centro das discussões. Este, sim, o verdadeiro guardião da floresta.
É claro, sobretudo nas últimas décadas, um processo de espetacularização do debate climático, capturado por grupos políticos, em especial setores progressistas internacionais, que transformaram o tema em plataforma ideológica. O resultado é um discurso frequentemente marcado por moralismo, teatralidade e simplificações. A floresta vira símbolo, bandeira, slogan. Mas não vira projeto de país.
O problema se aprofunda quando percebemos que grande parte das discussões globais sobre aquecimento do planeta se apoia em diagnósticos que ignoram, minimizam ou mesmo distorcem os fatores reais que afetam o clima. As causas apresentadas em conferências multilaterais costumam priorizar narrativas já consolidadas e pouco abertas ao debate científico plural. Essa rigidez ideológica contribui para o crescente esvaziamento desses encontros: repetem-se os mesmos temas, as mesmas mesas-redondas, os mesmos alertas catastróficos, sem que se avance na compreensão das complexas interações entre atividade humana, ciclos naturais e transformações planetárias que não dependem da ação do homem.
Enquanto isso, regiões menos desenvolvidas do mundo, como a África e a própria Amazônia, seguem relegadas ao papel desconfortável de palco para discursos alheios. São territórios tratados como vitrines da crise climática, mas nunca como protagonistas de soluções reais. A ausência de integração entre homem e meio ambiente, tão proclamada pelos especialistas de gabinete resulta, paradoxalmente, em políticas que afastam o homem da possibilidade de ser protagonista de sua própria terra.
A COP30 poderia ter sido a oportunidade de reverter essa lógica. De colocar no centro do debate o desafio que realmente importa: como garantir desenvolvimento, dignidade e prosperidade à população amazônica ao mesmo tempo em que se preserva a maior floresta tropical do mundo? Como construir políticas que respeitem tradições locais, promovam empregos sustentáveis, incentivem tecnologia, aprimorem a educação e fortaleçam a soberania nacional sobre o território?
Não há preservação possível se milhões de pessoas são mantidas à margem. Mas o que se viu foi uma conferência que preferiu o conforto de seus velhos discursos. Não houve disposição para questionar dogmas. Não houve vontade de repensar modelos fracassados. Houve, sim, muita autorreferência, muita celebração simbólica, muita “lacração” geopolítica termo que descreve bem a tendência de transformar a pauta ambiental em performance, em vez de estratégia concreta de desenvolvimento.
É preciso reconhecer que, sem participação efetiva das populações amazônicas, qualquer meta climática será mera peça de ficção. Da mesma forma, sem admitir que o desenvolvimento sustentável exige equilíbrio entre economia e proteção ambiental, continuará prevalecendo a visão de que o progresso humano é sempre inimigo da natureza, visão que ignora séculos de convivência harmoniosa entre povos amazônicos e a floresta.
A Amazônia não pode mais ser tratada como ornamento de decretos internacionais nem como moeda de troca em negociações entre potências globais. Tampouco pode ser sequestrada por agendas partidárias ou ideológicas descoladas da vida real. A preservação da maior floresta tropical do planeta só será possível quando a pauta ambiental enxergar, finalmente, aquilo que insiste em ignorar: sem o amazônida, não há Amazônia.
O que se espera, daqui para frente, é que debates climáticos globais abandonem o tom catequético e passem a ouvir as populações que vivem de fato nos territórios em disputa. Que deixem de lado a retórica inflamada e abracem soluções técnicas, científicas e economicamente viáveis. Que parem de apontar dedos e comecem a construir pontes. E, acima de tudo, que reconheçam que nenhum planeta será salvo enquanto milhões de seres humanos permanecerem abandonados à própria sorte no coração da floresta que o mundo diz querer proteger. Porque uma COP que não olha para as pessoas, deixa de ser conferência torna-se vitrine. E vitrines, por mais reluzentes que sejam, nunca mudaram a realidade de ninguém.
A frase que foi pronunciada:
“A única maneira de monitorar o progresso é responsabilizarmo-nos mutuamente. Essa responsabilidade mútua [e] o acompanhamento do progresso é o que a COP está promovendo… O que as COPs também fazem [é] reunir um grande número de instituições, coalizões e partes interessadas que usam a COP como um momento e um local de encontro para ‘mostrar e contar’.”
Ex-chefe do clima da ONU, Christiana Figueres

História de Brasília
Excelente iniciativa, a da delegacia do IAPC em Brasília, determinando a dedetização de todos os apartamentos. Os inquilinos terão que comprar apenas uma lata de querosene, para se verem livres das baratas que estão invadindo todos os apartamentos. (Publicada em 12.05.1962)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
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A responsabilidade de dar continuidade a uma coluna que nasceu um ano antes de mim é uma dessas incumbências que exigem mais que o exercício da escrita, requerem o gesto de escuta, de reverência e de memória. Não se trata apenas de substituir uma assinatura, mas de sustentar uma tradição, de preservar o fio de uma história que atravessou décadas acompanhando a própria construção de Brasília, desde o instante em que o concreto ainda se confundia com a poeira vermelha e o futuro parecia apenas um esboço no papel milimetrado de Lúcio Costa.
Ari Cunha, criador desta coluna, foi mais do que um cronista da cidade, foi testemunha e protagonista de uma era em que a capital ensaiava seus primeiros passos rumo à maturidade política, cultural e social. Sua pena, tão afiada quanto generosa, registrava o cotidiano com a precisão de quem sabia que cada gesto, cada personagem, cada esquina recém-pavimentada continha o germe de uma história maior.
Com sua partida, os amigos, aqueles que o acompanharam nas noites de prosa e nos bastidores de poder, continuaram fiéis à leitura da coluna, como se nela ainda ressoasse o timbre do velho Ari, irônico e cordial, firme e afetuoso. Mesmo com as inevitáveis diferenças de estilo — porque ninguém escreve da mesma forma que outro, ainda que compartilhe da mesma admiração —, os leitores, mais do que tolerar a mudança, a acolheram com uma espécie de respeito silencioso, como quem entende que a escrita também é uma forma de continuidade da presença. E é em meio a essa rotina de rememorar e repaginar o passado que sempre republicamos pequenos trechos das primeiras colunas do jornalista.
Uma dessas notinhas falava sobre o Colégio Dom Bosco, em Brasília, que, naqueles tempos, experimentava um curioso e cívico entusiasmo: o regime parlamentarista havia inspirado até mesmo o sistema escolar. Assim, os alunos organizaram-se à semelhança do modelo político vigente, elegendo presidente, primeiro-ministro e todo um conselho de ministros mirins. No registro, figuravam nomes que, à época, eram apenas promessas de juventude — Hélio Marcos, Domingos José, Mário Jorge, Dimer Camargo Monteiro, Marcelo Magno, Ítalo, Rogério Brant Martins Chaves, Rui Lemos Sampaio, Ivan de Oliveira Delforge, George Ney e Paulo César Vasques — compondo o primeiro gabinete estudantil de Brasília. Era, ao mesmo tempo, um exercício de cidadania e uma metáfora da esperança, um pequeno ensaio de democracia em uma cidade que ainda se erguia sobre o sonho de Juscelino.
A surpresa, entretanto, veio dias depois da republicação, quando uma carta chegou, escrita por um nome que ressoa entre os que moldaram o pensamento político e jornalístico da capital: Hélio Doyle, o mesmo que, em tempos de farda escolar, ocupara o simbólico posto de presidente daquela experiência parlamentarista infantil. A carta, mais do que uma recordação pessoal, é um gesto de reencontro entre gerações. Ao lê-la, percebi que o tempo, esse grande arquivista das memórias humanas, tem o poder de reunir o que parecia disperso, reconectando a infância à maturidade, o entusiasmo da juventude à responsabilidade da história. E talvez seja essa a maior lição de uma coluna que atravessou gerações: que o jornalismo, quando se faz com alma e propósito, não se apaga com o tempo, apenas muda de mãos, preservando o mesmo compromisso de olhar o mundo com espírito crítico, afeto e esperança. Eis a carta.
Cara Circe,
Na “História de Brasília” de domingo você publica os nomes de integrantes de um “governo” parlamentarista, com Hélio Marcos como presidente. A nota, na coluna de seu saudoso pai Ari Cunha, é de 11 de maio de 1962. O Hélio Marcos sou eu e esse “governo” era a primeira diretoria eleita para o Grêmio Literário Anchieta de Brasília (Glab), do 1º ano ginasial, e que meses depois, com grêmios de outras séries, veio a constituir o Movimento Estudantil Trinta de Agosto (Meta), que também presidi, no Colégio Dom Bosco.
Sob comando de um professor de Português, o padre salesiano José Leopoldino, tínhamos aula de organização política brasileira na prática. Os alunos elegiam o presidente do Meta, que escolhia o primeiro-ministro, e os governadores de cada classe. Elegiam também os deputados e senadores, e havia também um tribunal de justiça. Como o Brasil, em 1962, vivia sob regime parlamentarista, reproduzimos essa estrutura até que o presidencialismo voltou, em 1963. Três partidos disputavam as eleições: a União dos Jovens Democratas (UJD, o meu partido) e sua dissidência Partido Democrático Estudantil (PDE), ambos presidencialistas, e o Partido Parlamentarista Nacional (PPN). Tínhamos até Código Eleitoral.
Dos 10 “ministros” citados, continuei tendo contato com quatro ao longo dos anos: Mário Jorge Dias Carneiro, professor universitário; Ítalo Silgueiro Filho, publicitário; George Ney Fernandes, embaixador aposentado; Dimer Monteiro, professor universitário, diretor de teatro e ator, já falecido. Há poucos anos soube que Rui Lemos Sampaio presidia uma grande empreiteira. Dos demais, gostaria de ter notícias.
Grande abraço, Hélio
A frase que foi pronunciada:
“Uma carta sempre me pareceu como a imortalidade, porque é a mente sozinha, sem a companhia corpórea.”
Emily Dickinson

História de Brasília
E por falar nisto, estão enganando o presidente da República. Houve uma decisão para reiniciar as obras em Brasília. O IAP-FESP e o IAPM lançaram-se numa euforia arquitetônica e pararam no meio do caminho.
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Talvez não haja veneno mais eficaz para corroer os laços de uma sociedade do que o hábito insidioso de enxergar o outro não como interlocutor, mas como inimigo. A polarização, esse mal que se disfarça de convicção, vem se entranhando no tecido nacional com tal sutileza que já não se sabe onde termina a política e começa o ódio. No Brasil, a divisão em campos opostos, muitas vezes estimulada por discursos oficiais, por algoritmos ou pela própria fragilidade educacional, já se converteu em paisagem cotidiana. O fenômeno, embora costume ser atribuído a governos recentes, possui raízes mais antigas, plantadas na incapacidade coletiva de sustentar o diálogo e na persistente desigualdade estrutural que produz exclusões simbólicas e materiais.
Segundo o relatório “Democracia sob Tensão”, do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (UFMG, 2024), cerca de 72% dos brasileiros afirmam sentir que o país está “profundamente dividido”, um índice que cresceu 11 pontos percentuais desde 2018. Esse mesmo levantamento aponta que 64% das pessoas evitam discutir política com amigos ou familiares, tamanho o desgaste das conversas e a tensão instalada no cotidiano. Há quem diga que se trata de um fenômeno passageiro, mas os números e as redes digitais mostram o contrário: o Datafolha revelou, em maio de 2024, que 9 em cada 10 eleitores afirmam não se arrepender do voto de 2022, o que evidencia o endurecimento das identidades políticas e a cristalização da cisão social.
Os efeitos disso vão muito além da urna. A polarização se infiltrou no entretenimento, nas universidades, nas empresas, e até nas mesas de bar, corroendo o que o sociólogo Zygmunt Bauman chamaria de “zonas de convivência líquida”. A cada episódio, a desconfiança se renova: artistas são boicotados, intelectuais são cancelados, professores são vigiados e jornalistas são atacados sob qualquer pretexto. Relatório da UNESCO (2023) alerta que o Brasil figura entre os dez países com maior volume de ataques virtuais a comunicadores e artistas em razão de opiniões políticas, o que demonstra que a fratura cultural acompanha a fratura cívica.
Festivais, exposições e prêmios têm sido atravessados por disputas ideológicas que pouco ou nada têm a ver com estética ou mérito. O Observatório de Economia Criativa (UFBA, 2024) mostrou que 38% dos artistas brasileiros afirmam ter perdido contratos ou convites de trabalho por causa de sua posição política, enquanto 52% relatam autocensura em redes sociais e apresentações públicas para evitar retaliações. Trata-se de um dado alarmante, pois revela que a polarização não apenas divide: ela silencia.
No entanto, a origem do problema não pode ser reduzida a um espectro político específico. Pesquisas internacionais, como a do Pew Research Center (2024), indicam que o Brasil é um dos países com maior índice de polarização afetiva da América Latina, superado apenas por Estados Unidos e Argentina. Essa “polarização afetiva” é aquela em que a rejeição ao outro partido ou grupo social importa mais do que a adesão racional às ideias do próprio lado. Em outras palavras, não se trata apenas de divergência, mas de aversão moral. E essa aversão é alimentada, todos os dias, por um sistema comunicacional que recompensa a indignação.
As redes sociais têm papel central nessa engrenagem. O relatório “Digital 2025”, da consultoria We Are Social, mostra que o Brasil já tem mais de 150 milhões de usuários ativos nas redes, com tempo médio diário de 3 horas e 46 minutos em plataformas digitais, um dos maiores do mundo. O mesmo relatório aponta que conteúdos com teor emocional negativo (raiva, ironia, indignação) alcançam até 70% mais engajamento do que postagens neutras. O algoritmo, portanto, não apenas reflete a polarização, mas a multiplica, incentivando o confronto e desestimulando o diálogo.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) revelou, no Censo da Educação Básica 2024, que apenas 34% dos alunos do ensino médio compreendem plenamente textos argumentativos complexos, uma estatística que explica muito sobre nossa vulnerabilidade à manipulação simbólica. Um país que não lê, não interpreta e não debate tende a ser refém da simplificação e da mentira. E a mentira, quando vestida de verdade partidária, transforma-se em instrumento de poder.
Em 2023, segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV Cultura), o setor cultural brasileiro perdeu 18% de seu público presencial em relação ao período pré-pandemia, fenômeno atribuído não apenas à crise econômica, mas também à crescente rejeição do público a manifestações percebidas como “partidárias”. A plateia, antes diversa, fragmentou-se em bolhas.
Sociólogos como Jessé Souza e Ladislau Dowbor vêm alertando que a polarização tem servido como cortina de fumaça para a ausência de políticas estruturais de longo prazo. Enquanto a sociedade se digladia por símbolos e narrativas, o país segue com 9,2 milhões de desempregados (IBGE, PNAD Contínua , 2025), 26 milhões de pessoas em insegurança alimentar grave (FAO, 2024) e uma taxa de evasão escolar que volta a crescer, atingindo 18% entre jovens de 15 a 17 anos. São números que falam de desigualdade e descuido, mas que raramente mobilizam tanto quanto uma disputa ideológica no feed.
Por isso, o enfrentamento da polarização exige mais do que bons modos: exige reconstrução cultural e educacional. É preciso investir em programas de educação midiática, fomentar o pensamento crítico desde a infância, e estimular políticas culturais que valorizem o dissenso como aprendizado, e não como ameaça. A OCDE, em relatório publicado em 2024, indica que países que introduziram currículos de “educação para cidadania digital” reduziram em até 30% os índices de radicalização juvenil online em cinco anos. A lição é clara: o diálogo precisa ser ensinado.
Também é necessário repensar a relação entre Estado, cultura e financiamento. Quando o apoio público se converte em recompensa a fidelidades ideológicas, o espaço da arte se empobrece. E quando o artista teme a rejeição de parte do público por se expressar, o país perde um de seus mais antigos instrumentos de autocrítica. A pluralidade não deve ser privilégio de um grupo, mas fundamento da nação.
Ao fim, o mal da polarização talvez não esteja na divergência em si, pois o conflito de ideias é o motor da democracia, mas na transformação da diferença em fronteira. O Brasil, com sua vocação histórica para a mistura e o diálogo, parece agora se esquecer de que nenhuma sociedade resiste quando as palavras se tornam pedras. É preciso, portanto, reaprender o idioma da convivência, antes que a surdez coletiva se torne permanente.
Enquanto houver quem prefira gritar a ouvir, o país continuará dividido não em partidos, mas em pedaços. E cada pedaço, por menor que pareça, levará consigo um fragmento do que já fomos: um povo capaz de rir de si mesmo, de abraçar o outro e de reconhecer, no rosto diferente, a semelhança que nos fazia inteiros.
A frase que foi pronunciada:
“O destino conduz o que consente e arrasta o que resiste.”
Séneca

HISTÓRIA DE BRASILIA
E por falar nisto, estão enganando o presidente da República. Houve uma decisão para reiniciar as obras em Brasília. O IAP-FESP e o IAPM lançaram-se numa euforia arquitetônica e pararam no meio do caminho.
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Pesquisas de opinião recentes revelam um sentimento quase unânime entre os brasileiros: cerca de 73% da população deseja que as organizações criminosas sejam classificadas como grupos terroristas, segundo levantamento da Quaest Consultoria, divulgado em agosto de 2024. O dado, em si, expressa mais do que uma preferência política, traduz o desespero de uma sociedade que já não distingue com clareza as fronteiras entre Estado e crime. Há muito, os tentáculos do poder paralelo não se limitam às vielas das grandes cidades. Estendem-se às estruturas públicas, aos contratos de transporte coletivo, à distribuição de gás, às licitações e, cada vez mais, aos corredores onde circula o poder institucional.
O que antes parecia mera especulação agora ganha contornos de diagnóstico. Relatórios da Polícia Federal e do Ministério Público apontam para a infiltração de facções criminosas em ao menos 23 unidades da federação, operando tanto nas franjas urbanas quanto nas altas esferas administrativas. Estima-se que o crime organizado movimente anualmente mais de R$ 300 bilhões no Brasil, valor equivalente a cerca de 3% do PIB nacional, conforme levantamento do Instituto de Estudos Avançados da USP. Tamanho poder econômico explica por que as fronteiras da legalidade se tornaram tão porosas, e o Estado, tão vulnerável à cooptação. Em muitos lugares, as facções substituem o poder público com uma eficiência que o governo parece incapaz de reproduzir — cobram tarifas, impõem normas, punem e protegem, operando um simulacro de soberania.
Enquanto isso, o país assiste ao avanço da criminalidade com o mesmo olhar apático com que se observa uma tempestade inevitável. A taxa de homicídios, que havia caído até 2022, voltou a crescer em 2024, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com 47.000 mortes violentas intencionais registradas no ano. Mais que números, trata-se da radiografia de uma sociedade em decomposição moral, onde a vida se torna estatística e o medo se converte em política de Estado. O cidadão comum, acuado, vive o paradoxo de pagar por uma segurança que o Estado não entrega e por uma liberdade que se esvai sob o peso da intimidação.
Há, nesse quadro, uma omissão deliberada. Parte da classe política evita tratar o crime organizado como terrorismo por cálculo ideológico, como se admitir essa realidade implicasse trair antigas narrativas sociológicas. Para alguns setores do governo, os criminosos ainda são “vítimas do sistema”, expressão que desumaniza o cidadão honesto e romantiza o agressor. O sociólogo José de Souza Martins já advertira que “a tolerância com o crime é o primeiro estágio da degeneração democrática”. Ignorar isso é naturalizar o horror cotidiano.
A infiltração das facções nas instituições republicanas revela algo ainda mais grave: um Estado em processo de captura. Em 2023, investigações da Controladoria-Geral da União e da Polícia Federal mostraram conexões entre servidores e esquemas de lavagem de dinheiro ligados ao tráfico de drogas. Em São Paulo, o Primeiro Comando da Capital (PCC) expandiu sua atuação para além das fronteiras nacionais, estabelecendo rotas de exportação de cocaína para a Europa, com lucros estimados em R$ 2,5 bilhões anuais, segundo a Europol. No Rio de Janeiro, as milícias já controlam mais de 70% das comunidades da capital, de acordo com o Instituto Fogo Cruzado, configurando uma governança paralela que atua à margem da lei, mas dentro da rotina.
O Estado, acuado e hesitante, reage com discursos e comissões. Falta-lhe coragem para enfrentar a realidade que o oprime de dentro. Ao não classificar as facções como organizações terroristas, o governo perpetua a ficção de que enfrenta uma questão social e não uma estrutura político-militar que disputa o controle do país. Em nome de uma falsa sensibilidade, abdica do dever de proteger. A omissão se traveste de prudência, e o medo, de política pública.
Quando o crime define as regras e o Estado as cumpre, o pacto social se rompe de modo silencioso e irreversível. O Relatório Global de Criminalidade Organizada da ONU (2023) colocou o Brasil entre os dez países mais infiltrados por redes criminosas no mundo, ao lado de nações em conflito civil. A fronteira entre legalidade e delinquência se esgarça, e o que resta é um território administrado pelo terror cotidiano. O país que se recusou a admitir o óbvio agora negocia sua soberania no varejo das alianças políticas e dos conchavos corporativos.
Há um silêncio perigoso pairando sobre as ruas e sobre o poder. O medo tornou-se o idioma nacional. E quando o medo é política de governo, a liberdade passa a ser concessão. O Brasil precisa escolher entre a hesitação e a coragem, entre a cumplicidade e a restauração da autoridade. O tempo de negar o abismo já passou. Agora, o que se discute não é mais a intensidade da crise, mas se ainda há país a ser salvo — ou se já nos tornamos, definitivamente, reféns.
A frase que foi pronunciada:
“Aqueles que abrem mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança.”
Benjamin Franklin

História de Brasília
O Bloco do Palácio do Ministério da Justiça teve a sua pedra fundamental lançada com solenidade. Ficou nisto. O Itamarati, também, até hoje não começou a construção. (Publicada em 11.05.1962)
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Desde a aurora do século XXI, quando se reconheceu que a imensidão verde da Amazônia Legal já deixava de ser apenas um palco de fauna e flora para converter-se em ativo estratégico global, o Fundo Amazônia despontou como instrumento paradigmático, concebido para captar doações internacionais destinadas a projetos de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento daquela vasta região, bem como para a promoção de uso sustentável das florestas. A ideia era aparentemente simples, aliar a preservação ambiental à justiça socioeconômica das comunidades locais, ao mesmo tempo em que se cumpria a promessa de reduzir emissões de gases de efeito estufa, num mundo cada vez mais consciente de que a floresta em pé era patrimônio de todos. Entretanto, como tantas iniciativas gestadas sob o rótulo da cooperação internacional, o Fundo Amazônia, que poderia ter sido o símbolo de um contrato moral global entre Norte e Sul, parece ter perdido prestígio e credibilidade, minado por ambiguidades, oscilações de governança e o risco de se tornar refém de vaidades diplomáticas ou de agendas nacionais pouco alinhadas com a lógica da transparência.
Se, nos primeiros anos, o mecanismo contava com aportes maciços, por exemplo, segundo dados oficiais, em 2023 foram aprovados R$ 1,3 bilhão em projetos e chamadas públicas, com doações contratadas de R$ 726,4 milhões oriundas da Suíça, EUA, Reino Unido e Alemanha. No entanto, o salto numérico não apaga a questão de fundo: o que determina confiança, se não apenas cifras, mas mecanismos robustos de controle, participação e cumprimento de metas mensuráveis?
Para muitos no campo da cooperação internacional, o Fundo funcionava como uma promessa, esta promessa de que a floresta, longe de ser tragada pela silenciosa engrenagem da degradação, seria preservada com respaldo financeiro externo, enquanto as comunidades amazônicas se emancipavam economicamente. Conforme consta, o Fundo é estruturado para apoiar não apenas o combate direto ao desmatamento, mas também o ordenamento territorial, regularização fundiária, manejo florestal sustentável, a conservação da biodiversidade e a recuperação de áreas degradadas. Todavia, a fratura entre o discurso e a prática começa a emergir quando a “cooperativa mundial” se depara com a fotofinish de um governo nacional que, no regime do controle da informação, ainda respira contradições entre crescimento e preservação.
A deserção da confiança internacional, ou ao menos a hesitação de grandes doadores, encontra raízes em casos e momentos emblemáticos, por exemplo, quando o fundo permaneceu praticamente inativo entre 2019 e 2022, período no qual quase não foram aprovadas novas iniciativas ou efetivados aportes, o que minou expectativas e acumulou desconfiança.
Do ponto de vista político, esse hiato é interpretado por alguns analistas como sinal de que, ao entrar em cena a soberania econômica e a retórica de autonomia nacional, a floresta passou a servir também como objeto de disputa interna, e não somente como bem comum global. Quando a “moral do meio ambiente” se transforma em “moral nacional”, o fundo perde parte de sua aura de neutralidade, o que afasta aqueles que desejavam atuar como parceiros externos, mas não como testemunhas de uma guinada ideológica.
Adicionalmente, o fluxo financeiro, embora quantitativamente relevante, revela uma face menos glamorosa: até junho de 2025, por exemplo, o estado do Acre havia acumulado R$ 260,8 milhões em recursos aprovados pelo Fundo, sendo R$ 155 milhões apenas entre 2023 e meados de 2025, cifra superior à totalidade dos contratos celebrados entre 2010 e 2018.
Tal dado provoca reflexão: mais importante do que somas milionárias é saber se esses recursos atravessam a camada da burocracia, da intermediação estatal ou privada, e alcançam a base social cuja vida depende da floresta em pé, e se, no espectro silenciado da informação pública, há mecanismos reais de prestação de contas, participação comunitária e monitoramento independente. O risco é que o Fundo Amazônia se transforme em instrumento mais de legitimação do que de transformação. A cooperação internacional exige clareza: quantos hectares de floresta foram preservados? Quantas toneladas de carbono deixaram de ser emitidas? Quantas vidas de ribeirinhos, indígenas e povos tradicionais foram impactadas positivamente?
No site oficial do fundo, encontra-se uma promessa de que tais resultados seriam aferidos no documento “Documento de Projeto do Fundo Amazônia”. Mas quando o ambiente das liberdades informativas se estreita, a transparência perde densidade, e o que parecia mecanismo de vigilância global se torna caixa preta.
Uma pergunta paira como nuvem carregada sobre a floresta e a política global: se dezenas de bilhões de dólares – ou neste caso, reais bilionários – poderiam vir de múltiplos pontos do planeta para apoiar a conservação, por que então a confiança externalizada vacila? A resposta reside não apenas em cenários de risco ou de governança local, mas no fato de que o compromisso internacional, para se manter eficaz, exige mais do que contratos e promessas: exige continuidade institucional, diálogo aberto, fiscalização independente e resultados visíveis.
A frase que foi pronunciada:
“Queremos garantir que eles não fiquem apenas prometendo, que comecem a proteger, porque nós, como povos indígenas, somos os que sofremos com os impactos das mudanças climáticas”.
Pablo Inuma Flores, líder indígena do Peru.

História de Brasília
Um bom mercado para a industria naval brasileira tem sido o México. Esta, a razão da exposição que a marinha do Brasil está fazendo no México, onde o principal assunto é Brasília. Ontem, o comandante Renan fêz embarcar para aquele país um filme sobre o Distrito Federal, e diversos paineis mostrando diversas atividades em Brasília. (Publicada em 11.05.1962)
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Ainda devem repercutir por muito tempo, nos meios políticos e diplomáticos, os resultados da recente operação policial no Rio de Janeiro, que deixou mais de cem criminosos mortos em confronto com as forças de segurança. Não se tratou de uma ação corriqueira, mas de um episódio emblemático de um país que, há décadas, vê-se encurralado pelo crime organizado e por governos que, em nome de um suposto humanismo, confundem direitos humanos com impunidade. O mundo observou estarrecido; as cenas de violência e as manchetes estrangeiras voltaram a associar o Brasil à imagem de um território hostil, inseguro e desgovernado. Cada ala política, como de costume, tratou de explorar o fato a sua maneira. Enquanto uns exaltam a operação como um marco da retomada da autoridade estatal, outros a condenam, sustentando o discurso de que é possível combater facções armadas com flores e discursos progressistas. Trata-se de um equívoco perigoso. O poderio bélico e econômico do narcotráfico não se desmantela com gestos simbólicos nem com negociações morais. O que está em jogo é a soberania nacional e a integridade das instituições.
Nessa altura dos acontecimentos, o governo dos Estados Unidos já chegou à conclusão de que o narcotráfico no Brasil, assim como no México, na Colômbia e na Venezuela, domina extensas áreas dentro e fora das fronteiras. Essa constatação, ainda que desconfortável, não surpreende: há muito tempo as organizações criminosas deixaram de ser meras quadrilhas locais para se transformar em redes transnacionais de poder, com braços no comércio, na política e até no sistema financeiro. O não reconhecimento, por parte do governo brasileiro, de que esses grupos não são movimentos sociais nem guerrilhas políticas, mas verdadeiras corporações do crime, só agrava a situação.
Pesquisas de opinião recentes indicam que a maioria da população apoia ações enérgicas da polícia contra os criminosos. O cidadão comum, que convive diariamente com o medo, já não se deixa enganar por discursos lenientes. Nas ruas do Rio de Janeiro, de São Paulo e de tantas outras capitais, cresce a percepção de que o Estado precisa reagir com firmeza — não por vingança, mas por sobrevivência. Cada território “pacificado” pelos bandidos é um pedaço de país que se perde. O problema já ultrapassou qualquer fronteira sociológica. Hoje, o tráfico é um poder paralelo que interfere em eleições, corrompe instituições e impõe leis próprias onde o Estado se ausenta. Adiar uma resposta firme é abrir espaço para que essa estrutura criminosa se infiltre de modo irreversível na máquina pública e na economia formal. A história recente de países como o México mostra o que acontece quando o poder político hesita diante do crime organizado: as fronteiras entre Estado e facção tornam-se indistintas, e a violência passa a ditar a agenda nacional. O Brasil não pode trilhar o mesmo caminho. É preciso reconhecer que não há democracia possível onde o Estado perdeu o monopólio da força. O país exige mais que discursos: exige ação, autoridade e coragem.
A operação no Rio de Janeiro, num processo lógico de combate a esses grupos, deveria ter tido continuidade até que o problema fosse debelado, dentro e fora daquele estado. A interrupção dessas operações por força da justiça e da pressão das altas cortes só servirá para que o crime volte a se fortalecer e ganhe mais áreas de controle. O que se viu no Rio de Janeiro, nas últimas semanas, não é apenas o retrato de uma cidade sitiada, mas o sintoma de um país que perdeu a capacidade de distinguir entre legalidade e complacência. A operação policial que resultou na morte de mais de cem criminosos foi uma resposta dura, porém necessária, a um problema que há muito tempo se arrasta sem solução: o domínio territorial e psicológico do crime organizado sobre o Estado. As decisões judiciais que paralisam operações ou restringem o uso da força policial sob o argumento de “proteger vidas inocentes” acabam, paradoxalmente, protegendo quem vive à margem da lei.
O Estado brasileiro vive um momento decisivo. Se continuar permitindo que decisões judiciais interrompam o trabalho das forças de segurança, a criminalidade deixará de ser uma ameaça e se tornará um poder consolidado com território, economia e influência política. A história ensina que nenhuma nação vence o crime quando o medo de agir supera a vontade de governar.
O combate ao crime organizado não comporta meias medidas. É tempo de restaurar o equilíbrio entre os Poderes e permitir que as forças de segurança cumpram seu papel. Só assim será possível evitar que o país se transforme, de vez, em um território onde o crime dita as regras e o Estado obedece.
A frase que foi pronunciada:
“O mundo não está ameaçado pelas pessoas más, e sim por aquelas que permitem a maldade.”
Albert Einstein

História de Brasília:
Um bom mercado para a industria naval brasileira tem sido o México. Esta, a razão da exposição que a marinha do Brasil está fazendo no México, onde o principal assunto é Brasília. Ontem, o comandante Renan fêz embarcar para aquele país um filme sobre o Distrito Federal, e diversos paineis mostrando diversas atividades em Brasília. (Publicada em 11.05.1962)
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Brasília é o espelho das contradições mais agudas do país. O que antes se apresentava como modelo de urbanismo racional, herdeiro das ideias de Le Corbusier e do conceito de cidade-jardim, vai-se dissolvendo diante de um cenário que combina abandono institucional, degradação social e impotência política.
Nas áreas que antes eram referência de planejamento urbano, erguidas sob o signo da utopia coletiva, proliferam agora moradias improvisadas, barracos de lona e madeira que se multiplicam sob o verde rarefeito do Eixão, nas margens de avenidas largas, perto da UnB, Ceub, 213 Norte, áreas outrora pensadas para o trânsito harmônico de uma sociedade moderna.
Segundo dados da Codeplan (2024), o número de pessoas em situação de rua no Distrito Federal aumentou 86% em quatro anos, saltando de 2.938 pessoas, em 2019, para 5.470 em 2023. Relatório da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes/DF) indica que mais de 60% desses cidadãos vieram de outros estados em busca de trabalho, oportunidades ou, simplesmente, da miragem de uma capital onde o Estado ainda existisse como promessa de amparo. Ocorre que essa promessa se diluiu em meio à judicialização da política e à paralisia administrativa, fenômenos que se retroalimentam.
A decisão do Supremo Tribunal Federal, de 2023, que proibiu a remoção forçada de pessoas em situação de vulnerabilidade de espaços públicos, insere-se nesse contexto ambíguo. De um lado, reafirma princípios civilizatórios e de proteção social, impedindo práticas arbitrárias de despejo; de outro, transfere ao município e ao governo distrital o ônus de administrar o colapso urbano sem instrumentos eficazes de ação. O resultado, visível a olho nu, é a expansão silenciosa das ocupações em áreas verdes, canteiros e passagens subterrâneas — transformadas em moradias improvisadas, onde a dignidade disputa espaço com o lixo, a violência e o frio.
O fenômeno, que muitos preferem reduzir à questão de ordem pública, tem raízes mais profundas. Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), publicada em abril de 2024, estima que o Brasil ultrapassou 281 mil pessoas em situação de rua, um aumento de 238% desde 2012. No Distrito Federal, o crescimento foi ainda mais expressivo proporcionalmente, refletindo não apenas a desigualdade, mas o esgotamento das políticas de moradia e a desarticulação entre os entes federativos. Em meio a um orçamento público cada vez mais engessado e programas habitacionais interrompidos ou mal executados, o Estado parece assistir de longe ao desmonte da própria cidade que deveria zelar.
Não se trata apenas de miséria material, mas de uma espécie de erosão simbólica: Brasília, que nasceu com o intuito de representar a harmonia entre o homem, o espaço e o poder, converte-se, gradativamente, em um território de ruínas sociais. A cidade-jardim de Lucio Costa e Oscar Niemeyer transforma-se em cidade-sombra, onde o contraste entre os pilotis monumentais e os barracos improvisados não é mais metáfora, mas evidência. Nas entrequadras, Setor Comercial Sul sob as marquises de concreto que antes abrigavam os ideais da convivência comunitária, multiplicam-se colchões, fogareiros e restos de esperança.
A ausência de política pública efetiva, somada à judicialização das ações administrativas, reforça um círculo vicioso: o poder local, paralisado entre a sensibilidade social e a impotência operacional, não consegue agir; o poder federal, ocupado em pautas mais vistosas, ignora o drama cotidiano que se desenrola à sombra dos ministérios. Enquanto isso, os moradores de rua tornam-se uma presença constante e silenciosa, símbolo de um país que falhou em garantir o mínimo de humanidade a seus cidadãos.
O GDF anuncia planos, elabora relatórios e promete abrigos, mas, segundo auditoria do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF, 2024), apenas 35% das vagas em abrigos públicos estão efetivamente disponíveis, e muitos desses espaços carecem de infraestrutura básica. Na prática, a cidade funciona sob um regime de improviso, onde a compaixão individual substitui a política pública e a omissão institucional é justificada por decisões judiciais que, embora bem-intencionadas, acabam por cristalizar o desamparo.
Se nada mudar, o traço de Niemeyer será engolido pelo traço da sobrevivência, e o concreto curvilíneo se tornará mera moldura para a miséria. Brasília deixará de ser símbolo de um país em construção para se converter em alegoria de um país em colapso, onde o Estado, cercado de monumentos, já não consegue enxergar os homens que dormem aos seus pés.
A frase que foi pronunciada:
“Desenvolvimento é diferente de crescimento econômico. Dispor de recursos para investir está longe de ser condição fundamental para garantir um futuro melhor para a maioria da população. Mas quando o projeto social prioriza a efetiva melhoria das condições de vida dessa população, o crescimento se transforma em desenvolvimento e, portanto, trata-se de um processo de transformação social”.
Celso Furtado

História de Brasília
Aqui estão os primeiros parlamentaristas: presidente, Hélio Marcos; Primeiro Ministro Domingos José, Vice 1o. Ministro Mário Jorge; ministro da Cultura, Dimer Camargo Monteiro; Ministro da Economia, Marcelo Magno de Oliveira Veloso; ministro da Presidência, Italo. Ministro da Divulgação, Rogerio Brant Martins. Chaves; ministro de Assuntos Sociais, Rui Lemos Sampaio; Ministro de Assuntos Missionários, Ivan de Oliveira Delforge; ministro de Assuntos literários, George Ney e presidente do Banco, Paulo Cesar Vasques. (Publicada em 11.05.1962)
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É certo que as cidades, assim como os seres humanos, nascem, crescem, envelhecem e morrem, como mostra o livro famoso de Jane Jacobs: “Morte e vida das grandes cidades”, publicado em 1961. As razões são múltiplas, mas, no geral, tem a ver com as seguidas e desastrosas interferências do homem na vida urbana. Muitos arquitetos e urbanistas dizem que o que estraga muitos projetos é que, depois, eles, cedo ou tarde, irão ser habitados por pessoas alheias a questões como harmonia, beleza e bom senso.
Como ciência, o urbanismo não pode, nem deve ser concebido apenas para atender problemas de ordem social, econômica e política de determinada época, sob pena de se criar cidades como soluções para questões que nada têm a ver com o propósito urbano em si. Trata-se de uma questão delicada. Uma coisa é a cidade, outra, totalmente diferente, são as questões de ordem social e econômica momentâneas que devem ser resolvidas pontualmente. Querer adaptar a cidade, com seu urbanismo complexo, a problemas de ordem social não tem resultado em algo positivo para seus habitantes.
Cidades pelo mundo que tiveram seu desenho urbano alterado para atender questões de ordem social, como a pobreza, a mendicância e outras, tiveram abreviadas sua decrepitude e falência. Por todo o planeta, vêm-se, nos centros urbanos, cidades que entraram em estágio de ruínas e abandono por não levarem a questão urbana com seriedade. O caso particular de Brasília mostra que o centro urbano da capital parece ter entrado nesse estágio de decadência prematura, principalmente após a traumática emancipação política da cidade. A partir daquele momento, políticos de toda a espécie passaram a considerar que o projeto urbano da cidade deveria ceder espaços para as aventuras dos puxadinhos e das improvisações, num movimento populista no qual nada do projeto foi respeitado.
Exemplo disso foram as seguidas invasões de terras públicas para a instalação de bairros improvisados dentro da lógica: um terreno, um voto. As áreas públicas, como moedas de trocas, foram vilipendiadas. A proliferação de barracos de lata, espalhados por toda a cidade, inclusive nos pontos de ônibus, mostra que não temos apreço por coisas como projetos urbanos. A decadência de extensas áreas do centro da capital demonstra que questões sociais são uma coisa, questões urbanas são outra. As cidades não são meros cenários; são organismos complexos cuja saúde depende de um projeto contínuo e coerente.
Jane Jacobs nos ensinou que a vida urbana é dinâmica, frágil e vulnerável às intervenções desencontradas. Quando tratamos a cidade como um apêndice de políticas imediatistas, a urbe perde sua razão de ser. É compreensível que as emergências sociais exijam respostas rápidas, mas confundir remédio com cirurgia permanente é erro grave. Urbanismo não é exclusivamente engenharia de controle social; é arte, economia, ecologia e convivência. Projetos que ignoram a qualidade do espaço público acabam criando cenários propícios à exclusão e à degradação.
Brasília é um exemplo doloroso de como decisões políticas podem corroer um projeto urbano visionário. A capital, em seu traçado original, tinha intentos estéticos e funcionais que vinham sendo gradualmente subvertidos. Transformar áreas públicas em moeda de troca revela a crise de princípios que atinge a gestão urbana. O loteamento improvisado e o “um terreno, um voto” são sintomas de um problema institucional mais profundo. Não se trata de demonizar medidas de emergência, mas de não torná-las permanentes. A proliferação de abrigos improvisados nos pontos de ônibus é sinal de falha coletiva. Falha do poder público que deixa de priorizar habitação digna e gestão urbana integrada. Falha da sociedade que naturaliza o improviso e a ausência de normas estéticas e funcionais.
O urbanismo que se reduz a remendos acaba por acelerar o envelhecimento e a morte da cidade. Cidades sem cuidado com o desenho urbano perdem capacidade de atrair investimentos, talentos e qualidade de vida. A decadência de centros urbanos não nasce do nada, é fruto de decisões cumulativas e de negligência. A preservação do espaço público exige vontade política, planejamento técnico e participação cidadã. Não basta erguer muros contra a pobreza; é preciso políticas integradas que unam urbanismo e justiça social. Isso significa programas de habitação planejada, equipados e localizados com sentido urbano. Significa também preservar a malha urbana que garante circulação, comércio e sociabilidade. Governar uma cidade é cuidar de suas infraestruturas, de seus equipamentos culturais, de suas praças. É preciso combater a ideia de que uma solução social é automaticamente uma solução urbana.
A frase que foi pronunciada:
“Temos orgulho da nossa constelação de arquitetos-estrelas, mas precisamos mais de arquitetos preocupados com as cidades. Menos egoarquitetos, mais equoarquitetos”.
Jaime Lerner

Claro
Tão excelente quanto mal planejada a campanha agressiva da Claro. Por ligação telefônica incessante, o script diz que para preservar a Lei de Proteção de Dados é preciso que o interlocutor confirme endereço, CPF. Acostumado com golpes, o consumidor não dá trelas e desliga. Acontece que se trata de uma promoção que barateia a conta da Claro Internet que propõe a instalação de fibra ótica. Despreze ligações de ofertas. Para saber se tem direito a promoção, quem deve ligar é você para a Claro.

História de Brasília
O bibliotecário tinha como incumbência encapar todos os livros. Não cumpriu com a sua missão e foi obrigado a renunciar. (Publicada em 11.05.1962)

