Estado de infelicidade

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

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Imagem: divulgação

Qualquer cidadão, aqui e em outras partes do planeta, sabe muito bem e até deseja, ardentemente, em seu íntimo, que o Estado, essa entidade invisível e onipotente, apeie de cima de suas costas, largue as rédeas e o deixe viver em paz, sem arreios e bridão.

Publicado no fim da Segunda Guerra Mundial, o livro Governo onipotente, escrito pelo economista austríaco Ludwig Von Mises (1881-1973), busca explicar, dentro de conceitos da própria economia, as causas que levaram aos sangrentos conflitos entre os Estados e que geraram um número de mortos que muitos historiadores apontam como próximo de 100 milhões. Isso numa época em que a população mundial andava por volta de 2 bilhões de almas.

Com Mises, emerge a percepção da praxeologia, ou seja, de que existe toda uma estrutura lógica e complexa a motivar as ações humanas e que as levam a atingir conscientemente seus propósitos. Segundo ele, o homem perfeitamente satisfeito com seu estado atual e sua situação não possui motivações para mudar de vida.

Há, assim, uma constante expectativa de que a vida vá se desenrolar segundo situações que sua mente planejou como favorável e feliz. É nessa expectativa otimista que o homem busca agir. A ação é sempre realizada em busca de uma felicidade que virá. O filósofo de Mondubim já costumava dizer que é a insatisfação que move o mundo.

No livro Governo onipotente, o que Mises procurava confirmar é que foram as excessivas interferências governamentais, na economia principalmente, que levaram à eclosão da Segunda Guerra Mundial e a todo aquele morticínio irracional. Em outras palavras, somente o liberalismo, com seu livre-mercado e com um governo limitado pelas diretrizes de uma democracia baseada na ética, seria capaz de garantir a paz.

É com esse pensamento que Mises chega à conclusão de que foram, justamente, os governos com ideias centralistas e com tendências ao despotismo e ao autoritarismo que conduziram boa parte da humanidade à carnificina da Grande Guerra. Ou seja, o nazismo e o comunismo, com seus pontos de vista comuns quanto ao estatismo, que levaram milhões a perecer nos campos de guerra.

A filosofia libertária, ao buscar que o Estado renuncie ao seu protagonismo egoico e desça, literalmente, das costas do cidadão, nas quais há séculos vive encilhado. Daí, estar presente intimamente no planejamento e nos projetos daqueles que sonham e almejam dias mais felizes. Exemplo dessa ação humana pode ser conferida nos dias atuais, quando se verifica a quantidade de jovens que simplesmente fugiram da Rússia para não morrer nas fileiras do exército invasor de Putin.

O livro traz consigo uma lógica, que mesmo impecável, do ponto de vista das ciências humanas, ainda não foi compreendida em toda a sua extensão e sentido. O governo e sua fantasia, o Estado, ao se colocar como uma pedra no sapato daqueles que planejam seguir rumo a dias melhores, é sempre o pesadelo e o responsável pelas tragédias humanas.

Limitar-lhes a ação é permitir força que, no seu mais recôndito íntimo, deseja se ver livre desse gigante insaciável. Ações simples — como aquelas empreendidas por cidadãos comuns, que anseiam pagar menos impostos, tarifas e tributos, como é o caso, aqui, da energia solar residencial, ou da coleta de água das chuvas para consumo próprio, ou mesmo, como se vê agora com dispositivos eletrônicos que permitem economia na conta de luz — mostram o desejo de inúmeras pessoas, em sua ação humana, para fugir das garras cada vez mais afiadas que nos perseguem.

 

A frase que foi pronunciada:

“O credo da nossa democracia é que a liberdade é adquirida e mantida por homens e mulheres que são fortes e autossuficientes, e possuidores da sabedoria que Deus dá à humanidade — homens e mulheres que são justos, compreensivos e generosos para com os outros — homens e mulheres que sejam capazes de se autodisciplinarem, pois são eles os governantes e devem governar-se a si próprios.”
Franklin D. Roosevelt

Franklin D. Roosevelt. Foto: super.abril

Valor X Preço
Domingos é um mecânico que chegou a Brasília ainda na época da poeira. Fica nas oficinas da Asa Norte esperando um serviço daqui e dali. É um daqueles homens que não têm preço. Têm valor. Certa feita, uma cliente lhe perguntou, depois de ter trabalhado a tarde toda no carro, se ele estava lhe enganando. Se realmente usou peças boas. Não teve dúvida. Rasgou o cheque que recebeu na frente da moça e deixou claro que não queria dinheiro desse tipo de gente. A moça chorou arrependida, mas ele não cedeu. Foi a pé para casa, feliz da vida.

 

Novo programa
Não dá para entender a razão de, até hoje, os professores da rede pública do DF não terem plano de saúde decente, em que possam ser atendidos em bons hospitais e fazerem exames nas melhores clínicas. O GDF deve essa aos mestres da capital.

Charge: humorpolitico.com.br

 

História de Brasília

Os danos foram somente materiais, mas atingiram a certa soma, principalmente porque uma das telhas atingiu em cheio um DKW Vemag, de propriedade do sr. Sergio Marcondes. (Publicada em 04.04.1962)

Bucha de canhão

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Fluxo de aviões saindo da Rússia / Reprodução/CNN

 

         Ditaduras, por suas características políticas ruinosas, necessitam, tanto para a sua ascensão como para sua consolidação e prolongamento no tempo, de estratégias moldadas em mentiras e muita propaganda de governo, na qual a figura central do ditador vá ganhando uma presença cada vez mais absoluta, de modo a confundir o governo e, principalmente, o Estado, com o próprio mandatário.

         É do jogo e sempre foi feito dessa maneira, em todo o tempo e lugar. Mas até que essa ascensão se solidifique e se torne incontestável, é preciso ainda desconstruir e mesmo destruir todo o sinal de oposição, classificada agora como inimiga do Estado e do povo. Para dissimular ainda mais essa tirania, o substantivo “povo” passa a ser uma palavra corrente na novilíngua da ditadura, embora nada signifique de fato.

          Povo é sempre uma abstração política usada em nome de algo concreto e perigoso. Para confundir a opinião pública, outra abstração moderna, são realizadas eleições com toda a aparência e jeito de democrático. Por detrás dos biombos, a farsa se impõe, com a propaganda oficial anunciando os resultados quase unânimes do pleito em favor do mandatário. Diante de números como esses, todas as esperanças são poucas. É justamente junto ao povo que os ditadores retiram o combustível para suas façanhas, em forma de carne humana.

          É preciso carne para manter as fornalhas do poder absoluto aceso. Carne e sangue. A cumplicidade de muitos e a indiferença do mundo, dito civilizado, dão a permissão e o agrément para que tudo ganhe ares de normalidade, com o ditador sendo aceito e até saudado nas rodas de conversa e nos encontros internacionais. Ninguém, por medo ou diplomacia, ousa dizer que ali está um autêntico açougueiro de gravata e capital. Tem sido assim ao longo da história humana.

          Mesmo a modernidade, com seus fóruns internacionais, repletos de pessoas sofisticadas, mostra-se simpática e não ousa impedir ou contrariar a sanha desses novos Calígulas. A invasão da Ucrânia pelas forças de Putin não é uma disputa armada entre um Estado contra outro, mas uma guerra de origem pessoal, travada por um déspota contra uma outra nação livre e autônoma e que é arrastada para esse conflito por uma decisão absolutamente subjetiva desse mandatário, para dar continuidade a uma estratégia de permanência no poder que exige, em contrapartida, que haja um clima de guerra sempre presente.

         É na fornalha das guerras que os ditadores obtêm o combustível necessário para seus governos. A paz é contrária aos propósitos dos ditadores porque deixa tempo, de sobra, para as reflexões da sociedade, algumas de caráter contestador. Ocupados em guerrear, não sobra, às plebes, tempo para elucubrações do tipo democráticas. É preciso a marcha contínua dos canhões.

         Depois de literalmente mandar, para o moedor de carne da Ucrânia, mais de 100 mil jovens russos, que retornarão para suas famílias em forma de cinzas, armazenadas em latas de alumínio, o ditador paranoico, manda alistar, à força, mais 300 mil homens em idade produtiva para que sigam o mesmo destino.

         Cientes dessa morte anunciada, centenas de milhares de jovens fogem em direção às fronteiras para escapar do destino certo. Serão outros trezentos mil mortos a servirem de bucha de canhão, com suas carnes e entranhas transformadas depois em medalhas e condecorações militares douradas, a ornar o peito desse bravo facínora e de seus comandantes, mesmo sabendo que todos eles se mantiveram a milhares de quilômetros do front de guerra.

         Nessa marcha bélica contínua, depois da Ucrânia, outros países, necessariamente serão apontados como o alvo da vez, até que não reste nada a Leste e a Oeste.

A frase que foi pronunciada:

“O vosso povo que, daqui a poucos dias, celebra o aniversário da Revolução dos Cravos que também vos libertou da ditadura, sabe perfeitamente o que estamos a sentir.”

Zelensky, presidente da Ucrânia, em abril

Volodymyr Zelensky. Foto: Getty Images

 

Gestão

Não foi feito alarde sobre essa questão, mas os funcionários dos Correios que pagavam taxas mensais para tentar diminuir o rombo dos fundos de pensão, agora, com a gestão do General Floriano Peixoto, que estampou o maior rendimento em 22 anos (R$3,7 bilhões), recebem participação nos lucros da empresa.

General Floriano Peixoto e funcionários. Foto: ASCOM Correios

 

Homem político

Sr. Menezes, conhecido pela honestidade no trabalho de ajustes de portões elétricos no Lago Norte e arredores, estava contando que encontrou um candidato à Câmara Legislativa pedindo votos nos hospitais. Disse tudo o que iria fazer se conseguisse a reeleição. Menezes, homem experiente, foi direto. “Se tinha esses objetivos, por que não executou quando estava no poder?” O candidato deu as costas e Menezes viu que estava representado no sorriso dos presentes.

Charge: Nani

 

História de Brasília

Mas os moradores são cariocas, e às vezes fazem blague. Há luz aqui? Não sei! Só venho aqui de noite! (Publicada em 10.03.1962)