Gestão de crise

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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O presidente Lula durante o discurso na sede das Nações Unidas, em Nova York. Foto: Ricardo Stuckert / PR

 

         Dos discursos proferidos até agora durante a realização da 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas, boa parte foram endereçadas diretamente à própria ONU. Ao que parece, os líderes que ocuparam aquela planetária tribuna levaram consigo uma extensa lista de reclamações sobre a atuação desse importante órgão no atual cenário global, destacando a pouca ou nenhuma ação desse organismo para deter o avanço dos conflitos que ocorrem agora em vários países e que ameaçam se alastrar para uma guerra generalizada.

         De fato, não são poucos os problemas que a ONU tem que lidar no dia a dia, de um mundo tumultuado, superpopuloso e que agora enfrenta também sérias ameaças com relação às mudanças climáticas e suas consequências para todo o planeta e para a vida em geral. Com o lema “Paz, Prosperidade, Progresso e Sustentabilidade”, os organizadores dessa 78ª Assembleia Geral esperavam que as lideranças, que viessem a essa reunião, trouxessem sugestões e ideias consistentes a serem acolhidas para dar um pouco de esperança e otimismo a um mundo que parece ter virado de cabeça para baixo. Ao que parece, a velha máxima de que várias cabeças pensam melhor que uma não deu resultado.

         Para complicar todo esse cenário, onde nem mesmo os países desenvolvidos sabem ao certo para onde seguir, é preciso destacar ainda que a pandemia provocada pelo Covid-19, iniciada a cinco anos passados, ainda faz vítimas pelo mundo. De acordo com o último relatório da OMS, até 1º de setembro de 2024, 776.137.815 casos confirmados em 231 países com 7.061. 330 mortes registradas em decorrência dessa doença. Para os sanitaristas envolvidos nessa questão, a Covid-19 foi a quinta doença mais mortal da história humana, perdendo apenas para a malária, que desde a Idade da Pedra continua fazendo vítimas fatais. Ainda assim, a Covid-19 fez estragos em todo o planeta, deixando mais de 114 milhões de desempregados, cerca de 55% da população mundial sem qualquer proteção social, aumentando a pobreza global em mais de 125 milhões de pessoas.

         Não fossem poucos os problemas enfrentados pela ONU, somam-se, a esses infortúnios, a poluição ambiental, a perda de biodiversidade e as calamidades naturais que vão ocorrendo mundo afora, com cada vez mais intensidade, decorrentes também do aquecimento global. A todo esse quadro caótico em âmbito mundial, acrescentam-se ainda o esgotamento rápido dos recursos naturais como água potável, tudo isso num planeta que abriga hoje um contingente humano de 8 bilhões de indivíduos.

         Não por outra razão, todo esse conjunto de problemas tem indicado que já se observa um nítido declínio dos direitos humanos em toda a parte, sobretudo relativos a mulheres, crianças e idosos. Qualquer indivíduo que possua hoje um mínimo de consciência global e que esteja antenado acerca dos problemas globais enfrentados pela  humanidade, nessas primeiras décadas do século XXI, sabe que sem o fortalecimento e união em torno de um organismo multilateral do porte da ONU, os graves problemas experimentados agora por nossa espécie, talvez o mais sério de toda a nossa história, não terão o condão de aliviar todo esse quadro, dando uma chance para que o planeta volte aos trilhos da normalidade.

          A questão aqui é que, segundo os especialistas em meio ambiente, as chances do planeta voltar a ser o que era, até um passado recente, são poucas ou quase nenhuma, sendo que, à medida em que o tempo avança, as chances de salvação da Terra e dos seres vivos vão ficando cada vez mais escassas. Aqui, não se trata de alarmismos, mas de prognósticos sombrios da ciência, feitos há algum tempo e não levados a sério pela maioria dos países. Pelo que se depreende dos vários discursos feitos nessa plenária mundial, as preocupações dos líderes dos diversos países, como não poderia deixar de ser, revelam preocupações locais ou umbilicais, muitas delas causadas por administrações erráticas e sem relação direta com o que parece importar nesse momento, que são os graves e inadiáveis problemas mundiais.

         Infelizmente, os líderes mundiais que discursaram nesta Assembleia, em sua maioria, também não leram previamente o Relatório publicado ainda em 2022 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que identifica e analisa os principais problemas atuais da humanidade no campo ambiental. Tivessem prestado atenção a esse documento, saberiam que a poluição sonora, os incêndios florestais e as mudanças climáticas compõem hoje o que os cientistas chamam de fenologia, ou seja, um conjunto de distúrbios que provocam alterações nas plantas e animais, roubando-lhes seus sincronismos com a natureza, prejudicando a reprodução, a frutificação, a polinização, as migrações entre outras atividades naturais e imprescindíveis à continuidade da vida sobre o planeta.

         Ir até essa importante tribuna falar de assuntos como a política de gênero e outras sandices, como foi ouvido aqui e ali, enquanto o planeta se desfaz sob nossos pés, é alienação, despreparo ou, como disse a imprensa: coisa de falso estadista.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“A ONU precisa ser reformulada para o bem da democracia.”

Presidente Lula da Silva, sem antes estabelecer a hipótese definitória da expressão.

 

História de Brasília

Se o Banco retirar essa vantagem, estará condenando a transferência do Estabelecimento para Brasília, porque ninguém deseja vir sem vantagens, já que os funcionários públicos recebem 100%. (Publicada em 18.02.1962)

Na contramão do bom senso

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Foto: Joédson Alves/ Agência Brasil

 

Por insistir em querer trafegar na contramão do bom senso, vamos nos tornando uma nação cada vez mais sui generis, vista aos olhos do mundo como um povo exótico e avesso aos valores que fizeram do mundo Ocidental o que ele é hoje. De tão espertos que acreditamos ser, cometemos erros e crimes que acabam por prejudicar a nós mesmos — afinal, vivemos em sociedade: o que acontece à unidade afeta todo o conjunto.

Somos, por exemplo, submetidos a rigorosas leis de trânsito e a multas caras e irrecorríveis por quaisquer distrações, como conduzir um carro com um farol queimado ou placa pouco legível. Mas as mesmas autoridades que agem com firmeza contra os motoristas são aquelas que, há décadas, permitem que os profissionais de limpeza sejam conduzidos, por toda a cidade e em grandes velocidades, perigosamente pendurados na traseira imunda e insalubre dos caminhões de lixo.

Para os mais céticos, essa diferenciação no trato de prevenção de acidentes de trânsito, com dois pesos e duas medidas, parece não se aplicar às empresas de limpeza urbana, tampouco aos carros dos próprios departamentos de trânsito, que estacionam seus veículos onde bem entendem e até sobre os gramados e áreas verdes. Quando as leis passam a diferenciar os cidadãos, alguma coisa não vai bem, ou nas leis ou nos cidadãos.

Em nosso caso, a esperteza é tamanha que não nos damos conta de que estamos assaltando a nós mesmos. Os jornais de todo o país têm mostrado que, de acordo com levantamento feito pelo Banco Central sobre o que chamam de mercado de apostas, mais de 5 milhões de beneficiários do programa Bolsa Família torraram nada menos do que R$ 3 bilhões em apostas on-line, com cada titular desse benefício social gastando em torno de R$ 100 por aposta.

Isso não é motivo para cassar o benefício. Afinal, essa medida iria prejudicar os proprietários dessas casas de jogos de azar, que, somente em agosto, amealharam R$ 21 bilhões. Nas pequenas cidades do interior do Nordeste e do Norte, é conhecida a rotina dos titulares desses cartões de benefício. Assim que chega o aviso de que se está pagando o Bolsa Família, imediatamente se formam longas filas em frente às agências. Nessas filas, é comum encontrar os donos de botequins, que, de cartão em punho, vão receber o pagamento mensal pendurado no bar por seus clientes. Note que o cartão fica nas mãos do dono do bar, e não do titular, que o entrega como garantia de que, no mês seguinte, continuará bebendo às custas da viúva.

Assim, entre apostas em jogos e consumo de cerveja ou cachaça, lá se vão os recursos assistencialistas bancados por cada um de nós. Fiscalizar, nos moldes corretos, essa montanha de dinheiro desperdiçado, obviamente, causa constrangimentos políticos de toda a ordem, e isso pode prejudicar a imagem dos benfeitores da política, ainda mais em tempos de eleições municipais. Antigamente, acreditava-se que o dinheiro que vinha fácil, fácil também era desperdiçado, pois o valor das coisas era dado pelo esforço em adquiri-las. Esse sentido se perdeu no tempo, vítima do populismo e da ação nefasta dos pais da pátria. Aqueles que ousam chamar a atenção para esse ralo sem fundo por onde escoa o dinheiro público são taxados de tudo o que não presta, menos de pessoas de bom senso.

Outras notícias vão dando conta de que o governo local vai construir um hospital veterinário público em Sobradinho. Nada contra a proposta. Só que, nesse caso, a primeira impressão que surge é que os serviços médicos de atendimentos à população nos hospitais e nos postos da rede pública já atingiram o patamar de excelência, não sendo mais necessário aperfeiçoar o atual modelo de saúde.

Para uma cidade em que 60% dos lares têm animais de estimação, essa parece ser uma boa medida. Assim, você opta por criar seu animal de estimação e nós, os contribuintes, iremos arcar com as despesas médicas e, quem sabe, até com os futuros planos de saúde para seus pets. Para um país dotado de uma história próxima ao surrealismo fantástico, não surpreende que o valor dado hoje aos animais irracionais chegue a superar o valor conferido aos próprios seres humanos.

»A frase que foi pronunciada:
“O dinheiro mal ganhado, água deu, água levou.”
Cantiga do povo

 

 

Telefonemas ou lei?
Se o quiosque do piscinão já colocou um andar de grade e ninguém reclamou, deixa assim. Se o pessoal do Clube do Choro toca em uma entrequadra e alguém reclamou, então procura-se um argumento para retirar o grupo do local.

Foto: página oficial do Clube do Choro de Brasília no Facebook

 

História de Brasília
Não será hoje a Assembleia Geral do Banco do Brasil e, sim, no dia 25. Um dos assuntos a ser tratado será o da gratificação de 50% que recebem os funcionários que residem em Brasília. (Publicada em 18/2/1962)

Um ballet de máscaras

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Foto: EFE / Fernando Bizerra Jr.

 

 

          Diante dos olhos dos brasileiros, principalmente daqueles que apresentam algum grau de percepção da realidade, vão se ensaiando os passos de um jeté num grande bailado que evolui em sentido oposto à ordem institucional democrática, reimplantada a partir de 1985. O banimento da plataforma X, sob o falso pretexto de seus operadores se recusarem a cumprir ordens judiciais, integra essa coreografia, que conta ainda com outros movimentos, meticulosamente preparados e inseridos num roteiro sob a direção da China e de outros países agrupados hoje no bloco dos BRICS.

          Não por coincidência, mais da metade dos países que formam esse bloco mantém rédeas curtas nas liberdades das redes sociais, inclusive com o banimento da rede X. O estreitamento, cada vez maior entre o Brasil e a China, sob o argumento de vantagens econômicas, esconde, da vista do público, objetivos políticos de médio e longo prazo, visando a substituição paulatina de um modelo mais aberto e democrático, ainda em vigor, por um rond de jambe, tocando no controle do Estado por um partido único. A situação aqui está em copiar o longo know how chinês em hegemonia política e econômica e, quiçá, trazer, para dentro de nosso país, o figurino de um capitalismo estatal nos moldes tupiniquim.

         As conversas entre os dois países seguem em ritmo acelerado, pois todo esse esforço de aprendizado e transplante desse modelo ditatorial pode ser abortado, por força do destino ou de algum outro descontrole do processo eleitoral nas eleições de 2026. Solapar a democracia brasileira por dentro, obviamente com ajuda externa da China, Rússia, Irã e outras ditaduras, tem sido ensaiado com plié que sobe e desce em movimentos disfarçados de cooperação bilateral em diversos setores, a começar pelo setor de comunicações, o que inclui aqui a liberdade de imprensa.

         O cenário de fundo é ocupado por uma cenografia que mostra a democracia com todos os seus atributos sendo protegida contra os ataques das oposições e de quaisquer outros tipos de contestações. Os inimigos aqui incluem-se todos aqueles conterrâneos e nacionais contrários às pantomimas dos que ocupam o palco. Os inimigos externos estão, não por outra razão, também classificados entre as maiores democracias do Ocidente.

         As democracias consolidadas representam barreiras naturais contra as investidas do autoritarismo. Para outras democracias frágeis e cujo Estado de Direito é ainda uma utopia, o avanço no controle do Estado é só uma questão de tempo. Aliás, o termo democracia é usado e abusado como propaganda do sistema, mas que, em sua essência, pouco ou nada ainda carrega de seu sentido histórico e factual. Nada é o que parece. A resposta aos reclamos da população e das oposições vem através de medidas que simplesmente fecham esses canais de contestação, censurando o debate ou criminalizando objeções através de leis subjetivas de repressão. O avanço chinês está condicionado diretamente ao enfraquecimento dos sistemas democráticos do Ocidente. Essa é a realidade.

         Outro aspecto ou fator a favorecer o avanço da China sobre os países do Ocidente é a corrupção existente em muitos Estados desse lado do mundo. Quanto mais as elites no poder são corruptas, antipatrióticas e pouco escolarizadas, mais fácil para a China adentrar o território, comprando tudo e a todos aqueles para os quais tudo tem preço. Troca-se a soberania e democracia coisas como espelhos e outras bugigangas. Alçada à presidência do Banco dos BRICS, Dilma Roussef, a quem os brasileiros deram o cartão vermelho por incompetência e outras más condutas, recebe agora a mais alta comenda do governo chinês, a Medalha da Amizade. Certamente, não por seus atributos administrativos a frente das finanças bancárias, mas por seus serviços de vassalagem prestados ao governo daquele país. Nada é de graça e sem os devidos significados.

         Em 2023 o atual governo brasileiro levou a China a maior comitiva já vista em toda a nossa história. A presidente do partido no poder tem feito também visitas frequentes àquele governo, onde tem adquirido ensinamentos preciosos para o fortalecimento da atual gestão interna. Também o chefe da mais alta corte do Brasil tem feito visitas ao governo chinês em busca de conhecimentos sobre o uso da inteligência artificial no sistema processual brasileiro. Notem que essa visita de aprendizagem é feita justamente num país em que não existe justiça nos moldes das democracias do Ocidente. Naquele país o ministro foi em busca de possibilidades de lançamento de parcerias e cooperações na área jurídica, sobretudo aquela relativa a eleições.

         Naquela ocasião o magistrado discorreu sobre o tema democracia, para uma plateia que não faz a mínima ideia do seja democracia ou processo eleitoral livre. “Nós somos ensinados a acreditar naquilo que vemos e ouvimos. No dia em que nós não pudermos acreditar no que vemos e ouvimos, a liberdade de expressão terá perdido o sentido”, disse Barroso.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Alguns apenas vivem, outros dançam.”

Marcelo Nunes

 

História de Brasília

Para os que querem entender demais, e que receitam a torto e a direito sem ser médicos, o nome da doença é laringite estridulosa. (Publicada em 18.09.1962)

Em estado de bisbilhotice

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Arte: Manu Chagas/Portal Imbiara

 

Todo o cuidado é pouco quando o assunto é imunidade cidadã no Brasil ou, mais precisamente, privacidade e direito ao sigilo e à toda informação sobre a intimidade fiscal, financeira e de opinião. Esses cuidados devem ainda ser aumentados caso o cidadão seja um idoso ou pessoa, digamos, sem costas largas, distante e desconhecido pelas elites instaladas no poder.

A cada dia que passa, o brasileiro vai assistindo aos seus direitos à confidencialidade de dados (bancários, fiscais e outros) serem diluídos ou, simplesmente, ignorados pelo Estado. Há 500 anos, o bardo Camões protestava sobre essa questão da seguinte maneira: “Leis em favor dos reis se estabelecem. E as em favor do povo só perecem”. Tolo é aquele cidadão nacional que ainda acredita ter seus dados pessoais protegidos e resguardados em segurança.

Numa democracia de direito, em que todos recebem o mesmo tratamento e cuidado das leis, o sigilo representa uma pedra angular capaz de assegurar a cidadania. Uma vez rompida a confiança depositada pelo cidadão, de que seus dados são protegidos por lei, dificilmente ela será restabelecida. Nesse caso, para se proteger dessas intromissões indevidas e da própria espionagem estatal, os indivíduos passam a buscar outros meios de administrar seus dados, mantendo-os, o máximo possível, longe da bisbilhotice obscura do Estado e dos sistemas de mercado em compras e pagamentos.

Essa situação também se repete, e de modo até mais explícito nas redes sociais, nas quais o Estado, autodenominado, agora, tutor das liberdades individuais, fiscaliza e pune suas manifestações, cancelando, sem maiores garantias, aquelas redes que não prestam vênias aos ditames do poder. O estado de vigilância onipresente é hoje uma obsessão, transformando a vida do cidadão numa ciranda de paranoias e medos.

Do esquadrinhamento kafkiano da vida e dos dados pessoais dos cidadãos ao confisco de seus recursos e bens, é um pulo pequeno e fácil. A todo o momento, chegam notícias de que o Estado se aproxima cada vez mais da porta de sua casa. Dependendo da situação, entra sem bater na porta. Em você, é outro caso. Não há para onde correr.

Nas farmácias de todo país, o hábito enganoso e quase imaculado de pedir ao cliente o número do CPF, supostamente para promover um desconto no medicamento ou produto, esconde uma das grandes maracutaias do comércio e que tem passado despercebida pelas autoridades sonolentas. Uma vez anotado o CPF, seus dados são automaticamente direcionados para anúncios próprios e outros setores dessa indústria bilionária, para aumentar ainda mais os lucros, num mercado sabidamente oligopolizado e em que a concorrência é tão fake quanto as promoções anunciadas.

Foi publicada uma Nota Técnica emitida pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados mostrando que as farmácias, ao coletar seus dados e informações pelo CPF, utilizam esse conhecimento para negociar anúncios de forma segmentada e direcionados, alimentando um enorme banco de dados, que contém praticamente todos os detalhes sobre o histórico de saúde e doença, medicamentos usados e outras valiosas informações. São dezenas de milhões de dados armazenados e que servem para a construção de algoritmos que darão instruções para executar a tarefa da internet e vender os produtos que você, em tese, “precisa” adquirir.

Em outros países, o comércio não se atreve a pedir o CPF ou número de segurança dos clientes, pois sabem que isso é crime. Existe um dispositivo legal, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), mas ninguém sabe onde anda e para que serve. O melhor é encarar a verdade de que não existe sigilo de dados. Na última sexta-feira, o Supremo Tribunal Federal
(STF) considerou constitucional que os bancos compartilhem suas informações com as autoridades fiscais estaduais. Por 6 a 5 e com muitas discussões, a Corte validou o convênio do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) para que sejam repassadas aos fiscos estaduais as operações por meio de Pix e cartões de débito e crédito dos brasileiros. O objetivo é aprimorar a cobrança de mais impostos de pessoas físicas e jurídicas, cercando toda e qualquer movimentação financeira realizada pelo cidadão.

Para o Conselho Nacional do Sistema Financeiro (Consif), a validação dessa medida fere as leis de sigilo bancário, impondo obrigações adicionais no processo de recolhimento de ICMS. Outras entidades mais ligadas ao assunto asseguram que a medida trará o fim do sigilo e desse direito que, na Constituição, estão garantidos de modo claro e sem espaço para dúvidas. Para os que têm prerrogativas infinitas de direito, o sigilo pode ser estendido por até um século, basta ver a situação dos cartões corporativos do Estado. Para os demais, os rigores das leis e das possibilidades de o Estado agir como lhe aprouver.

 

A frase que foi pronunciada:
“A persistência da Constituição é a sobrevivência da democracia.”
Ulysses Guimarães

 

Foto: agenciabrasil.ebc.com.br

 

História de Brasília
Há reclamação de que os bebedouros da Caseb estão quase sempre fechados, prejudicando os alunos e dando lucros aos fabricantes de sorvete que ninguém sabe de onde vem. (Publicada em 18/4/1962)

O Brasil é uma brasa, mora?

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Brigadistas do Prevfogo/Ibama e ICMBio combatem incêndios florestais na Terra Indígena Tenharim/Marmelos, no Amazonas • 11/09/2024 – Mayangdi Inzaulgarat/Ibama

 

Hoje já são mais de 160 mil focos de incêndio por todo o Brasil, com o fogo se alastrando até por regiões que antes se acreditava livre desses desastres. As regiões Norte e Centro-Oeste têm sido as mais afetadas, com parte da floresta amazônica e do Pantanal queimando há dias ininterruptamente. Todo o país está em meio a uma seca recorde jamais vista, com altas temperaturas e ventos cortando o continente de Norte a Sul e ajudando a espalhar as queimadas e as nuvens gigantescas de fumaça tóxica.

Aos olhos do mundo o Brasil está vivendo seu inferno astral, com a natureza, antes exuberante, sendo reduzida a cinzas. As consequências dessa multiplicidade de foco de incêndios, ainda não foram contabilizadas em sua inteireza. Quando os cálculos dos prejuízos forem fechados, veremos que o Brasil terá registrado dezenas de bilhões em perdas, tanto para o meio ambiente, como para a economia em geral.

O que se mostra patente é que o nosso país não se preparou minimamente para enfrentar tanto o aquecimento global e as mudanças climáticas, como para prevenir materialmente para o combate aos milhares de focos de incêndios. Há nesse quadro de desastre anunciado, uma sequência tal de imprevidência e prevaricações, que se fossem devidamente levadas aos tribunais, para verificação de culpas e de crimes, poucos gestores municipais, estaduais e mesmo federais escapariam de severas punições.

Agora, depois que o país inteiro parece ter sido lançado numa fogueira continental é que algumas medidas estão sendo anunciadas e prometidas. Se o imperador romano Nero (séc I a.C) pudesse presenciar o que acontece hoje com o nosso país, veria que o incêndio que consumiu parte da Roma antiga, atribuída por ele aos cristãos, não passou de brincadeira de criança.

Mapas de satélite mostram a evolução das queimadas em todo o território nacional e não deixam dúvidas de que os focos foram sendo multiplicados por mil ao longo dos meses desse ano. A parte central de nosso país, onde se encontram as maiores áreas de cerrado, tem sido enormemente impactada pelo fogo. O Cerrado, considerado pelos ambientalistas como sendo o berço das águas ou caixa d’água do Brasil, pois das 12 principais regiões hidrográficas do país, responde por nada menos do que oito nascentes que formam as bacias Amazônica (rios Xingu, Madeira e Trombetas); a bacia do Tocantins-Araguaia (rios Araguaia e Tocantins); a do Atlântico Norte Oriental (Rio Itapecuru); a Bacia do Parnaíba ((rios Parnaíba, Poti e Longá), na Bacia do São Francisco (rios São Francisco, Pará, Paraopeba, das Velhas Jequitaí, Paracatu, Urucuia, Carinhanha, Correntes e Grande) Bacia do Atlântico Leste (rios Pardo e Jequitinhonha); a Bacia do Paraná (rios Paranaíba, Grande, Sucuriú, Verde e Pardo); além da Bacia do Paraguai (rios Cuiabá, São Lourenço, Taquari e Aquidauana).

Deixar uma região com essa importância à mercê do fogo ou de um agronegócio do tipo predatório (latifúndios e monocultura), que visa apenas o lucro e os resultados da balança de comércio, é um crime de grande monta, quase um crime contra a humanidade e uma condenação antecipada as futuras gerações, que terão que conviver com imensas áreas desertificadas pela ação humana desastrosa e cheia de ganâncias.

Tivessem juízo, nossas autoridades deveriam fechar toda essa imensa região a toda e quaisquer atividades, que não visassem exclusivamente a preservação desses recursos hídricos. O certo, como vem alertando há décadas muitos ambientalistas, seria criar um parque nacional em torno de todas essas nascentes formadoras das principais bacias hidrográficas do país. Ou é isso, ou não se pode falar em futuro e muito menos nas próximas gerações.

 

 

A frase que foi pronunciada:
“Justificar tragédias como vontade divina tira da gente a responsabilidade por nossas escolhas.”
Umberto Eco

Umberto Eco. Foto: Divulgação

Oportunidade
Até 13 de setembro, quem tiver 18 anos ou mais terá a oportunidade de se inscrever no Orion Bootcamp. Das 50 vagas oferecidas para o curso, 5 vagas estão garantidas para contrato dos melhores estudantes. São 60 dias puxados entre três assuntos: Programação, Product Owner (dono do próprio negócio) ou Inteligência Artificial. Depois das inscrições feitas, haverá uma seleção para ocupar as 50 vagas. Veja os detalhes do assunto no link Inscrições e processo seletivo.

Foto: Aula inaugural com os 50 selecionados do Orion Bootcamp 2023.

 

História de Brasília
Nesta história da Novacap, a solução é a gente recorrer ao filósofo de Mondubim, que costumava dizer: não há governo sem ladrão no meio, mas cabe aos direitos, mandá-los para a caixa prego. (Publicada em 17/4/1962)

Locupletemo-nos todos!

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Chargfe: assessoriajuridicapopular.blogspot

         Resultado de uma mobilização popular jamais vista, a Lei da Ficha Limpa foi apoiada por mais de 1,6 milhão de cidadãos por todo o país. A intenção do idealizador, juiz Márlon Reis, com a ajuda de outros juristas era pôr um fim à possibilidade de candidatos a cargos eletivos assumirem seus mandatos sem a comprovação de idoneidade, barrando aqueles chamados fichas sujas.

         Muitos políticos brasileiros sempre usaram e abusaram do conceito jurídico de presunção de inocência para ocupar cargos públicos. Depois de empossados e ao abrigo da prerrogativa de função, raramente eram retirados do cargo, quando apanhados em delitos e crimes. Usavam desse expediente, que era também reforçado pelo corporativismo de grupo, ficando longe de serem apanhados pela lei. Com isso, muitas assembleias legislativas por todo o país chegaram a ter quase metade de sua composição formadas por deputados fichas-sujas.

         Ao buscar afastar da vida pública candidatos detentores de extensa folha corrida, a sociedade buscava livrar o Estado da praga antiga da corrupção, um fenômeno responsável por manter o Brasil na rabeira do mundo desenvolvido. Note que nenhum país do Ocidente que logrou se desenvolver e manter um adequado Índice de Desenvolvimento Humano o fez à sombra da corrupção. A reputação ilibada dos responsáveis pela administração do Estado é condição sine qua non para os países saírem da miséria. Por si só, a corrupção é designativa de comportamento não compatível com a ética, a virtude e a moralidade pública. Em outras palavras, não se pode fazer na vida pública o que se faz na privada.

         No Brasil, infelizmente, falar em corrupção é como falar em corda em casa de enforcado, tal o número de autoridades envolvidas em fraudes de todo o tipo. Assim como os críticos mais mordazes, Stanislaw Ponte Preta, ao observar a vida política em nosso país, dizia: “ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos”, tal é a quantidade de casos de corrupção havida na máquina pública.

         Em 2010, depois de um longo percurso que durou mais de 13 anos, a Lei da Ficha Limpa chega ao Congresso sendo então aprovada por unanimidade. Notem aqui que essa Lei foi aprovada justamente durante a gestão de um governo que, depois do envolvimento no escândalo do mensalão, ficou marcado, também, pela Operação Lava Jato, como a administração pública mais corrupta de toda a nossa história. Como tudo no Brasil acaba em samba ou pizza, os protagonistas do mega escândalo do Petrolão não foram devidamente atingidos pelos efeitos da Lei da Ficha Limpa. Exemplo maior da pouca ou curta eficiência dessa lei, quando aplicada em pessoas com grande poder político, pode ser conferida no caso de Lula. Depois de dois anos de cadeia, saiu da cela direto para a cadeira presidencial, mesmo a despeito do que firmou o desembargador João Pedro Gebran Neto ao escrever em sua sentença que: “O réu, em verdade, era o garantidor de um esquema maior que tinha por finalidade incrementar de modo sub-reptício o financiamento de partidos, pelo que agia nos bastidores para nomeação e manutenção de agentes públicos em cargos-chaves para organização criminosa.

         Há prova acima de razoável que o atual presidente foi um dos articuladores, se não o principal, do amplo esquema de corrupção. Há prova documental e testemunhal a respeito da participação do grupo OAS, representado pelos seus principais dirigentes, no esquema de corrupção para direcionamento da contratação da Petrobras e no pagamento de propina a agentes políticos e dirigentes do PT, e em especial, por ordem e determinação, ou orientação, do presidente Lula como mantenedor/fiador desse esquema de corrupção”.

         Em março de 2011, o Supremo dá o primeiro tiro na Lei da Ficha Limpa ao decidir que a lei valeria apenas para as eleições seguintes. Com isso, vários políticos que estavam com a corda no pescoço se safaram de punição. Naquela ocasião, o então senador gaúcho Pedro Simon afirmou: “ Estou com a impressão de que o Supremo matou a Lei da Ficha Limpa”. Ainda sob o argumento de presunção de inocência e de que ninguém será punido até que seja considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Com a condenação em segunda instância, passou a não mais valer para condenar candidatos acusados de corrupção, a Lei de Ficha Limpa perdeu muito de seu vigor cívico.

         Agora, mais uma vez, a Lei da Ficha Limpa sofre novo revés com a aprovação na CCJ do Senado no bojo da minirreforma eleitoral. Na avaliação do próprio Márlon Reis, houve, mais uma vez, um retrocesso institucional. “Vale lembrar, diz ele, que a Lei da Ficha Limpa foi resultado de um raro momento de mobilização cívica. Uma iniciativa popular, apoiada por milhões, e que teve sua constitucionalidade plenamente reconhecida. Representa, assim, um consenso civilizatório que não deveria ser objeto de negociações obscuras. No entanto, a atual proposta do legislativo ameaça desfazer esse progresso. Uma das grandes preocupações é a redução dos prazos de inelegibilidade. Estes prazos estão no coração da Lei da Ficha Limpa, servindo como punição aos que agem contra o patrimônio público e a moralidade administrativa. Não se tratam de meros detalhes, mas sim da própria essência da lei. O corte nos prazos, como, por exemplo, para aqueles que renunciam a mandatos eletivos para escapar de punições, é um convite para fraudes e malversações.”

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Nós, o povo, não compreendemos nossos representantes.”

Entrelinhas do preâmbulo da Constituição Brasileira

Charge: AT (tribunaonline.com)

 

 

História de Brasília

O assunto veio à baila, mesmo, quando o deputado Ademar Costa Carvalho resolveu contar tudo ao prefeito Sette Câmara, e inúmeras acusações foram feitas à administração Laranja Filho. (Publicada em 18.04.1962)

Um réquiem para o Rio Amazonas

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

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Foto: Alex Pazuello/Secom/Governo do Amazonas

 

Já é consenso entre muita gente que, num futuro não muito distante, a luta pelo domínio de fontes de água potável será o principal motivo de guerras devastadoras entre as nações. Em alguns locais do planeta, hoje em dia, essa é uma realidade visível. O aquecimento global, que para alguns é uma ficção, cuida de apressar a escassez de água. A poluição dos cursos d’água em muitas partes do mundo e especialmente no Brasil é mais um fator a precipitar esses acontecimentos.

Não há, nem como intenção do governo, nem da população em geral, ações que visem proteger nossos rios e córregos. Isso quando se sabe que o descuido com esses cursos d’águas irão ter efeitos seríssimos para as próximas gerações, inviabilizando a permanência de populações em vastas áreas do país. A agricultura intensiva, realizada em grandes latifúndios e que têm como objetivo principal a exportação de grãos e de proteínas, tem ajudado também, e a seu modo, nesse processo acelerado de desertificação de nossas terras. Somadas a essas ações de destruição gradativa de nosso meio ambiente, o fogo, que tem surgido com cada vez mais frequência em toda a parte, vai tratando de reduzir a pó nossas riquezas naturais.

Muitas partes no interior de nosso país apresentam os resultados de nosso descaso secular com nossas águas. Rios e outros importantes cursos d’água, simplesmente desapareceram, deixando rastros que mostram os antigos leitos rochosos e arenosos expostos ao Sol. Servem hoje de caminho para os animais e homens, indiferentes a esses acontecimentos.

Toda a paisagem à nossa volta se apresenta hoje repleta de sinais e de maus presságios de que algo muito sério está prestes a acontecer. Esperar que toda essa nova realidade cruenta venha nos arrebatar, quando não haverá mais recursos possíveis de reverter essa situação, é uma insanidade e um crime contra o futuro. Somos igualmente todos responsáveis.

Obviamente que os governos federal, estadual e municipal são os maiores culpados desse descaso. As diversas fotos que mostram o raro fenômeno da seca extrema no Rio Amazonas, não deixam dúvidas de que estamos indo rumo a um novo e desconhecido mundo seco. Os institutos de meteorologia preveem que esse ano a estiagem será ainda maior.

Para se ter uma ideia dessa calamidade, quase 10% do território amazônico enfrenta seca severa. Em todo o território nacional, a área com seca extrema aumentou de 28% para 37%. O Norte do país é o que mais tem sofrido com essa situação. Também este ano, imagens de satélite indicam que mais de 517 mil hectares de área do Pantanal foram consumidos pelo fogo. E pensar que essa imensa área, era, até pouco tempo, uma grande região coberta por água, praticamente o ano todo.

Mas, voltando ao Rio Amazonas, o maior curso d’água do mundo em volume e com uma extensão de quase 7 mil quilômetros corre sério risco de, num futuro próximo, transformar-se em lembrança. A situação que vinha sendo apressada pelas intensas queimadas e pela criminosa derrubada de árvores está sendo intensificada também pelo aquecimento global, que vem provocando um acentuado recuo das geleiras nos Andes, onde está a nascente desse fabuloso rio. O pior é que esse derretimento das geleiras, que antes se acreditavam eternas, tem sido muito mais rápido do que o previsto.

A nascente desse imenso Rio, que, no passado, foi motivo de muitas dúvidas e incertezas, hoje, com a tecnologia de satélite, foi localizado exatamente na nascente do Rio Apurinac, na encosta do Nevado de Mismo, na Cordilheira dos Andes, no Peru. A 5.600 metros acima do nível do mar. O derretimento rápido das geleiras dos Andes acende um alerta de que esse fenômeno irá ter sérias implicações sobre o Rio Amazonas.

Evidências levantadas pelo professor Jeremy Shakun, da Universidade de Boston, levam a crer que essas geleiras são muito menores agora do que em qualquer outro momento nos últimos 11 mil anos. Todas as pesquisas indicam que estamos de fato imersos na nova era do Antropoceno, em que as ações humanas passaram a influir profundamente nos destinos do planeta. Para o cientista não há dúvidas de que o recuo dessas geleiras está diretamente ligado a ações humanas, especialmente decorrentes da Revolução Industrial e das consequentes emissões de gases do efeito estufa.

A queima de combustíveis fósseis é o principal fator desse aquecimento. E pensar que ainda hoje, em pleno século XXI, estamos prestes a inaugurar a prospecção de petróleo justamente na bacia do Rio Amazonas, celebrando assim, com vela preta e caixão, o desfecho da epopeia nacional rumo a destruição do nosso país e de restante do planeta. Nossos músicos, que tanto apreço têm demonstrado à destruição do Amazonas, bem que poderiam compor agora um réquiem para esse rio que agoniza diante de nossos olhos. Como outros fizeram no Titanic.

 

A frase que foi pronunciada:
“Nunca foi tão urgente retomar e ampliar a cooperação entre os países que têm a floresta em seu território.”
Lula, na abertura da Cúpula da Amazônia

Presidente Lula. Foto: REUTERS/Adriano Machado

 

História de Brasília

No pequeno espaço de tempo em que esteve como presidente da Repúbica, o sr. Ranieri Mazzilli fêz um número grande demais de nomeações, superior às necessidades, para quem ocupa a cadeira por poucos dias. (Publicada em 15.04.1962)

O camelo e a agulha

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Foto: Paulo H. Carvalho/ Agência Brasília

 

                       Em matéria publicada no Podcast do nosso Correio Braziliense jornal no dia 03/07/2024, sob o título: “PPCUB – Um grande risco à qualidade de vida”, a arquiteta e urbanista Vera Ramos, integrante do Instituto Histórico e Geográfico do DF, alertou para o grande risco de Brasília vir a perder o prestigioso título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) em 1987.

                       Não é pouca coisa, já que se trata da maior área tombada do mundo, com 112,5 km², talvez, por isso mesmo, tenha sido tornada alvo constante de todo o tipo de especulação imobiliária, por parte de políticos e empreiteiros locais ao longo de toda a sua existência. Dessa vez, e de forma até impetuosa, Brasília volta a sofrer mais uma tentativa de ser desfigurada por conta do controverso e malicioso Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB), aprovado agora pela Câmara Distrital.

                        De acordo com Vera Ramos, muitas são as cláusulas desse Plano que colocam em risco não só a manutenção do título concedido pela Unesco, mas, sobretudo, diminuem e agridem sensivelmente a qualidade de vida dos brasilienses. De início, a urbanista lembra que o partido da cidade, ou seja, a característica fundamental (personalidade) de Brasília é que ela é uma cidade parque, sendo concebida muito em função das extensas áreas verdes que a cercam. O próprio Lúcio Costa deixou isso patente quando deixou claro em seu projeto a predominância das áreas verdes sobre as áreas construídas. Dessa forma não se pode entender ou aceitar Brasília sem suas áreas verdes.

                       Esse é, justamente, o ponto que deixa aqueles que nada entendem de urbanismo ou dos aspectos que levaram à concepção da capital sempre animados e prontos para, a todo o instante, propor medidas para alienar essas áreas. “O urbanismo de Brasília, ensina ela, traduz uma referência ética, que significa a predominância do interesse coletivo sobre o privado”.

                       Na avaliação de Vera Ramos, o PPCUB está propondo exatamente o contrário nas diversas cláusulas aprovadas, beneficiando o interesse privado. “Essa aula de ética que o urbanismo de Brasília dá para todos nós, e para as autoridades, deveria fazer parte, inclusive, de informações para o melhor entendimento desse Plano”, enfatizou a arquiteta, ao ressaltar que os bens inscritos na Unesco, como é o caso da capital, devem possuir um plano de preservação com regras claras, tudo o que o PPCUB não parece possuir.

                       Outro ponto que também chamou a atenção da urbanista é que, no caso do PPCUB, não houve a participação ativa da sociedade civil o que, de certa forma, torna evidente que a comunidade brasiliense desconhece o que trata o PPCUB. Outra questão destacada por Vera Ramos é quanto ao adensamento populacional trazido pelo plano ao instituir a criação de diversos novos lotes em áreas públicas. Acontece que esses lotes estão justamente situados em áreas não edificantes, ou seja são áreas previstas para ficar vazias, sem construções. É outro conceito trazido por Lúcio Costa de intercalar o cheio e o vazio, dando sentido e harmonia a ambos.

                       Outro ponto que para não caber na cabeça dos leigos e interesseiros de prontidão. As áreas não edificantes, assinala Vera Ramos, não são áreas ociosas pois integram a escala bucólica, prevista por LC. A arquiteta lembrou ainda que, em qualquer intervenção válida e séria, a abordagem deve ser feita a partir da escala, uma vez que esse é um dos elementos fundamentais do tombamento. Não se pode, pois, misturar setores de uma escala com outra.

                       Com isso, dá para entender que aqueles que redigiram o PPCUB não conheciam nem mesmo as mais básicas regras do tombamento e mesmo de urbanismo. Além disso, o PPCUB, segundo analisa, peca por falta de transparência em vários dispositivos. A questão da volumetria, que também é uma das exigências contidas no tombamento, foi abordada com maestria. Nesse sentido, o aumento de gabarito em alguns edifícios também vão contra o estabelecido no tombamento e ferem de morte o projeto de Lúcio Costa. Na opinião de Vera Ramos, o principal em toda essa celeuma e o que importa para a sociedade é discutir, de forma honesta, os reais instrumentos de preservação e valorização do patrimônio que é de todos os brasileiros, pois como ela própria ressalta: “a população é a guardiã do patrimônio.” Com essas possibilidades de Brasília vir a perder, ao mesmo tempo, o título de patrimônio cultural da humanidade e a qualidade de vida de seus habitantes é que obriga o PPCUB ser colocado a apreciação da população local por meio de um amplo e claro referendum, que apresente ponto por ponto essa proposta. A aposta dessa coluna, que sempre tomou frente em defesa de Brasília, é que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que a população aceitar esse plano maroto e cheio de más intenções.

A frase que foi pronunciada:

“Sim. A questão é polêmica, complexa e, por vezes, difícil de ser assimilada pela população.”

Leonardo Ávila, presidente do Codese sobre os alertas em relação ao tombamento

Leonardo Ávila. Foto: Codesi / Divulgação
Leonardo Ávila. Foto: Codesi / Divulgação

 

História de Brasília

A Rádio Educadora de Brasília bem que podia dar a hora certa. Seria uma ajuda aos ouvintes, que não são poucos. (Publicada em 10.04.1962)

Só o cérebro controla a inflação

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Posse do Lula, em 1º de janeiro de 2003. Foto: Senado Federal.

 

          Quem não aprende a seguir o caminho correto, a partir da observação e dos efeitos negativos dos próprios erros, está condenado a seguir errando e sentindo, na pele, os efeitos de suas escolhas.

          Infelizmente, o Brasil se enquadra nesse caso. Décadas após décadas, com idas e vindas de governos diversos, nosso país segue cometendo os mesmos erros do passado na área econômica. Com isso, continua amargando as consequências de suas opções, com as sucessivas crises geradas por escolhas mal feitas e por planos econômicos mal desenhados.

         O único plano econômico digno desse nome, posto em prática em nosso país, foi o Plano Real, elaborado pela então equipe econômica durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003). Antes desse plano, feito sob medida e em três fases distintas e bem elaboradas, o Brasil só conhecia os chamados choques na economia, com ações feitas de maneira abrupta e em cima do laço, visando domar, à força, a altíssima e persistente inflação.

         Passadas três décadas desse Plano, a avaliação mais próxima da realidade que pode ser feita é que, de lá para cá, o país desandou. Hoje, o que parece é que voltamos aos anos anteriores daquele plano redentor, sem crescimento econômico, com inflação em alta e com as contas públicas em estado terminal.

         O que é preciso ressaltar, como causa primária desse descaminho que nos conduziu onde agora estamos, é que foram as escolhas políticas que empurraram para esse novo beco sem saída. Como bem lembrou um dos principais idealizadores do Plano Real, o economista Edmar Bacha, a fase posterior ao plano e que daria suporte longevo àquelas medidas não foI concluída. A razão é que, terminado o governo FHC, seu sucessor tratou de pôr um freio em todo o plano, virando completamente a mesa e empreendendo o que Bacha chama de “desreformas”.

          Foram quinze anos seguidos de “desreformas”, culminando com as chamadas pedaladas fiscais, que visavam maquiar e esconder os rombos nas contas públicas. Deu no que deu. Assim, temos que a ação política tendenciosa cuidou de arruinar economicamente o país. O mote para a destruição da economia foi a guerra declarada à economia liberal, erroneamente cunhada de neoliberalismo. Tudo o que soava como livre comércio foi posto abaixo, por puro voluntarismo. Todo e qualquer país que logrou se libertar da fase de subdesenvolvimento tratou de fazê-lo em etapas e de modo contínuo e persistente, visando cumprir planos pré-elaborados em detalhes, pois havia sempre presente a perfeita noção de que a saída para o desenvolvimento pleno requer um longo período de planejamento e manutenção.

         Nós, ao contrário do restante do planeta, queremos reinventar a roda, mudando, a cada novo mandato, o que foi feito no governo anterior. Obviamente que esse faz e desfaz sem fim não leva a lugar algum e ainda vai empurrar o país ladeira abaixo. O pior é quando não assume sequer ter um plano econômico e, ainda assim, passa a desprezar elementos básicos como receita e despesa.

         O que, talvez, as novas gerações não saibam é que, para tirar o Brasil do buraco, antes do Plano Real, foi preciso a formação de uma verdadeira junta médica, no caso, aqui, formada pelos mais brilhantes economistas do país, todos convencidos da necessidade de salvar o país do iminente naufrágio econômico.

         Nesse caso, tratavam-se de de economistas com notório saber nessa ciência. Todos eles sabiam que os oito anos de mandato de FHC seriam pouco tempo para que o Plano Real adquirisse vida própria, tornando o crescimento econômico do país um fenômeno natural e de vida longa. Infelizmente, por razões ainda pouco esclarecidas, o sucessor de FHC não foi José Serra, que seria o nome ideal para dar prosseguimento ao Plano Real. Ao invés disso, veio um governo do contra tudo e todos. Novamente, a política, naquilo que tem de mais distante da realidade, cuidou de desmanchar o plano e, com ele, o futuro do pais.

 

A frase que foi pronunciada:

Por que é que uma discussão pública sobre política económica mostra tantas vezes a ignorância abismal dos participantes?

Robert Solow, Prêmio Nobel

Robert Solow. Foto: ubs.com

 

Quem não?

Qualquer internauta está sujeito a crimes cibernéticos. Mesmo com aparência de segurança do site, centenas de comentários favoráveis, endereço, marcas, tudo pode ser falso. Só a forma de receber o pagamento é garantida. A Polícia Civil do DF já realizou várias investigações com final bem sucedido contra esses esquemas fraudulentos.

Imagem: fastcompanybrasil

 

História de Brasília

Custa crer que o almirante Lucio Meira esteja trabalhando contra Brasília, mas seja como fôr, êle saberá o que está acontecendo, e tomará providências. (Publicada em 10.04.1962)

Quando a carne alimenta os sonhos

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Charge do Zappa

          Helena Blavatsky (1831-1891), fundadora da Sociedade Teosófica, costumava dizer, com muita propriedade, que “não existe religião mais elevada do que a verdade”. Ela queria dizer que a busca pela verdade transcende todo e qualquer dogma, inclusive aqueles que não possuem relação direta com questões de fé, como é o caso da política.

         Numa paráfrase livre, poderíamos também afirmar que não existe ideologia política alguma ou mesmo partido político que seja mais importante do que a verdade, posta à disposição do cidadão. Mas, aqui, incorre-se também em um perigo conhecido: as massas, aqui simbolizadas pelos eleitores, deixam-se guiar mais facilmente por fantasias. A realidade as assusta. Não por outra, são os demagogos aqueles que mais conseguem hipnotizar as massas. Quanto mais as promessas políticas de campanha são embaladas em papel lustroso, mais e mais o público se deixa envolver. Afinal, as massas enxergam, nesse tipo de fala, aquela que os levará ao mundo da fantasia, onde tudo será pleno de felicidade.

         Daí por diante, amargam o frio metálico da realidade, tão logo as eleições acabem e a vida volte ao que sempre foi: uma rotina interminável e enfadonha. A verdade na política funciona assim como um anátema, com seu pregador expurgado para fora de todas as opções de escolha. Quem quiser se candidatar e ter algum êxito nesse meio deve, primeiro, afastar de si quaisquer resquícios de verdade. Sangue, suor e lágrimas é tudo o que ninguém quer ver como promessa.

         Para aqueles que formam filas diante dos containers para abocanhar um osso, a promessa é de que, logo logo, estarão se baqueteando com uma suculenta carne, acompanhada de uma cervejinha bem gelada e uma gordurinha passada na farinha. Ciente da preferência dos subnutridos pelos ossos descartados, a realidade, faz com que a maior indústria de carne do país resolva embalar, à vácuo, os ossos, que seriam descartados, e coloca-los no mercado a preços inalcançáveis. Mas, ainda assim, fica na memória a imagem da peça ardendo na brasa e isso é tudo o que vale, afinal, alimenta ao menos os sonhos.

         A verdade, nesses tempos bizarros é produto fora da prateleira. Em política então, chega a ser uma maldição. Freud (1856-1939), que conhecia bem os meandros obscuros de um caráter mal formado perdidos na mente humana, dizia, sobre as massas, o seguinte: “A massa é extraordinariamente influenciável e crédula, é acrítica, o improvável não existe para ela. Pensa em imagens que evocam umas às outras associativamente, como no indivíduo em estado de livre devaneio, e que não têm sua coincidência com a realidade medida por uma instância razoável. Os sentimentos da massa são sempre muito simples e muito exaltados. Ela não conhece dúvida nem incerteza. Ela vai prontamente a extremos; a suspeita exteriorizada se transforma de imediato em certeza indiscutível, um germe de antipatia se torna um ódio selvagem. Quem quiser influir sobre ela, não necessita medir logicamente os argumentos; deve pintar com imagens mais fortes, exagerar e sempre repetir a mesma fala. Como a massa não tem dúvidas quanto ao que é verdadeiro ou falso, e tem consciência da sua enorme força, ela é, ao mesmo tempo, intolerante e crente na autoridade. Ela respeita a força, e deixa-se influenciar apenas moderadamente pela bondade, que para ela é uma espécie de fraqueza. O que exige de seus heróis é fortaleza, até mesmo violência. Quer ser dominada e oprimida, quer temer os seus senhores. No fundo, inteiramente conservadora, tem profunda aversão a todos os progressos e inovações, e ilimitada reverência pela tradição.”

         A questão aqui é como fazer com que cada eleitor possa olhar para as próprias profundezas e aprenda, desse modo, a se conhecer, libertando-se da escuridão em que se encontra e, com isso, aprenda a se ver liberto daqueles que, no mundo exterior, aprisionam-no. Primeiro, aprendendo que a felicidade que ele parece enxergar em promessas de campanha não está fora de si, mas dentro, sendo, portanto, um problema individual e até intransferível.

         Ainda como característica comum às massas, temos a questão da intolerância. As massas são sempre extremadas. Daí que, para o político formado em espertezas e em maquinações, fica fácil promover a polarização e instigar os extremos com a propagação de conceitos antípodas como o amor contra o ódio e coisa do gênero.

         Fernando Henrique Cardoso, que escreveu um livro com o título: “A arte da Política”, dizia que “a política não é a arte do possível, É a arte de tornar o possível necessário”. O problema é quando a arte da política se transforma num faz de conta mambembe e o país num grande circo de ilusões.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Pode ser que nos guie uma ilusão; a consciência, porém, é que não nos guia.”

Fernando Pessoa

Foto: poesiaspoemaseversos.com.br

 

História de Brasília

Para que se diga mais, a Siderurgica Nacional não está agindo com maior correção no que diz respeito ao Distrito Federal. A Hidroelétrica do Paranoá não será inaugurada também, porque a entrega de chapas foi feita com muito atraso. (Publicada em 10.04.1962)