Anna, armada de palavras

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

facebook.com/vistolidoeouvido

instagram.com/vistolidoeouvido

 

Foto: bbc.com (Getty)

 

Durante muito tempo, acreditou-se que o jornalismo, principalmente o de caráter investigativo, representava a última trincheira avançada em defesa da liberdade de expressão, servindo como uma espécie de farol de resistência contra a tirania e a favor da verdade. Houve um tempo, inclusive, em que o jornalismo era tido, por sua capacidade de arregimentação das massas, como um quarto poder. Exemplos desse modelo de jornalismo combativo são abundantes por todo o mundo e dele emergem figuras que, por sua atuação corajosa, entraram para a história como verdadeiros combatentes, munidos apenas com as armas da palavra e da escrita.

O advento das mídias sociais, mesmo impulsionando as informações como nunca, ajudaram a retirar muito desse poder atribuído ao jornalismo tradicional fazendo com que, hoje, tanto a imprensa como a chamada busca pela verdade ficassem espalhadas e dissolvidas por todos os lugares, aumentando a impressão geral de que ninguém, em nossos dias, por mais poderoso que seja, pode ser considerado o dono da verdade.

Mas ainda assim e em meio as adversidades de um mundo em crise de identidade, é possível encontrar jornalistas com coragem suficiente para abalar as estruturas do status quo, sobretudo, quando um sistema político favorece as injustiças e privilegiam as camarilhas, os tiranos e a corrupção. É nesse sentido que o jornalismo favorece a sociedade, brindando-a com a verdade dos fatos. Por causa desse poder de transmitir a verdade, muitos profissionais do jornalismo pelo mundo, ontem e hoje, pagaram com vida por essa ousadia e coragem. A eles, muitas democracias pelo mundo são devedoras desse tipo de luta.

Nesse sentido, merece destaque aqui, neste espaço, a lembrança do nome da jornalista americana Anna Politikovskaya, nascida na América, mas criada na União Soviética. Profissional respeitada dentro e fora da Rússia, Anna era um modelo de repórter investigativa. Não precisa nem dizer que, tendo escolhido o lado investigativo da imprensa e, além disso, disposta a levar a verdade dos fatos aos leitores, Anna, desde sempre, correu sério risco de morrer, ainda mais dentro de uma Rússia, comandada, há mais de duas décadas, com mãos de ferros por Vladimir Putin. Putin é hoje conhecido em todo planeta pelas acusações de crimes de guerra, genocídios de civis e pela forma brutal como trata toda e qualquer dissidência ou oposição. A lista com os nomes daqueles que ousaram desafiá-lo é imensa, assim como sua sede de poder e seu sonho megalomaníaco de reconstituir a antiga União Soviética, com toda a sua glória passada.

Trabalhar numa situação de perpétuo confronto como essa, onde a morte espreita em cada canto, não é para qualquer um. Ainda mais sendo uma jornalista atuante, focada em direitos humanos e que via, na guerra da Chechênia, violações indescritíveis praticadas pelo exército de Putin. Por sua atuação incansável, ela acabaria se tornando uma figura emblemática dentro e fora das fronteiras da Rússia. Poucos profissionais da imprensa tiveram a coragem que Anna demonstrava ao cobrir uma série de conflitos e de guerras sangrentas comandadas por esse pequeno e ganancioso Napoleão de hospício sovietista.

Anna, em seu trabalho, sempre demonstrava a preocupação em se posicionar contrária a toda e qualquer neutralidade, sobretudo aquela que faz cara de paisagem diante das brutalidades e desrespeitos à vida. Durante o tempo em que atuou nos principais veículos de comunicação da Rússia, o medo e a repressão eram uma constante. Os assassinatos de opositores e críticos do regime russo eram comuns. Da noite para o dia, esses críticos e adversários do regime desapareciam ou eram simplesmente encontrados mortos. Putin mandava eliminar, como moscas, não só políticos ou empresários contrários ao sistema, como encomendava, também o silenciamento de jornalistas que mostravam uma ameaça aos seus desmandos.

A morte anunciada e dada como certa de Anna ocorreria em 7 de outubro de 2006, quando foi  assassinada a tiros no elevador do prédio onde morava, por um desses milhares de sicários que agem para apagar os rastros de crimes desse regime brutal, o mesmo que hoje ameaça a Europa e o mundo com armas de destruição em massa. De toda a forma, a sua morte não foi em vão, tendo servido de inspiração para outros profissionais que ainda lutam dentro daquele país contra a centralização do poder e a falta de liberdade de expressão.

 

A frase que foi pronunciada:

“Esta linha política é totalmente neo-soviética: os seres humanos não têm existências independentes, são engrenagens na máquina cuja função é implementar sem questionamentos quaisquer escapadas políticas que aqueles no poder inventam. As engrenagens não têm direitos. Nem mesmo à dignidade na morte.”

Anna Politkovskaya

Anna Politkovskaya. Foto: gettyimages.com

 

História de Brasília

Estão querendo fazer sensação em torno do julgamento do delegado João Peles. A história de ameaça de morte não é motivo para ausência de testemunha. Assunto desta classe não deve atrasar julgamento. (Publicada em 29.04.1962)

Compromisso com o futuro

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

facebook.com/vistolidoeouvido

instagram.com/vistolidoeouvido

 

Ilustração: Capitalismo para principiantes. Carlos Eduardo Novaes. página:181

 

Historiadores costumam considerar que a coletividade, comumente denominada povo, é, no mais das vezes, uma porção de ninguém, por sua pouca ou nenhuma influência no correr dos acontecimentos políticos dentro do Estado. Em países apontados como subdesenvolvidos, essa situação de passividade é mais visível e presente. É como dizem: a massa é mole. Não se movimenta por ação de ideologias. A única coisa capaz de levar o povo às ruas, com disposição para mudar o cenário cotidiano, são a fome e a carestia no preço dos alimentos. Só quando o incômodo chega ao estômago é que a coisa anda ou desanda de vez.

Isso explica por que a aprovação ou a desaprovação de um governo por parte do público só se dá quando a queda ou o aumento nos preços dos alimentos acontece. Fora dessa causa, o que se tem é o marasmo. Talvez por esse motivo, os preços dos alimentos expostos nos supermercados sejam o maior indicador para ruas vazias ou tomadas por manifestantes. Nesse sentido, qualquer déspota que deseje manter-se no poder indefinidamente deve, antes de tudo, fazer o possível ou o impossível para manter também o acesso fácil da população aos alimentos.

Para muitos pensadores liberais, isso explica porque a coletividade acaba sempre sendo também uma abstração. Qualquer indivíduo que tenha que escolher entre ser o protagonista da própria vida ou ser um salvador do planeta escolherá a primeira opção. Mesmo nos regimes socialistas mais extremados, o sonho de cada um nunca é, primordialmente, pelo crescimento do coletivo. Optamos sempre por escolher a nós mesmos em primeiro lugar. No mais das vezes, é a própria dignidade que empurra o indivíduo para essa escolha. O indivíduo dissolvido no meio da sociedade e que se vê impossibilitado de escolher o próprio caminho é sempre um alvo fácil para doenças como a depressão.

Por essa razão, os países de economia e política centralizadas jamais divulgam a quantidade de indivíduos acometidos de depressão ou tristeza profunda. Isso ocorre porque o mérito pessoal, que anteriormente era sempre celebrado como o motor do progresso pessoal e coletivo, foi sendo substituído gradativamente pelo esforço pessoal em prol da coletividade. A desmotivação do esforço e mérito pessoal é uma das causas do fracasso da quase totalidade dos regimes centralizados. Essa visão explica porque, em nosso país e em outros de igual orientação, os empresários bem sucedidos são transformados em alvo de todo o tipo de empecilhos burocráticos e de cobrança de altos impostos e taxas diversas.

Ao contrário, todos os projetos e empreendimentos sem sucesso são logo socorridos com incentivos, isenções e todo o tipo de ajuda do Estado. Punem os bons e gratificam os incapazes. Essa situação, nos regimes fechados, só persiste porque, no fim das contas, os mais capazes acabam carregando nas costas os menos esforçados, o que acaba resultando sempre em equação de soma zero.

Nos sistemas socializantes a meritocracia acaba sempre sendo socializada ou dissolvida no grupo, o que é sempre ruim e faz com que o progresso cesse de existir. Uma coisa puxa a outra, e acaba que o planejamento centralizado e o intervencionismo estatal se transformam em veneno fatal para a liberdade individual e para o mérito pessoal, vistos nesses regimes como algo burguês.

Desde sempre, a liberdade econômica deve seguir a liberdade política, e isso inclui o indivíduo como peça central. No centro de tudo, está a liberdade individual. Isso explica também porque, em sistemas socialistas, o indivíduo é sempre menos de zero e manietado em suas expectativas. A questão é simples: quanto mais centralizado o Estado, menos liberdade é dada aos indivíduos.

Experiências em várias partes do mundo ao longo da história da humanidade mostram que a liberdade econômica e política é essencial ao progresso, não sendo possível a existência de uma sem a outra. É nisso que se funda a chamada ilusão do coletivo. A busca pelo crescimento se difere da busca por privilégios e posições. Isso explica também porque, em governos centralizados, os medíocres estão sempre no entorno do governo, colhendo benesses sem esforço algum. O que surge quando o indivíduo e suas potencialidades são apagadas é sempre um coletivo formado por nulidades descompromissadas com o futuro.

 

A frase que foi pronunciada:

“A obstinação nas disputas é quase sempre efeito do nosso amor próprio: julgamo-nos humilhados se nos confessamos convencidos.”
Marquês de Maricá

Marquês de Maricá. Foto: wikipedia.org

 

História de Brasília

Ocorre que Taguatinga, com 70 mil habitantes, recebe 47 litros por segundo, e o Gama, com 22 mil habitantes, recebe 72 litros por segundo. Há injustiça para com Taguatinga. (Publicada em 27/4/1962)

Extensão do espírito

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

facebook.com/vistolidoeouvido

instagram.com/vistolidoeouvido

 

Imagem: Reprodução

 

Pela atual Constituição Brasileira de 1988, em seu artigo 19, fica proibido, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios “estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles, ou com seus representantes, relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público”. Quis a Magna Carta estabelecer, de forma legal e legítima a separação entre a Igreja e o Estado, conforme vinha sendo, inclusive, estabelecida desde o Decreto nº 119-A, depois inserido na Constituição de 1891.

O Estado, dessa forma, é caracterizado como laico. Embora seja facultada a liberdade religiosa, o poder público deve manter equidistância e independência com relação a todos os cultos religiosos e, igualmente, às igrejas de qualquer credo, sendo seu dever apenas proteger e garantir o livre exercício de todas as crenças. Essa separação, que de forma alguma significa uma cisão violenta, é garantida por uma espécie de muro legal e abstrato que é o interesse público. Em outras palavras, isso significa que, ao Estado, é vedado qualquer tipo de subvenção ou auxílio com dinheiro público a toda e qualquer Igreja, seja ela da preferência do presidente da República, dos governadores, prefeitos, deputados, senadores ou outro político no cargo ou função de Estado.

Na opinião de eminentes juristas, essa é uma medida essencial e básica para a manutenção da própria democracia e pluralidade de ideias e opiniões. Infelizmente e diversas vezes, esse importante quesito legal e constitucional vem sendo desrespeitado desde o primeiro dia da promulgação da Carta de 1988, não apenas pelos presidentes, mas por governadores, prefeitos e pela grande maioria de parlamentares. A leitura enviesada e marota do preâmbulo da Constituição que invoca a proteção de Deus não se refere a esse ou aquele Deus específico, seja de católico, seja protestantes, mas ao Deus de todos os crentes.

A experiência, ao longo da história da humanidade, tem mostrado que as teocracias — nas quais os governos são operados sob o argumento de que essa é a vontade divina, e, portanto, indiscutível no plano terrestre, e que os chefes de Estado foram, ou são, representantes diretos da divindade — são estados ditatoriais e opressores. Nesses países, Estado e religião formam um único corpo institucional. A cúpula do governo nesses estados é formada por clérigos, que conduzem, com mão de ferro, a sociedade, impondo todo o tipo de opressão e sacrifícios, exceto para a alta cúpula, blindada por uma espécie de manto sagrado.

No dizer de Marx Weber, esse tipo de governo utilizam a chamada “ética da convicção” da verdade. Contrariamente, as sociedades democráticas são orientadas pela “ética da responsabilidade”, em que toda e qualquer consequência dos atos, das pessoas e das autoridades deve ser considerada e julgada.

Dizer que o apoio a essa igreja não passa de estratégia política para garantir governabilidade, em nada diminui essa transgressão. O poderio que algumas igrejas de orientação neopentecostais vêm ganhando no Brasil, principalmente dentro da máquina do Estado, na atualidade, por si só, deveria ter acendido a luz vermelha dentro do Supremo, ou dentro do Congresso, não fosse ele hoje dominado por essas correntes religiosas.

Mais do que fé, no seu sentido estrito, é preciso atenção e reflexão ao que vem acontecendo no mundo em nossa volta. Na Europa, a entrada de grandes massas de refugiados muçulmanos vem acarretando sérios problemas de ordem religiosa, com os forasteiros impondo sua fé pela violência, numa espécie de cruzada às avessas. Muitas mesquitas têm sido apontadas pelos órgãos de inteligência daquele continente como sendo centros de treinamento e doutrinação anti-Ocidente.

Repetia o filósofo Mondubim, “um olho no padre e outro na missa” — ou seja, ver e entender as coisas de Deus, mas com um olho no mundo dos homens, suas fraquezas e vícios. O próprio Jesus ensinava, de forma didática e até profética, percebendo a grande tribulação que era confundir o céu com a Terra: a Deus o que é de Deus, e a César o que é de César.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Poucos homens pensam; mas todos têm opiniões.”
George Berkeley

Imagem: John Smibert – Bishop George Berkeley – Google Art Project.jpg

 

História de Brasília

O relatório da Novacap diz que os serviços de abastecimento d’água tiveram andamento normal, “dando-se preferência às áreas de maior densidade de população do Plano Piloto e nas Cidades Satélites.” (Publicada em 27/4/1962)

Visões do mundo

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

facebook.com/vistolidoeouvido

instagram.com/vistolidoeouvido

 

Ilustração: Felipe Lima (gazetadopovo.com)

 

É certo que as universidades, sobretudo as públicas, mantidas graças aos impostos cobrados de todos os cidadãos do país, inclusive os analfabetos, deveriam, como o próprio nome indica, oferecer uma gama de oportunidades do mundo do saber. As universidades, portanto, devem estar abertas ao conhecimento e ao que ele primordialmente necessita para existir, que é o debate de ideias. Não há conhecimento verdadeiro pela metade ou sem debates e o exercício da razão. O fenômeno da dominação intelectual da esquerda dentro dos espaços universitários, seguindo o que propunha o filósofo italiano Antonio Gramsci (1891-1937) e, posteriormente, os professores da Escola de Frankfurt, fundada em 1924, não apenas serviu para sequestrar a autonomia do pensamento, como acabou por contribuir para o estreitamento do saber humano ao conduzir os alunos pelos caminhos de mão única da hegemonia ideológica.

A situação alcançou um ponto tal de surrealismo, que hoje praticamente não existe uma universidade pública sequer, dentro e fora do Brasil que não esteja abduzida por apenas teorias de esquerda. É um universo dividido ao meio, onde apenas uma parte da maçã, dessa árvore do conhecimento, é apresentada aos estudantes. Não há debates fora do campo da esquerda. Os que insistem são perseguidos ou evitados como se leprosos fossem. Nesse espaço, onde se busca o conhecimento, deveria haver, além da pluralidade intelectual de ideias, um total modelo de convivência harmônica, pois só assim será possível estimular o crescimento e a evolução do pensamento.

Estacionadas na esquina do lado esquerdo da existência, as universidades, hoje, caíram na mesma armadilha que busca enfraquecer parte das igrejas cristãs com a Teologia da libertação. De fato, o pensamento conservador é dado pela postura de intransigência das universidades, ao não admitir que outros discursos venham a se somar ao universo do saber. Lembre-se sempre de que a meia verdade nunca é uma verdade, portanto não satisfaz ao conhecimento.

Quando uma situação dessa natureza, que busca esconder o outro lado do saber, passa a ocorrer, o que se tem ou se pode alcançar, fica sempre aquém das necessidades dos indivíduos e distante da realidade que o cerca. Por isso, não chega a ser surpresa que os enfoques nas áreas de humanidades, sobre temas como a família, religião, pátria, propriedade privada, livre concorrência, liberdade de pensamento e outros não são apenas barrados e taxados de conservador, mas também incluídos numa espécie de index prohibitorum.

O que se assiste nas universidades hoje é uma verdadeira caça às bruxas e aos bruxos do pensamento de direita. Com isso, o que vemos e assistimos hoje é a decadência, até moral, de muitas universidades, onde circular pelado pelos corredores é uma mostra de liberdade do corpo, mas ler a Bíblia durante o intervalo das aulas, é um crime. São em ambientes assim onde fumar maconha é permitido. O que não se tolera é aluno enrolado numa bandeira do Brasil, ou com uma camiseta com motivos religiosos. É em ambientes assim que o capitalismo é massacrado e o socialismo elevado à condição de modelo a ser alcançado a todo custo. Não há revisionismo histórico de qualquer natureza sobre o fracasso do comunismo pelo mundo ao longo das últimas décadas. A romantização de um movimento, que alguns dizem ter riscado do mapa, algo como 100 milhões de indivíduos, considerados como inimigos do partido, contrapõe-se à demonização do conservadorismo responsável. Pelo o que se sabe, pelo progresso humano e material do mundo ocidental, é feito, em sua maioria, por professores que, anteriormente, receberam o mesmo tipo de formação. Deve-se, sobretudo, às teorias críticas contra o capitalismo, desenvolvidas pelos filósofos da Escola de Frankfurt, bem como a releituras sobre as potencialidades do marxismo, ao estágio atual de decadência moral e acadêmica de muitas universidades pelo mundo.

Na política, as universidades escolheram de que lado estão. Estão a favor de grupos terroristas como o Hamas e Hezbollah, que lutam contra o Estado capitalista e “opressor”, representado por Israel. Na América Latina, as universidades se colocam ao lado de governos como o da Nicarágua, Venezuela ou Cuba, considerados modelos de socialismo. Se existe hoje uma utopia com relação às universidades, é a de que elas irão dar um espaço democrático, de voz, fala e pensamento, àqueles que não querem aceitar esse tipo de visão obtusa do mundo. Como vem ocorrendo desde 1961, quando os padres da Cáritas, no Brasil, idealizaram a Campanha da Fraternidade com o objetivo de levantar recursos para financiar a assistência aos mais pobres, este ano, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) escolheu como tema da Campanha “Fraternidade e Ecologia Integral”, seguido do lema bíblico “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31).

De acordo com os organizadores, o objetivo da Campanha para este ano de 2025 busca conscientizar e promover sobre a importância da fraternidade e da ecologia integral na construção de um mundo mais justo e sustentável. Além disso, a CNBB espera mobilizar a sociedade na reflexão sobre a crise ambiental e a necessidade de um compromisso coletivo com a sustentabilidade e a justiça social. Para os bispos reunidos nessa entidade, é preciso cuidar da nossa Casa Comum, promovendo a justiça socioambiental em busca de uma verdadeira conversão ecológica. Na avaliação desses clérigos, é preciso ouvir o “grito dos povos e da Terra”.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Poucos homens pensam; mas todos têm opiniões.”

George Berkeley

Imagem: John Smibert – Bishop George Berkeley –                      Google Art Project.jpg

 

 

História de Brasília

O relatório da Novacap diz que os serviços de abastecimento d’água tiveram andamento normal, “dando-se preferência às áreas de maior densidade de população do Plano Piloto e nas Cidades Satélites.” (Publicada em 27.04.1962)

Não conheço nenhuma delas

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

facebook.com/vistolidoeouvido

instagram.com/vistolidoeouvido

 

Apoiadores de Trump na Flórida celebram a vitória após anúncio do canal Fox News – Foto: Jim Watson / AFP

 

Digam o que quiserem sobre a eleição presidencial dos Estados Unidos ou sobre a vitória de Donald Trump depois de quatro anos de perseguições e de uma tentativa de assassinato em um comício de campanha na Pensilvânia. Muitos podem não gostar da figura pessoal de Trump, arrogante e altivo, principalmente os chamados globalistas de esquerda, dentro e fora dos Estados Unidos. O que é fato inconteste é que ele foi eleito por uma votação limpa e esmagadora, que praticamente cobriu todo o mapa dos EUA com as cores dos republicanos.

O povo soberanamente escolheu quem achou que iria reverter a guinada silenciosa dos EUA rumo a uma espécie de socialismo tardio, infectado ainda pelos ventos dos movimentos Woke e Queer, que hoje minam a Europa e ameaçam afundar economica, social e politicamente toda a União Europeia.

A eleição naquele país deixou claro, pela diferença de votos, que os americanos apontaram a direção que desejam seguir. E mais do que isso, rejeitaram a direção errada que estavam seguindo. Para reforçar esse retorno às ideias liberais, os mercados americanos e principalmente os papéis na Bolsa registraram recordes de valorização, mostrando que o capitalismo, que enriqueceu dos Estados Unidos como nenhum outro país, estava de volta.

No cumprimento das promessas de campanha, Trump lembrou, em seu discurso no Congresso em 5 de março, que logo nas primeiras semanas de governo mais de 100 ordens foram assinadas, juntamente com 400 outras ações executivas com vista a restaurar o que o presidente chamou de bom senso, segurança, otimismo e riqueza. Para Trump, o povo americano o escolheu para fazer justamente esse trabalho. Mesmo medidas que são criticadas por muitos países, como o controle rígido sobre as imigrações, a população americana demonstrou total apoio, pois vinham a inquietando.

Como bem lembrado por Trump, nada do que ele poderá fazer e fará irá alegrar os democratas. Logo de cara, o presidente eleito fez o que a população pedia, que era o congelamento de todas as novas contratações federais, congelando também todas as novas regulamentações e ajuda externa. Acabei, disse ele, “com todo o ridículo esquema verde”, retirando seu país do Acordo Climático de Paris, que custava trilhões de dólares aos americanos e não era pago por outros países. Trump destacou ainda que retirou seu país da “corrupta Organização Mundial de Saúde”, se afastando também do Conselho de Direitos Humanos da ONU pelo seu reiterado antiamericanismo.

Também foi destacado o trabalho feito na eliminação de regras e regulamentos desnecessários, simplificando normas. Outra medida que teve o apoio da população, mas que foi logo reprovada pelos democratas, foi a ordem para que todos funcionários federais retornassem aos escritórios, sob pena de serem imediatamente afastados de suas funções.

Trump anunciou que deu fim também ao chamado governo armado, instrumento que permite que qualquer presidente em exercício possa processar ferozmente seus oponentes políticos. Ao mesmo tempo, deixou claro que pôs fim a todo o tipo de censura, além da volta da liberdade de expressão, que, na avaliação dele, vinha sendo limitada nos governos dos democratas.

Outro ponto destacado em seu discurso foi a decisão de acabar de vez com as políticas de diversidade, equidade e inclusão em todo o governo federal, no setor privado e nas forças armadas. “Trabalhadores devem ser contratados ou promovidos com base na habilidade e na competência e no mérito, não de acordo com a raça ou gênero”, disse ele, lembrando que essa medida teve o apoio total da Suprema Corte americana. “Removemos o veneno da teoria racial crítica de nossas escolas públicas, e eu assinei uma ordem tornando política oficial do governo dos EUA a existência de apenas dois gêneros: masculino e feminino. Também assinei uma ordem executiva para proibir os homens de praticar esportes femininos”, seguiu o presidente.

Na economia, Trump destacou sua luta para tornar o principal insumo, que é o do alto custo da energia. Para tanto, mandou reabrir mais de cem usinas de energia que haviam sido fechadas, declarando uma política de emergência energética nacional. Lembrou ainda que fará tudo para acabar com o desperdício de dólares dos contribuintes, dando todo o apoio ao Departamento de Eficiência Governamental (Doge), chefiado pelo bilionário Elon Musk. Apresentou também uma extensa lista de altos gastos impostos do Tesouro americano que vão do fornecimento de carros gratuitos para estrangeiros ilegais até milhões de dólares gastos em favor do empoderamento de povos indígenas e afro-caribenhos. Para ele, esses gastos eram verdadeiros golpes aplicados em cima dos contribuintes. Com essas e outras medidas Trump, espera reaver os bilhões de dólares desviados do tesouro e que se esvaem em meio a complexa máquina pública americana.

Ele ressaltou que, somente na área de Seguro Social, havia uma lista com milhões pessoas de 110 a 119 anos de idade e outras listas de beneficiários com pessoas de 120 a 129 anos de idade. Outras com listas de milhões de pessoas com 130 a 139 anos de idade, e outras milhões de pessoas com idade entre 140 e 149 anos. “Não conheço nenhuma delas”, disse.

 

História de Brasília

Apesar de inaugurado o telefone público, os do aeroporto estão na mesma. Eram quatro. Um foi retirado, dois não funcionaram e um funciona mal. (Publicada em 27/4/1962)

Penas ao vento

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

facebook.com/vistolidoeouvido

instagram.com/vistolidoeouvido

 

Charge do Cazo

 

         Acreditem: a polarização política, por seu poder dissipador e insidioso da cizânia, uma vez inoculada aos quatro ventos, torna-se impossível regredir. É como o fofoqueiro da aldeia, que, arrependido de suas intrigas, foi se consultar com o sábio local para tentar reverter o mal que tinha causado às pessoas por sua língua cheia de veneno. Ciente de que esse era um caso sem solução, o sábio sugeriu, ao consulente, que pegasse um grande travesseiro de pena de beija-flor e fosse ao mais alto monte do lugar e sacudisse-o durante uma tempestade de vento. Depois de seguir os conselhos do sábio, o fofoqueiro voltou para saber dos resultados de sua penitência. Volte lá, disse-lhe o sábio, e recolha cada uma das penas de beija-flor espalhadas.

         Ficasse restrita apenas na esfera política, a polarização extremada faria seus estragos apenas entre os políticos, não trazendo seus malefícios para o mundo exterior. Ocorre que a política, por sua necessidade vital nas relações humanas, permeia toda a vida em redor. Não há um lugar sequer onde os ventos da política não soprem de uma forma ou de outra. A política, uma vez infectada com o veneno da discórdia, produz seus efeitos por toda a parte, não respeitando nem mesmo os laços familiares e as amizades fraternas de longo tempo.

          Trata-se de um veneno deletério ao próprio espírito humano. Quantas e quantas vidas não foram ceifadas ao longo da história humana, apenas tendo leit motif à polarização política. A questão a intrigar a todos é saber por que, até hoje, não encontramos antídoto para esse mal, se conhecemos seus efeitos, suas causas e, sobretudo, de onde partem e com que intenção são criados.

         Não somos imunes à polarização da mesma maneira que não somos imunes ao mal. Talvez, isso se deva ao fato de que tenhamos, interiormente, o mal instalado dentro de alguma parte de nós. O que talvez sirva de consolo para alguns é que, diante do fato de termos adentrado milhas adentro nessa selva incivilizada, já nos encontramos, todos, igualmente perdidos. Queira o céu que, nessa luta pela sobrevivência, não tenhamos que repetir o que aconteceu na história do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, que caiu na Cordilheira dos Andes, em outubro de 1972, com 45 pessoas a bordo, sendo que, dessa tripulação, apenas 16 sobreviveram comendo a carne dos mortos nessa tragédia. Observem que o fenômeno do canibalismo não é desconhecido dos homens, acompanhando-o desde as cavernas.

         A polarização política exacerbada, fosse apenas uma espécie de canibalismo circunspecta à classe política, não teríamos queixas maiores. Só que essa fome pelo outro extrapola o ringue das radicalizações, atacando também o entorno com toda a ferocidade. Hoje, são raros, tanto em nossa sociedade, como em outros lugares pelo mundo, infensos ao mal dos extremismos políticos.

         O século XXI, que seria o da vitória da tecnologia e da modernidade, tem aliado os avanços da ciência com o que de mais primitivo existe na índole humana. Em nosso tempo, homens têm sido mortos como moscas, por diferenças religiosas, culturais e outras escolhas. À sentença fatalista “está tudo dominado”, junta-se agora à outra: “está tudo polarizado”. Em nosso caso particular, a coisa toda ganha ainda mais dramaticidade quando verificamos qu em nossa aldeia, o sábio que deveríamos consultar para sanar parte de nossas culpas pela cizânia, também já foi contaminado pelos ventos funestos da polarização e, portanto, torna-se impedido de proferir nossas penitências ou absolvição.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Nada mais cretino e mais “cretinizante” do que a paixão política. É a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem.”

 Nelson Rodrigues.

Nelson Rodrigues em 1949. Foto: Carlos Cedoc/Funarte.

 

Leitura

Um deleite correr os olhos pelas linhas do “Lumiar de Lamparina”, um livro de memórias de Luiz Bezerra de Oliveira. Ora sorrindo, ora enxugando as lágrimas, o livro é um exemplo da riqueza de vida de tantas pessoas que atravessaram as maiores privações para alcançar a vitória nos estudos e no trabalho, com os pés no chão.

 

 

História de Brasília

A minha terceira atividade é publicidade, mas quando recebo dinheiro dou recibo, o que nem todos fazem na nossa profissão, infelizmente. (Publicada em 27.04.1962)

O incêndio das bandeiras

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

facebook.com/vistolidoeouvido

instagram.com/vistolidoeouvido

 

 

A partir de 2026 em diante, quando a Reforma Tributária começar a entrar em vigor, terá início também o que pode vir a ser o fim definitivo do que conhecemos por República Federativa do Brasil, estruturada pela Constituição de 1988. Os entes federativos, como Estados, Municípios e o Distrito Federal terão suas autonomias e competências específicas diminuídas em alto grau, acabando, de vez, com a descentralização, o que vale dizer, com a própria identidade de cada um desses membros.

A questão é simples: ao centralizar, nos cofres da União, boa parte dos recursos captados em cada uma dessas entidades, direcionando-os prioritariamente para o Tesouro Nacional, Estados, Municípios e o Distrito Federal ficarão à mercê do bom humor do chefe do Executivo e do tipo de relação político e ideológica mantida com o poder central. Sem recursos para manter suas necessidades locais, essas entidades passarão a engrossar a fila de pedintes na porta do Palácio do Planalto e dos Ministérios. Com isso, aumenta também o grau de subordinação ao governo central, em desrespeito tanto às leis orgânicas locais, como à própria Constituição, já que o federalismo é uma normativa constitucional, gravada logo no seu artigo 1º.

A subordinação financeira acarretará ainda a subordinação política ao comando central, favorecendo cada vez mais a centralização do poder nas mãos do Executivo. Tirar o ICMS dos estados, que, numa análise rápida, representa 88% das receitas estaduais, e o ISS dos municípios, que representa, em média, 45% do que eles possuem para gastar com seus encargos, é a pá de cal na sepultura da federação. Sem dinheiro não pode haver um mínimo de atividade nos estados e nos municípios.

Para os partidos que possuem em suas diretrizes ideológicas a centralização do poder numa legenda única, essa reforma vem como uma luva em seus intentos, pois decreta o fim da pluralidade, obrigando os entes federados a viver de mesadas, distribuídas de forma assimétrica e sem critérios objetivos.

Para um país continental como o nosso, com imensa diversidade cultural e geográfica, com seus problemas próprios, a Reforma Tributária irá trazer uma espécie de pasteurização política, eliminando a pluralidade na tentativa de recriar um país cuja identidade é aquela desenhada pelo poder central. A própria história do país terá que ser recriada de acordo com as novas diretrizes da União. Pluralidade e divisão do poder é o principal pilar da democracia. Sem essas bases primárias o que se tem é tudo, menos democracia.

O espantoso é verificar que nenhum país democrático do Ocidente possui um modelo de centralização tributário como esse que entrará em vigor em 2026. Também pudera, nenhuma democracia digna do nome resistiria à tamanha centralização de poder nas mãos de uma só pessoa ou grupo hegemônico. Nesse ponto, o que estamos assistindo é a repetição da vexaminosa queima das bandeiras estaduais, realizada na Praça Roosevelt, no Rio de Janeiro, em 27 de novembro de 1937, por ordem do então presidente Getúlio Vargas.

Naquela ocasião, as bandeiras dos estados foram solenemente cremadas, pois haviam sido abolidas pela constituição autoritária daquele ano, que concentrava, nas mãos de Vargas, todo o poder de restringir a autonomia dos estados, nomeando, para cada um deles, um interventor antenado com o poder central. Nessa ocasião ,os partidos foram abolidos e estabelecida também a censura prévia aos meios de comunicação, com prisões em massa de opositores e outras medidas autoritárias.

Na verdade, o que está em jogo agora com essa reforma é o futuro dos brasileiros, a autonomia e pluralidade de cada recanto deste país, em nome de um genuíno confisco de receitas. Quem enxerga todos esses problemas na mencionada reforma não é esta coluna, mas todos os grandes nomes ligados à questão tributária, que vêm alertando políticos e todos que podem de alguma maneira intervir nessa questão.

Não há dúvida de que essa reforma irá provocar um desvio federativo irreversível, entregando mais de 5 mil municípios às vontades e veleidades de um comitê gestor, que nada mais é do que o próprio governo central. Quando o peso da maioria cede lugar a uma minoria interessada apenas em seus benefícios imediatos, a situação tende, como já vista, a regredir ao ano fatídico de 1937.

 

A frase que foi pronunciada:
“Quem não aguenta o trote não monta o burro.”
Getúlio Vargas

Getúlio Vargas. Foto: memorialdademocracia.com

História de Brasília
O deputado Esmerino Arruda arrombou o depósito, de lá retirando grande quantidade de leite, distribuido demagogicamente entre a população pobre. (Publicada em 26.04.1962)

A exceção e a regra

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

facebook.com/vistolidoeouvido

instagram.com/vistolidoeouvido

 

Charge do Amarildo

 

Em tempos de crise e incertezas, é sempre prudente ouvir e aprender com aqueles que fazem de sua vida profissional um contínuo processo de pensar e repensar o país. É o caso aqui de prestar a atenção na longa exposição feita há poucos dias pelo eminente professor universitário, cientista político e filósofo, Fernando Schuler. Depois de mais de 35 anos de vigência da Constituição de 1988, talvez tenha chegado o momento de refletir sobre o legado dessa Carta-cidadã, suas consequências e o que esse documento tem a ver com o momento atual que o país atravessa.

Num país tão dividido, como temos hoje, com uma história política tão turbulenta, com duas ditaduras no século 20, havia o pensamento que, finalmente, foi construída uma democracia liberal, avalia o professor. Ou seja, tínhamos uma democracia fundada em regras e direitos constitucionais, que seriam respeitados e, em torno dos quais, haveria um forte consenso, em vários níveis, inclusive, e principalmente, na estabilidade jurídica. Não foi o que obtivemos, afirmou.

Para reforçar essa sua avaliação, o professor diz que a atual crise o levou a reler o clássico de Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, em busca de pistas sobre o atual momento. Nele, Fernando Schuler encontrou uma dessas pistas contidas na obra de 1936, que indicava que, historicamente, o Brasil nunca assimilou de fato a impessoalidade clássica do liberalismo. Pelo contrário, nossa formação histórica, nossa cultura, sempre favoreceu a afetividade sobre a frieza das regras. A observância das regras é fundamental numa democracia liberal. Esse ponto está contido no capítulo 5, intitulado “O homem cordial”.

Ao contrário da cultura anglo-saxônica, onde há uma prevalência do cérebro nas decisões, no Brasil essa atitude é mais centrada no coração e na afetividade, ou seja, nas paixões. Por isso, o personalismo e o patrimonialismo imperam nas decisões do governo. E essa particularidade tem sido mais que nefasta para o país e tem nos afastado de um desenvolvimento efetivo e duradouro, já que tudo no governo tem dependido das relações de amizade, convicções e de proximidades perigosas para um Estado que busca a democracia e a igualdade.

O que temos por essas bandas é a igualdade dos iguais. Para o restante, os rigores da lei fria. Em países como os Estados Unidos, o que vale é o que está nas leis e não o que um indivíduo ou outro acha ou decodifica, por mais que a situação seja complexa. “Ou estamos, todos nós, subordinados às mesmas regras do jogo, ou estamos subordinados à interpretação de alguém sobre as regras do jogo”, diz o professor.

Para Schuler, quando os direitos individuais e coletivos passam a ser subordinados à visão de alguém que passa a “achar” quais são esses direitos, o perigo aparece. As garantias, os direitos e as prerrogativas não podem, segundo esse pensador, variar de acordo com a interpretação de quem detém o poder num determinado instante. “O direito é feito de palavras”, diz. O que equivale a dizer: se mudamos o sentido das palavras, mudamos também o sentido do direito.

O espaço deve ser sempre a exceção, e não a regra. Em nosso país, ensina o filósofo, se isso virar regra, teremos um sério problema. O fato é que as interpretações, em cada um dos campos dessa nossa polarização política, não refletem a realidade e se baseiam muito mais nas ideias que cada um quer ver efetivadas. A verdade é que o caminho para a consolidação de uma realidade do tipo liberal passa longe dessas ideias polarizadas. Afinal, quem pode afirmar que a democracia não poderia ser defendida dentro das regras existentes de democracia? Questiona Schuler. “O fato de que a gente tenha se desviado das garantias institucionais, dos direitos individuais, da liberdade de expressão, tal como reza a Constituição brasileira, na minha opinião, apontou uma falha de nossa democracia, e não uma fortaleza da nossa democracia, como muitos querem fazer crer”, alertou.

É preciso, na visão desse professor, que todos entendam que hoje nos punimos pelo o que não está escrito em nosso ordenamento jurídico, mas pelo o que se interpreta desse ordenamento. Assim, hoje são punidas pessoas por delito de opinião, o que representa uma censura. Censura essa que é expressamente proibida em nossa Constituição democrática. Assim, temos vários brasileiros que respondem por delito de opinião e banidos das redes e apagados do meio público. O que temos hoje, longe do nosso ordenamento jurídico, é simplesmente o abuso de poder e não outra coisa qualquer.

 

 

A frase que foi pronunciada:
“O Espírito que prevalece entre os Homens de todos os graus, todas as idades e sexos é o Espírito da Liberdade.”
Abigail Adams, 1775

Abigail Adams. Foto: Getty Images. (1744-1818)

 

História de Brasília
Os três diretores acusados pelo sr. Hélio Fernandes como “traquejados no manejo da maior máquina de corrupção” são os senhores Frank Ballalai May, Vasco Viana de Andrade e Jaime Almeida. O dr. Frank, antes da Novacap, era diretor do Banco do Nordeste. Valeu sempre como um homem de bem. O dr. Vasco substituiu o dr. Moacir Gomes e Sousa e o dr. Bernardo Sayão. Fez um milhão e meio de metros quadrados de asfalto dentro do Distrito Federal, fora as outras obras, e o dr. Jaime Almeida, lidando sempre com a parte financeira, tem mantido a impecabilidade que todos conhecem. (Publicada em 25/4/962)

Dos tipos de ódio

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

facebook.com/vistolidoeouvido

instagram.com/vistolidoeouvido

 

Chaege do Edin

 

Ninguém, em posse plena de suas faculdades mentais, poderia ir contra a liberdade de expressão, pois ela é a condição mínima para o estabelecimento do diálogo e do entendimento. Sem liberdade de expressão o que se tem é o monólogo daqueles que falam de cima para baixo e não aceitam o contraditório. “É livre a expressão do pensamento por meio da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. Diz o Artigo 5º da Constituição.

A celeuma poderia, em nome do bom senso, em nome da paz social e dos direitos humanos, acabar por aí. Mas nem tudo é como a gente deseja. No meio desse assunto, que nos nossos dias, passou a ganhar novas interpretações, todas elas impostas pelas esquerdas, a regulação das mídias sociais vem ganhando terreno e hoje compõe parte substancial das preocupações do governo e do próprio Judiciário, que não esconde a pretensão de civilizar os meios de comunicação, acabando com o que eles denominam de “discurso de ódio”.

O que se busca aqui é, de forma simplória, acabar com o ódio por meio da decretação de uma lei. Fosse assim tão simples, bastaria uma lei para acabar definitivamente com a corrupção, que corrói esse país desde a chegada de Cabral em 1500. Enquanto a discussão gira em torno desse tema, contrariando frontalmente a Constituição, outros crimes, de maior poder ofensivo e que provocam mais estragos, seguem sendo praticados abertamente nessas mesmas mídias sociais, sem que isso incomode as autoridades ou o governo.

Acabar com o ódio, como desejam alguns, seria o mesmo que acabar com o amor, pois estes coexistem desde o surgimento da espécie humana e fazem parte integral do homem, formado, ao mesmo tempo, por luzes e sombras. Se ao invés de discussão tão pueril como essa, as autoridades se inclinassem para resolver as centenas de milhares de casos de internautas, que são enganados por anúncios que oferecem nas redes sociais produtos que não irão entregar. Ou de casos em que os cidadãos são ameaçados por presidiários, diretamente de dentro dos presídios, insinuando sequestros de pessoas, ou mesmo simulando premiações milionárias. Mas parece que não há interesse nesse tipo de ódio.

O uso de redes sociais por bandidos, do pé de chinelo até os grandes líderes de organizações criminosas, é um fato. O uso indiscriminado de celulares dentro até de instituições de segurança máxima é um outro fato que passa sem incomodar as autoridades. Nesse caso também o silêncio é total. Não fossem os celulares liberados, os chefões do crime ficariam de mãos atadas. E pensar que uma infinidade de idosos em nosso país são enganados todos os dias pela malandragem, que usam abertamente as redes para roubá-los. Tão logo são aposentados começa a artilharia de ligações com vantagens em crédito consignado. Muitas vezes valores pagos e nunca mais vistos.

Quantos outros casos também de pedofilia e outros crimes contra pessoas indefesas são cometidos por meio dessas redes sociais. Estranhamente casos nunca comentados por autoridades. O que parece mesmo importar é a proibição da livre circulação do pensamento e de  ideias. O resto não interessa.

Ao cidadão comum, a proteção do Estado contra as muitas modalidades de crime e violência e não com relação ao que ele pensa como torcedor de futebol ou como apoiador político. A coisa está toda invertida. Ao mesmo tempo em que buscam formas de impedir o livre pensar, fazem cara de paisagem as centenas de modalidades de crimes cometidos contra a população nas redes sociais.

É preciso reconhecer, com todas as letras, que também o ódio é livre pois ele faz parte da natureza humana e é encontrado da mais baixa, até as mais refinadas sociedades do planeta. A questão aqui é saber o que tipo de ódio querem combater. Seria o ódio ao crime? O ódio a censura? O ódio a mentira? O ódio a oposição?

 

 

A frase que foi pronunciada:

“O ódio revela muita coisa que permanece oculta ao amor. Lembra-te disso e não desprezes a censura dos inimigos.”

Leonardo da Vinci.

Leonardo da Vinci, nascido em Vinci em 1452.

 

Música

Dezenas de músicos fizeram questão de ajudar Alessandro Santoro na edição das Sonatas para Piano, de Claudio Santoro. O material de ótima qualidade e traz as músicas do compositor em partituras.

Alessandro Santoro. Foto: Portfólio pessoal

 

História de Brasília

Mas a prova de que sua coluna havia sido encomendada, é a de que ao transcrevê-la na “Última Hora”, como matéria paga, a pessoa que o fêz (quem seria?) o fêz sem os ataques ao sr. Laranja, mantendo, entretanto, sua verrina contra a Novacap. (Publicada em 24.04.1962)

Sempre à favor…da democracia

Publicado em Deixe um comentárioÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

facebook.com/vistolidoeouvido

instagram.com/vistolidoeouvido

 

 

Ilustração: Eduardo Medeiros

          Juristas de diversos quadrantes do Direito são unânimes em considerar que expedientes que buscam responsabilização ou judicialização das empresas de tecnologia, dentro do que se conhece por regulação das mídias sociais, é, ou deveria ser, atributo exclusivo do Legislativo e não da Suprema Corte, onde a questão começou a ser discutida. A rigor, essa discussão nem deveria ser debatida pelos ministros togados, já que existe, em vigor, o Marco Civil da Internet, discutido, votado e sancionado pelos representantes dos cidadãos em 23 de abril de 2014.

         De fato, a questão sobre a regulação das mídias, nos moldes que deseja o atual governo, só voltou ao centro das atenções durante as campanhas presidenciais de 2022, época em que o então candidato das esquerdas, proclamava, repetidamente, que iria empreender todos os esforços possíveis para promover a regulação de conteúdo das empresas de tecnologia. Trata-se, aqui, de uma questão sensível que pode demarcar uma fronteira clara entre a censura e a liberdade de expressão. Incrivelmente, o Legislativo entra nessa discussão como figurante de terceiro plano, graças à atuação tímida das vozes roucas da oposição.

         Submeter o importantíssimo item da liberdade de expressão, impresso de forma clara no Artigo 5º da Constituição, ao crivo de apenas onze personalidades, alheias aos bafos das ruas, sem o respaldo dos votos nas urnas, a pressão popular e a realidade do país e do mundo, irá, para dizer o mínimo, pôr, em sério risco, um dispositivo essencial a todo e qualquer regime que se considera democrático.

         Recorde-se que sem o confronto de ideias e a participação de diversos grupos sociais, pode-se construir qualquer regime, menos um regime democrático. O fato é que, pelo o que se observa ao redor, nestes últimos dois anos, o Marco Civil da Internet, principalmente no seu artigo 19, que assegura a liberdade de expressão e impede a censura, está com os dias contados.

         É simples supor que uma vez derrubado esse artigo, críticas ao sistema, ao governo, ao Estado ou ao que quer que seja, dentro do atual status quo, serão sumariamente censuradas e passíveis de penalização jurídica pesada. Exemplo desse tipo de restrição, a ilustrar os respectivos governos, podem ser vistos na Venezuela, em Cuba, na Nicarágua, na China e outras ditaduras pelo mundo afora.

         A situação é séria e deveria provocar a mobilização geral da sociedade e não ser definida de forma lépida, nos últimos dias do ano, longe do Brasil real. O que temos, nesse caso, é o de sempre: o pretexto do pretexto que está por detrás de toda e qualquer medida que se quer ver adotada. Nesse caso, fala-se de discurso de ódio, como se esse vício fosse consequência direta da existência das redes sociais.

         O ódio acompanha a espécie humana desde a expulsão de Adão e Eva do paraíso. Para muitos, o que se busca aqui nessa revisão do Marco Civil da Internet é erigir um novo modelo de mídia social dócil ao atual governo e ao sistema que o apoia.

         O que se busca em outras linhas é acabar com a oposição, pelo menos aquele tipo de oposição que faz a diferença e que enxerga bem os descaminhos de um governo que vai empurrando o país para um novo ciclo de severa depressão econômica.

         Transformar as redes sociais em um tipo de mídia chapa branca, que esconde os bastidores mal cheirosos de qualquer governo, é obra estratégica daqueles que têm muito a esconder do público e que, por isso mesmo, temem ser colocados sob a luz cristalina dos fatos.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário.”

Art 19 Marco Civil da Internet

 

 

História de Brasília

Mais tarde, no desfile militar, a mesma curiosidade pública sôbre o construtor de Brasília. Não compareceu, entretanto, ao banquete oferecido pelo Prefeito, que contou com apenas um discurso: o do dr. Sette Câmara, que foi um dos discursos mais claros que uma autoridade poderia pronunciar. (Publicada em 24.04.1962)